Passaram-se duas semanas desde o acidente, eu estive de cama, ainda sentia muita dor. Ainda teria que comparecer à reunião no escritório de advocacia, que já tinha sido adiada devido ao meu acidente. Peguei minhas muletas e fui acompanhar minha mãe. Quando lá cheguei, fiquei deslumbrada. O lugar era enorme, lindo e moderno. Eu queria muito poder trabalhar ali. A recepcionista me pediu para esperar e não demorou muito. O advogado nos recebeu em sua sala.
Ele era bastante jovem, aparentando ter menos do que a minha idade, porém, não parecia ser inexperiente, nos explicou tudo o que fosse possível, deu para notar que era muito inteligente. Nossa conversa durou bastante tempo, ele não parecia ter pressa. Acabou admitindo que apenas escolheu a nossa causa trabalhista porque nenhum outro advogado teve interesse. Enfim, nos despedimos e ele ficou encarregado pela causa.
Quando estava saindo encontrei a minha amiga Carol e ela decidiu me levar para conhecer o local, dizendo que seria o meu futuro ambiente de trabalho porque já tinha apresentado meu nome para uma futura contratação. Então, minha mãe ficou me esperando na recepção enquanto eu fazia turismo no local. Andávamos devagar porque devido a minha condição não conseguia dar grandes passos.
Toda pessoa que ela encontrava pelos corredores cumprimentava alegremente, parecia conhecer todos. Me apresentou como sua amiga e também advogada para algumas pessoas que paravam para conversar. Entramos na biblioteca e era enorme, passamos pela copa, onde estavam vários advogados conversando e tomando café. Seguimos para a sala de descanso.
Quando entramos, tinha um grupo de quatro pessoas sentadas em bancos enquanto mexiam em seus celulares, em silêncio. Ao olhar para o canto da sala, estava um semblante conhecido. Ele estava sentado em cima de uma mesa de braços cruzados, parecia reflexivo, vestia um terno bem ajustado em seu corpo, muito elegante, seus sapatos pretos estavam reluzentes e seu cabelo castanho ondulado parecia muito hidratado e com um bonito penteado.
Nossos olhares se encontraram e meu coração disparou. Sentia perder o equilíbrio e fui amparada pela Carol que perguntou se eu estava bem e não obtendo resposta, ajudou-me a sentar em uma cadeira e disse que traria um pouco de água porque me achou pálida. Eu realmente não me sentia bem. Fiquei tonta e paralisada.
Ele me olhava de longe, surpreso. Se levantou e começou a vir em minha direção. Era uma sala enorme e olhando ele se aproximar comecei a ver a sua silhueta balançar, olhei para a mesa e via tudo em dobro, meu corpo ficou totalmente mole e desmaiei. Ao me despertar, estava deitada em um sofá e a Carol me olhava. Perguntou como eu me sentia e me entregou um copo de água.
Enquanto eu bebia, olhei para o lado e lá estava ele, era mesmo o Estefano, não tinha sido um delírio. Minha cabeça doía levemente. Comecei a me levantar e fui impedida pela Carol, dizendo:
– Não se levante ainda. O Estefano te trouxe aqui para a sala dele. Eu já estava chamando uma ambulância.
– Por favor, não chame uma ambulância, estou bem. Foi só um mal-estar, tem duas semanas que não andava e acabei me sobrecarregando.
– Então… Espere só uns minutinhos que vou trazer um café para você. Café sempre ajuda.
– Não precisa, por favor!
– Você não vai sair daqui fraca assim, espera um pouco. Estefano, você fica com ela até eu ir pegar o café?
– Claro que sim, não se preocupe. – Ela saiu da sala me deixando sozinha com ele.
Ele se agachou para ficar próximo do sofá onde eu estava, ficando na minha frente, perguntou:
– O que aconteceu? – Disse apontando para minha bota ortopédica.
– Eu sofri um acidente de carro. – Ele me olhou surpreso.
– O que veio fazer aqui no escritório? Foi contratada para trabalhar aqui?
– Não. Você trabalha aqui?
– Sim, desde que me formei.
A Carol chegou com o café. Eu comecei a beber rapidamente para ir embora logo. Ela disse:
– Vocês passam uma impressão de já se conhecerem.
– Nos conhecemos sim. Eu estudei com a Lara no ensino médio.
– O quê? Não me diga! A Lara me falou de você e eu não tinha me tocado até agora. Vocês namoravam, não é mesmo? – Onde foi que a Carol aprendeu a ser tão direta? Pensei. Fiquei envergonhada, terminei o café em um grande gole e comecei a me levantar do sofá. Os dois se apressaram para me segurar. Eu falei:
– Preciso ir embora. – O Estefano ainda me segurava pelo braço, mesmo eu me esforçando para segurar a minha muleta, ele não me soltava.
– Tudo bem. Infelizmente, não estou de carro hoje para te deixar em casa, vou chamar um uber para você. – Disse a Carol.
– Eu posso levar ela em casa. Sei onde mora, posso fazer isso. – Nós duas nos olhamos com surpresa e ela faz um sinal positivo para mim, discretamente.
– Não precisa, eu recuso essa oferta.
– Eu insisto.
– Não quero. Por favor, chame um uber, Carol. – Com um esforço fiz ele soltar meu braço e caminhei em direção à porta, enquanto isso, a Carol agradeceu ao Estefano e me acompanhou. Mas, ele entrou na nossa frente, bloqueando a porta e insistiu novamente.
– Preciso passar no fórum que é caminho da sua casa. Deixa eu te levar, por favor.
– Nesse caso, não vejo problema, seria melhor assim. Deixa ele te levar em casa, eu ficaria despreocupada. – A Carol pediu.
– Tudo bem!
Fomos andando em silêncio até a recepção, lá chegando a Carol me abraçou em despedida, despediu-se da minha mãe e disse ao Estefano: “Cuide dela”. Enquanto isso, ao perceber a presença da minha mãe, o Estefano a cumprimentou e explicou que nos levaria para casa. Depois, trouxe o carro até a entrada para que eu não precisasse andar mais.
Ele abriu a porta da frente para que eu pudesse entrar e me ajudou a sentar, pegando as minhas muletas. Minha mãe, em vez de me ajudar, deixou ele fazer tudo sozinho e ficou apenas olhando a cena e depois se sentou no banco de trás. Ele entrou no carro e ela logo iniciou uma conversa:
– Que bom te ver de novo Estefano. Por que você estava sumido?
– Mãe, por favor, eu estou com dor de cabeça para conversas. – Interrompi rapidamente.
– Precisei dar uma sumida. – Minha mãe, ignorando a minha solicitação, continuou:
– Eu fui no escritório resolver um problema e a Lara foi junto porque é amiga de uma advogada.
– A Carolina, certo?
– Isso!
– Qual foi o seu problema? – Minha mãe passou metade do caminho explicando tudo o que tinha acontecido com ela no trabalho.
– É realmente uma situação problemática. Qual advogado pegou sua causa?
– Qual o nome do garoto mesmo, Lara? – Eu respondi.
– Eu o conheço, é meu amigo. Nós dois sempre nos ajudamos com as dúvidas que eventualmente surgem nos processos. Se você quiser, eu posso pedir a ele que me deixe ficar com seu processo. Posso fazer isso por você sem cobrar nada. – Antes que minha mãe pudesse responder, eu interferi:
– O que está dizendo? Nós já acordamos tudo e ele está empenhado nessa causa, não vamos mudar de advogado.
– Lara, o processo é meu. Eu que devo decidir quem será o advogado, não é mesmo?
– Mãe! Para, por favor! Já está decidido.
– Ainda não está confirmado. Eu preferia que o Estefano ficasse com o processo. Você sempre me disse que ele é muito inteligente. – Fiquei envergonhada.
– Então… Está decidido, eu vou ficar. E não se preocupe que o meu colega não se importará quando eu explicar o motivo.
– Por que você faria isso? Demorou duas semanas até alguém resolver pegar o caso da minha mãe. Portanto, vou continuar com o primeiro interessado.
– Eu não sabia sobre esse processo, deve ser porque meu foco é na área cível e não trabalhista.
– Mais um motivo para você não entrar nessa.
– Eu também posso pegar processos de outras áreas se eu quiser. Inclusive, ocasionalmente pego casos trabalhistas também.
– Ótimo! Está decidido. Fico feliz por deixar nas suas mãos, Estefano. Eu confio em você. – Minha mãe disse muito empolgada.
Chegamos em casa, minha mãe desceu do carro e foi me ajudar a sair, mas o Estefano disse:
– Lara, eu preciso conversar com você, vai ser rápido. – Por isso, minha mãe se despediu dele. Eu fiquei sentada no carro esperando e ele falou:
– Me deixe ficar com a causa da sua mãe como uma forma de me redimir. Eu quero fazer isso sem nenhum custo para vocês porque sempre sinto um pesar na consciência por ter me afastado de você. Portanto, por favor, eu imploro.
– Não aceito. Eu não posso te impedir de ser o advogado desse processo porque é uma escolha da minha mãe. Mas, não vou aceitar que você trabalhe de graça. Se formos fazer isso funcionar, nos trate como quaisquer outros clientes. Vou pagar por absolutamente tudo.
– Nada disso. Não quero nenhum centavo em troca, nem que eu tenha que passar por cima de você, eu farei isso mesmo que não goste. Estou decidido.
– Era só o que me faltava, nada me surpreende mais nessa vida. – Disse tentando sair do carro, mas, ele segurou na minha mão e falou:
– Lara… Eu sinto muito por sumir. Foi necessário.
– Você acha que após sumir e me ignorar, não responder aquela mensagem que mandei na época, eu vou aceitar que trabalhe de graça? Claro que não. Se quiser o caso seremos totalmente profissionais.
– Eu tive que agir daquela forma, você acha que não fiquei mal? Foi difícil não te responder, mas, eu tive um motivo para fazer o que fiz. Acho que nunca vou poder te contar.
– Contar o que? Que você não queria mais ser meu amigo porque eu estava noiva? Não precisa se explicar mais, já faz tempo, não trarei o passado de volta. – Percebi o olhar dele para minhas mãos, creio que tentando encontrar a aliança e perguntou:
– Você disse “estava”, no passado. Quer dizer que não está mais noiva? Já se casou? – Não respondi nada. Ele deve ter desconfiado, afinal de contas, eu não usava mais aliança. O silêncio dominou o ambiente por quase um minuto e ele continuou:
– Nesse caso, posso te contar porque tomei aquela decisão de me afastar e não te procurar mais.
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Atualizado até capítulo 45
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