Capítulo Nove

AURORA

Parei de gritar quando senti um calor muito forte seguido de um embrulho em meu estômago. Felizmente aquele momento horrível acabou e quando abri os olhos, eu estava em meu dormitório... Com Yanlie.

— Como... — Olhei ao redor.

A mão dele ainda segurava meu braço e aproveitei que ele estava tão distraído quanto eu, e puxei meu braço com força.

— Saia da minha casa — Ordenei.

— Espere.

— Eu não vou esperar nada!

— Estou pensando, por gentileza, espere — Ele pediu e então sentou no chão do meu quarto.

Yanlie fechou os olhos e ficou em uma posição de yoga ou seja lá o que for isso. Tentei empurrá-lo para fora, mas ele era tão pesado quanto um carro.

A cada segundo que se passava eu acreditava mais nas loucuras dele, e surgir no meu quarto de repente tinha sido a gota d'água. Ou eu estava louca ou ele realmente era mágico.

— Yanlie, saia — Pedi cansada e tentei levantá-lo novamente.

Ele me ignorou. Uma expressão de irritação tomou conta do seu rosto e eu me afastei. Não sabia o que aquele lunático faria agora.

— Não voltou... — Ele murmurou.

— O que não voltou?

— Me dê sua mão.

— Não.

— Não é um pedido, serva.

Fiquei tão furiosa por ouvir novamente essa palavra. Isso me lembrava como os clientes agiam no local onde eu trabalhava, a diferença era que Yanlie não estava me pagando.

Pulei em cima do Yanlie prestes a puxar sua orelha ou seu cabelo, ou qualquer coisa que o castigasse um pouco. Porém, ele me segurou me prendendo em seu colo e uniu nossas mãos.

— Me solta!

— Você veio de boa vontade para os meus braços e agora quer que eu a solte? Sem chance — Ele sorriu daquele jeito irritante. — Me dê dois minutos.

Tentei mordê-lo, me debati, fiz tudo que era possível para ele me soltar. Menos gritar, pois não podia chamar a atenção dos meus colegas da universidade.

Acabei desistindo quando percebi que ele não queria fazer nada, apenas ficar de olhos fechados e mãos dadas comigo. Eu nunca conheci um rapaz tão bonito e bizarro antes.

— Como eu pensei — Ele suspirou frustrado e então me afastou com uma gentileza impressionante. — Sente-se direito, quero conversar.

Até mesmo sendo gentil ele soava arrogante. De onde esse cara tinha vindo, afinal?

— E depois você vai embora? — Sentei na frente dele tentando achar tudo aquilo normal.

— Não posso, você é minha única saída.

— O que!? Não, eu não quero envolvimento nenhum com você.

— Eu serei seu servo.

Eu o olhei incrédula. Eu estava sonhando? Aquele homem bonito e muito possivelmente rico estava falando que seria meu servo? Céus, ele era mesmo deficiente mental?

Quer dizer, mesmo que ele fosse mágico, o que eu já estava começando a aceitar, como ele poderia ser servo de uma garota como eu?

— Yanlie — Falei séria. — Qual é o seu problema!?

— Nenhum, decidi ser seu servo, não é ótimo? — Ele perguntou num tom de desânimo.

— Eu não quero um servo.

— Você disse que nunca conheceu um rapaz tão bonito e bizarro, mas você também não passa longe disso — Ele suspirou.

— Espera, como...

— Com essa sua mente fraca, qualquer elfo cultivando consegue ler o que você pensa ao tocá-la, assim que comecei a cultivar...

— Nunca mais me toque! — Falei apavorada.

— Mas é o único jeito de eu... Esqueça, ocasionalmente vou precisar tocá-la.

— Como assim ocasionalmente, você tem que ir embora — Retruquei com irritação.

— Aurora, o que eu preciso fazer para que me aceite como seu servo?

Fiquei um pouco constrangida. Parecia que eu estava vivendo algum roteiro de dorama.

— Por que precisa tanto ficar comigo? Tem muitas pessoas qualificadas por aí.

— Ninguém é mais qualificado que você, você é a minha pessoa — Ele disse muito sério e então estendeu a mão.

Fiquei imóvel enquanto ele acariciava meu rosto. Simplesmente não tinha reação para esse tipo de coisa. Nunca havia namorado na minha vida e era a primeira vez que eu tinha um momento como esses.

Além disso, Yanlie estava com seus olhos dourados novamente. Era tão bonito...

— Você está vermelha de novo, é sério, que tipo de doença é essa? — Yanlie perguntou confuso.

Me afastei após ele quebrar todo o meu encanto e comecei a me abanar sentindo um calor estranho. Eu precisava manter distância dele, eu era muito inexperiente na área amorosa.

— É raiva — Menti. — Quando sinto raiva, meu rosto fica corado.

— Ah então é isso — Ele assentiu. — Por que sinto que está mentindo?

— Não estou... E pare de falar essas coisas como "minha pessoa" isso me irrita.

— Tudo bem, eu não digo, você me aceita?

— Não.

— Por que não!? Pense pelo lado bom, você pode ter um guarda-costas pessoal sempre que quiser!

— Tudo nessa vida tem um preço, se você for meu servo, o que eu tenho que dar em troca?

Yanlie mudou sua postura e foi como se toda a sua gentileza e olhar dócil tivessem ido embora. Um sorriso divertido tomou conta do seu rosto e ele me olhou de uma forma que não sabia dizer o que significava.

— Você é muito inteligente, eu gosto disso — Ele me elogiou. — É claro que em um contrato ambas as partes devem se beneficiar.

— Fale logo.

— Você só precisa me abraçar todas as noites.

— Você... Você é um pervertido ou o que!? Você é literalmente um ser mágico e quer se aproveitar de uma jovem como eu!?

— Então você acredita em mim? Ótimo, isso me deixa feliz — Ele sorriu empolgado.

Ele sequer estava bravo por ser chamado de pervertido!

— Você não me contrariou sobre ser pervertido — Eu o olhei com suspeita.

— Eu não quero explicar meus assuntos, então pense como quiser — Ele deu de ombros. — Pode pensar que eu sou apenas um obcecado por seu corpo feio, eu não me importo.

— Yanlie!

Ele fez uma careta ao escutar meu grito de ódio. Eu queria bater repetidas vezes em seu rosto às vezes, só para ver se algum juízo atingia seu cérebro.

— Aceite logo, eu farei tudo por você, prometo — Ele garantiu.

— Tudo? — Perguntei hesitante.

Era um ser mágico no fim das contas. Eu poderia ter um gênio da lâmpada pessoal...

— Tudo.

— Ao invés de abraçar, podemos dar as mãos?

— Serve, mas eu gosto de abraçar, por que você não gosta?

— Eu mal o conheço.

— Mas eu sou bonito — Ele disse como se estivesse falando com uma pessoa louca. — E eu sei que me acha bonito.

— Yanlie, se quiser continuar aqui é melhor calar a boca nesse instante.

— Ninguém fala assim comigo, sabia? Você é uma grosseirona — Ele reclamou.

— Se não gostou, pode ir embora.

— Está bem, eu adorei seu tratamento minha senhora — Ele sorriu forçado. — Temos um acordo.

Yanlie estendeu os braços como se fosse me abraçar, mas eu o afastei e estendi a mão. Ele apenas me olhou entediado e apertou minha mão.

— Agora diga que me aceita — Ele pediu.

— Isso não é nenhum pacto ou coisa do tipo, não é?

— É algo bom, apenas diga "eu aceito a sua ajuda".

— Eu aceito a sua ajuda.

As luzes do meu quarto piscaram e um frio estranho invadiu o ambiente. Quando olhei para o Yanlie, seus olhos estavam completamente negros e um sorriso assustador estava em seu rosto.

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