Capítulo 10: Máscaras no Gelo

O sol da manhã atravessava as frestas das cortinas do quarto destruído, lançando feixes de luz sobre os destroços. Arüna dormia profundamente, exausto após a noite tumultuada, com os lençóis enredados ao seu redor. Seu rosto estava relaxado, mas marcas de lágrimas ainda eram visíveis em sua pele pálida.

Kaur estava parado na entrada, observando o caos à sua frente. Seu olhar percorria o quarto devastado — o espelho quebrado, roupas espalhadas, móveis danificados. Ele cruzou os braços, a expressão impenetrável.

— Como se destruir ajudasse em algo... — murmurou para si mesmo.

Ele deu alguns passos para dentro, parando ao lado da cama. Arüna se remexeu, mas não acordou. Kaur olhou para ele por um momento, seus olhos analisando o rosto sereno. Depois de um longo suspiro, ele se virou e saiu, chamando um criado para limpar o quarto.

Arüna acordou com o som de passos no quarto ao lado. Ele abriu os olhos lentamente, a luz do sol entrando pelas janelas recém-limpas. O quarto estava em ordem novamente, como se a tempestade da noite anterior nunca tivesse acontecido. Ainda assim, a dor persistia em seu corpo e em sua alma.

Sentou-se na cama, os cabelos desgrenhados e a mente pesada. Foi quando ouviu uma batida na porta. Antes que pudesse responder, a porta se abriu, e Kaur entrou sem cerimônia.

— Vista-se. Vamos sair em breve. — Kaur disse, direto, enquanto puxava uma cadeira e se sentava perto da mesa, onde um café da manhã simples que havia sido servido.

Arüna franziu o cenho, mas não respondeu. Levantou-se devagar, vestindo um manto pesado enquanto Kaur servia café para si mesmo.

— Para onde estamos indo? — Arüna perguntou, finalmente, enquanto se sentava à mesa, evitando o olhar de Kaur.

— Para uma vila ao sul. O inverno foi severo, e precisamos levar mantimentos. — Kaur respondeu, tomando um gole de café. — Não é um pedido. Você vai comigo.

Arüna apertou os lábios, irritado com o tom de comando, mas decidiu não discutir.

— Por que eu? Não seria mais eficiente levar seus soldados?

Kaur o encarou por um momento antes de responder, seus olhos avaliando Arüna.

— Porque é importante que as pessoas te vejam. Elas precisam acreditar que este casamento é mais do que um tratado político. Que você faz parte disso, como eu.

Arüna sentiu a bile subir à garganta, mas manteve a expressão neutra. Ele sabia que discutir seria inútil.

— Então, eu sou apenas mais uma peça no seu jogo. — Murmurou, amargo.

Kaur não respondeu imediatamente. Em vez disso, terminou seu café, colocando a xícara sobre a mesa com cuidado.

— Se é assim que você quer ver, Arüna, que seja. Mas hoje você vai ver algo que talvez mude essa perspectiva. Espero que cuide desse povo agora como se fosse o povo do qual você nasceu.

Horas depois, durante o caminho, o silêncio era cortante. A carruagem balançava suavemente enquanto seguia pelas estradas cobertas de neve. Arüna olhava pela janela, o silêncio entre eles tão pesado quanto o ar frio do inverno.

Foi Kaur quem quebrou o silêncio.

— A sua irmã. Ela se importava com essas vilas. — Ele começou, sem olhar para Arüna.

Arüna congelou, sentindo o coração apertar.

— Não fale dela. — Respondeu, sua voz carregada de tensão.

Kaur ignorou o aviso.

— Eu a vi uma vez, em uma situação parecida. Era primavera, e uma enchente havia devastado uma vila ao norte. Ela organizou os recursos, liderou as pessoas... mesmo sem saber que eu estava observando.

Arüna virou o rosto para ele, o olhar cheio de incredulidade e raiva.

— Você não tem o direito de falar dela. Você a matou.

Kaur finalmente encontrou o olhar de Arüna, seu rosto inexpressivo.

— Matei. Ela mereceu. — Admitiu, sua voz firme, mas sem emoção. — E ainda assim, reconheço a força que ela tinha. Não vou mentir sobre isso.

Arüna desviou o olhar, as mãos tremendo de raiva.

— Por que está me dizendo isso? — Perguntou, a voz baixa.

— Porque, por mais que você me odeie, há algo em você que me lembra dela. Algo que o torna mais útil do que imagina. — Kaur respondeu, voltando a olhar pela janela.

O silêncio voltou, mas agora estava carregado de algo mais: uma tensão que parecia prestes a explodir.

Mais tarde, na vila do sul

Arüna desceu da carruagem com o rosto oculto pelo capuz pesado. O vento frio cortava como lâminas, e a neve cobria o solo como um manto branco. Ele olhou ao redor, vendo os moradores da vila se aproximarem, hesitantes, mas cheios de expectativa.

Kaur já estava fora, supervisionando os soldados que descarregavam os mantimentos — sacos de grãos, cobertores, remédios. Sua postura era rígida, e ele falava com eficiência, organizando o trabalho sem perder tempo.

— Distribuam primeiro para as famílias com crianças pequenas. Certifiquem-se de que ninguém saia sem pelo menos um cobertor. — Sua voz cortava o ar gelado como um comando absoluto.

Arüna o observava à distância, tentando conciliar o homem diante dele com o monstro que o havia destruído na noite anterior. Kaur não era gentil; ele não sorria, nem oferecia palavras de conforto. Mas ele agia. E suas ações falavam mais alto do que qualquer coisa que ele pudesse dizer

— Lorde Kaur, temos o suficiente para todos, mas precisaremos racionar o próximo carregamento se o inverno se prolongar. — Um soldado informou.

— Então racionaremos. O importante agora é que ninguém morra de frio ou fome. — Kaur respondeu sem hesitar.

Enquanto caminhavam pela vila, Arüna viu Kaur se aproximar de uma criança que estava descalça, seus pés vermelhos pelo frio. Sem dizer nada, ele tirou seu próprio casaco e o colocou sobre os ombros do menino. A mãe da criança tentou agradecer, mas Kaur apenas acenou com a cabeça e seguiu em frente.

Arüna franziu a testa. Era estranho vê-lo assim. Não havia arrogância em seus gestos, apenas uma determinação silenciosa.

— Ele não é o que parece, não é? — Uma voz suave ao seu lado o fez se virar. Era uma mulher idosa, uma moradora da vila. — Lorde Kaur é duro, mas justo. Salvou minha família quando estávamos à beira da fome no último inverno.

Arüna não respondeu, mas as palavras da mulher ecoaram em sua mente enquanto ele continuava a observar.

Ao entardecer, depois de horas de trabalho, a distribuição havia terminado, a vila estava mais tranquila, e os soldados começaram a recolher as carroças vazias. Arüna estava sentado em um banco de madeira próximo a uma fogueira, aquecendo as mãos. Kaur se aproximou, tirando as luvas de couro e estendendo as mãos para o calor do fogo.

— O que achou? — perguntou, sem olhar para Arüna.

— Do quê?

— Do que viu hoje. — Kaur finalmente virou o rosto para ele, seu olhar intenso como sempre.

Arüna hesitou. Queria desprezá-lo, mas não podia negar o que havia testemunhado.

— Você se importa com eles. — Disse, por fim, sua voz baixa.

— Não é uma questão de me importar. É meu dever. Se eu não cuidar do meu povo, ninguém o fará. — Kaur respondeu, a frieza em suas palavras contrastando com suas ações do dia.

Arüna o encarou, tentando entender o enigma que era KauR. Um homem capaz de crueldades inimagináveis, mas que sacrificava seu conforto pelo bem de outros.

— E quanto a mim? — Arüna perguntou, a voz carregada de uma amargura contida.

Kaur o olhou, seus olhos sombrios como a noite.

— Você é meu. Isso nunca vai mudar.

Ele se afastou, deixando Arüna sozinho com seus pensamentos. O vento gelado voltou a soprar, mas Arüna quase não sentiu. Dentro de si, as chamas da dúvida e da raiva queimavam com intensidade renovada.

"Ele pode cuidar de um vilarejo inteiro... mas destruiu minha vida sem remorso algum. Como alguém pode ser assim?"

Arüna sabia que a batalha entre eles não era apenas externa. Era uma luta silenciosa, feita de olhares, palavras e ações. E ele precisava estar preparado. Kaur era um enigma um tanto óbvio.

continua...

Capítulos
1 Capítulo 1: a solução
2 Capítulo 2: A mentira, o noivo e o amante.
3 Capítulo 3: Na noite antes das núpicias
4 Capítulo 4: Esposa do Assassino, Assassina é
5 Capítulo 5: Temidos como devem ser
6 Capítulo 6: Consumido
7 Capítulo 7: Núpcias 1
8 Capítulo 8: Núpcias 2
9 Capítulo 9: Depois da Tormenta
10 Capítulo 10: Máscaras no Gelo
11 Capítulo 11: Farpas e Lâminas
12 Capítulo 12: Sob o Peso das Sombras
13 Capítulo 13: A Verdade Velada
14 Capítulo 14: Farpas e Cicatrizes
15 Capítulo 15: Ecos da Perda
16 Capítulo 16: Lâminas na Escuridão
17 Capítulo 17: Sol da comitiva
18 Capítulo 18: Traição e traidor
19 Capítulo 19: Sombras e Silêncios
20 Capítulo 20: Venenos e Verdades
21 Capítulo 21: Fios de Traição
22 Capítulo 22: Sombras do Julgamento
23 Capítulo 23: Entender
24 Capítulo 24: Fios de Traição e Verdades Veladas
25 Capítulo 25: O Confronto nas Sombras
26 Capítulo 26: Cicatrizes de Sangue
27 Capítulo 27: O Eco da Traição
28 Capítulo 28: Os Ecos da Traição 2
29 Capítulo 29: A Sombra do Luto
30 Capítulo 30: Sombras da confiança
31 Capítulo 31: Peso do Retorno
32 Capítulo 32: Marcas do Passado, Promessas do Futuro
33 Capítulo 33: Sombras e Intrigas em Calavag.
34 Capítulo 34: Jogo de honra e poder
35 Capítulo 35: Sob o Véu da Desconfiança
36 Capítulo 36: Jogos das sombras
37 Capítulo 37: Coração na tempestade
38 Capítulo 38: O frio da lâmina
39 Capítulo 39: Profundezas penadas
40 Capítulo 40: O Círculo se Fecha
41 Capítulo 41: Um Encontro de Sombras
42 Capítulo 42: O Retorno do Príncipe
43 Capítulo 43: Até a última gota de sangue
44 Capítulo 44: Correntezas do destino
45 Capítulo 45: A Cela da Condenação
46 Capítulo 46: O Prisão de Mentiras
47 Capítulo 47: Entre Correntes e Promessas
48 Capítulo 48: Sob a febre e o toque
49 Capítulo 49: Desejo e Dever
50 Capítulo 50: Ecos de vitória
51 Capítulo 51: Honra e Vitória
52 Capítulo 52: O que deu de errado?
53 Capítulo 53: Incertezas da Guerra
54 Capítulo 54: Entendendo os desentendidos
55 Capítulo 55: Limite da Rendição
56 Capítulo 56: Entrelaçados na Guerra
57 Capítulo 57: O último Caos.
58 Capítulo 58: A Fria Chuva
59 Capítulo 59: Confusão da Rainha
60 Capítulo 60: Silêncio da tenda
61 Capítulo 61: Caminhos do Sul
62 Capítulo 62: Novos Caminhos
63 Capítulo 63: As Cicatrizes do Passado
64 Capítulo 64: Afeto inegável
Capítulos

Atualizado até capítulo 64

1
Capítulo 1: a solução
2
Capítulo 2: A mentira, o noivo e o amante.
3
Capítulo 3: Na noite antes das núpicias
4
Capítulo 4: Esposa do Assassino, Assassina é
5
Capítulo 5: Temidos como devem ser
6
Capítulo 6: Consumido
7
Capítulo 7: Núpcias 1
8
Capítulo 8: Núpcias 2
9
Capítulo 9: Depois da Tormenta
10
Capítulo 10: Máscaras no Gelo
11
Capítulo 11: Farpas e Lâminas
12
Capítulo 12: Sob o Peso das Sombras
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Capítulo 13: A Verdade Velada
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Capítulo 14: Farpas e Cicatrizes
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Capítulo 15: Ecos da Perda
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Capítulo 16: Lâminas na Escuridão
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Capítulo 17: Sol da comitiva
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Capítulo 18: Traição e traidor
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Capítulo 19: Sombras e Silêncios
20
Capítulo 20: Venenos e Verdades
21
Capítulo 21: Fios de Traição
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Capítulo 22: Sombras do Julgamento
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Capítulo 23: Entender
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Capítulo 24: Fios de Traição e Verdades Veladas
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Capítulo 25: O Confronto nas Sombras
26
Capítulo 26: Cicatrizes de Sangue
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Capítulo 27: O Eco da Traição
28
Capítulo 28: Os Ecos da Traição 2
29
Capítulo 29: A Sombra do Luto
30
Capítulo 30: Sombras da confiança
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Capítulo 31: Peso do Retorno
32
Capítulo 32: Marcas do Passado, Promessas do Futuro
33
Capítulo 33: Sombras e Intrigas em Calavag.
34
Capítulo 34: Jogo de honra e poder
35
Capítulo 35: Sob o Véu da Desconfiança
36
Capítulo 36: Jogos das sombras
37
Capítulo 37: Coração na tempestade
38
Capítulo 38: O frio da lâmina
39
Capítulo 39: Profundezas penadas
40
Capítulo 40: O Círculo se Fecha
41
Capítulo 41: Um Encontro de Sombras
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Capítulo 43: Até a última gota de sangue
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Capítulo 45: A Cela da Condenação
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Capítulo 46: O Prisão de Mentiras
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Capítulo 47: Entre Correntes e Promessas
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Capítulo 48: Sob a febre e o toque
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Capítulo 49: Desejo e Dever
50
Capítulo 50: Ecos de vitória
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Capítulo 51: Honra e Vitória
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Capítulo 52: O que deu de errado?
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Capítulo 54: Entendendo os desentendidos
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Capítulo 55: Limite da Rendição
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Capítulo 56: Entrelaçados na Guerra
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Capítulo 57: O último Caos.
58
Capítulo 58: A Fria Chuva
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Capítulo 59: Confusão da Rainha
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Capítulo 60: Silêncio da tenda
61
Capítulo 61: Caminhos do Sul
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Capítulo 62: Novos Caminhos
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