Capítulo Cinco

AURORA

Acordei extremamente assustada, mas quando percebi que estava em meu dormitório o alívio veio rápido. Tudo tinha sido um pesadelo no fim das contas.

— Nossa, Aurora, você é realmente criativa — Falei e ri baixo.

Meu cérebro havia criado um herói bonito e psi...

— Quem é Aurora?

Me virei assustada para o outro lado da cama e olhei para o dono daquela voz profunda e sonolenta. Contive meu grito ao ver o garoto de ontem sentado de olhos fechados e braços cruzados em uma cadeira ao lado da minha cama.

Ele fez uma careta e se espreguiçou. Eu me afastei ao máximo tentando me fundir com a parede e sumir.

— Quem é Aurora? — Ele repetiu agora com os olhos bem abertos.

Seus olhos... Estavam diferentes da noite passada. O dourado brilhante havia dado lugar para um cinza prateado tão lindo quanto a lua.

Ele estralou os dedos perto do meu rosto chamando minha atenção com uma expressão de impaciência.

— E-eu — Gaguejei pateticamente. — Eu sou Aurora.

— Meu nome é Yanlie Raskin — Ele estendeu a mão. Fiquei encarando sua mão como se ele tivesse apontado uma arma para mim. — Não vou machucá-la.

— Mas os garotos de ontem...

— Já lidei com eles, não se preocupe e eu não vou fazer o mesmo com você — Ele garantiu. — Você é minha serva então eu permito que saiba sobre as minhas origens.

Ele era um psicopata e possivelmente um lutador faixa-preta em alguma arte marcial perigosa. Eu precisava seguir o roteiro para que ele não me matasse.

— Bom, obrigada — Falei hesitante.

Ele puxou minha mão com impaciência e eu o olhei incrédula quando ele beijou minha palma.

Puxei minha mão com força e quase surtei ao ver um "Y" tatuado. Quando ele tinha feito isso!? E como!?

— O que você fez!? — Gritei surpresa e tentei apagar o "Y".

— É assim que marco minhas servas — Ele disse confuso. — Se não for discreto o suficiente, podemos tentar em seu peito.

Me abracei com medo de ter meu corpo violado por aquele esquisito. Sinceramente, o que ele tinha de bonito, ele tinha de estranho!

— Não! Eu não concordei em ser sua serva!

— Você não tem que concordar, você é minha.

— Está louco!?

— Se não acredita, veja você mesma na sua preciosa moeda — Ele tirou meu colar do bolso e jogou em mim.

Peguei quase com raiva por ele ter mexido nas minhas coisas. Meu medalhão estava normal como sempre esteve, qual era o problema dele!?

— Não vejo nenhum contrato aqui — Desdenhei.

— Tudo bem, é da sua natureza ser desonesta, eu vou provar com fatos físicos — Ele disse entediado e me puxou.

— Ei, não se aproxime... Não... — Coloquei minhas mãos em seu peito tentando afastá-lo.

Ele me ignorou e me fez segurar a moeda em sua testa. Eu fiz porque ele era mais forte que eu. Porém continuei protestando até uma luz sair da minha mão e me distrair do foco principal.

Yanlie fechou os olhos e fez uma careta que não entendi o significado. Fiquei surpresa ao ver o emblema do medalhão aparecer em sua testa.

— Você tem o emblema tatuado em sua testa — Falei impressionada e toquei a imagem brilhante.

— Tenho, é a brasão do meu pai — Ele respondeu.

Assim que ele abriu os olhos a tatuagem desapareceu. Eu me afastei lembrando que estávamos praticamente abraçados.

— Isso não significa nada.

— Pelo seu comportamento posso ver que é algo importante para você, então minha família tem importância para a sua — Ele explicou num tom lógico demais. — Isso nos conecta, não acha?

— Mesmo que conecte, eu não tenho nada a ver com você!

— Isso não faz sentido, nós temos um relacionamento sim — Ele teimou.

— Tudo bem, podemos ter, mas vendo que você me protegeu então você deve ser o servo — Sorri vitoriosa.

— Eu sou um príncipe, o único elfo eclipse do meu mundo e você é uma humana feia, por que eu me rebaixaria ao seu nível!?

Humana feia... Ele sequer tinha me visto maquiada e arrumada! Como ele ousava me chamar de feia duas vezes!

— Você...

— Vai me chamar de feio? Ah, sim, você não pode! — Ele gargalhou.

Como ele podia ser tão maquiavélico e feliz!?

Eu ia xingá-lo de todas as formas possíveis quando escutei alguém bater na porta do meu dormitório.

— Não saia do meu quarto — Avisei.

— Eu dou as ordens, vá atender, vou ficar no seu quarto — Ele disse irritantemente e deitou na minha cama.

Grunhi de raiva e fui atender. Meu coração parou. Era a polícia. Dois policiais me olharam, mas felizmente não me senti julgada.

Lembrei dos três amigos da Amanda que eu havia encontrado sem querer ontem à noite. Eles queriam me fazer passar a noite no frio do terraço e eu não fazia ideia de quando conseguiria sair. Mas por sorte, ou azar, encontramos Yanlie.

— Aurora Harrison?

— Sim, senhor — Falei tentando não transparecer meu nervosismo.

— Poderia nos deixar entrar? Temos algumas perguntas.

— Entrar? — Repeti e sorri ansiosa. — Por que entrar?

— Senhorita Harrison, três colegas seus foram brutalmente assassinados ontem à noite, precisamos interrogar todos os moradores do prédio.

— Claro, podem entrar — Dei passagem.

Esperava que Yanlie fosse esperto o suficiente para se esconder. Quer dizer, ele era um assassino, ele deveria saber esse tipo de coisa, certo?

— Mora sozinha?

— Sim, minha colega de quarto se formou mês passado, vou morar sozinha até o próximo semestre.

— Você conhecia as vítimas? — Um dos policiais me deu um celular com fotos dos três.

Minhas mãos suavam. O que eu deveria dizer? Sim? Não? Se eles estavam conversando com todos do prédio, então falariam com a Amanda...

— Sim, mas pouco, eram amigos da minha colega de...

Um grande barulho veio do meu quarto e eu entrei em pânico, porém não podia fazer nada senão seria presa ou coisa pior.

— Deve ter sido meu gato — Tentei a sorte.

— Animais não são permitidos em campus universitário — O policial disse de um jeito brusco.

Comecei a orar assim que ele passou por mim e foi em direção ao meu quarto. Eu seria presa por esconder um assassino, minha vida estava completamente arruinada.

Percebi que enquanto um abria a porta o outro colocava a mão em sua arma. Eu fui impedida de segui-los quando o que estava armado acenou para que eu esperasse de onde estava.

Meu coração estava disparando, porém assim que o policial abriu a porta, ele a fechou no mesmo instante e se voltou furioso para mim.

— O que foi? — O parceiro dele perguntou tão confuso quanto eu.

— É apenas o namorado dela.

— Aurora, vai demorar muito? Eu preciso tomar um banho! — O demônio dentro do meu quarto gritou.

Meu rosto esquentou no mesmo instante. O que aqueles policiais iam pensar!? E o pior, podiam falar para o meu diretor e eu perder a minha bolsa!

— Senhorita Harrison, obrigada pela colaboração e não repita o que acabamos de ver — O policial me repreendeu. — Você tem um belo futuro pela frente, não o estrague ficando grávida tão cedo.

— Mas...

— Vamos fingir que não vimos nada, eu tenho um filho da sua idade não se preocupe — Ele disse mais simpático. — Nos ligue se lembrar de alguma coisa sobre ontem à noite.

— Como ela vai lembrar? Esses jovens de hoje só sabem beber e...

Os dois saíram discutindo sobre a minha vida sexual e eu fechei a porta com força antes de ir furiosa para o meu quarto.

Gritei assim que entrei e encontrei Yanlie exatamente como veio ao mundo. Fechei meus olhos e sai correndo.

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