Minha Vida em Sessenta Minutos

No teto, uma luz branca e forte se acendeu, em seguida várias outras lâmpadas se acenderam e revelaram uma sala branca com uma tela enorme com cadeira em frente a ela. Pensei estar em uma sala de cinema ou algo do tipo.

— Reconhece esse lugar?- ouço uma voz eletrônica perguntar.

Não sabia se respondia ou procurava um meio para sair da quela sala.

— sente-se em uma cadeira Jeisa, iremos assistir a um filme cativante.- A voz eletrônica volta a falar.

A partir de agora nesse telão apreciará sua própria vida passando diante de seus próprios olhos.

Sentei-me na primeira cadeira em que botei os olhos, a sala voltou a ficar escura, iluminada apenas pela claridade do telão em minha frente.

Na tela um cronômetro em números vermelho começa uma contagem regressiva partir de 60 minutos, posicionado no canto superior direito do monitor. Depois, uma contagem regressiva de 5 segundos começa no centro da tela.

— 2000, o ano em que você nasceu Jeisa, a alegria de seus pais ao pegarem você nos braços pela primeira vez.

Enquanto a voz eletrônica falava, imagens passavam no telão, pude ver minha mãe toda sorridente em quanto me embalava em seus braços, meu pai em seguida me segurando em seus braços todo desajeitado.

— 2006, este foi o ano em que foi para o hospital pela primeira vez, seu pai lhe acompanhou durante um bom tempo.

No telão duas fotos, uma em que meu pai segurava minha máscara de inalação e a outra, em que eu estava sentada na cama e meu pai ao meu lado segurando um prato de ao que parecia ser um prato de sopa.

Nunca tinha visto aquelas fotografias, talvez, não estivesse no álbum da família.

Outras imagens surgiram na tela, estás eu estava acompanhada de Eduardo. Então a voz eletrônica volta a nerrar.

— 2008 o ano em que conheceu Eduardo.

A primeira fotografia foi minha tia que havia feito no dia em que conheci Eduardo. Estávamos sentados ao pé do Ypê. Outra foto em que eu estava roubando um bife do prato de Eduardo no colégio na hora do almoço.

Foram bons momentos aqueles, os quais já mais esqueci e pretendia mantê-los em minha memória por muito tempo.

— 2010. Você tinha dez anos nessa época e recordara muito bem dessas fotos. Este foi o ano mais feliz de sua vida, ao menos eu acredito. Voltando no tempo Jeisa você verá, verá o quanto você amava Eduardo e o que realmente fez para acabar assim.

Três fotos apareceram juntas no telão, em uma dessas, eu tinha nas mãos uma carta. Em outra das fotos, retratava Eduardo jogando a carta em uma lata de lixo. Na última, a carta aparecia endereçada a mim, mas porque Eduardo jogou a carta no lixo ao envés de me entregar?

Uma quarta foto apareceu no telão onde eu aparecia abraçando um garoto do sétimo ou oitavo ano no saguão do colégio.

— Você se pergunta porque Eduardo preferiu jogar a carta no lixo ao envés de lhe entregar. Eduardo viu esta mesma cena na quele dia, felizmente Eduardo jogou na quela lixeira apenas uma folha de papel rabiscada com o que de fato sentia por você, ao contrário de seus sentimentos, Eduardo os guardou com ele, e ainda os guarda.

Agora entendo o real motivo de Eduardo nunca ter se declaro para mim. Meus pensamentos foram interrompidos outra vez pela voz.

— Ao contrário do que você está imaginando Jeisa, Eduardo nunca se declarou a você, não pelo fato de estar abraçando o garoto da foto, se puxar na memória, lembrará de quem esse garoto é filho. Eduardo achou melhor este garoto do que ele. Eduardo sempre se sacrificou por sua felicidade.

A voz estava certa, o garoto é filho de um empresário da minha cidade natal. Apesar de Eduardo ter visto essa cena, lembro-me muito bem que mesmo assim Eduardo nunca se afastou de mim. Ao menos até nossa briga um ano depois.

— Sua próxima lembrança se passa no ano de 2015, completaria quinze anos, Eduardo lhe deu um presente.

Na tela Eduardo aparece em uma foto me entregando um presente, que pelo embrulho colorido lembrei de imediato se tratar do livro que Eduardo me deu de presente no meu aniversário de quinze anos.

— Neste mesmo ano, você pretendia viajar para outro país, e seus pais recusaram, seus pais recusaram sua proposta de trocar sua festa pela viagem. Eduardo foi o único que apoiou você nesse plano fracassado.

A voz estava com toda razão. Lembro que certo dia enquanto conversávamos Eduardo me disse que não importa pelo que passarmos , nossos sonhos sempre se realizará. Sempre levei esse lema comigo.

— Seu fiel escudeiro, tomou a liberdade de conversar com seus pais por você, de certa forma, seus pais não iriam concordar, mas Eduardo convenceu seus pais a lhe levar a praia.

Foi por isso que meus pais me levaram a praia pela primeira vez. Mesmo minha mãe dizendo que não gostava da área e do sal do mar. Eduardo tinha os convencido a me dar de presente que eu poderia gostar. Um final de semana inteiro na praia. Realmente não foi desagradável.

— Passando para seus momentos de alegria Jeisa, podemos ver que teve muito pouco desses momentos, esses poucos momentos que teve estão seguros em sua memória.

Os únicos desses momentos em que me recordo de imediato foi o fim de semana que passei em Guarujá, em minha visita a praia, e do dia em que voltei para Bauru e visitei minha tia e Eduardo que no mesmo final de semana havia feito o balanço e me deu o livro de presente. Depois desses, me esforcei para recordar de mais algum. Assim que uma foto de Eduardo usando luvas de goleiro apareceu no telão, recordei do dia em que Eduardo e seu time foram campeões do torneio de futebol estadual, aquele dia foi um dia maravilhoso, não só para mim mas também para cada morador da pequena cidade de Bauru.

No conometro restava apenas trinta minutos.

— O ano de 2016 começa e você mudou sua vida Jeisa, você começa a ver as coisas com um ponto fixo, sabia a hora de começar e a hora de parar mas, não percebeu que era o momento de parar com suas atitudes, Eduardo tentou impedir.

Tudo estava ficando claro. Tudo que Eduardo tentou foi me tirar de um caminho que até então achava que eu iria sair vitoriosa.

— O motivo da briga que houve entre você e Eduardo foi pelo fato de que você estava caminhando por caminhos errados. Todos seus amigos, aqueles com quem você se relacionava na escola, estão mortos, ou em um mundo sem volta, Eduardo não queria o mesmo destino pra você. Felizmente por uma fração de segundos você parou e mudou o que estava para acontecer. Porém, consegui mudar sua própria vida mas não a de Eduardo.

Eduardo sempre se sacrificou por mim e quando chegou a minha vês, dei as costas para meu melhor amigo e que no futuro continuaria sua missão.

— Este foi seu erro Jeisa, mas não se culpe, Eduardo continua sendo seu amigo, mesmo você dando as costa para ele, sua escolha foi feita, e essa escolha lhe trouxe pelo que está passando. Seus pais precisavam mudar de cidade. Você não se despediu da pessoa que mais te amava depois de seus pais. Depois de ter se mudado, você percebeu que Eduardo era o amor de sua vida. Mas então era tarde demais, Eduardo foi para o exército e se distanciou ainda mais, restou a você apenas remorsos do que fez.

Foi depois de me mudar para Guarulhos que percebi o quanto eu amava Eduardo e o quanto ele fazia falta e me arrependerei, mas, mesmo assim convivi com uma tonelada de remorsos por não ter me despedido de educação.

— Não se culpe por isso Jeisa, vocês perderam contato, o erro está agora nas mãos de Eduardo, ele sabia onde lhe encontrar, Eduardo deixou seu ego de inferioridade ser mais forte. Logo que sua tia faleceu, Eduardo começou a procurar por você nas redes sociais.

O mesmo eu fazia, até quando Eduardo desapareceu das redes sociais.

— Sua vida Jeisa, teve um destino alternativo, passando pela sua primeira cirurgia, começou a ver sua vida como uma árvore que não produz mais frutos.

Novamente o narrador teria razão. Depois de minha cirurgia retirei os ovários, me conformei que nunca formaria uma família para mim a vida poderia ter acabado naquela ocasião.

— Chegou a ponto de desistir de tudo. O que levou a isso?- pergunta o narrador.

Começo a fazer perguntas a mim mesma, talvez o fato de decepcionar meus pais por ser filha única e não poder lhes proporcionar netos, talvez? Ou o fato de perder a pessoa que mais amei por ser mesquinha não poder lhe dar um filho?

— Eduardo sabia que não poderia gerar um filho e mesmo assim continuo mantendo o mesmo sentimento que sentia por você. Seus pais nunca lhe culparam por não poder lhes proporcionar a alegria de ter netos, mesmo você sendo filha única. Agora olhe para você mesma Jeisa, olhe onde você está. Veja a angústia de seus pais e de sua melhor amiga.

Fotos de meus pais e Amanda ao redor de minha cama no hospital foram retratadas na tela, meu pai com as mãos cobrindo seu rosto e minha mãe ajoelhada em frente a imagem de sua santa preferida. Amanda se encontrava sentada na poltrona segurando uma das minhas mãos. Outra foto me chamou a atenção, Amanda segurava um livro o qual não consegui visualizar o título, parecia estar lendo o livro para mim, em outra fotografia, minha mãe aparecia penteado meu cabelo qua havia crescido e já estava na altura do ombro.

O conometro estava agora marcando dois minutos restante, não tinha reparado como o tempo passará rápido, percebi que o conometro havia parado, foi quando a voz eletrônica voltou a falar.

— Aproveitar esses dois últimos minutos restantes será sensato de sua parte, faça com que vala a pena sua viagem até a parte mais remota de sua consciência.

As luzes voltaram a se a pagar e quando se acenderam novamente, já não estava mais na sala, agora me encontrava sentada em um sofá, estava no interior de um apartamento. Levantei me e fui até a janela, estava no quinto andar de um prédio, pela janela pude ver uma Ecosport branca passar pelo portão do estacionamento.

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