Capítulo 17: Sol da comitiva

A luz do sol da manhã banhava os campos que se estendiam até onde a vista alcançava, e a neve levemente derretia. No centro da área de caça, Arüna mantinha o olhar fixo à frente, os dedos delicados segurando com firmeza as rédeas de seu cavalo. A postura impecável e a sua manta de seda azul denunciavam a suposta nobreza da "esposa" de Kaur.

Ao lado dele, Kaur cavalgava com uma presença imponente, os músculos sob a armadura brilhando à luz do sol. Ele era o campeão de guerra da família, conhecido por sua brutalidade no campo de batalha e sua indiferença emocional. Apesar disso, os olhos de Kaur sempre encontravam Arüna com uma curiosidade silenciosa, um contraste estranho com sua habitual frieza.

— Não precisava vir caçar, é um passatempo para Reis.

— ... Eu costumava caçar com o meu pai em casa, mas não numa área pequena assim. Eu sou rei em casa, Kaur.

— Entendi. Temos uma reserva dentre os muros do castelo, nessa época de frio sair pela floresta seria loucura.

As costas de Arüna ainda doíam por conta da noite anterior, Kaur parecia cada vez mais desejá-lo de forma descontrolada, mesmo com a tentativa de assassinato pela parte de Arüna na noite anterior, Kaur parecia completamente calmo e despreocupado, como se aquilo o tivesse excitado ainda mais. Cada vez q dormiam juntos, ele sentia mais, e mais desejo por ele.

A comitiva de caça avançava devagar pela estrada poeirenta, ainda dentre os muros do castelo e o clima era tenso. Arüna sentia o olhar de Kaur sobre si, mas evitava qualquer contacto.

O som das rodas das carroças e dos cascos dos cavalos sobre o chão congelado preenchia o silêncio entre os dois. O restante da comitiva mantinha distância respeitosa, ciente da hierarquia que separava Kaur e a sua "esposa" dos demais. Apesar disso, o clima de tensão era quase palpável, como se cada membro do grupo pressentisse haver mais do que aparentava naquela relação.

— A rainha é um tanto bruta, não é? — cochichou um dos soldados que escoltava a carruagem.

— Dizem que as mulheres do seu povo são mais brutas mesmo, são lindas e aparentam ser delicadas, mas são ignorantes como homens.

— Estranho sua alteza aceitar uma mulher respondona que nem ela, muito insolente.

Arüna ajeitou as rédeas do cavalo, mantendo o queixo erguido e a postura altiva. Mesmo sob o disfarce, ele sabia que não poderia mostrar fraqueza. Cada movimento seu era uma dança delicada para manter a farsa, e a presença de Kaur tornava tudo ainda mais difícil. Ele sabia que o campeão de guerra não era ingênuo; Kaur sempre observava, analisava, como se pudesse enxergar através da seda azul que envolvia o corpo de Arüna. Em sua mente já pensando em despi-lo por inteiro.

— Está tenso — comentou Kaur de repente,a sua voz grave rompendo o silêncio. Ele não olhou diretamente para Arüna, mas havia um tom desafiador nas suas palavras. — Está com medo de errar o tiro?

Arüna estreitou os olhos, recusando-se a ceder à provocação.

— Não há nada que eu não possa acertar, se for do meu interesse.

Kaur riu, um som baixo e rouco que fez alguns da comitiva trocarem olhares desconfortáveis.

— Vamos ver se a sua confiança é verdadeira, então. — Ele puxou as rédeas de seu cavalo, guiando-o para frente e indicando com a cabeça que o grupo deveria acelerar. — Não vi isso noite passada.

Arüna gelou, olhando no fundo dos seus olhos, hesitando um pouco.

— Ou será que você não queria me acertar?

Kaur soltou as rédeas do cavalo de Arüna e seguiu cavalgando. Enquanto o grupo avançava, já saindo dos muros do castelo, Arüna percebeu que a paisagem ao redor começava a mudar. As árvores que cercavam a estrada tornavam-se mais densas, e o ar ficava mais pesado, como se o próprio bosque estivesse observando-os. Era estranho que Kaur insistisse em uma caçada tão próxima ao castelo, mas ele sabia que o campeão nunca fazia nada sem motivo.

Kaur desacelerou, deixando que os dois cavalos ficassem lado a lado novamente. Ele inclinou-se ligeiramente na sela, sua voz baixa o suficiente para que apenas Arüna ouvisse. — Ainda pensando na noite passada?

Arüna virou o rosto para ele, os olhos faiscando de irritação. — Você acha que me conhece, Kaur, mas não sabe de nada. Nem sobre mim, nem sobre o que penso.

Kaur deu de ombros, um sorriso torto brincando nos seus lábios.

— Talvez eu saiba mais do que você imagina. Só por essa resposta.

Antes que Arüna pudesse responder, um dos caçadores da comitiva assobiou, sinalizando que haviam avistado algo. O som ecoou pela floresta, e todos pararam. Kaur endireitou-se na sela, os olhos escurecendo com a promessa de ação.

— Fique perto de mim — ordenou ele a Arüna, sua voz mais fria e autoritária.

Arüna não respondeu, mas sua mente já trabalhava rapidamente, avaliando o que poderia acontecer. Kaur era um homem imprevisível, mas Arüna sabia que precisava permanecer no controle, mesmo que a situação fugisse de suas mãos.

O grupo avançou em silêncio, as armas prontas. A tensão crescia, e Arüna sentiu o peso da incerteza pairando sobre eles. A floresta parecia esconder segredos, e, pela primeira vez em muito tempo, ele não tinha certeza se estava preparado para enfrentá-los.

O assobio dos caçadores indicava algo à frente, mas não era o esperado. Em vez de um cervo ou outro animal, um pequeno grupo de figuras encapuzadas emergiu entre as árvores, bloqueando o caminho. As armas improvisadas em suas mãos brilhavam com a luz fraca que penetrava pelas folhas. Não eram caçadores, mas bandidos ou talvez camponeses desesperados, com a fome e o frio estampados em seus rostos.

Kaur imediatamente levantou uma mão, ordenando que a comitiva parasse. Seus olhos, agora sombrios e calculistas, avaliaram o grupo à frente. Eram cinco ao todo, mal armados, mas o terreno estreito e as árvores próximas lhes davam uma vantagem tática.

— Abaixem suas armas e saiam do caminho — disse Kaur, sua voz carregada de autoridade. Ele não desembainhou sua espada, mas a mão estava próxima ao punho, um aviso silencioso de que ele estava pronto para o combate.

Um dos homens deu um passo à frente, um machado enferrujado em mãos.

— Não queremos confusão, meu senhor. Apenas o que vocês têm de valor. Ouro, comida, qualquer coisa que nos ajude a sobreviver a este inverno. — Sua voz era firme, mas havia um tremor que traía seu nervosismo.

Arüna observava em silêncio, o coração acelerado. Ele sabia que Kaur não negociaria. Não era do feitio do campeão de guerra ceder a ameaças, especialmente de adversários tão fracos. Ainda assim, algo na situação o incomodava. Os olhos do homem com o machado pareciam fixos nele, como se tivesse percebido algo... algo errado.

Kaur soltou um suspiro pesado, como se já estivesse cansado da conversa.

— Vocês cometeram um erro ao nos parar. Não haverá segunda chance. — Com um movimento rápido, ele sacou sua espada, o aço brilhando ao ser desembainhado.

Antes que qualquer um pudesse reagir, Kaur avançou. A velocidade e a brutalidade de seus movimentos eram assustadoras, e o primeiro homem mal teve tempo de erguer o machado antes de ser derrubado. Os outros hesitaram, claramente aterrorizados, mas não recuaram.

Arüna sentiu um frio na espinha. Ele sabia que Kaur venceria facilmente, mas a questão não era se ele venceria, e sim como. A brutalidade que o campeão demonstrava em batalha sempre o deixava inquieto, como se Kaur fosse mais fera do que homem.

— Não! — Arüna gritou, a voz saindo antes que pudesse se conter. Ele desceu do cavalo, o vestido de seda azul balançando enquanto caminhava para a frente. — Já basta, Kaur! Eles não são ameaça para nós.

Kaur parou por um momento, sua espada erguida, e olhou para Arüna com uma mistura de surpresa e irritação.

— Está interferindo agora? Pensei que você soubesse o que é necessário para sobreviver neste mundo.

— Eu sei — respondeu Arüna, mantendo o olhar firme. — E é por isso que estou dizendo para parar. Eles estão desesperados, não são inimigos.

Kaur estreitou os olhos, claramente descontente com a interrupção, mas abaixou a espada lentamente. Ele virou-se para os homens restantes, que pareciam tão surpresos quanto aliviados.

— ... Você não disse que eu deveria tomar minhas responsabilidades...?

— Saíam daqui antes que eu mude de ideia — disse ele, a voz como gelo.

Os homens não hesitaram. Eles largaram suas armas e desapareceram na floresta, sem olhar para trás. A comitiva observava em silêncio, enquanto Arüna sentia o peso do olhar de Kaur sobre si.

— Isso foi um erro — disse Kaur finalmente, sua voz baixa, mas carregada de advertência. — Sua compaixão pode custar caro.

— Talvez — respondeu Arüna, sem desviar os olhos. — Mas alguém neste mundo precisa lembrar o que significa ser humano.

Kaur não respondeu, mas o brilho em seus olhos sugeria que ele ainda não tinha decidido se admirava ou desprezava Arüna por sua interferência.

A comitiva retomou a marcha, o silêncio agora mais pesado do que antes.

Continua....

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𐙚ihrapazೀ

𐙚ihrapazೀ

essa obra está uma maravilha, CONTINUA /Pray//Pray/

2025-01-24

3

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Capítulos
1 Capítulo 1: a solução
2 Capítulo 2: A mentira, o noivo e o amante.
3 Capítulo 3: Na noite antes das núpicias
4 Capítulo 4: Esposa do Assassino, Assassina é
5 Capítulo 5: Temidos como devem ser
6 Capítulo 6: Consumido
7 Capítulo 7: Núpcias 1
8 Capítulo 8: Núpcias 2
9 Capítulo 9: Depois da Tormenta
10 Capítulo 10: Máscaras no Gelo
11 Capítulo 11: Farpas e Lâminas
12 Capítulo 12: Sob o Peso das Sombras
13 Capítulo 13: A Verdade Velada
14 Capítulo 14: Farpas e Cicatrizes
15 Capítulo 15: Ecos da Perda
16 Capítulo 16: Lâminas na Escuridão
17 Capítulo 17: Sol da comitiva
18 Capítulo 18: Traição e traidor
19 Capítulo 19: Sombras e Silêncios
20 Capítulo 20: Venenos e Verdades
21 Capítulo 21: Fios de Traição
22 Capítulo 22: Sombras do Julgamento
23 Capítulo 23: Entender
24 Capítulo 24: Fios de Traição e Verdades Veladas
25 Capítulo 25: O Confronto nas Sombras
26 Capítulo 26: Cicatrizes de Sangue
27 Capítulo 27: O Eco da Traição
28 Capítulo 28: Os Ecos da Traição 2
29 Capítulo 29: A Sombra do Luto
30 Capítulo 30: Sombras da confiança
31 Capítulo 31: Peso do Retorno
32 Capítulo 32: Marcas do Passado, Promessas do Futuro
33 Capítulo 33: Sombras e Intrigas em Calavag.
34 Capítulo 34: Jogo de honra e poder
35 Capítulo 35: Sob o Véu da Desconfiança
36 Capítulo 36: Jogos das sombras
37 Capítulo 37: Coração na tempestade
38 Capítulo 38: O frio da lâmina
39 Capítulo 39: Profundezas penadas
40 Capítulo 40: O Círculo se Fecha
41 Capítulo 41: Um Encontro de Sombras
42 Capítulo 42: O Retorno do Príncipe
43 Capítulo 43: Até a última gota de sangue
44 Capítulo 44: Correntezas do destino
45 Capítulo 45: A Cela da Condenação
46 Capítulo 46: O Prisão de Mentiras
47 Capítulo 47: Entre Correntes e Promessas
48 Capítulo 48: Sob a febre e o toque
49 Capítulo 49: Desejo e Dever
50 Capítulo 50: Ecos de vitória
51 Capítulo 51: Honra e Vitória
52 Capítulo 52: O que deu de errado?
53 Capítulo 53: Incertezas da Guerra
54 Capítulo 54: Entendendo os desentendidos
55 Capítulo 55: Limite da Rendição
56 Capítulo 56: Entrelaçados na Guerra
57 Capítulo 57: O último Caos.
58 Capítulo 58: A Fria Chuva
59 Capítulo 59: Confusão da Rainha
60 Capítulo 60: Silêncio da tenda
61 Capítulo 61: Caminhos do Sul
62 Capítulo 62: Novos Caminhos
63 Capítulo 63: As Cicatrizes do Passado
64 Capítulo 64: Afeto inegável
Capítulos

Atualizado até capítulo 64

1
Capítulo 1: a solução
2
Capítulo 2: A mentira, o noivo e o amante.
3
Capítulo 3: Na noite antes das núpicias
4
Capítulo 4: Esposa do Assassino, Assassina é
5
Capítulo 5: Temidos como devem ser
6
Capítulo 6: Consumido
7
Capítulo 7: Núpcias 1
8
Capítulo 8: Núpcias 2
9
Capítulo 9: Depois da Tormenta
10
Capítulo 10: Máscaras no Gelo
11
Capítulo 11: Farpas e Lâminas
12
Capítulo 12: Sob o Peso das Sombras
13
Capítulo 13: A Verdade Velada
14
Capítulo 14: Farpas e Cicatrizes
15
Capítulo 15: Ecos da Perda
16
Capítulo 16: Lâminas na Escuridão
17
Capítulo 17: Sol da comitiva
18
Capítulo 18: Traição e traidor
19
Capítulo 19: Sombras e Silêncios
20
Capítulo 20: Venenos e Verdades
21
Capítulo 21: Fios de Traição
22
Capítulo 22: Sombras do Julgamento
23
Capítulo 23: Entender
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Capítulo 24: Fios de Traição e Verdades Veladas
25
Capítulo 25: O Confronto nas Sombras
26
Capítulo 26: Cicatrizes de Sangue
27
Capítulo 27: O Eco da Traição
28
Capítulo 28: Os Ecos da Traição 2
29
Capítulo 29: A Sombra do Luto
30
Capítulo 30: Sombras da confiança
31
Capítulo 31: Peso do Retorno
32
Capítulo 32: Marcas do Passado, Promessas do Futuro
33
Capítulo 33: Sombras e Intrigas em Calavag.
34
Capítulo 34: Jogo de honra e poder
35
Capítulo 35: Sob o Véu da Desconfiança
36
Capítulo 36: Jogos das sombras
37
Capítulo 37: Coração na tempestade
38
Capítulo 38: O frio da lâmina
39
Capítulo 39: Profundezas penadas
40
Capítulo 40: O Círculo se Fecha
41
Capítulo 41: Um Encontro de Sombras
42
Capítulo 42: O Retorno do Príncipe
43
Capítulo 43: Até a última gota de sangue
44
Capítulo 44: Correntezas do destino
45
Capítulo 45: A Cela da Condenação
46
Capítulo 46: O Prisão de Mentiras
47
Capítulo 47: Entre Correntes e Promessas
48
Capítulo 48: Sob a febre e o toque
49
Capítulo 49: Desejo e Dever
50
Capítulo 50: Ecos de vitória
51
Capítulo 51: Honra e Vitória
52
Capítulo 52: O que deu de errado?
53
Capítulo 53: Incertezas da Guerra
54
Capítulo 54: Entendendo os desentendidos
55
Capítulo 55: Limite da Rendição
56
Capítulo 56: Entrelaçados na Guerra
57
Capítulo 57: O último Caos.
58
Capítulo 58: A Fria Chuva
59
Capítulo 59: Confusão da Rainha
60
Capítulo 60: Silêncio da tenda
61
Capítulo 61: Caminhos do Sul
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Capítulo 62: Novos Caminhos
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Capítulo 64: Afeto inegável

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