Kaur dormia profundamente, um braço jogado sobre o travesseiro, enquanto Arüna permanecia imóvel ao seu lado. Ele respirava fundo, sentindo cada músculo do corpo dolorido, mas sua expressão era neutra, como se o momento tivesse apenas reforçado sua determinação.
Com cuidado, ele deslizou para fora da cama, ajustando o lençol ao redor de si. Caminhou até a janela, olhando para a vastidão escura além das muralhas do castelo.
— Você acha que me quebrou, Kaur. Mas cada ferida que você me deixa só reforça o meu propósito. — Ele sussurrou para a noite, suas palavras um juramento silencioso.
"Preciso conseguir dormir, todo meu corpo dói, assim estarei indisposto amanhã e perderei um dia..." Arüna voltou até a cama e se sentou, olhando para Kaur que ainda estava dormindo e suspirou profundamente enquanto coçava a cabeça perturbado.
— Ele sabia. —Murmurou com os olhos marejados— Sabia que eu era homem e mesmo assim se deitou comigo. Haah...
— Quanto tempo ainda vai choramingar sobre isso? —Arüna se assustou ao ouvir uma resposta, Kaur havia acordado, se virando pra ele, em seguida sentando na cama— Vai adiantar do que isso agora? Não era o que você queria? Tem um tratado de paz selado com o casamento.
— Não é nada o motivo pelo qual estou mal. Não se preocupe.
— Foi criado como mulher também? Achei que era só personagem.
— ... Sinceramente o que espera de tudo isso? Por que casaria comigo sabendo que eu estava disfarçado?
A chama da vingança continuava queimando dentro dele, mais forte do que nunca. Ele sabia que precisava ser paciente. Kaur era perigoso, mas sua obsessão e arrogância seriam sua ruína. Arüna só precisava esperar o momento certo para agir.
— 'Agora?' você perguntou mais cedo.
— Como?
— Mais cedo você me perguntou exatamente o que eu faria agora que já te tenho. —Ele repetiu, como se considerasse a questão. — Agora, eu vou continuar exatamente como estou. Você é meu, Arüna. Homem ou mulher, não faz diferença. Você está preso aqui, comigo, até que eu decida o contrário.
Ele levantou-se e começou a se afastar, mas parou na porta, deixando Arüna sentado na cama sem saber o que dizer, olhando para trás uma última vez.
— Ah, e uma última coisa. Não se iluda achando que eu não sei o motivo pelo qual você está aqui. Sua irmã... — Ele fez uma pausa, sorrindo ao ver o rosto de Arüna endurecer. — Só queria ter dormido com ela uma vez, mas ela me fez matá-la.
— ...! O que você disse...?!
— A culpa foi dela por ter me irritado, tome como lição.
Com essas palavras, ele saiu, deixando Arüna sozinho no quarto. A humilhação queimava como uma ferida aberta, mas em algum lugar, por baixo de tudo, uma chama de determinação ainda ardia.
Arüna ficou sentado na cama, olhando para a porta fechada por onde Kaur havia saído. O silêncio do quarto parecia zombar de sua impotência. A dor física que sentia era insignificante perto da tempestade que rugia dentro de si. As palavras de Kaur ecoavam como lâminas em sua mente.
"Sua irmã... Só queria ter dormido com ela uma vez, mas ela me fez matá-la."
— Mentiroso... —murmurou, mas sua voz tremia. — Você não sabe de nada...
Seus punhos se fecharam, os músculos do braço tremendo de tensão. Ele se levantou abruptamente, a cadeira próxima sendo empurrada com força contra a parede. A fúria explodiu como um barril de pólvora. Ele agarrou o candeeiro sobre a mesa e o arremessou contra o espelho, que se estilhaçou em mil pedaços, refletindo a figura distorcida de Arüna em sua ira.
Caminhou até o guarda-roupa, abriu as portas com brutalidade e começou a arrancar as roupas de dentro, jogando-as ao chão como se fossem o próprio Kaur.
— Maldito... MALDITO! — Gritou, sua voz rouca, as lágrimas agora correndo livres por seu rosto.
Arüna caiu de joelho em meio do caos que havia criado, seus dedos se enterrando nos próprios cabelos.
— Ela era tudo que eu tinha... tudo que me restava... — soluçou, apertando os olhos com força
Mas as lágrimas não eram apenas de dor. Eram de ódio, de uma raiva tão profunda que queimava como fogo em suas veias. Ele agarrou um dos pedaços de vidro do espelho quebrado e o encarou, com a sua respiração pesada.
Ele soltou o pedaço de vidro, que caiu no chão com um som abafado. Ficou ali, ajoelhado no meio dos destroços, enquanto o ódio pulsava dentro dele como uma segunda vida.
Arüna sabia que não podia enfrentar Kaur de frente. Não ainda. Mas, naquele momento, uma nova determinação tomou forma. Ele usaria cada ferida, cada humilhação, cada palavra cruel como combustível. Enquanto ainda estava ajoelhado no chão, cercado pelos destroços do quarto. O som abafado de passos apressados ecoou do corredor, seguido pela porta sendo aberta com força.
— Arüna! —Indah entrou no quarto, os olhos arregalados ao ver o caos. Quando viu Arüna chorando de soluçar, seus ombros sacudindo em desespero, seu coração apertou.
— Arüna... — Ele se aproximou lentamente, ajoelhando-se ao lado do amigo.— Olhe para mim. O que aconteceu?
Arüna ergueu o rosto, os olhos inchados de tanto chorar, mas carregados de uma dor que fazia Indah estremecer. Enquanto Indah o segurava, Arüna sentiu o calor reconfortante de seus braços, uma sensação que contrastava com a frieza do mundo ao seu redor. Ele levantou o rosto, os olhos ainda marejados, e encontrou o olhar de Indah.
Por um momento, o quarto em ruínas desapareceu. Não havia Kaur, nem vingança, nem dor. Apenas Indah, sua presença firme e sua preocupação genuína.
— Sua Alteza... — começou Indah, mas sua voz foi silenciada quando Arüna se inclinou para frente e o beijou.
O beijo foi desesperado, um reflexo de tudo o que Arüna sentia: dor, raiva, saudade e uma necessidade de se agarrar a algo real, algo que não fosse apenas destruição. Indah, surpreso no início, logo correspondeu, suas mãos segurando o rosto de Arüna com delicadeza.
Quando se separaram, Arüna desviou o olhar, sentindo o peso da realidade voltar.
— Desculpe... eu... — começou a dizer, mas Indah o interrompeu, segurando seu queixo e forçando-o a encará-lo.
— Não peça desculpas. Você não precisa se desculpar por sentir, Sua Alteza. — Sua voz era firme, mas havia uma ternura em seus olhos que fez o peito de Arüna apertar.
Por um momento, eles ficaram ali, encarando-se em silêncio. Indah passou o polegar pelo rosto de Arüna, limpando uma lágrima que ainda escorria.
— Você não está sozinho. Nunca esteve. E nunca estará, enquanto eu estiver aqui. — Indah sorriu, um sorriso pequeno, mas sincero.
Arüna respirou fundo, tentando reunir os pedaços de si mesmo. Ele sabia que aquela relação era tão perigosa quanto tudo o que o cercava, mas, naquele momento, não se importava. Indah era sua âncora, e ele precisava disso mais do que nunca.
— Obrigado... — murmurou, sua voz baixa, mas cheia de significado.
Indah apenas assentiu, mantendo-o próximo, como se sua presença pudesse afastar toda a dor que o mundo havia jogado sobre Arüna.
continua...
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Atualizado até capítulo 64
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