Na manhã seguinte, o Duque e Eleanor partiram em direção ao reino de Everhart. Era uma jornada longa, que levaria vários dias até que chegassem ao seu destino. Contudo, um fato extraordinário permanecia oculto aos olhos do mundo: os dragões ancestrais eram capazes de assumir formas humanas. Apesar dessa habilidade, eles não conseguiam se expressar verbalmente, mesmo em suas formas naturais. Na maior parte do tempo, se comunicavam telepaticamente com outros membros de sua espécie. Aqueles que firmavam um contrato de sangue, por sua vez, podiam acessar os pensamentos desses seres magníficos.
Entre os dragões, Sylvia e Vektor decidiram tomar suas formas humanas. A missão deles era clara: deveriam acompanhar o Duque, disfarçando-se de servos em sua residência no reino de Everhart. Essa estratégia visava não apenas garantir a proteção do Duque, mas também permitir que os dragões observassem de perto os movimentos dos humanos e as dinâmicas do reino, especialmente no que dizia respeito à família real. Assim, ao se infiltrarem na corte, poderiam captar informações valiosas e desvendar intrigas que poderiam impactar tanto o reino quanto a própria segurança dos dragões.
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...Vektor (Nome Falso: Nikolaus)...
...[Dragão das Trevas/Dragão Negro]...
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...Sylvia (Nome Falso: Selene)...
...[Dragão da Luz/ Dragão Celeste]...
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Os dias se passaram lentamente até que, finalmente, a carruagem do Duque parou em frente à imponente residência dos Silverlake. As ruas, repletas de vida, estavam movimentadas; o burburinho das pessoas era palpável, e olhares curiosos se cruzavam, enquanto murmúrios sobre a presença do Duque na capital ecoavam entre as multidões. Ao parar, um dos servos abriu a porta da carruagem com uma reverência, permitindo que o Duque descesse com elegância. Ele estendeu a mão, gentilmente, para ajudar Eleanor e Sylvia, que agora adotava o nome de Selene, a desembarcarem. Vektor, que se apresentava como Nikolaus, desceu em seguida, com passos firmes e um olhar ameaçador que fazia os soldados ao redor sentirem um arrepio de medo. Embora o Duque emanasse uma aura de poder, era Nikolaus quem, em sua forma humana, provocava um temor ainda mais profundo.
Eles caminharam em direção à entrada da mansão, observando o movimento constante de pessoas que passavam próximas à residência. Embora luxuosa, a mansão não se comparava ao esplendor do castelo real, mas sua grandiosidade era inegável.
— Uau... Este lugar é deslumbrante... — exclamou Eleanor, os olhos brilhando de admiração.
— Um dia, levarei você aos outros cinco reinos. Além de Everhart e Silverlake, possuímos mais cinco residências nos reinos vizinhos — disse ele, olhando para Eleanor com ternura.
— Com licença, Duque... O príncipe já está ciente de sua chegada. Ele lhe enviou um convite para um baile real que está sendo organizado, e o rei também pretende participar — explicou Lavosk, fazendo uma reverência respeitosa.
— Isso é excelente. Com a presença do rei, poderei me apresentar oficialmente à família real e colocar em prática tudo o que me foi falado — disse Eleanor, encarando Lavosk com firmeza. — Quando será o baile?
— Daqui a duas semanas, Duquesa — respondeu ele.
— Certo, temos tempo. Enquanto isso, precisamos nos concentrar em outra questão. Vamos até meu escritório; há assuntos que preciso discutir com você, em particular, minha Duquesa — Lucien se aproximou, tocando levemente o braço de Eleanor. — Pai... Mãe... Poderiam fazer aquilo que conversamos?
Os dois assentiram, saindo logo atrás de Lavosk, enquanto Lucien guiava Eleanor até seu escritório.
O escritório era uma sala ampla e elegantemente decorada, refletindo a opulência da era vitoriana. As paredes eram adornadas com painéis de madeira escura, e grandes janelas emolduradas por cortinas de veludo pesado deixavam a luz do sol entrar, iluminando o ambiente com um calor suave. Uma grande mesa de mahogany estava centralizada, coberta com papéis e cartas meticulosamente organizados. Poltronas de couro macio estavam dispostas em um canto, convidando a conversas prolongadas. O aroma de papel envelhecido e tinta fresca permeava o ar, criando uma atmosfera de mistério e expectativa.
Lucien se sentou em uma das poltronas, gesticulando para que Eleanor ocupasse a cadeira à sua frente. Ele despejou na mesa alguns documentos que revelavam a gravidade da situação: papéis que detalhavam os atos corruptos da família Kensington, incluindo apostas clandestinas, vendas ilegais e o comércio de escravos. Eram atrocidades que Eleanor precisava conhecer para traçar sua vingança contra sua antiga família. O peso da informação pairava no ar, como uma tempestade prestes a eclodir.
— Lucien, gostaria de usar a carruagem esta tarde para visitar a residência de minha família. Se me permitir, gostaria que Lavosk e Mirabell me acompanhassem — pediu Eleanor, com um tom sereno depois de ouvir e ler todas às informações que o Duque havia recolhido.
Mirabell era uma das servas mais jovens, escolhida a dedo por Lavosk para ajudar Eleanor com os protocolos da corte. Apesar da juventude, sua inteligência e discrição tornavam-na uma aliada valiosa. Eleanor tinha plena certeza de que a jovem seria um suporte essencial em sua visita.
— O que você pretende fazer? Sabe que, se me disser, posso simplesmente dizimar toda a sua família... é só me pedir — Lucien respondeu, sua expressão preocupada revelando a intensidade de sua preocupação.
— Eu preciso fazer isso. Agradeço por sua disposição em ajudar, mas não é necessário — Eleanor respondeu, sua gratidão sincera ecoando em suas palavras.
— Muito bem, mas o que planeja fazer ao rever sua família? — ele a olhou com atenção, buscando entender seus verdadeiros intentos.
— Primeiro, eles terão que encarar a serva miserável que tanto menosprezaram agora como Arquiduquesa de Silverlake. Minha madrasta sempre detestou olhar para o meu rosto, pois ele trazia à tona a imagem da minha própria mãe. Minha irmã me considerava desprezível, uma bastarda, como ela mesma dizia. Meu irmão não se importava comigo; só queria saber o que poderia ganhar com a minha aparência. E meu pai, o Barão, nunca me amou. Mesmo sendo o retrato de minha mãe, o rosto dela era apenas o resultado da violência provocada pela sua própria bebedeira. Para ele, sou apenas uma moeda de troca; por isso, ele me entregou a você — disse Eleanor, o nojo evidente em sua voz. — Duque, poderia me contar como salvou o Barão Kensington?
— O Barão invadiu nosso reino sob a cobertura da noite. Sua carruagem perdeu uma roda, e ele entrou sorrateiramente, sem a minha permissão. O Duque explorava as minas de Silverlake; ao contrário das joias dos outros reinos, as nossas são as mais raras e resistentes, moldadas pelo fogo dos dragões. Nenhum reino sabe como é feita a qualidade das nossas joias, e foi por isso que o Barão tentou roubar, acreditando que eu, o Arquiduque, não descobriria. Para seu azar, ele se deparou com Vektor. Na escuridão das minas, ele não conseguiu discernir sua aparência, mas sabia que havia uma besta ali, um monstro cuja forma ele não conhecia. Vektor me alertou sobre a invasão do Barão, e eu corri imediatamente para as minas, evitando que nosso segredo fosse revelado. No entanto, para não levantar suspeitas, fiz um pacto com o Barão: ele teria que me dar a mão de sua filha em troca da vida que lhe salvei. Imaginei que, devido aos rumores sobre mim, o Barão não teria coragem e me ofereceria toda a sua riqueza para perdoar a dívida, em vez de dar à sua filha. Mas nunca imaginei que seu amor de pai fosse tão fraco a ponto de realmente entregar sua filha como pagamento. Um ato vergonhoso de sua parte, mas, de certa forma, ele cumpriu o acordo, mesmo que de maneira tão sórdida, para salvar aquilo que considera sua filha legítima — ele disse, com desdém pela atitude repugnante do Barão.
— Agora, as coisas começam a fazer mais sentido para mim — Eleanor refletiu, pensativa. — Mas mudando de assunto, amanhã teremos nosso primeiro encontro pela manhã. Esteja pronto, Lucien.
— Certamente estarei, minha Duquesa — respondeu Lucien, inclinando-se suavemente para beijar a mão de Eleanor com ternura, selando o momento com um gesto que falava mais do que palavras poderiam expressar. — Mas, Duquesa, tenha cuidado. A capital é muito diferente do reino de Silverlake. Imagino que você nunca tenha saído da mansão dos Kensington, então pode não conhecer a realidade que existe lá fora.
Ele fez uma pausa, buscando as palavras certas para transmitir a complexidade das normas sociais que cercavam a cidade. — Aqui, a percepção das pessoas é moldada por suas aparências. Para os homens, aqueles com cabelos negros são frequentemente vistos como bestas fortes e imponentes. Embora essa imagem não carregue tanto estigma, ainda assim, os homens não enfrentam o mesmo tipo de preconceito. Já os que nascem com cabelos claros, brancos como os do príncipe, são considerados símbolos de pureza, enquanto os ruivos são associados à nobreza. Os castanhos são vistos como comuns, e suas tonalidades se diversificam em uma vasta paleta.
Eleanor ouvia atentamente, absorvendo cada palavra, enquanto a complexidade do mundo que a cercava começava a se revelar. Lucien continuou, sua voz carregando um tom de seriedade. — As mulheres, no entanto, enfrentam uma realidade bem diferente. Existe um preconceito enraizado que as marginaliza, especialmente aquelas que usam magículas. As mulheres com cabelos brancos ou loiros, como a princesa, são vistas como verdadeiras realeza, quase santas. A santa do reino de Everhart, por exemplo, também possui cabelos loiros. As ruivas, por sua vez, são consideradas nobres, enquanto as castanhas são vistas como simples e modestas. Mas as mulheres com cabelos negros... ah, essas são frequentemente vistas como portadoras de uma maldição. Sempre dizem que aquelas que possuem cabelos escuros trazem mal presságio, destinadas a uma vida triste e repleta de amargura. Por isso, muitas servas optam por clarear os cabelos, escondendo sua verdadeira cor para se conformar com essas normas sociais.
Eleanor ficou em silêncio, refletindo sobre o que Lucien havia dito. — Espera... — disse ela com sua mente fervilhando com a informação. O peso das palavras de Lucien a fez considerar sobre a benção da deusa.
...{Eleanor}...
••• Se o que o Duque diz é verdade... Como a Deusa me deu cabelos escuros e me prometeu que me abençoaria com beleza infinita...? •••
No instante em que Eleanor se desconectou de seus pensamentos, seu corpo desmaiou suavemente nos braços do Duque, como se fosse uma flor murchando ao toque do outono. Sua alma, então, foi puxada para um abismo profundo, onde tudo se resumia a trevas impenetráveis e um silêncio ensurdecedor. No entanto, de repente, uma luz radiante surgiu, rompendo a escuridão e revelando uma sala branca, pura e etérea.
Foi nesse espaço iluminado que a Deusa apareceu, emanando uma aura de majestade e serenidade. Ela estava vestida com as vestimentas elegantes da época, um tecido fluido que parecia dançar ao redor de seu corpo, refletindo uma luz suave que a envolvia. Contudo, havia uma peculiaridade em sua presença: a graça que normalmente a cercava, uma espécie de véu que impedia os mortais de enxergar ou ouvir sua doce voz, agora parecia ausente.
Eleanor sentiu uma mistura de reverência e curiosidade, observando a Deusa que, apesar da sua aparência divinal, parecia acessível e real. O ambiente vibrava com uma energia palpável, como se o próprio espaço estivesse sussurrando segredos antigos e verdades esquecidas. A Deusa, com um olhar que transmitia sabedoria infinita, preparava-se para compartilhar um conhecimento que poderia mudar o rumo da vida de Eleanor para sempre.
— — Olá, Eleanor! É um prazer vê-la novamente... — ela dizia, com um tom amigável e acolhedor.
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...Deusa Luminus ...
...[Aquela que invoca a Luz e o Brilho]...
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Atualizado até capítulo 38
Comments
Ana Regina Fernandes Raposo
A AUTORA MUITO LEGAL 😎 ADORO.
2024-08-21
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