capitulo 8

Mirella sempre teve medo do escuro, cresceu ouvindo que o mal se escondia nele mais percebeu com a chegada de Lúcio Grigio que os monstros também caminhavam na luz,era uma criança amada, a menininha do papai até o dia em que ele se foi, morto de forma misteriosa em uma viagem ao oriente, Mirella não era filha única de Renan, tinha uma irmã mais velha chamada Rafaela a quem via esporadicamente graças a implicância de Tábata sua mãe com ex enteada.

Tábata era jovem, linda, havia tido a filha com apenas 16 anos o que muitas vezes lhe rendia elogios por sua beleza intacta, quando conheceu Lúcio levando a filha com pouco mais de um ano para morar com eles não fazia ideia de que estava colocando a pequena criança na mira de um homem doente, Lúcio era um policial aposentado por invalidez, perdeu parte da perna em serviço ainda muito jovem, solteiro nunca havia se relacionado de forma séria com alguém, quando conheceu Tábata em um evento beneficente do orfanato Santa Catarina de Sena ficou encantado ao ponto de seus olhos brilharem, não, não era ela o motivo de seu encantamento e sim a pequena criança que ela carregava em seu colo.

Lúcio era um ser doentio, capaz de ver beleza em um corpo infantil e sem qualquer atrativo, Mirella se tornou sua maior obsessão e com isso um verdadeiro inferno se deu início, Lúcio fazia questão de estar próximo da menina, deu a ela seu sobrenome e cuidava sozinho para que a mãe trabalhasse, os banhos mesmo ainda criança nunca eram inocentes e jamais eram ministrados sem a sua atenta supervisão, o homem que sempre fazia questão de vestir a enteada como uma pequena boneca muitas vezes se tocava de forma inapropriada na frente dela e isso só piorou quando as cuvas começaram a surgir, Tábata fechou os olhos, fingia não ver o que estava bem a sua frente e quando Mirella se tornou adolescente caiu em uma profunda depressão, amava tanto Lúcio que preferia fingir não ver os olhares e investidas contra a filha para não perde-lo, Mirella era um menina lindíssima, o rosto de anjo em um corpo de mulher quase enlouquciam o padrasto que fez questão de subornar não um mais três psiquiatras para atestarem que as reclamações e denúncias de assedio da mesma contra ele eram devido a instabilidade psicológica que ela tinha

Mirella era uma jovem lúcida, inteligente e que de tanto lutar sem ajuda de ninguém por sua própria sobrevivência se transportava para um lugar solitário em sua mente sempre que estava em perigo, na verdade o que a mãe dizia ser dupla personalidade era uma dissociação para fugir de seus medos, ela estava ali,sempre atenta a tudo que acontecia ao seu redor, as vezes como telespectadora outras como atriz principal de sua própria vida, se escondia atrás do sorriso já que a mãe que lhe devia proteção fechava os olhos para o que via.

Naquela noite Mirella e a mãe vinham juntas da igreja, entraram em casa aos risos, já fazia semanas que Tábata não saia de casa e a filha estava feliz por finalmente ela ter se levantado da cama, Mirella era inocente, doce demais para perceber que na verdade a mãe estava comemorando sua partida, ela iria se juntar ao convento e de certa forma Tábata enxergava isso como o fim da competição doentia por Lúcio que só existia em sua cabeça.

— Onde estavam?

Ambas se assustaram ao vê-lo descer as escadas com um cinto nas mãos.

— Lúcio, por favor.

Tábata se pôs a frente da filha mas foi empurrada pelo marido.

— Onde estava sua piranhasinha miserável?

Debruçou Mirella sobre o braço do sofá rasgando o vestido que ela usava.

— Para.

Mirella gritava enquanto ele a açoitava com o cinturão,a pele branca completamente marcada.

— Lúcio, vai mata-la.

Tábata gritou em um único e inédito resquício de amor pela filha, a mulher correu até Lúcio, saltou sobre suas costas o esmurrando com força.

— Saia.

Ele a empurrou com brutalidade, Tábata bateu com tanta força contra a quina do móvel que um corte profundo se abriu em sua cabeça.

— Mamãe.

Mirella correu até ela, o vestido branco que usava se lavou em sangue.

— Viu, viu o que me fez fazer?

Os olhos vazios em um tom de verde profundo encaravam Lúcio como se ele não estivesse ali, ela não estava, Mirella cantarolava, ninava a mãe em seu colo de olhos abertos enquanto a vida lhe esvaia,Tábata morreu nos braços da filha, Lúcio correu para fora, sabia muito bem que encontraria o apoio da polícia da cidade se agisse como um viúvo arrasado então fugiu do flagrante, ninguém acreditaria nas palavras de Mirella se o acusasse e ele estava disposto a reverter o jogo se ela o fizesse, colocaria toda a culpa nela e em sua "instabilidade" psicológica, quem acreditaria em uma garota louca ao invés de um policial respeitado? Diria que havia sido um acidente em um surto de Mirella e ficaria finalmente com a jovem para si.

Mirella passou algum tempo ali sentada, quando a lucidez finalmente a abraçou chorou, sobre o corpo ainda morno da mãe estendeu um pequeno lençol e andou, andou até que os pés doessem, descalços e feridos pelo asfalto coberto de pedregulhos, Mirella encarou com um olhar triste o lugar onde o desespero a havia levado, naquela tarde tinha fugido daquele chalé e agora era o único lugar que podia ir, Mirella deixou lágrimas escorrem de seus olhos ao se lembrar que teve medo de Odin, ele era alguém cruel e louco mais quem em sua vida não era? com toda insanidade que vivia, aquele assassino de aluguel era só mais um em sua dolorosa realidade e ela usaria isso a seu favor, sabia bem quais eram os planos de Lúcio e se recusava a voltar para casa, para ele, se sentou no sofá e esperou, quando Odin entrou pela porta coberto de sangue ela o abraçou, nem mesmo sem importou com a forma macabra com que o mesmo estava, era sua liberdade em forma de inferno e pagaria o preço que isso lhe custasse.

— Ela está morta.

Sussurrou agarrada a ele, Odin não retribuiu o abraço, ambos em um vermelho vivo que oscilava pureza e devassidão.

— Quem?

Olhou friamente para Mirella.

— Minha mãe.

Odin a afastou dele, tirou a camisa clerical romana que usava caminhando pela escuridão até o banheiro, o homem que após fazer mais uma vítima ainda estava embriagado pela morte entrou embaixo d'agua fria, completamente nu, de cabeça baixa viu escorrer o sangue que lhe tingia quando o pequeno corpo de Mirella se juntou ao seu, escorado a parede ele a observou, marcada pela surra, vermelha pelas chicotadas, completamente excitado Odin viu beleza na dor, foi sua companheira por quase uma vida, adoraria ter sido ele a ter deixado aquelas marcas, faria até mesmo pior com a permissão dela, era um homem sádico e doente na forma mais debochada da palavra, duro admirando a perfeição de sua inocência ele ouviu sua alma vazia gargalhar.

— Hô menina, seja lá o que pensa estar fazendo pare, não se deve provocar um monstro como eu, é só um cordeirinho criança, puro e doce e que eu destruiria se tocasse como eu quero.

— Não tenho nada a oferecer além do que está vendo diante de ti, disse que é um homem justo, que cobra por seus serviços.

Odin a fitou em silêncio.

— Eis o seu pagamento " Padre", como disse eu nunca fui tocada, o quanto meu corpo vale?

Ela debochou, encostou contra ele, Odin fechou os olhos, caso contrário perderia o controle.

— Me dê a cabeça de Lúcio Grigio em uma bandeja de prata e serei sua até o dia que me quiser.

Odin agarrou o rosto dela, apertou forte.

— Sabe o que está fazendo? Acaba de oferecer sua alma ao diabo.

— Então haja como ele e traga o inferno aquele desgraçado.

Odin sorriu nos lábios dela, um sorriso tão macabro que Mirella sentiu todos os seus pelos se arrepiarem, o viu sair do chuveiro em completo silêncio, era um caçador e um rastreador treinado.

— Temos um acordo?

Ela gritou, tapava os seios e a intimidade com as pequenas mãos de forma envergonhada.

— Sim, Mirella nós temos, se cobrir agora é bobagem, é minha, fodidamente minha, que Deus tenha piedade de sua alma.

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