Capítulo 05

Na mansão Bellini, Eduardo estava completamente imerso nas investigações conduzidas por Lívia através de seus informantes. Ele inicialmente sentiu um alívio ao saber que ela havia mudado seu foco para os Moretti, afastando-se temporariamente dos Bellini. No entanto, a mudança de alvo de Lívia significava que ela estava mergulhando ainda mais fundo em um território perigoso e desconhecido. Quando soube do sequestro, uma onda de culpa e responsabilidade o atingiu. Apesar de saber que proteger os segredos da família era vital, ele não pôde evitar se sentir culpado por colocar Lívia em perigo ao se envolver indiretamente.

Eduardo conhecia bem a brutalidade dos Moretti: homens implacáveis, vingativos, cruéis e sádicos. Imaginar Lívia nas mãos deles era uma angústia que ele não conseguia ignorar. Decidiu agir imediatamente. Convocou Leandro e sua equipe de confiança para planejar uma operação de resgate meticulosa. Para Eduardo, trazer Lívia de volta não era apenas uma questão de honra, mas também de manter o controle da situação e, quem sabe, recuperar um pouco de paz dentro de si mesmo.

No dia determinado para o resgate, enquanto as engrenagens do plano se moviam silenciosamente, a notícia da morte de Alessandro Bellini chegou como um golpe devastador. O líder temido dos Bellini, seu pai, agora estava morto. Eduardo sentiu como se o chão tivesse sido arrancado sob seus pés. Alessandro não era apenas um chefe da máfia; era seu pai, uma figura complexa que misturava amor, autoridade e segredos sombrios. A perda o atingiu em camadas profundas, deixando-o com uma sensação de vazio e uma dor que ele mal conseguia articular.

No velório, Eduardo permaneceu impassível diante dos ritos sombrios e das condolências superficiais. Observou os membros da família Bellini e os associados mais próximos, cada um mostrando seu respeito e pesar de maneiras distintas. No íntimo, Eduardo lutava para reconciliar a figura pública de seu pai com o homem que conhecia intimamente. A morte de Alessandro trouxe à tona questões não resolvidas, emoções tumultuadas e um senso agudo de perda.

Enquanto o mundo externo chorava a perda de um ícone do crime organizado, Eduardo se viu lutando contra seus próprios demônios internos. A preocupação por Lívia, agora em mãos inimigas, misturava-se à dor intensa pela perda de seu pai. As linhas entre o dever familiar e o desejo de resgatar alguém inocente, se confundiam em sua mente atormentada. Ele sabia que o tempo estava se esgotando para resgatar Lívia, e essa urgência alimentava sua determinação de resgatá-la, custasse o que custasse. Afinal, ele a colocará nessa situação, e ele lutava para entender que Lívia é inocente, estava apenas fazendo seu trabalho investigativo. No fundo, Eduardo sabia que pegou pesado, em jogá-la nos braços de inimigos tão perigosos, embora ela devesse ter abordado outra investigação, invés de ter investigado os seus negócios. Tudo estaria bem.

Ainda na mansão Bellini, o ambiente estava impregnado de luto após o funeral de Alessandro Bellini. Eduardo, agora o líder incontestável da família, enfrentava a realidade da perda de seu pai com uma determinação silenciosa. Os ritos funerários haviam sido solenes e grandiosos, refletindo a importância e o legado de Alessandro no submundo do crime organizado.

Após o enterro, Eduardo se retirou para seu escritório, um reduto de tranquilidade forçada. Os momentos solenes da cerimônia ressoavam em sua mente, mas ele sabia que não podia se permitir sucumbir ao luto naquele momento crítico.

Na penumbra de seu escritório, Eduardo se sentou à sua mesa de mogno, onde habitualmente decidia o destino de muitos. Agora, era a vez de decidir o destino de uma única vida: a de Lívia. Com o semblante fechado e os olhos fixos no horizonte sombrio que se desenhava, ele acionou a presença de Leandro.

Reuniu Leandro e sua equipe de confiança, homens cuja lealdade era tão indiscutível quanto a sombra que pairava sobre os Bellini naquele momento. Mapas detalhados da área controlada pelos Moretti cobriam a mesa, enquanto estratégias eram discutidas em sussurros tensos, para o resgate de Livia. Cada detalhe, desde a entrada furtiva até a retirada segura, era meticulosamente planejado.

Eduardo não podia se dar ao luxo de hesitar. Sentia o peso da responsabilidade não apenas como o novo chefe da família, mas como o responsável por trazer Lívia de volta à segurança, que ele mesmo havia tirado dela. Enquanto ajustava os últimos detalhes do plano, o brilho fúnebre das velas do funeral de seu pai ainda ecoava em sua mente, uma lembrança constante de que o tempo não esperava por ninguém, nem mesmo por um mafioso em luto.

Ao olhar para fora pela janela, Eduardo vislumbrou as estrelas distantes, um lembrete silencioso de que, apesar da escuridão que envolvia sua vida, havia ainda uma luz de esperança. “Vamos buscar Lívia”, murmurou para si mesmo, sua voz misturando-se ao murmúrio do vento noturno que soprava através das árvores centenárias do jardim da mansão Bellini.

A partir daquele momento, não havia espaço para dúvidas ou hesitações. Eduardo Bellini estava determinado a enfrentar os Moretti e trazer Lívia de volta, custasse o que custasse. Mas, tudo aquilo tinha um preço.

Eduardo, ainda no escritório, pegou o celular e ligou para Leandro, solicitando a preparação de um contrato de submissão. Ele passou a Leandro uma lista detalhada de tudo o que deveria constar no documento. Em questão de minutos, o contrato solicitado estava em suas mãos, pronto para ser apresentado a Lívia quando ele a resgatasse. Eduardo planejava fazer com que Lívia assinasse o contrato em troca do grande favor que ele havia feito a ela. O resgate.

Enquanto recordava as dores de cabeça que Lívia lhe causara, Eduardo sentiu uma onda de raiva e chegou a considerar voltar atrás em sua decisão, deixando-a nas mãos dos Moretti. No entanto, após uma reflexão mais profunda, ele percebeu que poderia tirar proveito da situação e fazer com que Lívia pagasse pelo favor concedido, acreditando que essa era a atitude mais assertiva a ser tomada. Ele prometeu a si mesmo, que não pegaram leve com ela.

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