— Que quer dizer?- Questionei sem entender o porque de minha tia ter tocado no assunto.
— Estou falando da briga que teve com Eduardo.
— Como sabe da briga?- Pergunto de imediato, saltando do balanço.— Não contei a ninguém.- Terminei encarando minha tia com desconfiança.
— Eduardo me contou. Contou sobre a discussão e o que disse a ele naquele dia.
Comecei a tremer, estava tão nervosa que sem perceber duas lágrimas desceram em meu rosto.
Minha tia se aproximou e me abraçou levando uma das mãos à minha nuca.
— Não tinha intenção de tocar no assunto querida.- Começa olhando em meus olhos segurando meu rosto entre as mãos, depois enxugando com os polegares as lágrimas que rolavam pelo meu rosto.
— Fui uma idiota, fiz o que fiz e acabei perdendo o amor da minha vida.
— E quando fez. Achou que estava fazendo a coisa certa?
Balancei a cabeça para enfatizar uma negativa.
— Foi um momento de burrice, um momento que Pensei estar deixando Eduardo com ciúmes. O que nunca teve.
— Eduardo sempre teve ciúmes de você, só não demonstrava. Ele mesmo falou várias vezes. Falava que você era dona de sua própria vida, e que só mantinha uma proximidade a você apenas para protegê-la.
— Então não era como sempre imaginei, Eduardo nunca me amou?
— Claro que lhe amava Jeisa, mas, para Eduardo ele não era a pessoa certa para você.
— Então e ele ou eu quem está errado nessa história?
— Os dois. Um por se achar inferior. E o outro por esperar a decisão do outro.
— Por que Eduardo queria me proteger? Se no futuro o que aconteceria comigo nem mesmo ele poderia ter evitado?- Questiono enxugando minhas lágrimas na gola da camiseta.
Nesse momento percebi que tinha voltado a usar minhas roupas normais, uma camiseta bege e uma calça jeans azul.
— Você sempre foi cobiçada pelos rapazes do colégio, Eduardo tinha medo que algo de mal lhe acontecesse.
— Sempre fui. Mas era dele que gostava e sempre gostei.
— Acredito em você querida.- Rebate minha tia.- Eduardo queria seu bem. Por isso não procurou por você todo esse tempo. E na tentativa de lhe proteger acabou lhe prejudicando.
— Por que razão Eduardo me prejudicou?
— O destino de vocês estava designando a viverem um ao lado do outro.
— Então se eu e Eduardo tivéssemos juntos, nada disso teria acontecido?
— Exato.- Afirma minha tia.
— Você poderia ter filhos e tudo estaria em perfeita harmonia.
— Que sentido nossas vidas tomaria?
— Nunca passou por sua cabeça. Ou nunca se pegou imaginando como suas vidas seriam?
— De certa forma sim. Mas eram apenas ilusão, coisas de manha cabeça.
— Por isso nunca irá saber. A linha do destino entre vocês foi apagada e outra paralela a ela foi criada.
— Ou seja, a paralela é a que estamos vivendo no momento? Pergunto.
— Exatamente.- Rebate minha tia.
— E quando mudamos essa linha?
— A partir da briga. Ela foi a chave para suas vidas tomarem rumos diferentes e vocês chegarem onde chegaram.
— Foi por causa dela que nos distanciamos? Mas, Eduardo consegue me amar, mesmo depois de tudo o que eu fiz? Ou seja, por mais que essa linha tenha sido apagada, Eduardo continua gostando de mim, como antes?
— Se você quer saber. Bom...! De certa forma sim. Eduardo está vivo, e você… bom… A situação só não foi pior pelo fato de que Eduardo guardou esse sentimento com ele.
— E esse sentimento está nos mantendo ligados.
— Até onde sei o sentimento que os une se divide em dois. O amor que ele sente por você é uma delas.
— E o outro? O que seria?
— Quanto ao outro não tenho informações precisas. Quem me informou estava com medo. Disse apenas que Eduardo fez um negócio.
— E que negócio é esse? Que por si só mudou nossas vidas?
— Sua vida não mudou, ao menos por enquanto, e talvez nem vá mudar. Mas já a de Eduardo mudou completamente.
Essa revelação me deixou confusa e ao mesmo tempo curiosa.
Minha tia, talvez não quisesse me revelar ao certo o que era, também não podia descartar a hipótese de que não saberia de muita coisa ou talvez de nada.
— Mas, sei também.- Recomeça minha tia.- Ao mesmo tempo um negócio foi também uma atitude precipitada.- Fala minha tia com voz pensativa.
— Sabe tia!- Começo desviando o olhar para o balanço
— Queria saber se algum dia Eduardo comentou sobre um presente que me deu.
— O livro? Eu imagino.
— É...! Queria saber por qual motivo me presenteou com ele.
— Eduardo nunca comentou diretamente sobre isso. Mas certa vez Eduardo disse que queria lhe dar um presente referente ao que sentia por você. Talvez esse livro represente alguma coisa para ele.
— Mas o que exatamente!- Falo beliscando os lábios.
— Já leu o livro?
— Bilhões de vezes.
— Bom! Então foi só um presente que achou que iria gostar.
— Talvez! Mas voltando ao assunto da briga. O que exatamente Eduardo falou?
— Nada de importante.- Se expressa encolhendo os ombros.— Apenas relatou as coisas que disse a ele, percebi que o machucaram muito. Mas que entendeu o motivo da briga como uma intromissão da parte dele em sua vida.
— Certa forma sim. Mas forcei ele a me repreender daquela forma.
— Eduardo não ligava, embora tivesse ciúmes de você Jeisa, ele não ligava com quem você se relacionava, para ele você estava crescendo e segundo ele, qualquer um era melhor que ele.
— Logicamente que não! Mas vendo por outro lado, Eduardo me vendo me portar daquela forma, sendo uma garota sem princípios. Decidiu interferir.
— Eduardo queria seu bem. Nada do que fazia era para seu mal, só que você acabou não percebendo.
— Isso foi tudo culpa minha, Eduardo não teve nada a ver com essa história.- Falo entre soluços. sentei-me ao pé da árvore colocando a cabeça entre os joelhos, e os abraçando com os braços
— Fui eu a verdadeira responsável.
— Castigando-se dessa maneira está prejudicando a si mesma. Não está aqui para se castigar e sim para redimir seus erros.
— Não estou me condenando, e sim assumindo meu erro. E se isso for digno de uma punição, que assim seja. Estou fazendo a coisa certa, a única em toda minha vida, eu imagino. Estou absolvendo Eduardo. Tenho certeza de que Eduardo sabe que eu sou a culpada. Quem errou foi eu.- Falei levantando o olhar para observar um céu azul com poucas nuvens, comos olhos embasados pelas lágrimas.
Senti a mão de minha tia tocar gentilmente meu ombro.
— Se isso servir de amparo emocional, Eduardo teve um sonho com você, dias antes de você ir embora.
— Que tipo de sonho?- Quis saber com curiosidade.
— Preferiu não me contar sobre, mas disse que o propósito de sua vida não havia terminado, não entendi até agora o que exatamente Eduardo queria dizer, mas deixou claro que sua responsabilidade ainda era dele
— E depois! Depois que fui embora, Eduardo voltou a tocar no assunto?
— Não. Por algum motivo não, Eduardo ingressou no exército e alguns meses depois eu acabei falecendo.
— Como sabe de tudo isso se está morta?
— Sei porque minhas memórias ainda não foram apagadas? Ainda não passei pela luz.
— Há! É mesmo, tinha me esquecido.
— Vamos falar de você. Por favor?- Pede minha tia fazendo com que eu me levanta-se
— Como quiera.- Começo ironicamente me botando em pé.— Porque acha que Eduardo não contou sobre o sonho?
— Não faço ideia mas, tenho certeza que foi para lhe proteger ou proteger alguém. Talvez, ele mesmo.
— Eduardo, e seus indignas. Às vezes tenho a sensação de estar sendo protegida por ele, até o nome dele me traz tranquilidade.
— Devo imaginar. Vocês não se largavam um segundo quando criança.
— Quando estava em meu corpo, imaginava como seria nossas vidas, a nossa família.
— Por falar nisso. Sabe da história de vida de Eduardo?- Pregunta minha tia
Olho para ela e levo a mão até a nuca.
— Pouco. Quase nada.- Respondo.
— Vocês cresceram juntos e nunca tocaram no assunto?- Diz franzindo as sobrancelhas.
— Eduardo era reservado, a única coisa que me contava abertamente era a vontade de ser policial.- Falo.
— Bom! Então vou lhe contar, afinal cuidei mais dele do que de você.
Minha tia faz uma pausa e depois recomeça com uma profunda respiração.
— Qual a finalidade disso?- Questiono abrindo os braços, antes que Minha tia rê comece.
— Pela finalidade que diz ser a única culpada. Vou lhe provar que está errada, lhe provar que está totalmente errada. Ou parcialmente errada. É claro que há uma parcela de culpa também sobre você, mas é coisa mínima para o tanto que está se culpando.
— Se eu estou errada de estar certa ou certa de estar errada... Caramba. Já não entendo nada.- Falo balanço a cabeça.
— Entendo sua confusão.- Diz minha tia me dirigindo uma risada pálida
— A vida de Eduardo era conturbada até vocês se conhecerem.- Começa dando meia volta em torno da árvore.— No entanto, o primeiro passo errado foi dado ainda quando Eduardo era uma criança de colo. O resultado disso foi uma mãe ausente e um pai ainda mais. Isso levou Eduardo a se tornar o que é hoje. Quieto, reservando como você mesmo diz.
— Por isso, ele não queria mais que amizade. Achava sua vida um saco e não queria que a minha seguisse o mesmo caminho.
— Se pensa assim, não mencionei nada.- Rebate.
— Não disse que você disse! Só disse o que eu acho.
— Ao que tudo indica Eduardo queria proteger você de alguma coisa dessa época.
— Mas do que exatamente?
—Tenho minhas dúvidas sobre isso. Não tenho certeza se Eduardo já sabia o que estava por vir ou achou que estava fazendo um bem e acabou fazendo mal a você.
— Tá! O primeiro passo errado foi dado. Isso quer dizer que mais erros se seguiram ao longo das nossas vidas?
— Com toda certeza. Mais coisas aconteceram na vida de Eduardo do que na sua. Ao todo houve três passos, o qual o terceiro você está envolvida.
— O terceiro foi a nossa briga. E qual é o segundo?
— O segundo foi o caminho que Eduardo tomou, se desviou de que aprendeu com seus familiares, deve ter recordações de um ano que Eduardo passou no Rio de Janeiro?
Afirmo com um gesto com a cabeça.
— Eduardo aprendeu algumas coisas.- Começa minha tia.- As quais não são dignas de se aprender no século XX...
Minha tia parou de falar abruptamente e olhou por sobre meus ombros e fechou e abriu os olhos rapidamente.
— Que foi tia? Continue, quero saber o que Eduardo aprendeu no Rio.- Falo impaciente, dando um passo à frente.
— Jeisa…!
Já tinha ouvido aquela voz em algum lugar. Não me era estranha. Era o ceifeiro. Me virei para encará-lo, agora estava vestindo uma capa preta muito suja e velha, sua cabeça estava coberta com um capuz pontiagudo no lugar onde deveria ter um rosto podia ver apenas uma escuridão profunda. Apoiava-se na bengala de madeira.
— Precisa voltar.- Me ordena a figura à minha frente.
— Você quer ter um pouco de paciência.
— Paciência tenho à dar e vender. O que não temos é tempo. Aliás, já dei tempo necessário, agora tenho mais coisas a mostrar a seu respeito.
Completa batendo a bengala no chão com uma certa força.
Uma explosão de luz violeta tomou o ambiente e um segundo depois acordei de um salto, estava deitada em minha cama, a minha frente estava Amanda, desta vez adormecida em minha cadeira de rodas.
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Atualizado até capítulo 30
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