Dias se passaram, eu estava cada vez mais ocupada com o trabalho, a faculdade e as tarefas domésticas. Quase não conseguia me encontrar com o Daniel. Estava terminando o semestre e eu precisava concluir meu trabalho de conclusão de curso e me graduaria. O Daniel queria marcar o casamento o mais rápido possível, mas, eu preferia esperar essa correria passar e me formar na faculdade primeiro.
Assim, passou o tempo, e depois da minha formatura resolvi deixar de dar aulas na escola de idiomas, só precisava concluir mais três semanas de aulas e acabaria o ano letivo e meu trabalho de professora finaria junto. Nas semanas seguintes estava tudo correndo da melhor forma possível, minha mãe estava se sentindo bem, saudável e feliz. Ela queria voltar ao trabalho o mais rápido possível. Isso estava prestes a acontecer.
Eu fui aprovada no exame da ordem dos advogados e estava procurando um escritório de advocacia para trabalhar, porém, todos exigiam experiência na área e eu não tinha porque não fiz estágio na área jurídica durante a graduação. Por isso, não estava sendo aprovada em nenhuma entrevista de emprego. Em consequência disso, tinha bastante tempo livre, que passava com o Daniel.
Por isso, nós dois estávamos bastante próximos, juntos quase todos os dias e eu dormia bastante na casa dele, já que minha mãe estava bem de saúde e não precisava mais de cuidados especiais. Por outro lado, ela continuava reclamando quando eu dormia fora, ainda não gostava do Daniel, porém, isso não me incomodava mais.
O Daniel estava me pressionando muito para marcar o casamento, por isso, assim fizemos, marcamos o dia e começamos a nos preparar. Eu queria algo extremamente discreto, apenas minha mãe e os pais dele. Mas o Daniel queria dar uma grande festa de casamento, chamar toda a família, conhecidos e todos os amigos. Os pais dele também estavam pressionando para fazer desse casamento um grande evento. Disseram que pagariam por tudo e, portanto, eu deveria deixar os preparativos por conta deles. A contragosto, eu aceitava apenas para não decepcionar o Daniel e ainda tentava parecer feliz.
Certo dia, minha mãe na sua rotina de reclamar do Daniel, disse que preferia o Estefano do que o Daniel como meu marido. Mal sabia ela que falar isso era o mesmo que tocar em uma ferida aberta. Eu sofri por ter que escutar isso. E os preparativos para o casamento estavam a todo vapor, o Daniel parecia muito feliz e empolgado com tudo, bem mais do que eu.
Quando chegou o dia da minha mãe voltar ao trabalho, ela estava muito feliz, era bom voltar a normalidade após passar tanto tempo parada em casa. No final do expediente, eu fui recebê-la e perguntar como tinha sido a sua volta e para minha surpresa a vi triste e chorando.
Ela disse que tinha sido mal recebida e humilhada pelos colegas de trabalho, principalmente por seu chefe, que segundo ela, disse: “O que você está fazendo aqui? Como teve coragem de voltar depois de tanto tempo? Não precisamos mais de você, além disso, você só atrapalharia nossos trabalhos com sua doença.”
Fiquei sentida por ela e nós duas choramos juntas. Devia ser horrível, depois de tanto tempo e esperando ser bem recebida, receber um comentário ofensivo. Ela tinha trabalhado nessa empresa por muitos anos, não merecia ser tratada como um lixo e descartada como foi. Eles tinham colocado outro funcionário no cargo dela e mesmo com sua volta, não lhe deram nenhum trabalho para fazer. Ela precisou ficar sentada o dia todo na recepção sem fazer nada, por ordens do chefe.
Contudo, decidi que precisávamos tomar uma medida legal contra essa humilhação caso não se retratassem. E não ocorreu retração, muito pelo contrário, o chefe dela pediu para ela se demitir e não voltar mais para a empresa. Disse outras palavras humilhantes, parecendo querer forçá-la a rescindir o contrato de emprego sem que ele tivesse que arcar com os custos de demissão.
Propus abrir uma ação trabalhista contra a empresa. Apesar de ser advogada, eu não tinha nenhuma experiência prática e pedi ajuda para minha amiga Carolina, que formou comigo na faculdade. Ela possuía experiência na advocacia e estava trabalhando em um escritório. Como ela alegou que sua especialidade não era trabalhista, procuraria ajuda de outro advogado do escritório em que trabalhava.
O escritório que a Carolina trabalhava era conhecido por contratar muitos advogados novatos e sem experiência e ajudá-los a alavancar na carreira. Era um escritório muito grande, abrangendo todas as áreas do Direito e bastante renomado. Era tão grande que chegava a ter centenas de advogados. Era conhecido por ser o maior escritória de advocacia do Estado.
Aproveitei para entregar o meu currículo, almejando ser contratada para trabalhar e, em contrapartida, ela assegurou que me ajudaria. Eu finalmente teria chances de conseguir um emprego, como a Carolina já trabalhava há muito tempo nesse escritório, tendo feito estágio antes de se formar, tinha muitos contatos que poderiam me auxiliar a conseguir uma vaga de trabalho.
Dois dias depois ela me ligou dizendo que havia apresentado o caso da minha mãe a todos os advogados da área trabalhista. Estava esperando respostas deles, caso algum resolvesse seguir com o processo. Pediu para eu aguardar tal resposta. Enquanto isso, eu seguia ajeitando os planos do casamento e tentando acalmar minha mãe, que estava enfurecida com o seu chefe por distratá-la daquele jeito.
O Daniel me fez uma visita e começamos a discutir o nosso futuro como casados, ainda não tínhamos decidido onde iriamos morar. Eu queria que ele morasse na minha casa comigo e minha mãe por um tempo porque ainda me preocupava com ela, mesmo que tivesse melhorado. Mas, ele negava. Dizia:
– Como casados devemos ter nosso próprio espaço. Sua mãe está saudável agora. Podemos morar perto dela e você pode encontrá-la todos os dias, se quiser.
– E se ela não conseguir outro emprego? Como vai pagar as contas sozinha? Eu preciso ajudar.
– Calma, querida. Ela ainda vai receber seguro e indenização, tem o processo judicial.
– Dinheiro acaba.
– Nós dois vamos ajudar ela a encontrar um emprego depois. Ainda demoraria muitos meses para que o dinheiro acabasse. E também, minha família tem muitas lojas, podemos ajudar.
– Ok.
Decidimos procurar um apartamento para morarmos perto da minha casa atual, assim eu poderia estar em contato sempre que possível com a minha mãe. O Daniel tinha dinheiro e queria comprar um imóvel em vez de alugar. Então, começamos a procurar, todos os dias saíamos para pesquisar e analisar as opções.
Minha mãe não estava nada feliz com esse casamento e com minha saída de casa, mas, sabia que não podia fazer nada contra, era o ciclo natural da vida, os filhos se casam e deixam o lar. A minha tia ajudou muito nesse processo, conversando com minha mãe para que ela aceitasse que não podia ir contra.
Eu, por outro lado, todos os dias repetia o mesmo, que iria vê-la cotidianamente, que moraria perto dela e ajudaria sempre que preciso. Assim, ela se contentava e mesmo assim ainda me deixava com o coração apertado de deixá-la, porque não era acostumada a viver sozinha. No entanto, ela tinha os seus quarenta e poucos anos, ou seja, tinha bastante vida e oportunidades pela frente.
Pouco tempo depois, a data do casamento estava chegando, depois de muito procurar tínhamos achado um apartamento perto da minha mãe. Eu tinha terminado as aulas na escola de idiomas e passava o dia resolvendo as coisas do casamento. A Carolina me ligou após dias dizendo que um advogado se interessou pela causa da minha mãe, era um advogado novato que tinha sido contratado há apenas uma semana pelo escritório, era iniciante. Marcamos uma consulta jurídica onde poderíamos discutir melhor o caso. Minha mãe queria resolver o mais rápido possível.
As notícias boas não paravam de chegar. O Daniel falou com a família dele sobre a situação da minha mãe e o pai dele ofereceu contratá-la para trabalhar em uma de suas lojas. Ela ficou muito feliz, poderia começar a trabalhar assim que resolvesse o problema empregatício que se encontrava. Por isso, tínhamos que correr com o processo trabalhista.
Eu estava muito feliz com tudo que estava acontecendo na minha vida, pela primeira vez me sentia completamente bem e despreocupada. Finalmente estava empolgada pela chegada do casamento, o Daniel estava me provando cada vez mais que seria um bom marido.
Ele era divertido e me deixava leve e descontraída. Eu fui acompanhá-lo em uma aula na escola de idiomas para pegar uns documentos que faltavam para finalizar meu contrato e depois fomos até a sala dos professores. Eu estava me despedindo de todos e, ao mesmo tempo, era parabenizada pelo nosso noivado.
Procurei pela minha amiga professora, a Luíza. E aparentemente, ela não tinha aulas nesse dia. Ela tinha parado de entrar em contato comigo e não respondia as minhas mensagens, fiquei preocupada que tivesse acontecido alguma coisa ruim. Mas, os professores disseram que ela ainda dava aulas e estava bem.
Resolvi não me preocupar mais e fui pegar umas coisas que tinha deixado no meu antigo armário, lá dentro encontro uma carta endereçada em meu nome. Achei estranho porque não reconhecia a letra.
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Atualizado até capítulo 45
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