Capítulo Onze

AURORA

— Tudo bem, vamos estabelecer algumas regras.

Agora que eu tinha concordado com a loucura de ter aquele ser mágico como servo e hóspede, eu tinha que estabelecer limites para ele não agir como hoje de manhã.

— Estou ouvindo — Yanlie bocejou e se espreguiçou no sofá.

— Estou falando sério, Yanlie.

— Já percebi, minha senhora — Ele sorriu com ódio. — Diga logo as malditas regras.

— Primeiro deve me respeitar e me ouvir sempre.

— Isso são duas regras, mas continue.

Revirei os olhos. Ele era tão certinho e tão malvado ao mesmo tempo. Isso estava começando a me enlouquecer, se eu já não estivesse louca!

— Você não pode ferir ninguém.

— E se alguém machucá-la? — Ele perguntou me surpreendendo um pouco.

— Isso o preocupa?

— Como eu vou cultivar se você morrer? — Yanlie questionou impaciente. — Eu não aceito essa regra.

Por que eu pensei que ele se importaria um pouquinho com alguém que não fosse ele mesmo!?

— Você não pode e não vai machucar ninguém, eu vou me manter segura e viva — Avisei irritada.

— Sei, quase morreu em menos de três dias...

— Isso não acontece sempre, na verdade começou quando você apareceu!

Yanlie me olhou ofendido e levantou do sofá. Sua aproximação repentina me intimidou um pouco, mas continuei o encarando de cabeça erguida.

— Está insinuando que sou um mau presságio?

— E se eu estiver?

— De onde eu venho essa acusação é muito séria — Ele disse num tom ameaçador. — Alguns plebeus já morreram por falar demais... Assim como você está fazendo agora.

Olhei brevemente para a porta. Estávamos sozinhos e eu sabia como ele corria rápido. Eu não deveria ofendê-lo...

— Tudo bem, já que você é a minha senhora — Ele sorriu radiante e fez um carinho na minha cabeça. — Eu vou fingir que não ouvi.

Respirei aliviada quando Yanlie sentou no sofá novamente. Ele era psicopata ou apenas se divertia com a perturbação alheia? Como ele podia agir daquela forma e sorrir depois!?

— Bom, continuando — Falei hesitante.— Você disse que é um ser mágico então você não é da terra.

— Sim, senhorita óbvia.

— Certo, isso significa que você não entende nada sobre a terra... Então você não pode sair.

— Eu entendo muitas coisas sobre a terra, eu tive aula sobre o seu reino — Ele desdenhou. — Só não prestei muita atenção, vocês são uns dos poucos reinos com baixa magia, isso me irrita.

— Independente do que você sabe, ainda é muito perigoso você sair daqui, não pode sair sem mim, entendeu?

— Está preocupada comigo? Você não...

— Estou preocupada com a humanidade — O interrompi e ele fez uma careta. — Até um aperto de mão seu deve matar alguém.

Yanlie riu baixo e eu o olhei com irritação o fazendo fechar a cara no mesmo instante. Ótimo, ele sabia que o sorrisinho dele estressava.

— Além dessas regras básicas, você deve atender todos os meus pedidos — Lembrei.

— Especifique esses pedidos.

— Não sei como especificar agora, mas esteja pronto quando eu precisar.

— Tudo bem, estou de acordo com tudo — Ele suspirou. — Mas também tenho algumas exigências.

— Diga.

— Você precisa me alimentar e cuidar de qualquer necessidade que eu tiver.

— Não é você o servo!?

— E desde quando servos tem ouro ou coisa do tipo!? Eu sou totalmente seu dependente agora!

Eu sabia. Eu tinha me metido em uma furada. Eu mal tinha salário para me manter, como manteria esse louco? Pelo tamanho e músculos, ele não devia comer pouco.

— Eu vou pensar em algo — Falei cansada. — Mas não abuse.

— Estou sem comer há dias, quero comer algo agora.

Quase grunhi de irritação, mas me obriguei a sorrir simpática e puxá-lo pelo braço. Porém, ele não se mexeu.

— Vamos comer ou não!?

— Ah você quer que eu levante... Devia ter dito — Ele disse animado e levantou.

Saímos do meu dormitório e fui pega de surpresa quando ele segurou minha mão entrelaçando nossos dedos. Eu o olhei em advertência, mas ele apenas me ignorou.

— Yanlie, solta a minha mão.

— Não.

— Solta agora, você é meu servo — Sussurrei irritada.

Alguns colegas passavam por nós dois e me olhavam com curiosidade. Eu não podia negar que Yanlie era muito bonito, era como se ele tivesse saído de uma revista de modelos e ele parecia saber disso, pois sorria para todos que o encarava.

— Não posso soltar sua mão.

— Por que não!?

— Eu gosto de segurá-la — Ele sorriu para mim.

Meu rosto esquentou e uma estranha ansiedade tomou conta do meu corpo. Essa sensação...

A risada alta e anasalada da Rachel chamou minha atenção. Amanda e seus amigos estavam vindo quase na nossa direção, e isso incluía o Chris.

— Precisamos nos esconder! — Falei apavorada e puxei o Yanlie para trás de alguns arbustos no campus.

— Por que...

Coloquei minha mão em sua boca ignorando o fato de que estávamos agachados e ocupando quase o mesmo espaço. Eu só conseguia pensar em como o Chris não podia me ver com outro garoto, ainda mais de mãos dadas!

Fiquei observando eles passarem pelas ruas da universidade sem nos notar. Estavam distraídos demais para perceber alguém como eu.

Suspirei cansada ao ver o Chris sorrindo. Ele era tão legal...

Quase gritei ao sentir algo quente e molhado na minha mão. Yanlie tinha lambido a minha mão!

— Você... — Falei enojada.

— Seus pensamentos estavam me incomodando — Ele deu de ombros. — O que aquele Chris tem demais?

— Você fez de novo!

— Você que me tocou!

— E você me lambeu! Como pode ser tão nojento!?

— Já lambi partes do corpo mais constrangedoras do que sua mão — Yanlie sorriu malicioso.

Comecei a sentir aquele calor estranho novamente e quando fui me afastar quase caí, mas me segurei em Yanlie o fazendo cair por cima de mim.

Quando me dei conta seu nariz estava praticamente colado ao meu, assim como seus lábios nos meus. Ele arregalou os olhos ao perceber o selinho acidental.

— Está louca!? — Ele levantou apressado e passou as costas da mão em seus lábios. — Nunca mais me beije!

— Eu... Eu não o beijei! — Falei perturbada.

— Eu só lambi sua mão, você precisava ser tão radical!?

Percebi que algumas pessoas nos observavam e cochichavam entre si. Morri de vergonha por estar tendo um diálogo tão estranho com aquele maluco.

— Vamos sair daqui.

— Vamos, mas nova regra: não me beije.

— De acordo — Suspirei cansada.

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