Eu e o Estefano estávamos muito empenhados em desenvolver um relacionamento sério. Ele foi me ver na saída da faculdade e marcamos de sair novamente. Depois, nos falávamos por chamadas de vídeos quase todos os dias, tudo corria bem, ele era muito fofo e atencioso. Disse que nosso próximo encontro seria especial, por isso imaginei que me preparava alguma surpresa. No dia do encontro, descobri que a surpresa era um pedido de namoro. Fiquei maravilhada, como um garoto podia ser tão perfeito? Eu me perguntava.
Ele era um príncipe, não ligo por parecer melosa ou brega. Eu tinha me decidido que só namoraria se fosse com alguém que fizesse valer a pena. Todos aqueles homens babacas que minha mãe namorou me fizeram duvidar do amor, mas, o Estefano estava conseguindo quebrar esse gelo do meu coração. Com isso, os dias seguintes foram de muitas alegrias, eu estava passando um bom momento na faculdade e com o Estefano.
Até que, resolvi contar para minha mãe, já que, eu estava saindo muito com ele nos últimos dias. Eu disse a ela que estava namorando. Porém, eu não esperava que sua reação fosse estranha. Ela disse:
— Estefano não é aquele garoto que você conversava no ensino médio?
— Ele mesmo… Ele sempre gostou de mim.
— Olha, eu podia jurar que ele era gay.
— O que você está dizendo? Estefano nunca foi gay, não sei de onde você tira essas coisas.
— Calma, só estou dizendo.
Enquanto isso, na faculdade, a Diana veio correndo em minha direção, com um ar de surpresa. Segurou no meu ombro e falou: “Lara, você está namorando o Estefano?”. Como ela sabia disso? Ainda era muito recente, tínhamos começado a namorar há apenas uma semana. Eu respondi:
— Como você sabe?
— Então, é verdade? – Disse fazendo novamente uma cara de surpresa. Será que nosso namoro parecia impossível de acontecer?
— Sim, mas ainda é recente. Ele te contou?
— Sim, claro! Deve estar feliz.
Fiquei intrigada, o Estefano contar a Diana, mas já? Por qual motivo? Logo fui invadida por pensamentos dizendo: “Provavelmente ela deu em cima dele”. Será que ele tentava se esquivar de alguma investida dela? Era melhor eu perguntar antes de alimentar mais paranoias desnecessárias. Liguei para ele:
— Oi, amor, está tudo bem? Você nunca me liga quando está na faculdade. – Ele respondeu.
— Não é nada, só queria saber como você está, não nos falamos hoje ainda, resolvi ligar assim do nada. – Claro que eu não seria tão direta e assumir que só liguei para saber da Diana.
— Que lindo, gostei! – Ele disse soltando uma risada.
— Estava pensando em você, só isso.
— Legal, eu também pensava em você.
— Jura? Que coincidência não é mesmo?
— Eu chamo de destino.
— Engraçadinho… Sabe com quem acabei de falar? Com a Diana. Ela me disse que conversou com você recentemente e já até sabia que estávamos namorando.
— Ah sim! É que coloquei uma frase todo apaixonado na minha rede social, ela viu e veio falar comigo. Perguntou se eu estava apaixonado, então, eu confirmei. Não podia?
— Então foi isso? Ok, claro que podia falar.
A Diana não me contou sobre a frase romântica. Mas enfim, eu estava atrasada para a próxima aula, precisava correr. Era um daqueles dias que só queria ficar em casa sem fazer nada, resolvi faltar a última aula para chegar em casa mais cedo. Quando cheguei, encontrei minha mãe. Perguntei o motivo dela estar em casa, já que, deveria estar no trabalho naquela hora. Ela contou que o patrão a liberou mais cedo, mas desviou o assunto quando eu perguntei o motivo. Algo estava muito estranho.
O Marcelo ainda estava em nossas vidas, mas não como antes. Os dois brigaram feio há meses e minha mãe descobriu uma traição e pediu um tempo no relacionamento. Ele não queria aceitar e vez ou outra aparecia em nossa casa. Eu conversei sobre a situação e disse que era o momento para eles finalmente terminar o relacionamento de forma definitiva, porém, ela ainda estava confusa e me pedia para não falar nada. Por isso, pensei que o motivo dela estar em casa pudesse ser ele.
Procurei saber se ela estava bem e começamos a conversar. Ela queria perguntar sobre o Estefano. Parecia estar relutante em aceitar meu namoro. Portanto, comecei a tecer vários elogios a ele, dizendo o quanto era esforçado, estudioso, responsável, gentil e boa pessoa, bom em todos os sentidos. No entanto, recebi um olhar de incredulidade que me deixou desconfortável.
— Tem algo de estranho nisso tudo, Lara. Ninguém é tão perfeito assim. Ou você está cega, ou, ele está te enganando.
— O que você quer dizer? Conheço ele desde o ensino médio, o conheço muito bem. Ele sempre foi assim. E sempre gostou de mim.
— Sei! – Disse com ironia.
— Olha, eu não ligo a mínima para as suas confusões mentais e dúvidas com relação às pessoas que não conhece. Sabe por que você sempre duvida de pessoas boas? Porque você não é uma pessoa boa, porque todos os seus relacionamentos foram com pessoas de caráter duvidoso. Você nunca conheceu alguém decente como o Estefano e agora vem inventar todas essas histórias. O que você quer com isso? Quer nos separar ou me magoar? Justamente quando eu sei que está tudo bem. Qual é o seu problema? Eu sei que deseja mexer comigo, não é devido ao Estefano.
— Olha o jeito que você fala comigo, garota! Eu sou sua mãe, por isso, deve me respeitar. Não vou aceitar você falar desse jeito comigo. Eu falo as coisas que penso para o seu bem. Você parece que vive em um conto de fadas e não na realidade. Estou sendo realista e se a realidade é cruel para você, sinto muito, mas não posso fazer nada.
Eu saio de perto dela, com lágrimas nos olhos, sempre fui muito sensível. Por que ela é tão dura? Por que ela parecia querer me ver triste? Me pergunto qual motivo tem uma mãe para ter essa atitude? Ela sempre queria estragar meus momentos de felicidade. Fui dormir, na esperança de acordar me sentindo melhor no dia seguinte.
Amanhecendo, saí cedo, sem tomar café da manhã, não queria encontrar minha mãe logo cedo. Fui para a faculdade, era uma sexta-feira. Na primeira aula, o professor propôs um trabalho em dupla e como minha colega Gabriela tinha faltado a aula, perguntei a uma garota se podíamos fazer juntas. Ela consentiu. Foi o início de uma grande amizade. Ela era muito inteligente, chamava Carolina. Conversamos bastante e terminamos nosso trabalho. Durante o intervalo das aulas, continuamos a conversar, ela me contou ser muito caseira e estudiosa.
Naquele dia, eu não encontraria com o Estefano. Ele teria que dar aula de inglês em substituição de outro professor. Por isso, chamei a Carol, minha nova amiga, para passear no shopping perto da faculdade e tomar um sorvete. Eu amo sorvete. Muito conveniente porque não precisava voltar para a casa, ainda estava irritada com minha mãe. Ficamos no shopping até nove horas da noite.
Quando cheguei em casa, apesar de quase dez horas da noite, não encontrei minha mãe. Será que ela também estava tentando me evitar? Ou saiu com o Marcelo. No sábado, eu sairia com o Estefano, estava me arrumando, quando escuto barulho de alguém entrando na casa. Era minha mãe que passou a noite fora. Com certeza teve uma recaída com o Marcelo, eu não queria saber, era um caso perdido. Melhor nem procurar entender para não me frustrar.
Após pronta, a vi na sala e me despedi dizendo que sairia e não tinha hora para voltar. Fui ao cinema com meu namorado, depois comemos porcarias no shopping e tomamos sorvete, ele sabia que eu amava. No final da tarde, estávamos tristes por nos despedir. Ele morava em um apartamento, com um colega, a aproximadamente quarenta minutos da minha casa.
Entretanto, contou que passaria o fim de semana sozinho porque seu colega estava na casa da família. Como eu tinha contado do meu desentendimento com minha mãe, ele disse:
— Você parece bem triste.
— Minha mãe sempre foi uma pessoa difícil e não é a primeira vez que tenta atrapalhar minha vida. Será que deseja que eu fique presa a ela para sempre? De qualquer forma, não quero mais falar sobre isso.
— Ok, mas não quero te ver triste. Você não precisa voltar para sua casa hoje, tem um lugar para ir. Pode ir comigo para meu apartamento.
— Hum… Você está me convidando para dormir com você?
— Não é o que está pensando, só estou tentando ser gentil e ajudar, pensei que talvez você quisesse um tempo longe da sua mãe.
— Isso é uma boa ideia, na verdade. Então, tudo bem.
Nós fomos para seu apartamento. Eu nunca tinha dormido na casa de um garoto. Mandei mensagem para minha mãe dizendo que dormiria fora, mas ela disse que não poderia. Eu respondi: “Sou uma adulta e responsável por meus próprios atos, até mais”. Mesmo sabendo que a deixaria enfurecida, gostei de ter controle da minha vida. Afinal, já estou com vinte anos, sei muito bem me cuidar.
Reparei que o apartamento era muito organizado e limpo, diferente do que eu imaginava, por ser dois colegas universitários. Era muito bem decorado, uma decoração leve e jovial. O Estefano resolveu pedir uma pizza, mesmo após termos lanchado muito no nosso passeio. Eu consegui comer apenas um pedaço, apesar de estar deliciosa.
Depois disso, ele me disse para dormir em sua cama, enquanto ficaria no quarto do seu colega. Surpreendentemente, sem pensar direito, eu disse:
— Sua cama é bem grande, acho que cabe nós dois, eu confio em você. Somos namorados, não precisa sair da sua cama. – Ele me olhou surpreso.
— Tudo bem, ótimo!
Eu não havia planejado, porém, aquela noite nós ficamos ainda mais íntimos. Após deitados, demos as mãos e ficamos por horas conversando profundamente sobre nossas vidas, nossa família, sobre como o destino nos uniu novamente. Depois de um bom tempo de papo, ele me encarou nos olhos, em silêncio, começou a fazer carícias no meu cabelo e dizer que me ama, que sempre me amou muito, desde a época da escola.
Levada pela emoção de escutar aquilo, dei-lhe um beijo quente e envolvente que o instigou. Comecei a sentir sua mão me envolvendo. Eu estava abafada em sua pele. Foi a primeira vez que experimentei essa sensação. Se tivéssemos planejado nossa primeira noite juntos, ele sendo tão cavalheiro, teria provavelmente preparado algo romântico e especial. De qualquer forma, foi especial.
No dia seguinte, acordamos com meu celular tocando, ao meio-dia. Assustei por ser tão tarde, como passamos a noite toda acordados, não era por menos dormir até tarde. Ao pegar o telefone, constatei que era a minha mãe e resolvi ignorar a ligação. Leio a mensagem que ela mandou em meu celular dizendo para voltar no horário do almoço. O Estefano disse:
— Nossa noite ontem foi incrível, acho que continuo atordoado, não quero te deixar ir embora, fique mais. Eu faço algo para a gente comer e depois podemos ficar assistindo a um filme, abraçadinhos a tarde toda, que tal?
— Sinto muito, parece tentador, mas acho melhor eu voltar para a casa. Te ligo mais tarde.
Dou um beijo demorado e delicado nele. Notei que ele não queria me soltar, então, dou um abraço forte. Enquanto me abraçava, ele se ofereceu para me deixar em casa, disse próximo ao meu ouvido:
— Posso te levar em casa e se você quiser tento conversar com sua mãe, talvez se ela me conhecer pessoalmente posso deixá-la de bom humor e vocês ficam bem. – Parece que ele adivinhou que estávamos com problemas por causa dele.
— Não, obrigada, mas eu prefiro pegar um Uber, não se preocupe. Em outra oportunidade você pode conhecê-la.
Na verdade, percebi não desejar que o Estefano conhecesse minha mãe, ele era tão legal para poder tolerar as intromissões e maldades dela. Ela sabia manipular as pessoas e fazer mal indiretamente sem ninguém perceber, eu não poderia apresentá-los. Era algo que deveria evitar. Enfim, fui embora para casa.
Quando cheguei, me deparei com minha mãe na sala e logo começou a fazer perguntas. Eu não quis dar muita satisfação e fui para meu quarto, onde fiquei todo o dia. No dia seguinte, me levantei para tomar café da manhã e lá estava ela com cara fechada. Eu não me incomodei, tomei um café, voltei ao meu quarto e praticamente não sai dele o dia todo.
Os dias foram passando e minha mãe continuava de cara fechada, eu e o Estefano continuávamos as mil maravilhas. Ele era cada vez mais incrível comigo. Ele começou a me ajudar a aprender inglês, já que era professor. Eu tinha um bom conhecimento, fazia inglês por um curso online, mas ele me ajudava a ficar melhor.
Enquanto isso, o tempo passava muito rápido, faríamos um ano de namoro. No decorrer desse tempo, minha mãe reatou com o Marcelo, por dois meses, e depois terminaram de vez. Depois desse término, ela ficou abatida e com o tempo parecia piorar. Começou a ter problemas de ansiedade e estresse. Tinha crises nervosas e em duas vezes tive que acompanhá-la ao hospital passando mal e escutar o médico dizer que se tratava de uma crise decorrente de um distúrbio de ansiedade generalizada.
Ao que parece, ao mesmo tempo, do término, também, ocorreram mudanças onde ela trabalhava. Ela teria perdido uma grande oportunidade de subir na carreira dentro da empresa depois que alguma colega de trabalho falou mal do desempenho funcional dela. Isso teria acometido uma briga e a situação ficou muito ruim para minha mãe.
Todas às vezes que eu tentava conversar parecia piorar, deixava-a mais nervosa. Achei que ela melhoraria com o passar dos dias, mas, pelo contrário, ela começou a se atrasar e faltar ao trabalho, recebeu várias advertências e parecia muito estranha dentro de casa. Às vezes, ficava na cama o dia todo, outras vezes, saia sem rumo e voltava tempo depois.
Tentando dar um basta nessa situação, marquei um médico psiquiatra e a convenci a fazer uma consulta. Foram prescritos remédios controlados que a acalmavam e pareciam deixá-la menos deprimida ou eufórica. Ainda assim, tinha a sensação que não seria a solução do problema. Vivia com medo dela surtar.
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Atualizado até capítulo 45
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