Pós Cirurgia

No dia seguinte, acordei com o sol dando as caras por entre as cortinas entreabertas da única janela do quarto. Tentei me mover, mas estava imobilizada da cintura para baixo, pelos gessos que foram recolocados.

Respirei fundo e com um impulso consegui me colocar sentada sobre o travesseiro de costas na parede, respirei fundo outra vez e percorri cada sentimento do quarto e para minha surpresa estava só. Como eram seis e vinte e três da manhã suspeitei que meus pais estavam tomando café, fiquei olhando para o relógio na parede em minha frente escutando o barulho que o ponteiro fazia a cada segundo. Minha concentração foi interrompida por uma batida na porta e logo em seguida uma enfermeira, de pele morena com os cabelos pretos presos em um rabo de cavalo entra no quarto trazendo meu café da manhã, ela usava uma camisa branca e calças jeans também branca, em sua camiseta estava bordado seu nome em letras cursivas

—Bom dia! Raquel.- Comprimento procurando uma posição mais confortável. 

— Bom dia Jeisa, como está se sentindo?- Pergunta-me Raquel deixando uma bandeja com uma xícara de café com leite e um prato com duas torradas com manteiga sobre a mesa ao lado da cama. 

— O cardápio passou por uma modificação radical.- Observei a bandeja.

— O doutor mudou seu cardápio, mas ter um lanche as quatro horas da tarde para complementar.- fala Raquel.

— Creio que o doutor também tenha lhe falado sobre minha cirurgia. Ele falou como foi?

— Bom! A princípio correu tudo bem. Evandro deve ter passado maiores detalhes aos seus pais e sua acompanhante. Pelo que pude perceber, o doutor Evandro está bastante otimista.

— Minha acompanhante? 

— Sim.- Diz Raquel com entusiasmo.

— Está falando da minha mãe?

— Creo que não. Ela é muito jovem para ser sua mãe, deu entrada como sua acompanhante hoje pela manhã. Ela é loira, tem entre vinte e vinte e cinco cinco anos e pelo jeito é meio gótica. 

 Ao ouvir Raquel descrever minha acompanhante, e pela frase “meio gótica” cheguei a conclusão de quem Raquel me descreveu era Amanda. 

— Ela se chama Amanda, e ela não é meio, ela é totalmente gótica. Menos o cabelo.

— Só falta o cabelo colorido para ser uma por completo.- Replica Raquel colocando a bandeja sobre minhas pernas. 

— Por isso mesmo, Amanda e alérgica a tinturas para cabelo mas, se veste como uma gótica. 

— Precisa de mais alguma coisa Jeisa?- Pergunta Raquel verificando o soro.

— Posso repetir o café?

— Quer levar uma bronca de seu médico?- Pergunta Raquel em um tom de ironia.

— Então eu passo. No momento meu psicológico não está totalmente preparado para receber bronca.- Falo levando a xícara de café aos lábios. 

— Vou ver o que posso fazer. Aceita uma salada de frutas?- Termina Raquel, apertando um botão fazendo com que minha cama se articule ao meio me colocando sentada mais confortavelmente.

— Se puder, Aceitarei com muito prazer, essas duas torradas não vão durar muito tempo, se bem que o café também é pouco.- falei conferindo meu café da manhã.

Antes da enfermeira deixar meu quarto tive a impressão de estar esquecendo alguma coisa. Tentei lembrar antes que Raquel fosse embora, Raquel desapareceu pelo corredor e eu continuei tentando lembrar.

Olho para as duas torradas e para a xícara de café novamente. O café estava sem açúcar e as torradas eram de pão integral, um café miserável para quem se alimentou por sonda nos últimos dias, e passou as últimas refeições com sopa de legumes. Aquilo deveria servir ao menos por enquanto.

 Enquanto engolia uma mordida da segunda torrada ouvi uma batida na porta, não podia falar por estar com a boca cheia, então deixei que entrasse por conta própria, o médico do dia anterior entra no quarto olhando para sua prancheta e se assusta ao me ver acordada e quase no fim da refeição 

— Jeisa! A essa hora acordada? Bati na porta, mas ninguém respondeu, imaginei que estivesse dormindo.- Fala o médico dando um sorriso amarelo. 

— Eu bem que tentei dizer algo, mas estava com a boca cheia. O que tem reservado para mim hoje, doutor...- Olhei para seu jaleco e li seu nome.— Dr. Evandro?

— Vejo que está cada dia melhor.- Comenta  Evandro se aproximando de mim. 

— É...!- Exclamei com um suspiro.— Espero que minha recuperação seja rápida.- Completei.

— E com certeza vai ser. Conseguimos diminuir sua lesão significativamente.

 Assim que Evandro falou sobre a lesão, lembrei o que queria perguntar a Raquel. 

— Então foi tudo bem?- Questiono.

— Sim. Perfectamente. Em seu último raio-x, percebi que a lesão era bem pequena. Então consegui por meio de um cateter retirar mais de noventa e oito por cento da lesão. 

— Então, Vou ter alta?

Evandro solta uma risada de canto.

—Também não é bem assim, mas se essa liberação ocorrer deverá ser sob minhas condições e critérios.- Aponta Evandro indicando a si mesmo com o dedo indicador.

—Fazer o que! Quais seriam?

Pergunto tomando o resto de café que havia na xícara. 

— Muito repouso, bastante água, pouco consumo de bebidas alcoólicas e que contém açúcar, café uma vez por dia e em baixa quantidade e o principal, consumir moderadamente alimentos ricos em carboidratos: arroz, massas, batata e alguns outros que farei uma lista.

— Eu iria perguntar o porquê, mas seria tolice

Falo cruzando os braços.

—Por isso meu café da manhã foi duas torradas de pão integral, e café sem açúcar?

— É isso aí, um corte radical nos carboidratos. 

— Aliás, o senhor viu meus pais hoje?- Pergunto. 

— Acabei de cruzar com eles. Estavam no refeitório.- Quer que eu diga algo a eles?

— Na verdade preciso, já que vou ficar aqui por mais alguns dias, pedirei a meus pais para me trazerem alguns livros que tenho em casa.

— Compreendo! Bom, se você quiser tenho alguns em minha sala, mas são todos da área neurológica, se você quiser posso trazer para você. 

— Agradeço pelo empréstimo doutor.- Falo aceitando.

— Mudou de opinião?- Pergunta Evandro me lançando um olhar desconfiado.

— Isso depende. Dequé está fallando?

— Falou que não se interessa por medicina. 

— Bom… Pretendo fazer engenharia, mas aceito o empréstimo de seus livros. 

— Excelente, pedirei à minha secretária para trazer.- Fala Evandro saindo do quarto e fechando a porta em suas costas.

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