— A morte derruba. O ceifeiro carrega. Esse é o trabalho deles, quando alguma alma está predestinada a ser jogada nas profundezas do inferno, os ceifeiros muito menos a morte interferem, quem se encarrega são os cães do inferno.- Explica Amanda.
— Se consegue pesquisar tudo isso. Como se livra de um ceifeiro?
— Vamos pesquisar, quem sabe encontramos alguma coisa.- Diz Amanda voltando a manusear o celular. — Achei alguma coisa.- Fala Amanda.— Os cães do inferno são as únicas coisas que não se consegue matar, por quem os Veja, por outro lado podem se proteger. Para isso é preciso feri-lo com uma faca de ouro ou diamante. Ou ficar dentro de um círculo de sal do mais puro sal
— Quem iria fazer uma faca das coisas mais valiosas do mundo? E daria tempo para fazer esse círculo de sal?
— Acredite, já tentaram.- fala Amanda levando o dedo indicador sem desviar o olhar do celular.
— E deu certo?
— Não. Até onde sei. Infelizmente o ouro é um material pesado e difícil de ser manuseado com agilidade. O diamante e quase impossível de ser moldado.
— E como é que se mata um ceifeiro?-Comtesto.
— Um ceifeiro não se mata, apenas consegue afastá-los por um breve período de tempo, ou simplesmente vão embora se o trabalho não for levar a alma da pessoa. Mas para ele aparecer para você em vida isso quer dizer que o motivo não é sua alma.- Termina Amanda.
— Espero que esteja certa.- Comento.
— Não posso garantir.- Confessa Amanda.
— E se minha recuperação é a recuperação da morte? Como minha tia. Já vi várias pessoas sair de situações médicas piores que a minha e morrem repentinamente em questão de dias.
— É como falei amiga, os ceifeiros têm duas tarefas, alertar ou carregar. Mais cedo ou tarde você saberá o motivo dele estar aqui.
— Como saberei? E onde vai?- Pergunto quando Amanda vai em direção a porta.
— Uma pergunta de cada vez. Primeiro vou manter esse desgraçado o mais longe possível de você. E segundo! não se pode repelir um ceifeiro sem as coisas certas. Vejo você em algumas horas.- Diz Amanda ao sair do quarto apressadamente.
— Espera aí. Amanda! Me diz ao menos onde vai.
Tento saber antes que Amanda pudesse deixar o quarto mas sem sucesso. Amanda me deixou falando sozinha.
Descobri um lado de Amanda que até então não tinha conhecimento, já devia ter imaginado quando conversamos sobre a vida após a morte mais cedo. E o fato de ser gótica e as paredes de seu apartamento ser repleta de símbolos e esculturas estranhos.
Não sabia para onde Amanda havia ido, mas por coincidência do destino. Meus pais entraram no quarto pouco depois que Amanda saiu.
Minha mãe entra no quarto seguida por meu pai.
— Onde Amanda vai com tanta urgência?- Perguntei à minha mãe com um semblante de espanto.
— Não faço ideia. Tentei perguntar a mesa coisa mas me deixou falando com as paredes.
— O mesmo fez comigo. Amanda está estranha.
— Fica mais estranha vestindo aquelas roupas.- Diz meu pai dando-me um leve aperto na orelha.
A conversa durou apenas alguns minutos. O horário de visita passou depressa e meus pais tiveram que sair do quarto.
Fiquei feliz pela visita, mesmo que rápida, e antes que fossem quase expulsos do quarto por um enfermeiro agradeci meus pais pelo celular e meus livros de faculdade e meu estojo de maquiagem e alguns biscoitos que me trouxeram.
Em particular, na última vez que Amanda esteve em minha casa, ela acabou com mais de cinquenta biscoitos sem contar os que ela levou em um Tupperware que a princípio nunca mais voltou. Por isso tratei de esconder os biscoitos de baixo do travesseiro.
Não é para menos, dona Lilian herdou a receita de minha avó que era confeiteira. Minha mãe sempre fazia esses biscoitos quando Eduardo ia em nossa. Quando eu ia para a casa dos meus tios sempre era obrigada a levar uma porção deles para Eduardo, Eduardo adorava.
Depois que meus pais saíram, consultei as horas novamente e até então os ponteiros do relógio marcavam quinze para as sete da noite. Enquanto esperava pelo retorno de Amanda resolvi tirar um cochilo, o que me surpreendeu, assim que repousei a cabeça no travesseiro adormeci. Comecei a me sentir leve e em questão de segundos me vejo em um quarto que não conhecia, era tão real que até o contato de meus pés descalços no piso gélido conseguia sentir perfeitamente, sabia que estava em um sonho, reparei que as faixas e o gesso que cobriam minhas pernas haviam desaparecido, podia movê las sem problemas. Caminhei para a janela que agora tinha vista para uma planície com vários tipos de árvores coloridas, me colocando em dúvida de onde estava.
Me virei para o meio do quarto e me deparei com o mesmo homem que descrevi a Amanda, ele me encarava a pouco menos de um metro de mim, parado em meio ao quarto apoiado se em uma bengala.
— Você novamente.- Falo dando as costas para ele voltando a olhar novamente pela janela.— Já sei o que você é.- Continuei sentindo sua aproximação pelo barulho da bengala no chão.— E se que saber, não vou com você a lugar algum.- Afirmo voz calma.
— Não vou levar você. Ao menos por enquanto.- Fala o ceifeiro com voz monótona.
— Então. O que você quer?
— O que eu quero? Você saberá em alguns instantes.- Disse com voz tão calma que fez surgir em mim uma ponta de medo.
— Seja lá o que irá fazer, faça logo. E faça isso da forma menos dolorosa se possível.- Termino me virando para encará-lo e depois cruzando os braços.
— Você ainda não percebeu?
— Percebeu… Percebeu o que?
— Você está em um sonho?
— Quanto a isso, percebi assim que…
— Você não entendeu. Fiz uma pergunta. Você está em um sonho?
— Sim. Estou em um sonho, que mais poderia ser?
— Não… Você não está em um sonho.
Fiquei perplexa ao perceber que estava sozinha. Dei dois passos para o meio do quarto e escutei a mesma voz em minhas costas.
— Quer saber o que está acontecendo com você?
Me virei rapidamente e fiquei mais assustada ainda ao perceber que não havia ninguém em minhas costas.
— Sua amiga, Amanda. Ela é muito prestativa em cuidar de você, poderia fazer você ter essa experiência através de sonhos lúcidos, mas voltando ao assunto de sua amiga. Ela pode ser prejudicial a nossa dinâmica.
— O que quer dizer com dinâmica?- pergunto rodeando o quarto com os olhos a procura do ceifeiro que parecia estar invisível.
— Você verá.
Ouço a voz outra vez em minhas costas e quando me virei, senti dois dedos em minha testa e tudo se escureceu como um apagão.
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Atualizado até capítulo 30
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