Capítulo 12: Sob o Peso das Sombras

A chegada ao castelo foi silenciosa, mas tensa. As portas da fortaleza se abriram lentamente, rangendo como se sentissem o peso da comitiva ferida. A neve caía mais intensamente, cobrindo o chão e apagando os rastros do ataque que haviam sofrido na estrada.

Arüna desceu da carruagem com dificuldade, o braço ainda latejando. Ele evitou olhar para Kaur, que estava logo atrás, mas sentia o olhar dele queimando em suas costas. Soldados e servos os observavam com expressões preocupadas, mas ninguém ousava falar.

— Cuidem dos feridos e reforcem a segurança dos portões. — Kaur ordenou aos soldados, sua voz firme ecoando pelo pátio.

Arüna seguiu direto para seus aposentos, ignorando os murmúrios ao redor. Ele precisava de silêncio, precisava pensar.

Nos Aposentos de Arüna

A porta se fechou atrás dele com um baque surdo. Arüna caminhou até o espelho, observando seu reflexo. Havia manchas de sangue seco em sua pele, e sua roupa estava rasgada e suja. Mas o que mais o incomodava era o olhar nos próprios olhos: um misto de medo, raiva e... culpa.

Ele suspirou, sentando-se com cuidado na beira da cama, quando a porta se abriu sem aviso. Indah entrou, o rosto marcado pela preocupação.

— Vossa Alteza! — disse ele, correndo até o amante. — Você está bem? Eu soube do ataque.

Arüna ergueu os olhos para ele, o rosto endurecido.

— Estou vivo, se é isso que quer saber.

Indah hesitou, surpreso pela frieza na voz de Arüna.

— O que aconteceu? — perguntou, ajoelhando-se à frente dele.

Arüna o olhou com raiva, ainda sentindo a dor no braço, mas ignorando-a.

— Bárbaros. Um grupo grande, organizado. Eles nos emboscaram na estrada. São dos nossos Indah.

Indah franziu o cenho.

— Isso não faz sentido. Como eles saberiam da rota? E por que estariam aqui?

— É o que eu gostaria de saber. — Arüna o encarou, os olhos estreitos. — E por que ninguém me contou que eles têm atacado essas terras há anos?

Indah desviou o olhar, visivelmente desconfortável.

— Eu... não achei que fosse relevante te preocupar com isso.

— Não achou que fosse relevante? — Arüna se levantou, ignorando a dor. — Meu povo está sendo acusado de traição, Indah! De atacar vilas, saquear caravanas... E você não achou que isso fosse importante o suficiente para me contar?

— Eu só queria protegê-lo! — Indah respondeu, a voz desesperada. — Você já carrega tanto...

— E agora carrego mais, graças a você.

O silêncio que se seguiu foi pesado. Indah tentou se aproximar, mas Arüna deu um passo para trás.

— Saia.

— Arüna, por favor...

— Eu disse, saia.

Relutante, Indah deixou o aposento, deixando Arüna sozinho com seus pensamentos.

Enquanto isso, no salão principal, Kaur estava reunido com os conselheiros e comandantes do castelo. Ele caminhava de um lado para o outro, o semblante sério.

— Esse ataque não foi uma coincidência. — disse ele, a voz cortante. — Eles sabiam exatamente onde estar e quando atacar.

— Está sugerindo traição, meu senhor? — perguntou um dos comandantes.

— Não estou sugerindo nada. Estou afirmando. Tenho certeza.

Os conselheiros se entreolharam, inquietos.

— Precisamos identificar quem está passando informações. — continuou Kaur. — E precisamos agir rápido. Se eles estão alinhados com os bárbaros, é apenas uma questão de tempo até que algo maior aconteça.

Um mensageiro entrou apressado no salão, entregando um pergaminho a Kaur. Ele o leu rapidamente, o rosto ficando ainda mais sombrio.

— Capturamos três bárbaros vivos. Um deles afirma ter informações importantes.

— O prepare para minha vinda, vou ver como a minha esposa está.

— Sua Alteza foi muito ferida, meu senhor? — Perguntou o conselheiro preocupado.

— Houve um movimento brusco dos bárbaros durante a ação, um mau jeito, vou mandar o curandeiro ir vê-lo.

Aruna estava se banhar quando Kaur chegou nos aposentos, o barulho da porta o assustou e ele olhou rapidamente para trás.

— Céus... Me assustou, meu senhor...

— Deveria bater na porta do meu próprio quarto para entrar?

— ... Sinto muito, não foi o que quis dizer. Achei que seria outra pessoa...

— Outra pessoa tem entrado aqui sem bater na porta? — O dizia enquanto alisava com os dedos o cabelo de Arüna, que estavam encharcados.

— Apenas achei que seriam as damas de companhia, elas insistiram em me banhar, mas as mandei sair.

— Tudo bem, eu soube. A propósito, chamei o curandeiro para ver o seu braço, ainda está dolorido, certo?

Arüna o acenou com a cabeça concordando, Kaur, ao perceber a vulnerabilidade de Aruna, tomou uma decisão rápida. Ele não queria que o curandeiro o encontrasse em uma situação tão exposta, nem queria que Aruna se sentisse ainda mais frágil do que já estava. Mas havia algo mais por trás de seu gesto, algo que refletia o controle que ele sempre tentava manter, mesmo nos momentos mais íntimos.

— Vista-se, Aruna. — Kaur disse com uma firmeza que não deixava espaço para discussão. — O curandeiro virá logo. Quero que ele veja o seu braço.

Arüna, surpreso pela ordem, virou-se lentamente, encarando Kaur. Seus olhos encontraram os de Kaur, e por um momento, a tensão entre eles parecia quase palpável. Não era apenas sobre o que estava acontecendo fisicamente, mas sobre o que se escondia nas entrelinhas, no jogo de poder que nunca deixava de existir entre eles.

— Como quiser. — Aruna respondeu, sua voz mais baixa do que pretendia, mas carregada de um tipo de resignação que ele não gostava de admitir.

Ele levantou-se da tina, enquanto Kaur o observava, a água escorrendo de seu corpo ao passo em que se secava, deixou Kaur excitado, mas ele se conteve. Arüna começou a se vestir, sentindo o peso do olhar de Kaur sobre ele. A presença de Kaur parecia sempre invadir o espaço, moldando o ambiente de acordo com sua vontade. Ele sabia que não tinha muitas opções ali, e ao mesmo tempo, sabia que Kaur também precisava garantir que ele estivesse bem para continuar com suas responsabilidades.

Enquanto Arüna se vestia, Kaur permaneceu em silêncio, observando-o com uma atenção fria, mas com algo mais, algo que Aruna não conseguia identificar, parecia um misto de desejo com ódio implantados e um tanto indecifráveis. Quando ele terminou de se vestir, Kaur fez um leve movimento, sinalizando para que se aproximasse.

— O curandeiro deve estar a caminho. — Kaur disse, e por um breve momento, seus olhos suavizaram. — Fique quieto enquanto ele cuida de você.

— Fala como se eu tomasse decisões erradas para fazer.

— ... Você me entendeu.

Arüna, ainda imerso em seus próprios pensamentos e sentimentos conflitantes, sentiu um nó na garganta.

O curandeiro entrou sem dizer uma palavra, sua presença discreta, mas imediata. Ele se aproximou de Arüna, que já estava sentado, os olhos fixos no chão, ainda imerso em pensamentos. Kaur se afastou um pouco, observando com um olhar que poderia ser descrito como distante, mas atento.

O curandeiro começou a inspecionar as feridas de Aruna, com mãos experientes, e logo se concentrou em aplicar uma pomada nas contusões. A dor física era forte, mas não comparada ao turbilhão de emoções que Aruna sentia. Ele tentava manter a compostura, mas a cada toque do curandeiro, sua pele parecia lembrar de sua fragilidade.

— Não é nada grave. Vossa Alteza não o quebrou, nem chegou a deslocar.

— E esse inchado doutor? — Perguntou Kaur, parecendo levemente preocupado.

— Foi devido ao mau jeito, se Sua Alteza forçou contra o movimento imposto sobre o braço essa reação é comum.

Kaur observava de longe, os olhos fixos em Aruna, como se o visse de uma maneira diferente agora, mais humano, mais vulnerável. Mas sua expressão não mudou, como se o que acontecia ali não tivesse impacto real sobre ele. A distância entre os dois nunca parecia diminuir, mesmo quando Kaur estava fisicamente perto.

O curandeiro, sem se importar com a tensão no ar, terminou de aplicar a pomada e fez um sinal para Kaur, indicando que Arüna estava em boas mãos.

— Ela precisa descansar, mesmo não sendo nada grave, pode ter dado algo no músculo, Sua Alteza não deve fazer o mínimo do esforço — disse o curandeiro, com uma voz calma e sem pressa.

Kaur fez um gesto para que o curandeiro se retirasse, mas antes de sair, o homem olhou para Aruna e deu-lhe um breve sorriso, como uma tentativa de aliviar um pouco a tensão.

— Fique bem, minha Senhora. O tempo de cura é necessário.

— Obrigada.

Kaur não disse nada, mas seus olhos se voltaram para Aruna, mais uma vez, como se estivesse esperando algo dele. Mas o que exatamente ele esperava? E Aruna, como reagiria a essa interação silenciosa e cheia de significado não dito entre os dois?

Continua...

Capítulos
1 Capítulo 1: a solução
2 Capítulo 2: A mentira, o noivo e o amante.
3 Capítulo 3: Na noite antes das núpicias
4 Capítulo 4: Esposa do Assassino, Assassina é
5 Capítulo 5: Temidos como devem ser
6 Capítulo 6: Consumido
7 Capítulo 7: Núpcias 1
8 Capítulo 8: Núpcias 2
9 Capítulo 9: Depois da Tormenta
10 Capítulo 10: Máscaras no Gelo
11 Capítulo 11: Farpas e Lâminas
12 Capítulo 12: Sob o Peso das Sombras
13 Capítulo 13: A Verdade Velada
14 Capítulo 14: Farpas e Cicatrizes
15 Capítulo 15: Ecos da Perda
16 Capítulo 16: Lâminas na Escuridão
17 Capítulo 17: Sol da comitiva
18 Capítulo 18: Traição e traidor
19 Capítulo 19: Sombras e Silêncios
20 Capítulo 20: Venenos e Verdades
21 Capítulo 21: Fios de Traição
22 Capítulo 22: Sombras do Julgamento
23 Capítulo 23: Entender
24 Capítulo 24: Fios de Traição e Verdades Veladas
25 Capítulo 25: O Confronto nas Sombras
26 Capítulo 26: Cicatrizes de Sangue
27 Capítulo 27: O Eco da Traição
28 Capítulo 28: Os Ecos da Traição 2
29 Capítulo 29: A Sombra do Luto
30 Capítulo 30: Sombras da confiança
31 Capítulo 31: Peso do Retorno
32 Capítulo 32: Marcas do Passado, Promessas do Futuro
33 Capítulo 33: Sombras e Intrigas em Calavag.
34 Capítulo 34: Jogo de honra e poder
35 Capítulo 35: Sob o Véu da Desconfiança
36 Capítulo 36: Jogos das sombras
37 Capítulo 37: Coração na tempestade
38 Capítulo 38: O frio da lâmina
39 Capítulo 39: Profundezas penadas
40 Capítulo 40: O Círculo se Fecha
41 Capítulo 41: Um Encontro de Sombras
42 Capítulo 42: O Retorno do Príncipe
43 Capítulo 43: Até a última gota de sangue
44 Capítulo 44: Correntezas do destino
45 Capítulo 45: A Cela da Condenação
46 Capítulo 46: O Prisão de Mentiras
47 Capítulo 47: Entre Correntes e Promessas
48 Capítulo 48: Sob a febre e o toque
49 Capítulo 49: Desejo e Dever
50 Capítulo 50: Ecos de vitória
51 Capítulo 51: Honra e Vitória
52 Capítulo 52: O que deu de errado?
53 Capítulo 53: Incertezas da Guerra
54 Capítulo 54: Entendendo os desentendidos
55 Capítulo 55: Limite da Rendição
56 Capítulo 56: Entrelaçados na Guerra
57 Capítulo 57: O último Caos.
58 Capítulo 58: A Fria Chuva
59 Capítulo 59: Confusão da Rainha
60 Capítulo 60: Silêncio da tenda
61 Capítulo 61: Caminhos do Sul
62 Capítulo 62: Novos Caminhos
63 Capítulo 63: As Cicatrizes do Passado
64 Capítulo 64: Afeto inegável
Capítulos

Atualizado até capítulo 64

1
Capítulo 1: a solução
2
Capítulo 2: A mentira, o noivo e o amante.
3
Capítulo 3: Na noite antes das núpicias
4
Capítulo 4: Esposa do Assassino, Assassina é
5
Capítulo 5: Temidos como devem ser
6
Capítulo 6: Consumido
7
Capítulo 7: Núpcias 1
8
Capítulo 8: Núpcias 2
9
Capítulo 9: Depois da Tormenta
10
Capítulo 10: Máscaras no Gelo
11
Capítulo 11: Farpas e Lâminas
12
Capítulo 12: Sob o Peso das Sombras
13
Capítulo 13: A Verdade Velada
14
Capítulo 14: Farpas e Cicatrizes
15
Capítulo 15: Ecos da Perda
16
Capítulo 16: Lâminas na Escuridão
17
Capítulo 17: Sol da comitiva
18
Capítulo 18: Traição e traidor
19
Capítulo 19: Sombras e Silêncios
20
Capítulo 20: Venenos e Verdades
21
Capítulo 21: Fios de Traição
22
Capítulo 22: Sombras do Julgamento
23
Capítulo 23: Entender
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Capítulo 24: Fios de Traição e Verdades Veladas
25
Capítulo 25: O Confronto nas Sombras
26
Capítulo 26: Cicatrizes de Sangue
27
Capítulo 27: O Eco da Traição
28
Capítulo 28: Os Ecos da Traição 2
29
Capítulo 29: A Sombra do Luto
30
Capítulo 30: Sombras da confiança
31
Capítulo 31: Peso do Retorno
32
Capítulo 32: Marcas do Passado, Promessas do Futuro
33
Capítulo 33: Sombras e Intrigas em Calavag.
34
Capítulo 34: Jogo de honra e poder
35
Capítulo 35: Sob o Véu da Desconfiança
36
Capítulo 36: Jogos das sombras
37
Capítulo 37: Coração na tempestade
38
Capítulo 38: O frio da lâmina
39
Capítulo 39: Profundezas penadas
40
Capítulo 40: O Círculo se Fecha
41
Capítulo 41: Um Encontro de Sombras
42
Capítulo 42: O Retorno do Príncipe
43
Capítulo 43: Até a última gota de sangue
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Capítulo 44: Correntezas do destino
45
Capítulo 45: A Cela da Condenação
46
Capítulo 46: O Prisão de Mentiras
47
Capítulo 47: Entre Correntes e Promessas
48
Capítulo 48: Sob a febre e o toque
49
Capítulo 49: Desejo e Dever
50
Capítulo 50: Ecos de vitória
51
Capítulo 51: Honra e Vitória
52
Capítulo 52: O que deu de errado?
53
Capítulo 53: Incertezas da Guerra
54
Capítulo 54: Entendendo os desentendidos
55
Capítulo 55: Limite da Rendição
56
Capítulo 56: Entrelaçados na Guerra
57
Capítulo 57: O último Caos.
58
Capítulo 58: A Fria Chuva
59
Capítulo 59: Confusão da Rainha
60
Capítulo 60: Silêncio da tenda
61
Capítulo 61: Caminhos do Sul
62
Capítulo 62: Novos Caminhos
63
Capítulo 63: As Cicatrizes do Passado
64
Capítulo 64: Afeto inegável

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