Depois do jantar, adormeci satisfeita comigo mesma, minha recuperação estava indo muito bem, tão bem, que durante a tarde, Dr. Evandro esteve em meu quarto, acredito que talvez nem tanto para saber como sua paciente estava.
Trouxe uma cadeira de rodas e comentou que permitiu que Raquel ou Amanda me tirassem do quarto desde que fosse em horário comercial e o passeio fosse nas dependências do hospital.
Para mim aquilo seria um passatempo perfeito. Os dias eram longos, ou pelo menos parecia ser.
A noite passou rápida entre pequenos momentos de sono carregado de sonhos sobre Eduardo. Na manhã do outro dia, acordei por volta das sete horas. Meu café tinha sido deixado sobre o criado mudo ao lado de minha cama.
Me sentei sobre os travesseiro e puxei a bandeja para cima das pernas, as duas torradas desta vez cobertas com requeijão vieram acompanhadas com um copo grande de suco que acreditei ser de laranja, ao beber o primeiro gole, vi que se tratava de suco de maracujá.
Lembrei do celular que desde o dia anterior estava carregando, estiquei meu braço até alcançar o fio do carregador, quando movimentei o aparelho a tela ligou subitamente, alguém havia o configurado, Whatsapp, Facebook, uma nova conta de E-mail a rede Wi-Fi do hospital também havia sido conectada.
No WhatsApp duas mensagens: uma de minha mãe e outra de Amanda.
— Jeisa, como está esta manhã? Amanda me passou seu novo número. Eu e seu pai estamos em casa, Amanda insistiu em ficar com você durante esta semana, vamos visitar você à tarde, avise se precisar de algo. Beijos!
Escreveu minha mãe.
Quanto o SMS de Amanda foi para falar que tinha sido ela quem havia inaugurado meu novo celular.
— Oi Amiga! tomei a liberdade de configurar seu novo celular. Estou no refeitório, mande-me mensagem se quiser passear.
Escreveu Amanda.
Respondi à minha mãe com poucas palavras e a Amanda com menos ainda.
Mal podia esperar pelo horário de visita quando meus pais viriam me visitar, mas mais ansiosa eu estava para sair daquele cubículo que a única visão que me era proporcionada do mundo exterior era através da única janela, pela qual não era me permitido ver mais que um ou dois prédios e uma pequena parte do céu azul que se erguia sobre a cidade aquela manhã. Quando Amanda entrou no quarto indiquei uma cadeira do outro lado da cama, Amanda me contrariou e sentou-se na cadeira de rodas que estava ao lado.
— Sempre quis sentar em uma dessas.- Diz Amanda movendo a cadeira para frente e para trás.
— Flávio sabe que você contou sobre Eduardo?- Questiono de supetão antes que Amanda pudesse dizer alguma coisa.
— De jeito maneira, só contei a você, sei que não vai me botar em encrenca.- Fala apontando o dedo indicador para mim.
— Vou pedir que faça um favor.
— Se estiver ao meu alcance.- Rebate Amanda antes que eu pudesse terminar.
— Como Flávio conversa com Eduardo?.
— Não faço ideia. Mas se quer o contato dele, adianto que não tenho.
— Pois passa a Flávio.
— Este é o principal motivo para não ter falado sobre Eduardo antes.- Revela Amanda.
— motivo este que é… Você ou Flávio não quer.
— Pode ser Eduardo que não quer conversar com você.- Fala Amanda arqueando as sobrancelhas.
— Tenta outra. Essa não colou. Eduardo está fazendo o que não devia por mim. Acha que ele não vai querer conversar.
Amanda abre a boca para falar alguma coisa mas continue antes que dissesse.
— Você mesmo falou que Eduardo viria me visitar assim que chegasse ao Brasil. Há! Tinha esquecido, isso é mentira também!
— Não… essa parte não é. Tá… Não consigo entender porque motivo não consigo mentir pra você.- Fala Amanda apoiando os cotovelos sobre os joelhos.
— Eduardo não conversa com Flávio por aplicativo de mensagens.
— É pessoalmente então?
— Quase isso.
— Poxa Amanda! Você anda me escondendo muitas coisas. Será que tenho ao meu lado uma amiga ou uma espiã do FBI?
— Uma amiga, pode ter certeza. Uma amiga que está mais confusa que você.
— Então por que mente é depois vem com o rabinho entre as pernas e fala a verdade? Não pode falar a verdade logo na própria vez?
Amanda baixou a cabeça e foi aí que percebi que estava pegando pesado.
— Amanda!- Falei com voz suave. Amanda olhar para mim com olhar desconfortável.
— Desculpa. Você deve ter motivos pra fazer isso, não está fazendo isso de propósito.
Me desculpo e então Amanda levanta o olhar para mim. Uma lágrima rolar por seu rosto.
— Jeisa! Você é minha melhor amiga a tanto tempo. Mentir pra você para te proteger talvez não seja uma boa escolha. E mesmo assim eu não consigo.
Amanda se bota em pé, da meia volta, e traz a cadeira para perto da cama.
— Não vai me tirar desse quarto sem antes me explicar.- falo recusando-me a passar da cama para a cadeira.
Amanda move a cadeira para trás e volta a se sentar.
— Eduardo sempre pede sigilo em suas chamadas de vídeo. No começo achei que era via WhatsApp. Mas é um aplicativo parecido. Quando descobri tentei baixar e pra minha surpresa é um aplicativo desenvolvido pela marinha americana, se chama what-military, para acessá-lo precisa do número da funcional.
— Um aplicativo de mensagens restrito às forças de segurança. Eduardo é militar, Flávio já foi um, deve ter funcional. Já tentou pela de Flávio?
— Já. O aplicativo pede uma senha. Há alguns meses Tento descobrir mas, é criptografada.
— E Facebook?
— Também! Não encontrei nada, ao menos não com o nome dele, mas seria óbvio, percebi isso depois. Eduardo deve ser muito reservado ou seu trabalho não o permite ter perfil em redes sociais.- Explica Amanda se concentrando na paisagem pela janela anda sentada na cadeira.
Amanda olhava fixamente para o céu, para as poucas nuvens que havia em um fundo azul. Ficamos alguns minutos em silêncio até que eu resolvo quebrar o silêncio.
— Porque acha que Eduardo é reservado?- Pergunto.
Depois de mais um tempo, Amanda me encara para responder.
— Pelo fato de que o cara não tem perfil de Facebook, tentei até mesmo no Instagram e não encontrei nada.- Me responde Amanda voltando a olhar pela janela.
A brisa que invadia o quarto era uma brisa fresca, o pouco de sol da manhã que entrava pela janela aquecia minha pele me revigorando de alguma forma.
Permanecemos mais um bom tempo olhando pela janela em silêncio, admirando os aviões que passavam em frente à janela.
Depois de mais alguns minutos em um silêncio total entre mim e Amanda ela mesmo sem desviar o olhar da janela rompe o silêncio outra vez.
— Me falou certo dia que não importa o que aconteça, nossos sonhos sempre irão se realizar.
Pude ouvir a inspiração em seu tom de voz.
— Está falando sobre mim e Eduardo?
— Sobre tudo. Lembro como se fosse hoje de quando falou essas palavras.
— Também. Não foi pra menos, queria desistir da faculdade.
— E pegou tanto em meu pé que acabei retrocedendo.
— Ainda quer ir?
Pergunto movendo a cabeça para encara Amanda.
— Para onde?- Amanda rebate sem entender, deixando de lado a vista da janela.
— Para onde disse que iria quando pretendia largar a faculdade?
— Há sim, para a Argentina. Não, não quero mais.- Diz se agitando e depois enfiando as mãos no bolso do moletom.
— Talvez a passeio, tenho alguns parentes lá. Por falar nisso de onde Eduardo é?- Me pergunta mais curiosa do que o normal.
— Você não sabe? Nunca falei sobre isso?- Questiono.
— Acho que não, é se falou não lembro.- Comenta Amanda franzindo as sobrancelhas e coçando a nuca.
— Eduardo é de uma cidadezinha chamada Bauru, mesma cidade em que nasci.
— Já ouvi falar, fica a poucos quilômetros daqui.- Comenta Ana.
— Lembro perfeitamente de cada detalhe da cidade, hoje deve estar muito mudada, a última vez que estive lá foi quando minha tia faleceu.
— Você pensa em voltar? Sabe algum dia.
— Pretendo visitar o sítio onde morei e ir ao cemitério.
— Visitar o túmulo de sua tia, suponho.
— Sim. Que pensou que fosse?
— São poucos os que querem ir parar em um lugar desses.
— Eu quero… não logo, mas quero.
— Querendo ou não é pra lá que iremos. Certo que algumas pessoas não tem a mesma sorte.
— Sabe Amanda. Quando minha tia faleceu, passei a ter receio da morte.
— Medo… Pra ser mais explícita?- Fala Amanda.
— É… A morte e uma coisa repentina. Quando todos pensávamos que minha tia havia vencido o câncer, tivemos um choque de realidade. Como alguns dizem: Hoje estou vivo, posso estar caminhando e conversando com alguém pela última vez.
— Sei como é. Perdi um primo em um acidente de carro. Estávamos em um parque, e uma hora depois a notícia que o carro onde ele estava havia batido de frente com um caminhão. Foi na casa de sua tia que conheceu Eduardo?
— Já lhe contei a história?
— Um milhão de vezes, acredite.
— Desde que comecei a frequentar a casa de meus tios, gostava de ir durante o verão, como Eduardo era dois anos mais velho do que eu, íamos até uma lagoa para pescar e nadar.
— Epa. Pera aí. Rebobinar a fita de vez em quando é bom. Desta parte você nunca me contou, do início por gentileza.- diz Amanda querendo detalhes.
— Como sempre você querendo saber sobre minha vida.- Digo soltando um sorriso amarelo que foi o máximo que conseguiria antes de lembrar de momentos que pareciam estar tão frescos em minha memória que até pareciam ter acontecido no dia anterior.
—Qual é Jeisa!- Fala Amanda dando-me um leve empurrão no ombro.
— Essa história daria um livro, aliás vou dar ideia a sua mãe, quem sabe não se torna uma série ou um filme como Harry Potter ou A Cabana.
— Quem vai querer ler ou assistir uma história que quem se dá mal do começo ao fim é a mocinha. Seria ganhador do Oscar de pior do mundo.- Falo com voz monótona.
— Sua história não é tão ruim assim. Dona Lilian, saberia como fazer um sucesso de vendas.- Fala Amanda esfregando os dedos se referindo a dinheiro.
— Tenho dúvidas disso. Minha mãe não escreve sobre romance, esqueceu?
— Concordo que ela prefira terror, fantasia de outro Mundo, mas sua mãe é uma excelente escritora.- Amanda encolhe os ombros.— Queria ter o dom que ela tem. Me surpreende você não ter seguido esse caminho.
—Você acha que não tentei, infelizmente cada capítulo me proporciona infinitos neurônios a menos, não consigo pensar em muita coisa.
— Relaxa!- Começa Amanda.— É jeito, não impulso. Sua mãe não começou de uma hora pra outra.
— Lógico que não. Mas ela tem um dom como você mesmo falou. E o meu é na construção de edifício.
— Já que insiste, percebo que esse assunto não lhe agrada, então vamos trocar a literatura pela engenharia.- Fala Amanda esticando-se para alcançar um dos livros.
— Já se decidiu em que vai se especializar?
Pergunta folheando o livro mais grosso.
— Ainda estou em dúvida. Engenharia civil ou engenharia ambiental, certamente será engenharia civil. Mas ainda tenho dúvidas.
— As dúvidas não podem serem transplantadas em certezas. Isso é um erro de principiante.- Diz Amanda indo para a parte de trás da cadeira.
Amanda permanece imóvel atrás da cadeira. Quando retiro o cobertor que cobria minhas pernas e as deixo visíveis, apenas para ver se Amanda se tocaria que não podia me mover.
— É mesmo! Se não fala nem iria perceber.— Diz Amanda passando meu braço em seu pescoço e me abraçando firme pelas costelas.
— Onde vai me levar?- Questiono enquanto me sentava com dificuldade na cadeia de rodas mantendo minhas pernas esticadas sobre um suporte.
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Atualizado até capítulo 30
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