Capítulo Dezessete

AURORA

O abusador morreu, mas esse era o primeiro assassinato do Yanlie que eu não me importava realmente. Ele havia modificado as lembranças de todos, eu não sabia como ele podia ser tão poderoso. E quando a polícia foi investigar a morte foi dada como suicídio em meio a um assalto, principalmente após verem que ele era procurado por mais de 20 casos de abuso sexual. O assalto não foi explicado já que ninguém havia sido roubado, mas meu chefe alegou isso já que ele definitivamente não deveria ter uma arma em seu estabelecimento.

Não agradeci ao Yanlie. Tentei inúmeras vezes, mas ele simplesmente saía de qualquer cômodo em que eu estivesse. Porém, o fato dele ainda morar comigo me dizia que nossa amizade não estava tão abalada assim.

Amizade. Não sabia quando, mas Yanlie aos poucos se tornou alguém importante para mim, ao ponto de eu não escolher apenas o que eu queria jantar, mas pensar cuidadosamente em seu paladar que eu gostava de chamar de infantil por apreciar muitos doces.

Olhei para a lata de refrigerante e pensei no Yanlie pela milésima vez naquele dia. Refrigerante talvez fosse sua bebida humana favorita. "Muito doce e com essas bolhas interessantes, eu gosto muito disso" ele disse uma vez e nunca me esqueci do seu sorriso para o copo.

Eu não sentia apenas gratidão, mas também arrependimento, principalmente por saber que ele mesmo distante estava cuidando de mim. Só notei quando meu chefe disse que havia um rapaz bonito que vivia esperando algo todas as noites, felizmente ele me mostrou nas câmeras que se tratava do Yanlie senão com certeza a polícia seria chamada. Desde então eu fingia que não sabia que ele me buscava todas as noites.

Outra coisa que eu evitava falar era sobre o seu cultivo. Depois do ocorrido com o abusador, Yanlie demorou para dormir próximo a mim novamente e quando finalmente segurou minha mão em uma madrugada que ele acreditava que eu estava dormindo. Eu soube o quão fraco ele estava novamente, tão fraco que não conseguiu perceber que eu estava acordada.

Respirei fundo e evitei pensar nisso. Estávamos distantes agora e talvez fosse melhor assim. Além disso, eu tinha algo realmente bom para pensar.

Chris havia me chamado para sair há alguns dias e eu pedi para sair mais cedo do trabalho, meu chefe não se incomodou já que eu sempre era pontual e nunca havia faltado desde que comecei a trabalhar.

Terminei meu trabalho e corri para me arrumar na pequena sala de funcionários. Me olhei no espelho e sorri satisfeita, mesmo tendo sido uma tortura lavar o cabelo tão cedo de manhã, havia valido a pena.

Assim que sai da lanchonete encontrei Chris, seu carro estava estacionado em uma das vagas e ele sorria enquanto se apoiava na porta do motorista. Seu cabelo loiro estava em seu típico topete com gel, o que o deixava um pouco brega, mas combinava com seu estilo. Calça e jaqueta jeans e uma camisa branca.

— Oi — Falei tentando não parecer tão nervosa.

— Eai — Ele me cumprimentou com um aperto no ombro e então abriu a porta de trás para mim.

Estranhei seu gesto, nos últimos dias quando me via ele sempre beijava meu rosto. Além disso, eu deveria sentar na frente e não atrás como se ele fosse um motorista de aplicativo.

Só entendi tudo quando a garota loira sentada no banco da frente se virou para mim. Amanda estava sentada no maldito banco da frente.

— Harrison — Ela sorriu e me olhou como se pudesse desvendar todos os meus segredos. — Uau, é a primeira vez que vejo seu cabelo assim, você deve ter perdido umas boas horas cuidando dele... Uma pena que você ainda está com esse odor de fritura.

— Amanda — Chris a repreendeu ao entrar no carro e escutar a última frase. — Lembre o que combinamos.

"Lembre o que combinamos". Meu estômago deu uma revirada. Ele havia me chamado para possivelmente ajudar Amanda em alguma coisa.

Olhei para as ondas no meu cabelo que eu havia cuidado o dia todo para que não ficasse feio. Meu chefe até mesmo me xingou por eu não estar andando tão rápido para atender os clientes, pois eu não queria suar e estragar tudo.

Me senti patética enquanto me encolhia no banco de trás. Eu poderia sair, mas se saísse isso significava que eu gostava do Chris e ele saberia que eu havia entendido tudo errado. Mas se eu ficasse, isso significava que Amanda se divirtiria por umas boas horas e o que quer que o Chris pedisse, eu não poderia recusar senão... Senão ele nunca mais falaria comigo. E ele talvez fosse o único garoto que era minimamente gentil comigo.

— Onde vamos? — Perguntei.

— Combinamos de ir ao shopping, lembra? — Chris perguntou.

Seu tom era animado e acolhedor, mas não havia nada disso em suas intenções, porém percebi tarde demais.

A ideia do shopping pareceu romântica para mim no começo. Eu pensei que ele soubesse que eu raramente ia, pois o trajeto era muito longe da faculdade. Mas, refletindo agora, era apenas porque provavelmente era o lugar favorito da Amanda.

— Acho que ela nunca foi, deve gostar bastante — Amanda sorriu para mim.

Seu sorriso me fez estremecer um pouco. Amanda nunca, nunca, sorriu para mim. Não sem deboche, raiva ou zombação. Entretanto aquele sorriso tinha sido um sorriso comum, se eu não a conhecesse diria até que era gentil... O que ela estava aprontando?

Independente do que era, eu precisava dar um jeito de sair dessa primeiro sem parecer que eu de fato me arrumei para um encontro com o Chris.

A voz da Amanda chamou minha atenção e comecei a ouvir a conversa deles. Chris a respondia num tom baixo, mas Amanda parecia fazer questão de falar num tom alto o suficiente para que eu a ouvisse.

— Amor, podemos ir ao cinema depois? — Ela perguntou de repente.

— O que você quiser, querida — Chris disse e pude perceber que estava sorrindo.

Eu sabia que a Amanda gostava dele. Todos sabiam, mas eu não imaginava que fosse recíproco. Comecei a me sentir muito estúpida, se eles namoravam então o Chris sabia muito bem que ela não me suportava e ela com certeza já havia dito que eu gostava dele.

Fechei os olhos desejando que nunca tivesse aceitado sair com aquele idiota. Por mais que eu não gostasse tanto dele assim, me sentia magoada e de certa forma usada, ele definitivamente tinha pedido para sair comigo apenas pela Amanda, pois sabia que eu e ela não nos dávamos bem.

Cometi a estupidez de abrir os olhos e olhar exatamente para o retrovisor. Meu olhar encontrou o do Chris e eu soube naquele instante que ele sabia como eu me sentia, e talvez ele fosse pior até mesmo que a Amanda que pelo menos não escondia suas intenções reais.

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Comments

Maria Eduarda

Maria Eduarda

cadê o Yalien??

2025-01-16

0

elenice ferreira

elenice ferreira

essa desmiolada vive entrando em cada roubada com essa Amanda e esse Cris já mostrou que e um escroto, só ela não vê

2024-08-23

2

Lucilene Palheta

Lucilene Palheta

isso vai dar merda

2024-05-22

3

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