O Ceifeiro Aparece Novamente

Os dias passavam vagarosamente. No início da tarde um dilúvio caiu sobre a cidade, interrompendo meu plano de voltar a cobertura do prédio.

Me restava apenas agonizar até o horário de visita.

Amanda passou boa parte da tarde comigo, fiquei zangada por Amanda me trazer de volta para o quarto. Mas nem tanto, não sei o que passou pela cabeça de Amanda.

Logo que fizemos as pazes jogamos algumas partidas de Free Fire quando Amanda interrompe subitamente a partida dizendo que precisava ir ao banheiro, o que achei estranho, já que em meu quarto também havia um banheiro.

Após Amanda deixar o quarto, continuei com uma partida, estava tão concentrada no que fazia no jogo que não percebi que alguém entrou pela porta e permaneceu me observando aos pés de minha cama.

Quando desviei os olhos do celular para observar quem estava me vigiando, dei um salto.

Me deparei com um senhor que aparentava ter entre setenta e oitenta anos, rosto ossudo e sobrancelhas grossas e arqueadas, suas pálpebras eram fundas e pálidas, contrastando com um par olhos negros opacos. A pele de seu rosto se mostrava flácida e de um tom amarelo, por outro lado estava bem vestido, usava um terno preto e gravata vermelha.

Assis que o encarei, o homem abriu um sorriso que me permitiu ver seus dentes amarelados. Já tinha visto alguém com roupa semelhante. Em meu quarto minutos antes de sofrer o acidente.

Meu coração voltou a bater forte e descompassado parecendo que iria saltar para fora de meu corpo. Passei a sentir as mesmas sensações que senti da primeira vez.

Encontrei forças entre tremores e formigamentos que percorriam meu corpo.

— Quem é você?- Pergunto tentando me manter calma o máximo possível.

Aquela figura era tão macabra que nem mesmo a sombra de seu corpo se projetava.

Era uma pessoa tão assustadora que era impossível acreditar que uma pessoa com aquela aparência existia. O homem se aproximou de mim como um relâmpago, deixando no ar um rastro do que pareceu ser fumaça e cinzas negras ou algo do tipo

Fiquei perplexa, senti meu corpo amolecer cada vez mais e mais, até que o homem se colocou ao meu lado e se postou sobre mim.

Tentei gritar, o grito parou na garganta, assim que ouvi meu nome mencionado pelo homem, senti também seu hálito fétido exalado de sua boca. Tentei perguntar como sabia meu nome, mas fui interrompida.

— Não se preocupe. Não estou aqui para fazer mal algum. Sob esses quesitos também não estive em sua casa.- Disse em uma voz grave e rouca mudando a cor de seus olhos para um amarelo ocre, o que me deixou perplexa.

— Estou pairando sobre você já faz um tempo.- Continuou com o mesmo tom de voz.— Meu trabalho não é prejudicar as pessoas, apenas ajudar aquelas que estão em situação como você.- Termina dizendo com uma explosão de fumaça negra que sumiu quase no mesmo instante.

Amanda tinha entrado no quarto falando de uma partida que acabara de entrar que só havia crianças. Após ver meu semblante de pavor parou subitamente alguns passos da cama

— Viu um fantasma?- Pergunta Amanda ao me ver apavorada.

Demorei alguns instantes para respondê-la.

— Vi coisa pior que um fantasma.-Falei com a voz trêmula e pavorosa.

— Já sei…Se olhou no espelho?

— Engraçadinha você não! Agora me escuta, tem algo errado acontecendo. Estou vendo um homem horrendo, esquelético como um cadáver. Estou começando a ficar com medo.

— Jeisa, você está vendo coisas, não tem do que ter medo. Eu estou aqui com você.- Diz Amanda abrindo os braços e sentando se na poltrona.

— Aí é que estou lascada, ter você aqui e não ter ninguém é a mesma coisa.- Falo gesticulando com um sinal negativo.

— Ok. Não precisava ofender. Mas como é essa tal pessoa?- Pergunta Amanda procurando o celular no bolso do moletom.

— Que vai fazer?- Questiono franzindo a testa.

— Pesquisar.- Rebate Amanda sentando ao meu lado me proporcionando ver a tela do aparelho.

— Então como ele é?- Me pergunta Amanda me encarando.

— Acabei de lhe dar uma descrição detalhada.

— Tá! Esse suposto homem como se veste?

— Gravata e terno. Parece um defunto que acabou de ser preparado para o velório.

Amanda escreve: fantasmas que usam terno e gravatas. No Google.

Quando Amanda escreve essas palavras, logo a imagem de um homem magro parecido com o que tinha visto aparece na tela. O da imagem certamente era um ator. Mas estava a caráter.

— Devia ter imaginava.- Começa Amanda se colocando em pé.- Quem você viu não é um fantasma e sim um ceifeiro.- Concluiu Amanda me olhando seriamente.

— E qual a diferença?

— Os ceifeiros vestem ternos e gravatas. São considerados anjos da morte. Pelo fato de estarem em uma hierarquia abaixo dos anjos. A morte pelo contrário, usa vestes pretas e longas e portam a foice porque são elas que matam quem está no fim. Os ceifeiros também são nomeados de morte na religião católica. O fato é que um é diferente do outro. Em outras religiões a morte é retratada com um novelo de lã em vez da foice. Como na mitologia Grega, a morte é chamada de Moiras "as tecelãs do destino" são elas que cortam a linha quando um ser humano morre.

Mas os ceifeiros têm funções diferentes, ou seja, orientar e levar as almas através da luz.

Amanda caminhando de um lado para o outro enquanto lia em voz alta.

— Então essa coisa quer me matar?

— Espere! Não terminei. Aqui diz que á duas versões que explicam a aparição de ceifeiros para uma pessoa. No catolicismo, quando um ceifeiro aparece para alguém que está enfermo ou até mesmo em perfeita saúde a pessoa está prestes a morrer. Mas está bem acompanhada. Um ceifeiros, como foi dito, têm o dever de orientar e levar as almas para a luz. Já na cultura o judaica, um ceifeiro é sinal de má sorte no mundo pós-morte. Pois este está ligado ao inferno.- Explica Amanda.

— Todo isso está nessa pesquisa?

— E o que está escrito aqui.- Diz Amanda movendo os ombros.

— Espero que seja só história. Não quero morrer depois de quatro dias fora do coma. E se morrer ainda bem que não sou da religião judaica.

— Talvez você não vá morrer.

— Talvez! Isso é pegadinha de sua parte?

— Não.- Nega Amanda.

— Os ceifeiros são conhecidos também por transmissões de presságios de morte. Tanto da pessoa que o vê ou de outra. Ele chegou a falar com você?

—Bom...! Não exatamente, apenas disse meu nome. Aí você chegou e ele desapareceu.

— Isso é um sinal que ele não vai te levar, apenas quer ajudar.

— Se falou meu nome, tenho certeza de que quer.

— Qual é a primeira coisa que você faz quando quer acalmar uma pessoa?- Pergunta Amanda.

— Peço para ela se acalmar.- Falo sem saber ao certo.

— Ou….! Em um plantão hospitalar. O paciente dá entrada na UBS com uma das pernas amputadas, mas ainda consciente, este paciente está agitado e bastante tenso. Os técnicos de enfermagem precisam que o paciente se acalme, qual a primeira coisa a se fazer?

— Conversar com o paciente, de preferência chamá-lo pelo nome.

— Então é isso aí. Ele quis acalmar você.

— Me acalmar! Tenho certeza de que essa não foi a intenção dele ao falar o meu nome com aquela voz macabra e seu hálito de peixe morto.- Falo relembrando.

— Nem sempre uma entidade tem a intenção de nos prejudicar.

— A é! Não diga! Como aquela coisa vai me ajudar? Ele vai acabar me matando de ataque cardíaco se não tomar cuidado.

— Desse jeito vai ficar paranoica.- Brinca Amanda.

— Se não fiquei da última vez que vi essa coisa, pode ter certeza que não ficarei.

— Os ceifeiros são os espíritos que levam as almas para o outro lado da luz, então se isso servir de conforto. É sinal que você irá para o céu.

— E pelo jeito está de olho na minha. Se esses são responsáveis pelas almas destinadas ao céu, não quero conhecer os que as levam para o inferno.

— Quer uma explicação sucinta sobre isso? Amanda dispensa o celular sobre o criado mudo ao lado da cama e solta seu cabelo sobre os ombros.

— Um ceifeiro.- Começa Amanda fazendo uma breve pausa para respirar.

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