...{Eleanor}...
••• Desde que cheguei a este mundo, não tive um único momento da suposta bênção da deusa. Ela prometeu-me beleza, e nisso cumpriu. Disse que me daria conhecimento, mas como aprender sem livros? Sou tratada como empregada por aqueles que ousam chamar-se meus pais. Saí do meu mundo tranquilo para viver isso? Exijo voltar! Sua deusa de araque... E, para piorar, estou noiva de um duque odiado e temido em todos os reinos. Ele não para de me encarar, mesmo depois de eu ter feito apenas uma pequena proposta. Deus do meu outro mundo, se está aí em cima, faça o favor de me levar de volta... Buá... •••
— Acho que posso atender a esse pedido. Afinal, nem mesmo o imperador ousaria ir contra os Silverlake — a voz de Lucien cortou seus lamentos, implacável e ao mesmo tempo curiosamente envolvente. — Pois bem, baronesa, eu também tenho um pedido a fazer.
Ele se aproximou devagar, sua presença tomando todo o espaço ao redor dela.
— Há uma família que desejo destruir. Não para usurpar seus títulos, mas para arrancar Deles cada grama de poder. Quero justiça pelo que fizeram a alguém de extrema importância para mim. Para isso, preciso de uma esposa formidável ao meu lado. Alguém capaz de conquistar a confiança das esposas de marqueses, barões, do próprio rei e até da imperatriz. Preciso que entre nesse jogo de máscaras e sorria enquanto planta veneno. Ajude-me em minha vingança... e eu lhe darei o poder de cumprir a sua. Se assim o fizer, queimarei até sete reinos por você. — As palavras fluíam como promessa e ameaça em igual medida, exalando uma confiança perturbadora.
Eleanor arqueou os lábios num sorriso sereno, como quem aceita uma aposta perigosa.
— Temos um acordo, Arquiduque.
Ele sustentou seu olhar, e então disse em tom grave:
— Quando estivermos a sós, pode me chamar de Lucien. E quando se tornar minha esposa esta noite, terá de abandonar cada costume do passado. Nunca mais abaixará a cabeça para ninguém além de mim. Amanhã, meu conselheiro começará a lhe ensinar. Mas, por agora... temos um casamento a realizar.
Curvou-se e, com um gesto inesperadamente delicado, beijou a mão de Eleanor antes de se retirar.
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O casamento foi celebrado naquela mesma noite. Os olhares do salão dividiam-se entre a beleza inegável da nova arquiduquesa e a imponência do duque. Eleanor, envolta em tecidos preciosos, parecia irradiar a bênção que jurava odiar. Mas, entre todos os sussurros, era Lucien quem mais confundia expectativas.
Seus cabelos, quase sempre soltos, caíam em mechas rebeldes sobre o rosto, suavizando a rigidez da barba Aparada. Seus trajes negros, adornados com prata, destacavam ainda mais a sombra elegante que ele representava.
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••• Ele não parecia terrível como nos boatos. Talvez porque as histórias são sempre contadas por homens. Qualquer jovem donzela que o visse cairia aos seus pés, rendida ao seu charme. Será que enlouqueci, ou essa beleza é realmente incompreendida neste mundo? •••
Após a cerimônia, Lucien a tomou nos braços e a levou direto para os aposentos. Os guardas diante das portas desviaram o olhar, como se soubessem que atravessar aquela linha significava morte certa. Ao entrar, o duque pousou Eleanor na cama.
Ele retirou parte das roupas, ficando apenas com uma camisa preta simples, que, paradoxalmente, o tornava ainda mais imponente. Eleanor, sem fôlego, engoliu em seco. Aquela não era a primeira vez que imaginava como seria sua noite de núpcias — mas nunca esperara que fosse assim.
No entanto, Lucien surpreendeu-a outra vez:
— Descanse. Amanhã será um longo dia. Tenho cartas importantes para ler. — disse, acomodando-se em uma cadeira próxima e abrindo o primeiro envelope com naturalidade.
••• Ele realmente é diferente do que falavam... Que seja. Esta noite estou salva. Amanhã começa a guerra contra minha maldita família. •••
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Na manhã seguinte, Eleanor encontrou-se com Lavosk, o conselheiro de Lucien. Ele a estudava como quem analisa uma joia bruta: medindo, avaliando, decidindo onde lapidar.
As primeiras lições foram sobre etiqueta, gestos, postura. Depois, nomes, títulos e formas de tratamento. Horas de instrução minuciosa. Eleanor, exausta, quase desmaiava de tédio. Quando Lavosk lhe ofereceu uma taça de vinho, ela recusou, causando estranheza: afinal, vinha de uma família conhecida por fabricar vinhos.
Num momento de distração, ela aproveitou para escapar. Andando sem rumo pelos corredores sombrios do castelo, acabou diante de uma imensa porta de carvalho. Empurrou-a e, ao entrar, seu coração disparou: uma biblioteca colossal, repleta de estantes abarrotadas.
Seus olhos brilharam como nunca. Correndo pelas prateleiras, tocava cada lombada como se fosse um tesouro. Logo, adormeceu em um sofá, cercada por pilhas de livros, como uma criança que enfim reencontrava seu lar.
Um toque suave em seu rosto a despertou. Lucien estava ali, observando-a.
— Você deu um susto nos meus servos. Procuraram por você feito loucos. Então... essa é sua verdadeira paixão? Livros?
Eleanor piscou, ainda sonolenta.
— Acabei adormecendo... Será que Lavosk está bravo comigo? — esqueceu-se da formalidade.
Lucien sorriu de leve, quase imperceptível.
— Já o avisei para deixá-la em paz por algumas horas do dia. Nunca conheci uma mulher que gostasse tanto de ler. Todas parecem se importar apenas com vestidos e joias.
— Neste mundo, talvez. Muitas só não leem porque a lei as obriga a serem “delicadas”. — murmurou. — Sinto falta das minhas calças...
— “Neste mundo”?... “Calças”?... — ele repetiu, intrigado. Mas não insistiu. — Está bem. Duas horas por dia, todos os dias, para os livros. Só evite aqueles na estante empoeirada.
Eleanor seguiu seu olhar.
— Mas Lucien... dizer “não” para mim é o mesmo que dizer “sim”. — respondeu, já fixada na estante proibida.
Ele suspirou.
— São livros de magia. Você não tem um núcleo de magícula formado, pode ser perigoso.
Eleanor ergueu o queixo, desafiadora:
— Se realmente quer minha ajuda em sua vingança, preciso de poder. Não esqueça disso.
Lucien a encarou em silêncio por alguns instantes, depois cedeu:
— Tudo bem. Mas tome cuidado. Agora vá descansar. Se não tiver forças, não poderá lutar por ninguém.
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Atualizado até capítulo 38
Comments
Ana Regina Fernandes Raposo
NOSSA QUE HISTÓRIA AUTORA. TO QUERENDO SABER PORQUE ELA AINDA NÃO SABE MAGIA. MAIS DEVE SER TUDO AO SEU TEMPO NÉ.
2024-08-20
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