Lembrei dos momentos em que tinha a companhia de Eduardo e revivi flashes de cada momento. Abri os olhos e tentei me concentrar em algo do presente, me dei conta de como Amanda podia estar certa, voltei meus pensamentos no trabalho. Como seria minha recepção ao voltar, e logo me preocupei com os dias perdidos da faculdade que de um jeito ou de outro teria que repor. Sacudi a cabeça para desembaraçar meus pensamentos.
Aqueles pensamentos sumiram assim como apareceram.
Olhei para o lado e encontrei um livro que não tinha percebido antes. Um livro de capa vermelha brilhante estampada com uma caveira tridimensional intitulado com letras brancas cursivas "A Sociedade da Caveira de Cristal".
O apanhei rapidamente e o folheei até a última folha. Aquele livro era meu, havia ganhado de Eduardo aos meus quatorze anos. Como tinha ido parar sobre a mesa do meu quarto? Reconheci a caligrafia de Eduardo na última página que dizia. "Para minha amante de ficção científica. Para minha melhor amiga".
— Será que você ainda lembra de mim?- Me perguntei enquanto manuseava o livro lembrando-me de Eduardo.
Se Eduardo ainda lembrava de mim e guardava algum sentimento, talvez nunca saberia, enquanto de minha parte aquela paixão se manteria viva e flamejante até o último segundo da minha vida. Se Eduardo já tivesse esquecido que um dia acabei fazendo parte de sua vida? Algo me dizia que não, que assim como eu, Eduardo pensava muito em mim e que por algum motivo também não conseguia contato. Mas algum dia, cedo ou tarde, iríamos nos reencontrar e dar um sentido à nossas vidas. Sempre tive esperança que um dia isso acontecesse, mesmo que eu não pudesse proporcionar a Eduardo uma família.
Depois do almoço Amanda voltou ao meu quarto. Amanda entrou com um semblante de arrependimento e assim que entrou me pediu desculpas, imaginei ser pela discussão que tivemos durante a manhã.
— Porque está fazendo isso?- Pergunto.
— Isso o'que?- Rebate Amanda sentando-se ao meu lado sobre a cama.
— Tentando fazer com que eu esqueça de Eduardo. Sabe que não vou.
— Há amiga! É uma longa história. Até meio inacreditável, mas se você tiver saco para ouvir eu lhe conto. Aliás, o pedido de desculpas foi por ter mentido para você.
— Saco não tenho, mas quero saber o que você e seu chefe estão tramando. E quando mentiu?
— Ainda bem que saco você não tem.- Diz Ana, abrindo um sorriso tímido.— Seria estranho.- Completa ana me encarando.
— Sobre o que você mentiu? Você não dessas.
— Menti hoje, antes do almoço?- Responde Amanda mostrando os dentes em um sinal de pavor.— Menti sobre Flávio.
— Sobre o que?
— Sobre tudo. Sobre Flávio gostar de você. Sobre Flávio estar pagando suas despesas.
— Então, Flávio realmente gosta de mim?
— Você tem uma excelente memória.
— Quanto à Flávio gostar de você, isso é verdade. Somente uma amizade de trabalho.
— Nada das despesas em relação a mim é Flávio que está arcando?
—Não!- Responde Amanda enfiando as mãos no bolso do moletom.
— Mas não sei se essa é uma boa hora para contar.- Contínua Amanda dando de ombros.
— Na verdade não sei de nada. Só o que sei é do que faço parte.
— Corta essa onda de lamentos, preocupação, suspense, e faça o favor de conta logo.
Amanda encolhe os ombros outra vez e se põe em pé de um salto, depois se inclina sobre a cama e cruza os braços.
— Bom.- Dispara.— Depois que comecei a trabalhar no restaurante, conheci melhor sua história, melhor do que já conhecia, assim como a vida de Flávio e um pouco a de Eduardo…
— Pera! Pera…! Você conhece Eduardo? Desde quando?- Indago começando a ficar confusa.
— Não conheço pessoalmente, sei apenas o que Flávio me contou.
— Como Eduardo e Flávio se conhecem? Não estou entendendo mais nada.
— Se você deixar eu falar você entenderá.
— Tá! Fala. Agora fiquei curiosa.- Falo prestando mais atenção em Amanda.
— Em primeiro lugar, Flávio tem você como uma irmã. E em segundo lugar ele está seguindo ordens.
— Agora é que você deu um nó em meus neurônios, se é que ainda existe algum. Disse que Flávio está seguindo ordens. Ordens de quem?
— É, falei. Mas desconsidere, por enquanto. Vamos ao que importa.
Não estava entendendo nada, mas pelo olhar que Amanda me dirigiu resolvi escutar para depois fazer perguntas. Amanda continuava em pé, debruçada sobre a cama com os braços cruzados a me olhava seriamente em cada palavra.
— Quando cheguei ao restaurante, Flávio me puxou para seu lado por ser sua amiga desde a infância, contou-me algumas coisas que não sabia de você.
— Como o que?.- Pergunto ficando mais surpresa com que tinha acabado de ouvir.
— Tá! Vou abrir uma exceção, já que você não se controla. Faça perguntas quando quiser.- Fala Amanda revirando os olhos. — Mas faça perguntas breves.- Termina Amanda assumindo uma postura reta e depois começando a andar de um lado para o outro ao lado da cama.
— Então. Fiz-lhe uma pergunta.- Disse antes que Amanda voltasse a falar.
Sobre minha vida poucas coisas contei a Amanda, a não ser sobre Eduardo que foi nos mínimos detalhes, os quais por ser minha amiga de infância eles mesma já sabia.
— Flávio me contou que você não pode ter filhos, pelo menos não naturalmente. No ano de 2018, você fez uma cirurgia de retirada dos ovários.
— Como ele sabe disso? Essa cirurgia foi há cinco anos, quando tinha dezenove anos e ainda nem trabalhava no restaurante. Quem é esse cara? Um policial, que investiga minha vida?
— Ex-militar, e em contra partida, dos bons, Flávio serviu na guerra da Rússia, e digamos que Flávio seja amigo do meu amigo, no caso, seu amigo. Só para ficar mais claro. Flávio prestou serviço militar com Eduardo na 15⁰ Cia de infantaria paraquedista durante o ano de 2019, neste ano o pai de Flávio acabou falecendo, e como filho único, Flávio herdou o negócio do pai, então deu baixa do exército com esse propósito, tornar-se um empresário.
— Por isso que Flávio conhece Eduardo?
Fiquei surpresa com o que Amanda disse. Um nó já tinha se desfeito, agora o segundo seria referente a se deu a coincidência de Flávio me contratar.
— Eduardo falava de você. Falava que uma tal de Jeisa era o amor de sua vida e pretendia encontrar você depois que saísse das forças armadas, mas por algum motivo que nem mesmo Flávio soube me dizer, Eduardo foi mandado para o comando paraquedista de selva, na Amazônia, e lá se tornou Sargento. Antes de Flávio sair, Eduardo mostrou uma foto sua.
Estava explícito, Não foi coincidência. Flávio Me conhecia antes mesmo de eu conhecê-lo. Muito antes de eu deixar meu currículo em seu restaurante.
— Flávio nunca esqueceu de você, e alguns anos depois, quem aparece no restaurante para entregar currículo. Eduardo mostrou a Flávio sua foto de quando você era mais jovem, Flávio reconheceu você tão fácil que parecia que você estivesse saído daquele retrato. Então Flávio ficou com um dos seus currículos e por ventura tinha sua foto nele. Eduardo contou tudo sobre você a Flávio e jurou proteger você a todo custo, e que daria a vida dele pela sua se precisso fosse. Por incrível que pareça nessa época Eduardo usou a mesma frase que você citou durante a manhã: "Se ela está bem! Eu estou bem!" Nessa época Eduardo tinha apenas contato com sua tia, se não me engano ela se chamava Eliana, ela acabou falecendo de câncer dias depois de sua cirurgia. Depois do falecimento de sua tia, Eduardo perdeu contato com todo mundo que conhecia você, mas mudou quando Flávio entrou em contato com o amigo de farda contando que você apareceu no restaurante, por isso que Flávio contratou você, depois você me indicou, Flávio viu uma oportunidade de estar mais próximo de você através de mim, Eduardo pediu para que Flávio desse algum tipo de proteção a você e caso ocorresse algo, que Eduardo fosse contatado o mais rápido possível. E foi isso que Flávio fez quando sofreu o acidente.
— E qual foi a reação dele?- Pergunto.
— A reação! A primeira coisa foi pedir se estava tudo bem com você.
— E o que ele falou quando soube que eu estava em coma?
— Flávio não contou. Não quis preocupar o amigo. Eduardo já ficou muito preocupado por saber que tinha se envolvido em um acidente, mas disse que dentro de três meses ele voltará ao Brasil e virá ver você.- Diz Amanda fazendo uma pausa.
— Então falou que iria me ver quando voltasse ao Brasil?
— Creio que sim. Porque transferiu uma quantia em dinheiro para a conta de Flávio, para pagar suas despesas,
— Então não é Flávio, é Eduardo que está pagando a conta?- Perguntei apenas para sair da dúvida
— Não... Quer dizer... Em partes, Eduardo está fazendo isso por meio de Flávio. Eduardo pediu que Flávio pagasse suas despesas em nome do restaurante, no início Flávio não queria aceitar, pois iria levar todo o crédito, de tanto Eduardo insistir Flávio acabou aceitando e aí veio o verdadeiro desafio, seus pais.
— Então nem mesmo meus pais sabem desse esquema?
— Não e nunca devem saber.
— Como Não! Não é assim que as coisas funcionam amiga. Meus pais precisam saber, Eduardo precisa ser ressarcido desse dinheiro. A propósito, qual foi a reação dos meus pais quando Flávio se ofereceu para pagar a conta?
— Quase surtaram, não queriam aceitar, e Flávio como não é bobo nem nada, inventou uma mentirinha, coisa básica.- Fala Amanda agitando os dedos das mãos.
— Que mentira?- Perguntei desconfiada.
— Falamos que você foi demitida e que aquele dinheiro era referente aos anos em que trabalhou.
— Sua pestinha. Concordou com tudo. Não tem vergonha, acobertando seu chefe?- Falo tentando a agarrar mas Amanda se esquivou.
— Foi por uma boa causa. Há e relaxa que Flávio me garantiu, seu trabalho está garantido quando voltar.
— Nossa! Nem quero imaginar. Meus pais devem estar no mundo da lua, para não perceberem que Flávio não pediu minha carteira de trabalho.— Falo coçando coçando a cabeça.
— Agora que você falou... - Pensa Amanda fazendo um gesto com a cabeça.
— Na verdade não foi apenas uma mentira, foram duas, Flávio é mais rápido que água na ladeira, disse haver dado baixa em sua carteira digital. Isso foi uma jogada técnica.
— Amanda! Posso fazer uma pergunta pessoal?
— Se a pergunta não for qual a última vez em que transei, pode perguntar.
— Não. Fique Tranquila, não é sobre isso.- Afirmo.— Porque Flávio nunca me contou sobre Eduardo?
— Bom! Você nunca falou nada sobre Eduardo. E… Bom…Nunca cheguei a tocar no assunto que você falava sobre ele.
— Agora que sei que Flávio conhece tão bem Eduardo renasceu minhas esperanças de encontrá-lo.
—Imagino.- Diz Amanda cutucando a ponta do meu nariz.
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Atualizado até capítulo 30
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