A estrada de volta ao castelo era estreita e ladeada por florestas densas. O céu cinzento parecia pesar sobre eles, e a neve começava a cair novamente, cobrindo o chão em um manto gélido. Dentro da carruagem, o silêncio entre Arüna e Kaur era cortante, mas nenhum dos dois parecia disposto a quebrá-lo. De repente, o veículo deu um solavanco brusco, quase derrubando Arüna de seu assento.
— O que foi isso? perguntou ele, segurando-se.
Kaur já estava em alerta, abrindo a pequena janela que conectava a carruagem ao cocheiro.
— Pare imediatamente. —Ordenou.
A carruagem parou com um rangido, e Arüna viu pela janela lateral que os soldados estavam desembainhando as espadas. Antes que pudesse perguntar o que estava acontecendo, ouviu gritos e passos pesados.
— Bárbaros. —Kaur disse, sua voz baixa, mas tensa.
Antes que Arüna pudesse reagir, a porta da carruagem foi arrancada com força, revelando um homem enorme, com um rosto coberto por cicatrizes e um sorriso cruel. Ele agarrou Arüna pelo braço, puxando-o para fora com brutalidade.
— Esse vai valer alguma coisa. —Disse o bárbaro, rindo, enquanto outros se aproximavam.
— Me solte filho da puta!
— Sua Alteza não devia ter modos?
Arüna lutou para se soltar, mas o homem era forte demais. Ele conseguiu desferir um chute no agressor, mas isso só fez o bárbaro rir ainda mais antes de atirá-lo ao chão com violência. A neve amorteceu parte da queda, mas uma dor aguda percorreu o braço de Arüna ao aterrissar.
Antes que o bárbaro pudesse fazer mais, Kaur apareceu. Ele se movia como uma tempestade, sua espada brilhando enquanto cortava o ar. O primeiro bárbaro caiu antes mesmo de entender o que havia acontecido, sangue manchando a neve ao redor respingando no rosto de Arüna.
Os outros tentaram reagir, mas Kaur era rápido e implacável. A sua espada encontrou carne e osso, e os gritos dos bárbaros logo transformaram-se em gemidos agonizantes. Um tentou fugir, mas Kaur o perseguiu, derrubando-o com um golpe preso na perna.
— Não. — Disse Kaur, a voz gelada como o inverno ao redor.— Você não foge. A rainha pode não ter modos, mas quer conhecer os meus?
— ... Não...! Meu senhor..!
Ele ergueu a espada novamente, desferindo um golpe brutal que silenciou o homem para sempre.
Quando o último bárbaro caiu, Kaur se virou para Arüna, que ainda estava no chão, segurando o braço machucado. Havia sangue na espada de Kaur, em suas roupas, até mesmo em seu rosto. Ele se aproximou, os olhos sombrios fixos em Arüna.
— Está ferido? — Perguntou, ajoelhando-se ao lado dele.
Arüna hesitou, o olhar dividido entre o medo e a raiva.
— O meu braço... Acho que está torcido. —Respondeu, tentando controlar a dor.
Kaur examinou o braço rapidamente, seu toque firme, mas cuidadoso.
—Não está quebrado. — Disse, antes de se levantar e estender a mão para Arüna.
Arüna a ignorou, levantando-se sozinho, embora com dificuldade.
— Você não precisava matá-los assim. — Disse ele, a voz trêmula.
Kaur o encarou, o olhar duro.
— E você preferia o quê? Que eles te levassem? Que te matassem? — Ele se aproximou, a raiva evidente em sua postura. — A misericórdia não tem lugar aqui, Arüna. Por isso que seu povo morre.
Arüna desviou o olhar, sentindo o peso das palavras de Kaur. Mas, no fundo, ele sabia que Kaur tinha razão.
— Vamos. — Disse Kaur, voltando para a carruagem.— Você precisa de um curandeiro.
Arüna o seguiu, o braço latejando e a mente cheia de pensamentos confusos. Ele não sabia o que era mais difícil de suportar: a dor física ou a verdade implacável que Kaur acabara de lhe mostrar.
Dentro da carruagem, os soldados haviam improvisado um jeito de fixar a porta quebrada, protegendo-os parcialmente do frio. Kaur observava Arüna, que segurava o braço com cuidado, a expressão marcada pela dor.
— Deixe-me ver. — Disse Kaur, a voz mais baixa, mas ainda firme.
Arüna hesitou, mas, diante do olhar determinado de Kaur, estendeu o braço com relutância.
Kaur segurou o braço com cuidado, seus dedos firmes, mas surpreendentemente gentis. Ele examinou a área, apertando levemente em alguns pontos.
— Está torcido, mas não é grave. Vamos imobilizar assim que chegarmos. — Disse ele, soltando o braço de Arüna.
Arüna assentiu em silêncio, surpreso com o tom mais calmo de Kaur.
Enquanto o carro sacolejava na estrada, Kaur retirou seu manto pesado e o colocou sobre os ombros de Arüna.
— Use isso. Você está tremendo.
— Não precisa... Não é de frio...— Arüna começou, mas Kaur o interrompeu.
— Lógico que é, apenas use. Não discuta.
Arüna se calou, puxando o manto para si. Apesar do desconforto da situação, não pôde ignorar o calor que sentiu, tanto do tecido quanto do gesto inesperado. Após alguns minutos, Kaur falou novamente, desta vez com um tom mais neutro.
— Aqueles bárbaros. Eles não eram apenas saqueadores comuns.
Arüna levantou os olhos para ele, confuso.
— O que quer dizer?
— Reconheci os símbolos nas armas. Eram do seu povo.
Arüna piscou, surpreso, antes de balançar a cabeça em negação.
— Isso é impossível. Meu povo nunca conseguiu atravessar as margens sem nem sequer serem dizimados, como são do meu povo?
Kaur cruzou os braços, observando-o com atenção.
— Acredita mesmo nisso? Esses ataques têm sido frequentes, especialmente naquela vila que visitamos. Eles têm saqueado e aterrorizado essas terras há anos. No último mês destroçaram um navio de carga de temperos e matarm todos os tripulantes.
Arüna franziu o cenho, sentindo um misto de descrença e indignação.
— Mentira. Por que ninguém me contaria?
— Por que contariam? — Kaur respondeu, sem rodeios. — Se aquele cachorrinho que vive grudado em você não te disse era porque você não deveria saber.
Arüna apertou os lábios, o rosto tenso.
— E você acha que culpá-lo resolve alguma coisa?
Kaur o encarou, seus olhos duros suavizados apenas por um traço de paciência inesperada.
— Não estou o culpando. Estou te informando. Aqueles homens eram problema seu antes de serem problema meu. E agora... — Ele fez uma pausa, a voz mais baixa. — Agora precisamos lidar com isso.
Arüna desviou o olhar, processando as palavras de Kaur. O peso da responsabilidade era sufocante, mas ele sabia que não podia ignorar o que havia acabado de ouvir.
Sem dizer mais nada, Kaur ajustou o manto sobre os ombros de Arüna e voltou a olhar pela janela, o rosto sério, mas sem a frieza habitual. "Indah sabia disso?" Arüna só conseguia pensar nisso, já Kaur havia entendido com aquela frase a relação deles dois.
Continua......
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Atualizado até capítulo 64
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