De Frente Comigo Mesma

Minha visão escureceu e gradativamente foi clareando com uma luz branca, me vejo em um corredor de paredes brancas, não muito longo, deveria ter uns trinta metros. Percebo que a roupa que cobria meu corpo era um roupão hospitalar azul-marinho. Suspeitei estar em alguma das alas do hospital.

Ao longo desse corredor havia várias portas abertas, o interior do ambiente do outro lado de cada porta era totalmente branco o que não me permitia ver absolutamente nada.

Avancei para o fim do corredor com passos lentos sobre a única luz branca que piscava constantemente. Em meio ao corredor uma voz grave e assustadora surgiu em minhas costas. Mas que reconheci de imediato, já estava acostumada

— Esperava por você?- Essa pergunta soou mais como uma afirmação.

Me virei rapidamente.

Era o ceifeiro. Me encarava com seus olhos agora negros com pálpebras palidas.

— Você novamente. Onde estou? Foi você quem me trouxe aqui?- Perguntei em tom áspero.

— De certa forma sim! Você não veio até mim de livre e espontânea vontade então tomei medidas drásticas.

— Quero que me leve de volta.- Digo com voz enfurecida

— Não posso. Aliás, você está andando, já andou metade do corredor.- Diz o homem de preto olhando para trás.

Como da última vez que estive em um sonho, estava livre dos gessos que cobriam minhas pernas e podia caminhar sem problema. Nesse momento caiu a ficha do que estava acontecendo. estava em um sonho, só podia ser.

O ceifeiro me encara e em seguida estala os dedos fazendo com que simultaneamente todas as portas se fechassem, exceto uma, a última porta à direita no fim do corredor.

— A partir de agora tudo será explicado, vou fazer meu trabalho, você querendo ou não!- Fala com voz zangada.

— Então é agora que você me manda através de uma dessas portas e eu morro na vida real?

— Não é bem assim, as coisas por aqui acontecem de outra forma. Tire isso da cabeça, ao menos por enquanto. Agora venha comigo.- Diz passando por mim indo em direção ao final do corredor parando ao lado da porta aberta de frente para mim. Assim que passou por mim senti um cheiro insuportável e desta vez não era do seu alito. Era um perfume, mas só que um perfume fedido, não consegui identificar a quele odor. O que levantou dúvidas sobre estar em um sonho.

Dizem que quando se está sonhando não se permite sentir cheiro.

Deixei de lado minha dúvida e juntei-me a ele. Antes que tivesse a oportunidade de ver o que havia no interior do quarto a porta se fechou com um estrondo ensurdecedor que me fez saltar para trás, até a luz que piscava parou abruptamente de piscar voltando ao seu estado normal.

— Você quer que eu veja o que há do outro lado ou não?- Pergunto encarando o homem de face ossuda parado em minha frente.

— Pretendo, é seu dever olhar o que há lá dentro. Mas antes é claro que me garante estar preparada.- Disse calmamente.

— Seja lá o que quer que veja estou preparada.

Afirmo com um breve aceno de cabeça.

— Acredita que está?- pergunta o ceifeiro apontando para mim.

Afirmo com outro aceno de cabeça em resposta.

— Não! Na verdade não está. Se ver o que está atrás dessa porta, não estando preparada, corre o risco de ter um colapso transacional.

— Como assim? Que quer dizer com colapso?

— Se isso acontecer, preciso que esteja pronta para seguir comigo.

— Seguir você? Seguir para onda? Seja mais específico.

— Para o outro lado...O lado dos mortos.

— Mas nem pensar... nem morri ainda, e você querendo me arrastar para o outro lado. Por que a pressa?- Pergunto gesticulando com os ombros.

— Pelo tempo que sua... Deixa pra lá. Veja você mesmo.- Diz o ceifeiro estalando os dedos, a porta se abre no segundo seguinte.

Do interior do ambiente uma luz branca resplandeceu com um brilho intenso que me forçou a espremer as pálpebras.

Assim que a luz desapareceu espiei para o outro lado, pude ver um quarto hospitalar, o que confirmou minha suspeita de que estava ainda no interior do hospital.

Ainda do corredor pude ver uma cama, do meu ponto de vista alguém estava deitado coberto da cabeça aos pés por um lençol da mesma cor de meu roupão. Quem jazia na cama estava acompanhado por alguém sentado ao lado cama em uma poltrona parecida com a que tinha em meu quarto, nela alguém estava sentado com as pernas e os braços para fora da poltrona.

— Entre.- Convida o homem estendendo a mão em referência.

Entrei no ambiente tentando prestar a atenção nos mínimos detalhes. Em questão o ambiente era bem iluminado. Assim que me aproximei da cama meu coração disparou.

Quem estava deitada sob a cama era eu mesma, contornei a cama para ter uma visão da poltrona, e me deparei com meu pai. Ele estava dormindo demonstrando um semblante cansado e abatido, no canto do quarto, sobre uma mesa baixa de cor branca se encontrava uma imagem de Nossa Senhora Aparecida e algumas velas flamejantes quase consumidas pelo fogo.

Certeza que foi minha mãe quem as colocou ali.

Na parede acima da cabeceira da cama um relógio digital com números vermelhos mostrava as horas. Eran 00:38. O que achei estranho quando adormeci em meu quarto o relógio marcava 22:10.

Do outro lado da cama havia alguns aparelhos hospitalares, monitores de batimentos cardíacos que também estranhei pelo fato de que em meu quarto não havia nenhum, e também pelo fato de estarem conectados em meu corpo. Uma máquina que mais parecia um aspirador que logo descobri se tratar de uma máquina de alimentação, um botijão de oxigênio também estava por perto, se ligava a mim por uma grossa mangueira que se conectava em uma máscara de inalação colocada sobre meu rosto.

Meu semblante era deplorável. Eu parecia uma múmia. Havia um corte profundo em minha testa que ainda estava em fase de cicatrização, o alto da cabeça estava envolta por faixas cirúrgicas.

O resto da cabeça estava desprovida de cabelo.

Segui a mangueira conectada a máquina de alimentação, ela passava pela máscara e entrava pela boca, depois segui os finos canos de oxigênio que foram introduzidos em minhas narinas.

— O que está acontecendo? Porque estou deitada nessa cama?- Questiono observando meu próprio corpo estendido sobre a cama.

— Desde o momento em que coloquei os dedos em sua testa seu copo está aqui nesse quarto.

— Isso é impossível.- Me manifestei antes que o homem ao meu lado terminasse.— Quando isso aconteceu?- Perguntei tentando encontrar algum raciocínio lógico.

— Depois que tirei você de seu corpo.

— Não faz sentido. Então você fez isso! Mas quando vi você pela primeira vez, ainda não tinha sofrido o acidente.

—Ainda não. Mas eu já sabia que iria acontecer. Eu tirei você dele e trouxe você para cá.- Fala apontando para meu corpo estendido sobre a cama.

— Mas até mais cedo eu estava acordada.- Falei.

— Sua alma Jeisa… Ela sim está acordada. Seu corpo está morto. Quando tirei você de seu corpo , seus quadro médico se agravou. Seu corpo foi submetido a uma outra cirurgia de emergência. Agora está em coma novamente..

— O ceifeiro tinha razão. Minha cabeça estava raspada por conta da cirurgia.

— Agora está fora do seu corpo, está vivendo sua vida no véu.

— Quer dizer que estou morta?

— Ainda não!- me corrige o ceifeiro.— sua morte se dará no momento em que sua alma for levada através da luz. Seu corpo perdera contato com sua alma e então... Bom! Você sabe.

— E o que de fato está acontecendo?

— Você...! Você é mais lerda que eu pensava.- fala o homen levando uma das mãos ao rosto.— Mas vou começar do princípio. Você sofreu o acidente, entrou em coma, saiu do coma, e passou por uma cirurgia. Estava se recuperando da primeira cirurgia quando tirei você de seu corpo, foi submetida a outra cirurgia de novo, durante a cirurgia teve duas paradas cardíacas, os médicos conseguiram reanimá-la mas, entrou em uma terceira e então entrou em coma e aqui estamos. Entendeu agora?

— Essa era a dinâmica? Mostrar que estou em coma? Prestes a morrer?

— Não. Mas faz parte. O que Quero exatamente é falar sobre seu futuro após a sua possível morte.

— Oi! Futuro após a morte? Possível morte? Quer dizer que não estou morta, mas vou estar?

— Ainda que não. Mas vai estar em breve.

— Más se…- Começo tentando encontrar as palavras certas.— Se meu corpo está nessa cama, agora estou em pé ao lado dele. Ou estou morta ou estou sonhando? Qual das duas coisas?- pergunto em quanto sentia um calafrio percorrer toda minha espinha.

— Nenhuma das duas, na verdade está no limbo, no véu.

— Limbo! Véu O que troço é esse?.- Pergunto.

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