Capítulo Dezenove

YANLIE

Aurora corou mais ainda após eu concordar, mas não se afastou, ela estava determinada a arrumar meu cabelo. Seus dedos penteavam meu cabelo para baixo e tocavam sutilmente minha testa. Através desse toque poderia ver seus pensamentos, mas eu estava poupando magia, principalmente após a minha invocação não desejada por mim.

— Obrigada — Ela sorriu. — Aliás, tente sussurrar nós estamos no banheiro feminino.

— Você não podia ter me invocado em um ambiente melhor!?

— Eu estava desesperada, tudo bem!? — Ela retrucou. — Felizmente você apareceu.

— Você me invocou à força durante o meu banho — Acusei. — Você é tão ardilosa quanto uma fada da lua.

— Deve ser a convivência com você.

Acabei rindo e Aurora sorriu. E por mais que eu estivesse me esforçando para continuar chateado, eu não conseguia não sorrir por muito tempo. Era impossível não sorrir perto da Aurora ultimamente.

— Talvez se torne psicopata — Provoquei para lembrá-la e lembrar-me de que eu estava bravo.

— Yanlie, eu estava errada e eu sinto muito por ter agido daquela forma — Ela se desculpou. — Mas eu sou humana, eu realmente...

— Tudo bem — A interrompi sorrindo.

— Tudo bem? Você não quer que eu me ajoelhe e implore perdão?

Aurora parecia ter convivido séculos com o meu pai. Ela descrevia o tipo de atitude dele o tempo todo. Talvez eu não tivesse a expressão tão amigável assim.

— Por que você faria isso? — Perguntei confuso.

— Você estava furioso comigo, tão furioso que me evitou por dias.

Seu tom e semblante eram tristes. Então no fim das contas meu afastamento havia a magoado. Interessante.

— Eu não queria atrapalhar sua vida — Dei de ombros. — E acredite, eu definitivamente não estava bravo, você saberia.

— No dia que você... Castigou aquele assediador, você estava bravo? — Ela perguntou e eu assenti. Aurora sorriu ansiosa. — É... Acho que você não estava tão irritado comigo.

— Agora você sabe, mas isso é passado, eu não fico chateado por muito tempo — Sorri. — E então, por que preciso ser seu namorado? Não está tentando me conquistar, certo?

Aurora fez menção de me bater, mas sua mão parou há centímetros do meu braço. A espertinha estava começando a aprender.

— Eu já disse que não gosto de elfos — Ela retrucou. — Eu vou sair primeiro e chamo você se tudo estiver seguro, explico o resto no caminho.

Ela precisou passar por mim para sair pela porta daquela pequena sala de banheiro. Seu perfume inundou o meu olfato e senti vontade de abraçá-la.

Somente quando Aurora retornou e me puxou pela mão para sairmos depressa que eu percebi como ela estava encantadora.

Aurora usava uma calça clara daquele tecido estranho, jeans, e uma blusa marrom justa com um grande casaco de lã branco que eu não havia visto ela usar ainda. Porém, suas vestes eram justas demais o que evidenciava suas curvas que eu raramente prestava atenção já que ela vivia com roupas folgadas.

Ela me explicou tudo enquanto íamos encontrar o tal do Chris e Amanda. Mas eu só conseguia pensar em como o corpo dela era atraente... Talvez a falta de uma fada para aquecer minha cama tenha me deixado um pouco confuso já que eu não gostava de humanas. Definitivamente não gostava.

— Yanlie! — Aurora parou de caminhar de repente.

— Diga.

— Você entendeu o que eu disse!? Não podemos estragar tudo.

Aurora estava linda com seu típico gloss, mas o de hoje era de morango, eu podia sentir o cheiro e achava fascinante que os humanos conseguissem criar aquele brilho a partir de uma fruta.

— Yanlie — Ela segurou meu rosto e eu finalmente a ouvi. — O que você tem?

— Você está muito bonita, Aurora — Respondi simplesmente.

Ela afastou suas mãos do meu rosto quase como se eu tivesse a ofendido. Eu sabia que ela não gostava muito dos meus elogios, mas eu estava sendo sincero.

— Eu disse algo errado? — Perguntei confuso.

— Você é um homem... Um elfo prático demais.

— Eu apenas sei o que é bonito e o que é feio, e hoje você está deslumbrante — Sorri.

— Yanlie, isso parece flerte — Ela me encarou seriamente.

— Mas eu não sou seu namorado?

Aurora abriu a boca para retrucar, mas desistiu. Segurei o riso, eu sempre sabia como incomodá-la de alguma forma.

— Muito bem, Yanlie, você é mesmo um ótimo ator.

— Meus elogios são sempre genuínos.

— Obrigada então — Ela sorriu, mas não pareceu sincera. — Anda mais rápido ou eles podem realmente achar que eu menti.

Assenti e a acompanhei. Em poucos minutos estávamos parados ao lado de uma mesa. Um garoto e uma garota estavam sentados, ambos loiros e bem vestidos, com exceção da pintura exagerada no rosto da garota.

Assim que eles viram a Aurora, um sorriso debochado surgiu no rosto da garota, porém seus olhos se direcionaram para mim e sua boca abriu em completo choque.

Suspirei. Era difícil ser tão irresistível.

— Amanda, Chris, conheçam meu namorado... Yan — Aurora nos apresentou.

Era a primeira vez que ela me chamava de Yan e soou tão íntimo que me fez desejar ouvir esse som mais vezes.

— Você está brincando, certo? Você contratou um ator!? — Amanda questionou ainda me olhando impressionada.

Até mesmo o Chris parecia boquiaberto.

— O que quer dizer com isso? — Puxei Aurora pela cintura e senti seu corpo ficar rígido quando minha mão segurou seu quadril com vontade. — Ela é minha namorada.

— Não é possível — Amanda continuou teimando.

— Pare com isso, se esse ator... Quero dizer, se esse rapaz está dizendo então é verdade — Chris se pronunciou pela primeira vez.

Sua voz era mediana, quase de um adolescente humano, e sua aparência também era média, havia muitas imperfeições como o seu nariz desproporcional e suas sobrancelhas um pouco finas demais. O que a Aurora havia visto nesse ser humano de tão baixa qualidade?

— Ele realmente é meu namorado, eu não tenho motivos para inventar isso — Aurora retrucou e cobriu minha mão no seu quadril com a sua.

— Eu já vi esse tipo de coisa na internet, os namorados de aluguéis geralmente seguram mãos e são até carinhosos — Amanda sorriu quase com ódio em seu olhar. — Eu só acredito com provas, se é seu namorado então o beije.

Isso... Isso estava fora do meu limite de fato, mas ao olhar para Aurora, eu sabia que ela não teria coragem e Amanda venceria esse duelo. E eu não fazia ideia de quantos duelos a Amanda já havia vencido.

— Yan, você...

Puxei Aurora de frente para mim e a beijei.

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