Capítulo Sete

AURORA

— Yanlie! — Esbravejei após vinte minutos. O que ele estava pensando ao ficar tanto tempo com o chuveiro ligado!? — Yanlie!

— Pare de gritar — Ele abriu a porta felizmente vestido.

Seu peito ainda estava molhado, assim como seu cabelo castanho caindo de um jeito sexy em sua testa.

— Serva, ei, serva — Ele chamou minha atenção.

— O que foi? E não me chame de serva.

— Senhorita Aurora — Ele se corrigiu com um sorriso de irritação. — Eu preciso pegar minha camisa antes de ir embora.

— Você vai mesmo? — Perguntei desconfiada.

Confesso que apesar de irritante, estava sendo até que legal ter alguém para conversar. Minha última colega de quarto fazia da minha vida um inferno literalmente. Nunca me esqueceria de como eu fui obrigada a dormir no terraço quando ela decidiu dar uma festa para os seus amigos pessoais, incluindo a Amanda.

Na manhã seguinte meus materiais estavam rasgados e sujos com bebida e vômito. Precisei comprar no crédito outros e demorei três meses para pagar tudo.

— Desonestidade é coisa de humano — Ele retrucou. — Mas se você insistir, eu posso ficar.

— Vai embora.

Ele me olhou com irritação e passou por mim indo para o meu quarto pegar sua camisa.

Fiquei irritada quando ele balançou a cabeça como um cachorro fazendo algumas gotas d'água respingarem em mim.

— Sua cara fica mais feia a cada segundo, credo — Ele disse num tom enojado.

— Espero nunca mais te ver na minha vida.

— Igualmente.

Sorrimos falsamente um para o outro e Yanlie saiu pela porta da sala. Respirei fundo e literalmente sentei no chão refletindo sobre o que eu havia vivido nas últimas horas.

...****************...

Sábado também era um dia de paz. Todos os babacas estavam de ressaca ou qualquer outra merda por terem bebido e se drogado demais. Bando de idiotas.

Apesar de ser um dia bom, ainda era um dia tão solitário quanto qualquer outro. Todos que se aproximavam de mim, a Amanda sempre conseguia os afastar com algum boato ou com ameaças. E os ricos o bastante para não ter medo dela, eram seus amigos ou simplesmente não tinham muito interesse em fazer amizade comigo.

Recebi uma mensagem de um dos meus clientes pedindo para que eu passeasse com o seu cachorro e fui correndo, pois estava disposta a trabalhar de domingo a domingo por dinheiro.

— Eu volto da academia em duas horas, você pode passear com ele pelas ruas aqui perto — Senhor Jones me orientou.

— Ok, vamos, Billy? — Sorri para Billy, um dócil pastor alemão.

Quem o visse certamente acharia que ele é capaz de destroçar uma pessoa, mas Billy era um dos cachorros mais doces que já lidei.

Nos despedimos do senhor Jones e eu fui passear com o Billy. Eles moravam perto da minha universidade então não era incomum encontrar meus colegas, infelizmente às vezes eu tinha o azar de encontrar a Amanda e a Rachel.

Como hoje definitivamente não era o meu dia de sorte, esbarrei nas duas que obviamente pararam para me infernizar.

— Aurora — Amanda disse quase com nojo. Eu a ignorei. — Aurora, eu sei muito bem que você está envolvida no crime de ontem.

Parei de caminhar e Amanda parou na minha frente junto com Rachel.

— Seus amigos faleceram, Amanda, mas você está aqui me incomodando ao invés de prestar respeito às famílias — Retruquei. — Sinto muito por eles, tenho que ir.

— Você sabe que eu os mandei ir atrás de você — Ela sussurrou. — Você os matou, não sei como, mas vou descobrir.

— Me deixa em paz!

Amanda riu e só então percebi o quão diabólica era aquela garota. Como ela podia sorrir depois de fazer uma maldade dessas? Até mesmo a Rachel parecia ter chorado e ela era uma completa insuportável.

— Quando todos souberem a marginal que você é, você vai desejar ter saído da universidade há muito tempo.

Me irritei. Por que ela me odiava tanto!? Eu nunca fiz nada para ela, nunca, eu literalmente era apenas pobre. Era tão ruim assim ver alguém que precisava trabalhar para comer frequentando os mesmos lugares que ela!?

Billy estava começando a se agitar por estar parado me esperando. Tive uma ideia um pouco maldosa e fingi deixar a coleira se soltar das minhas mãos.

— Billy! Meu Deus, ele morde qualquer um, não se mexam!

Amanda e Rachel gritaram e logicamente saíram correndo, porém, essa era a atividade favorita do Billy e ele foi atrás delas louco para que acariciassem seu pelo.

Senti alguém cutucar meu ombro e me virei ainda sorrindo. Meu sorriso morreu ao ver o senhor Jones de braços cruzados me olhando com raiva.

Ele assobiou, o comando para que Billy retornasse, e tirou a coleira das minhas mãos.

— Senhor...

— Mandarei metade do salário para a sua conta.

— Mas, eu andei por duas horas!

— Quem garante? — Ele disse irritado. — Você acabou de soltar meu cachorro para andar livremente por esse bairro perigoso.

O perigo na verdade era o Billy e sua cara assustadora, mas eu não ousei contrariá-lo ou poderia perder um dos únicos empregos que não precisava de experiência.

Fui para o meu dormitório me sentindo derrotada. O céu já estava começando a escurecer e eu apressei o passo com medo de ser assaltada ou algo do tipo.

Para completar, as imagens sangrentas de ontem à noite começaram a me assustar como um filme de terror. Ainda não tinha caído a ficha de que eles estavam mortos...

E se eles virassem fantasmas e viessem atrás de mim? Não... Essas coisas não existiam. Mas se coisas como o Yanlie existiam, seja lá o que ele fosse um mago ou ilusionista, então fantasmas...

Escutei um barulho de algo caindo no chão e sai correndo com o coração na garganta. Porém, não fui muito longe quando um homem saiu de um beco e veio na minha direção.

Pensei em ir por outro caminho, mas assim que me virei encontrei outro. Céus, não era, definitivamente, o meu dia.

— Sem alarde, passa tudo — Um deles mandou.

Comecei a tremer, era a primeira vez que eu era assaltada. Minha cidade natal era tão pequena que era impossível alguém assaltar, se acontecesse sempre sabíamos quem era e fazíamos justiça com as próprias mãos.

Fiz como eles mandaram, pois minha mãe ensinou que eu não devo reagir a assalto. Dei meu celular e algumas moedas que tinha no bolso da minha calça.

— A joia também.

— Moço, é da minha família...

— A joia também — Ele repetiu e levantou o moletom revelando uma arma.

Segurei as lágrimas. Não podia dar a herança da minha família, isso era especial demais para mim.

Toquei o medalhão em meu pescoço pensando no que fazer. Pensei desesperadamente no Yanlie e em como ele tinha me salvado ontem. Se ele estivesse aqui agora...

Fechei meus olhos quando um grande clarão invadiu meu campo de visão. Os bandidos gritaram sem entender nada assim como eu.

— Aurora — Aquela voz... — Decidiu ser minha serva agora?

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***