Donatilha Minha Perdição

Donatilha Minha Perdição

Capítulo 1

...Luke ...

...-...

...Tudo que eu queria era uma vida pacífica. Para cumprir minha vocação, dada por "Deus". Até os últimos dias de minha vida, mas aquela vaca do caralho chegou e estragou tudo....

Faz um mês que Luke chegou a Beethoven, uma cidadezinha pequena e remota. Ele procurava algo assim para cumprir sua vocação dada por Deus. Há um ano, ele terminou o seminário; sua mãe queria que ele se tornasse padre em sua cidade, mas isso estava fora de cogitação. Mesmo sabendo que aquele era seu dever, começou a sentir-se preso, uma sensação inexplicável. Talvez seu desejo mais profundo fosse fugir. E foi isso que ele fez.

Quando sua mãe estava grávida, sonhou que seu filho seria um menino e que ele se tornaria padre. Para o azar de Luke, ele realmente nasceu menino. Desde o momento em que veio ao mundo, sua família trabalhou para realizar o sonho de sua mãe. Seu primeiro contato com outras pessoas foi no seminário. Desde criança, estudou em casa e nunca tinha visto uma mulher, além de sua irmã mais velha, Dorothy, e sua mãe, Lúcia. No seminário, viu algumas mulheres, mas elas eram tão rígidas quanto sua mãe.

Lúcia sempre deixou claro o quanto as mulheres poderiam ser sujas e mundanas. Ela o assustava contando que uma dessas mulheres quase tirou o pai de Luke de sua família. A surra que Dorothy levou de sua mãe aos quatorze anos, por cortar as pontas do cabelo, ainda lhe causa pesadelos. Ele achou que sua mãe a mataria; sua pobre irmã ficou semanas sem aparecer para as outras pessoas. Lúcia arrancou grande parte dos cabelos de Dorothy com puxões, dizendo que, se ela queria parecer uma prostituta, definitivamente não conseguiria. Mesmo sentindo pena de sua irmã, Luke sabia que era para o seu bem, assim como as inúmeras punições que sofreu de seu pai para não ser um homem fraco.

Luke também tinha um certo preconceito com várias coisas; ele desenvolveu uma aversão às mulheres. Para ele, elas não são criaturas limpas. A história de Adão e Eva é uma prova disso. A maioria das mulheres não respeita seus maridos, falhando na função de esposa que Deus lhes deu. O grande erro das mulheres, segundo ele, é ter um libido muito grande, não se contentando apenas com o que seus maridos oferecem. Qual seria a outra função do sexo além da procriação? E algumas ainda não querem ter a quantidade de filhos que Deus lhes manda. O que mais enoja Luke são aquelas que se envolvem com pessoas do mesmo sexo e ainda fazem inseminação para ter uma criança. Quão sem noção seria fazer um ser nascer de uma fonte de pecado?

Pensar que foi isso que sua irmã Dorothy fez o atormenta. Onde seus pais erraram? Luke não conseguia entender por que ela era totalmente contra a doutrina que aprenderam. Dorothy é apenas três anos mais velha que ele. Na noite de seu aniversário de dezoito anos, ela fugiu sem dizer nada a ninguém. Ele só teve notícias dela no seu aniversário de vinte e dois anos, por um telefonema aleatório. Foi impossível controlar as lágrimas; sua irmã sempre foi gentil, apesar de tudo. Seria tão difícil se ela simplesmente encontrasse um marido e lhe desse sobrinhos, como seus pais queriam?

Dorothy marcou um encontro, mas implorou para que ele não comentasse com seus pais. Mesmo sabendo que era errado, ele aceitou. Quando a viu, entrou em choque: sua irmã estava acompanhada de seus filhos, fruto de inseminação artificial, e de sua esposa. Sim, uma pessoa do mesmo sexo! Tudo o que sua família mais odiava, sua irmã deu um jeito de fazer. Foi estranho; ele a amava tanto que aquilo não o abalou, mesmo sabendo que era errado.

Depois que o encontro acabou, ele inocentemente contou para seus pais. Eles enlouqueceram. Não é para menos: seu pai disse que, se visse sua filha na frente dele, a mataria, junto com aquilo que ela chamava de família. Sua mãe queria o endereço de Dorothy de todas as formas, para entrar na casa dela e lhe dar uma boa surra. Pela primeira vez, Luke mentiu, dizendo que sua irmã não deixou contato nenhum. Eles nunca pararam de trocar mensagens. Quem o incentivou a mudar de vez foi ela. Às vezes, ele se sentia irritado por sua irmã questionar se ele realmente deveria ser padre.

Percebendo que estava perdido em pensamentos, Luke olha ao seu redor e nota que chegou à paróquia. Hoje será sua primeira missa. Ele demorou para se estabilizar, mas felizmente é uma cidade pequena e bem religiosa. Não foi difícil se adaptar à casa paroquial com a ajuda de todos. Ele olha ao redor, admirando o lugar, como de costume. Logo atrás da paróquia, há uma enorme floresta, conhecida por seus lindos lagos que congelam durante o inverno. Isso prova o quanto Deus é perfeito.

A manhã passa extremamente calma. Luke escuta algumas confissões e dá aconselhamentos. Um enorme sorriso aparece em seus lábios ao descobrir que a catequese vai começar em alguns dias. Talvez seu pecado mais profundo seja almejar algo que não pode ter: uma família.

Depois de visitar o domicílio de alguns doentes, Luke volta para a paróquia para se arrumar para sua primeira missa. Ele está ansioso, pois esperou por este momento desde o seminário. A cada passo em direção ao altar, seu coração pula de ansiedade. Ele pega o microfone e dá uma boa olhada ao redor. Não é surpreendente que a igreja esteja cheia. As pessoas também estão curiosas para saber quem é o novo padre, depois do que aconteceu com o antigo.

— Abençoe-vos Deus Todo-Poderoso, Pai, Filho e Espírito Santo. — Luke diz ao microfone.

— Amém! — a igreja responde.

Isso é mais que suficiente para encorajá-lo a fazer o que treinou desde o dia de seu nascimento: falar sobre a palavra de Deus.

Conforme a missa vai chegando ao fim, Luke começa a analisar as pessoas e suas características. As senhorinhas que sentam nos bancos da frente. Os adolescentes rebeldes, que vieram forçados pelos pais. As mulheres casadas e seus maridos. E, em um banco, nem ao fundo da igreja nem à frente, uma mulher de cabelos vermelhos. Eles chamam a atenção de Luke, destacando-se no meio das pessoas. Ele olha assustado para ela; nunca tinha visto, em toda a sua vida, uma mulher tão mundana. Ela transborda vulgaridade. Ele continua olhando, prestando atenção na raiz preta de seu cabelo natural, já crescida. Qual o sentido de alguém querer tirar uma característica dada por Deus? Se seu cabelo está assim, quão ruins estão suas vestes? Seu olhar cai para o rosto da mulher. Sem maquiagem, apenas olheiras; ela parece estar exausta de alguma forma. Seu olhar desce mais para baixo, para analisar as roupas, e ele fica surpreso: é um vestido preto de mangas compridas, longo, sem decote algum.

Luke se repreende por julgar uma pessoa sem conhecer sua história. Ele desvia o olhar, sem graça, percebendo que foi pego pela garota. Ela sorri, mostrando os dentes, e Luke sente um formigamento estranho em seu peito.

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Comments

LMCF

LMCF

A garota estranha e vulgar será mais do que uma garota estranha e vulgar. Isso será o de menos.

2024-06-29

1

Kharinne Santos

Kharinne Santos

Já vi que você vai cometer esse "pecado" kkkkkkkkk

2024-06-24

1

Ver todos

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