A luz do sol da manhã banhava os campos que se estendiam até onde a vista alcançava, e a neve levemente derretia. No centro da área de caça, Arüna mantinha o olhar fixo à frente, os dedos delicados segurando com firmeza as rédeas de seu cavalo. A postura impecável e a sua manta de seda azul denunciavam a suposta nobreza da "esposa" de Kaur.
Ao lado dele, Kaur cavalgava com uma presença imponente, os músculos sob a armadura brilhando à luz do sol. Ele era o campeão de guerra da família, conhecido por sua brutalidade no campo de batalha e sua indiferença emocional. Apesar disso, os olhos de Kaur sempre encontravam Arüna com uma curiosidade silenciosa, um contraste estranho com sua habitual frieza.
— Não precisava vir caçar, é um passatempo para Reis.
— ... Eu costumava caçar com o meu pai em casa, mas não numa área pequena assim. Eu sou rei em casa, Kaur.
— Entendi. Temos uma reserva dentre os muros do castelo, nessa época de frio sair pela floresta seria loucura.
As costas de Arüna ainda doíam por conta da noite anterior, Kaur parecia cada vez mais desejá-lo de forma descontrolada, mesmo com a tentativa de assassinato pela parte de Arüna na noite anterior, Kaur parecia completamente calmo e despreocupado, como se aquilo o tivesse excitado ainda mais. Cada vez q dormiam juntos, ele sentia mais, e mais desejo por ele.
A comitiva de caça avançava devagar pela estrada poeirenta, ainda dentre os muros do castelo e o clima era tenso. Arüna sentia o olhar de Kaur sobre si, mas evitava qualquer contacto.
O som das rodas das carroças e dos cascos dos cavalos sobre o chão congelado preenchia o silêncio entre os dois. O restante da comitiva mantinha distância respeitosa, ciente da hierarquia que separava Kaur e a sua "esposa" dos demais. Apesar disso, o clima de tensão era quase palpável, como se cada membro do grupo pressentisse haver mais do que aparentava naquela relação.
— A rainha é um tanto bruta, não é? — cochichou um dos soldados que escoltava a carruagem.
— Dizem que as mulheres do seu povo são mais brutas mesmo, são lindas e aparentam ser delicadas, mas são ignorantes como homens.
— Estranho sua alteza aceitar uma mulher respondona que nem ela, muito insolente.
Arüna ajeitou as rédeas do cavalo, mantendo o queixo erguido e a postura altiva. Mesmo sob o disfarce, ele sabia que não poderia mostrar fraqueza. Cada movimento seu era uma dança delicada para manter a farsa, e a presença de Kaur tornava tudo ainda mais difícil. Ele sabia que o campeão de guerra não era ingênuo; Kaur sempre observava, analisava, como se pudesse enxergar através da seda azul que envolvia o corpo de Arüna. Em sua mente já pensando em despi-lo por inteiro.
— Está tenso — comentou Kaur de repente,a sua voz grave rompendo o silêncio. Ele não olhou diretamente para Arüna, mas havia um tom desafiador nas suas palavras. — Está com medo de errar o tiro?
Arüna estreitou os olhos, recusando-se a ceder à provocação.
— Não há nada que eu não possa acertar, se for do meu interesse.
Kaur riu, um som baixo e rouco que fez alguns da comitiva trocarem olhares desconfortáveis.
— Vamos ver se a sua confiança é verdadeira, então. — Ele puxou as rédeas de seu cavalo, guiando-o para frente e indicando com a cabeça que o grupo deveria acelerar. — Não vi isso noite passada.
Arüna gelou, olhando no fundo dos seus olhos, hesitando um pouco.
— Ou será que você não queria me acertar?
Kaur soltou as rédeas do cavalo de Arüna e seguiu cavalgando. Enquanto o grupo avançava, já saindo dos muros do castelo, Arüna percebeu que a paisagem ao redor começava a mudar. As árvores que cercavam a estrada tornavam-se mais densas, e o ar ficava mais pesado, como se o próprio bosque estivesse observando-os. Era estranho que Kaur insistisse em uma caçada tão próxima ao castelo, mas ele sabia que o campeão nunca fazia nada sem motivo.
Kaur desacelerou, deixando que os dois cavalos ficassem lado a lado novamente. Ele inclinou-se ligeiramente na sela, sua voz baixa o suficiente para que apenas Arüna ouvisse. — Ainda pensando na noite passada?
Arüna virou o rosto para ele, os olhos faiscando de irritação. — Você acha que me conhece, Kaur, mas não sabe de nada. Nem sobre mim, nem sobre o que penso.
Kaur deu de ombros, um sorriso torto brincando nos seus lábios.
— Talvez eu saiba mais do que você imagina. Só por essa resposta.
Antes que Arüna pudesse responder, um dos caçadores da comitiva assobiou, sinalizando que haviam avistado algo. O som ecoou pela floresta, e todos pararam. Kaur endireitou-se na sela, os olhos escurecendo com a promessa de ação.
— Fique perto de mim — ordenou ele a Arüna, sua voz mais fria e autoritária.
Arüna não respondeu, mas sua mente já trabalhava rapidamente, avaliando o que poderia acontecer. Kaur era um homem imprevisível, mas Arüna sabia que precisava permanecer no controle, mesmo que a situação fugisse de suas mãos.
O grupo avançou em silêncio, as armas prontas. A tensão crescia, e Arüna sentiu o peso da incerteza pairando sobre eles. A floresta parecia esconder segredos, e, pela primeira vez em muito tempo, ele não tinha certeza se estava preparado para enfrentá-los.
O assobio dos caçadores indicava algo à frente, mas não era o esperado. Em vez de um cervo ou outro animal, um pequeno grupo de figuras encapuzadas emergiu entre as árvores, bloqueando o caminho. As armas improvisadas em suas mãos brilhavam com a luz fraca que penetrava pelas folhas. Não eram caçadores, mas bandidos ou talvez camponeses desesperados, com a fome e o frio estampados em seus rostos.
Kaur imediatamente levantou uma mão, ordenando que a comitiva parasse. Seus olhos, agora sombrios e calculistas, avaliaram o grupo à frente. Eram cinco ao todo, mal armados, mas o terreno estreito e as árvores próximas lhes davam uma vantagem tática.
— Abaixem suas armas e saiam do caminho — disse Kaur, sua voz carregada de autoridade. Ele não desembainhou sua espada, mas a mão estava próxima ao punho, um aviso silencioso de que ele estava pronto para o combate.
Um dos homens deu um passo à frente, um machado enferrujado em mãos.
— Não queremos confusão, meu senhor. Apenas o que vocês têm de valor. Ouro, comida, qualquer coisa que nos ajude a sobreviver a este inverno. — Sua voz era firme, mas havia um tremor que traía seu nervosismo.
Arüna observava em silêncio, o coração acelerado. Ele sabia que Kaur não negociaria. Não era do feitio do campeão de guerra ceder a ameaças, especialmente de adversários tão fracos. Ainda assim, algo na situação o incomodava. Os olhos do homem com o machado pareciam fixos nele, como se tivesse percebido algo... algo errado.
Kaur soltou um suspiro pesado, como se já estivesse cansado da conversa.
— Vocês cometeram um erro ao nos parar. Não haverá segunda chance. — Com um movimento rápido, ele sacou sua espada, o aço brilhando ao ser desembainhado.
Antes que qualquer um pudesse reagir, Kaur avançou. A velocidade e a brutalidade de seus movimentos eram assustadoras, e o primeiro homem mal teve tempo de erguer o machado antes de ser derrubado. Os outros hesitaram, claramente aterrorizados, mas não recuaram.
Arüna sentiu um frio na espinha. Ele sabia que Kaur venceria facilmente, mas a questão não era se ele venceria, e sim como. A brutalidade que o campeão demonstrava em batalha sempre o deixava inquieto, como se Kaur fosse mais fera do que homem.
— Não! — Arüna gritou, a voz saindo antes que pudesse se conter. Ele desceu do cavalo, o vestido de seda azul balançando enquanto caminhava para a frente. — Já basta, Kaur! Eles não são ameaça para nós.
Kaur parou por um momento, sua espada erguida, e olhou para Arüna com uma mistura de surpresa e irritação.
— Está interferindo agora? Pensei que você soubesse o que é necessário para sobreviver neste mundo.
— Eu sei — respondeu Arüna, mantendo o olhar firme. — E é por isso que estou dizendo para parar. Eles estão desesperados, não são inimigos.
Kaur estreitou os olhos, claramente descontente com a interrupção, mas abaixou a espada lentamente. Ele virou-se para os homens restantes, que pareciam tão surpresos quanto aliviados.
— ... Você não disse que eu deveria tomar minhas responsabilidades...?
— Saíam daqui antes que eu mude de ideia — disse ele, a voz como gelo.
Os homens não hesitaram. Eles largaram suas armas e desapareceram na floresta, sem olhar para trás. A comitiva observava em silêncio, enquanto Arüna sentia o peso do olhar de Kaur sobre si.
— Isso foi um erro — disse Kaur finalmente, sua voz baixa, mas carregada de advertência. — Sua compaixão pode custar caro.
— Talvez — respondeu Arüna, sem desviar os olhos. — Mas alguém neste mundo precisa lembrar o que significa ser humano.
Kaur não respondeu, mas o brilho em seus olhos sugeria que ele ainda não tinha decidido se admirava ou desprezava Arüna por sua interferência.
A comitiva retomou a marcha, o silêncio agora mais pesado do que antes.
Continua....
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Atualizado até capítulo 64
Comments
𐙚ihrapazೀ
essa obra está uma maravilha, CONTINUA /Pray//Pray/
2025-01-24
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