Revendo Um Emte Querido

A brisa do vento agitava meu cabelo. À medida em que prestava atenção em cada detalhe do jardim e também se aproximava da casa, flashes de minha infância passavam pela cabeça.

A casa em questão reconheci de imediato, está pertencia a minha tia que faleceu alguns anos atrás. Por minha tia ser irmã de minha mãe, passei nesta casa a maior parte da minha infância e adolescência. E foi aqui que conheci a pessoa que mais amei.

Caminhei em direção a casa e subi quatro degraus de uma escada que levava até a varanda.

De frente a porta, bati com os nós dos dedos três ou quatro vezes, ninguém abriu. Gritei, pedi se alguém estava em casa, mas ninguém apareceu. Forcei a maçaneta mas a porta estava trancada.

Olhei em volta, o jardim também estava deserto. O vento balançava as flores e folhas de um Ipê amarelo próximo a casa, assim como o balanço pendurado no galho mais baixo. Me dirigi à janela, por entre a fresta da cortina pude ter uma pequena visão da sala de estar. Estava bem diferente do que era antes. Primeiro reparei na TV, que antes era de cubo, agora foi substituída por uma mais moderna de tela plana, cálculo esta ter de quarenta polegadas ou mais, o sofá que antes era pequeno e conseguia acomodar apenas quatro pessoas agora, foi substituído por um em forma de "L" com lugar para sete pessoas.

Uma estante de livros foi colocada em um canto da sala. O que mais me chamou a atenção foi uma mesa de centro entre a estante da TV e o sofá, sobre ela havia um pequeno cinzeiro repleto de restos de cigarros. O novo proprietário fumava, e fumava muito.

— Qual é o propósito disso?- Perguntei a mim mesma.

Em quanto procurava mais detalhes uma voz feminina surgiu trás de mim.

— Tem muita recordações dessa casa, não é...?

— Olha só! Se pretende me assustar, não irá conseguir. Ainda mais com voz feminina.- Rebato despreocupada, ainda olhando pela janela.

— Não estou com essa intenção. Se estivesse poderia fazer cócegas em você. Assim, desse jeito.- Ouço antes de sentir duas mãos em minhas costelas.

— Espera aí... Que acha que está fazendo?- Grito tentando me desvencilhar do toque que me causava cócegas. Quando me virei, encontrei minha tia.

— Tia!- Exclamo com felicidade ao ver de quem se tratava. Nós duas abrimos os braços para um abraço apertado.

— Que bom te ver Jeisa. Você está crescida, já se tornou uma mulher.- Repara minha tia me olhando de cima a baixo depois que nos soltamos

— Que aconteceu? Está com um semblante triste.- Termina colocando uma mecha de cabelo por de trás da minha orelha.

Permaneci calada prometendo a mim mesma que não iria desabar no choro.

— Lamento Jeisa. Lamento pelo que você está passando, se tivesse como impedir eu mesma faria. Sabe que tenho você como minha filha.

— Então sabe sobre o acidente? Sabe o que está acontecendo e o que acontecerá dentro de alguns dias?

Minha tia faz sim com a cabeça.

Em quanto eu baixo a minha.

— Jeisa… Querida!- Minha tia faz uma pausa como se fosse dizer algo.— Não estamos aqui para discutir sobre seu passado e sim sobre seu futuro.

— Vai me dar um sermão, por conta de meus erros? Se ficou esse tempo todo esperando por isso, a hora é essa, manda ver.- Falo baixando a cabeça ainda mais.

— Está muito desesperada Jeisa, relaxe. Até entendo. O que está sentindo, também senti. Precisa colocar tudo em seu devido lugar. Será uma questão de tempo para que entenda.- Explica me segurando pelos ombros.

— E você dona Eliana, quer dizer que preferiu ficar no limbo?- Pergunto levantando o olhar vagarosamente para encará-la.

— Não me olhe desse jeito dona Jeisa Santos. Parece que cometi um crime. fazendo isso! Fiz mal a alguém?

— Não...! Mal algum! O único mal feito foi a si mesma. Onde estava com a cabeça?- Minha tia solta sua respiração após ter dito isso.

— Acompanhe-me. Precisamos conversar.- Pede minha tia se colocando no primeiro degrau.— Explicarei tudo quando estivermos mais à vontade.- Termina avançando escada a baixo.

Saltei os quatro degraus e pousei sobre a grama do jardim. Caminhamos lado a lado pelo jardim até debaixo do Ipê, minha tia indica o balanço e pede que eu me sente nele.

Sentei no pequeno assento suspenso por duas cordas e segurei firme nelas.

— Esse balanço está aqui faz uma cota. Será que essas cordas vão aguentar?- Questiono olhando para elas.

— Fique tranquila, se arrebentar do chão não passará.- Rebate minha tia com ironia impulsionando o balanço para frente.

— Então. Por que ficou no limbo?- Pergunto com tom gentil.

— É uma longa história. Mas se resume a sua mãe.

— Há minha mãe... Porque?

— Quando éramos adolescentes brigava mos muito. Depois de uma certa idade compreendemos que nossas brigas eram por coisas supérfluas.

— Como por exemplo…?

— Coisas bobas. Como qual de nós duas Frequentava a melhor escola ou qual era a preferida de seus avós. Entre outras coisas.

— E qual era a preferida?

— Nenhuma. Tínhamos a mesma preferência. Sua mãe, sempre teve a imaginação mais fértil que a minha, nem por isso era a mais predileta. Não é por nada que se tornou uma escritora de sucesso.

—Tia… Com quantos anos minha mãe começou a escrever?

— Aos dezessete anos, mas só conseguiu publicar o primeiro livro aos vinte e três. No mesmo ano em que você nasceu. E ela quase não foi pra frente por sua causa.

— De certa forma eu sou culpada pelo quase fracasso de minha mãe?

— Não de jeito nenhum, isso até a inspirou. E também a deixava preocupada. Com as viagens de sua mãe, seu pai quase ficou maluco, seu mãe pensou em desistir da carreira mas, seu pai bateu de frente e a impediu.

— Devo imaginar, meu pai não vive sem minha mãe.- Comento inclinando-se para trás.

— Certamente. Seu pai não ficou lelé da cuca por conta disso.

— Por que então?

— Foi por sua causa.

— Lá vem de novo me dando como culpada, acho que seria bom se não tivesse nascido.- Falo.

— Por obséquio do destino você veio ao mundo.

— Por obséquio do destino, atrapalhei a vida deles.

— Querida! Você nunca atrapalhou a vida de ninguém. Apenas seu pai não tinha jeito e nem a paciência para ficar mais tempo no hospital de que em casa e trocar suas fraldas.

— Onde estava minha mãe nessas alturas?

— Viajando. Assinava mais capas de livros que um médico assina atestados.

— Por que não parou?

— Não convenceu seu amado papai. Certa vez seu pai ameaçou divórcio, se caso sua mãe abandonasse a carreira. O primeiro livro de sua mãe foi tão bem escrito que foi sucesso imediato. Ficava uma semana em casa e três em viagens pelo país dando autógrafos, arrecadando um bom dinheiro em cada lançamento. Outras obras vieram e a rotina continuou. Você completou cinco anos e sabe-se lá o porque, o problema que tinha, recuou.

— Meus pais dizem que era alergia a pólen.

— Talvez fosse. Na estação da primavera você piorava.

—O que aconteceu de pois. Depois dos meus cinco anos? Só tenho recordação após meus oito anos.

— Depois do sesto ano, como suas crises passaram e pareciam não retornar, me ofereci para cuidar de você, o prontamente seus pais aceitaram.

— E então passei o frequentar mais sua casa do que a minha.

— Até seus sete anos sim.

— Então foi apenas um ano? Pra mim foram vários.

— Que eu cuidei de você sim. Depois que completou sete anos, me visitava nos finais de semana.

— Porque até meus sete anos? Lembro-me que vinha nas férias do colégio e era raro mesmo o fim de semana que não passava com você.

— Justamente Jeisa. Depois dos seus sete anos, começou a estudar, mas não deixava de me visitar.

— Só a ponto de curiosidade. Desde criança conheço Eduardo?

— Conheceu Eduardo quando tinha oito anos.

— Lembro-me de poucas coisas sobre ele, antes dos meus oito ou nove anos.

— Isso porque não o conhecia.

— Para mim o conheci antes dos sete. Más recordo de pocos detalhes.

— Qual é a lembrança mais alegre?- Pergunta minha tia.

Forcei minha mente para encontrar alguma.

— Lembrança mais alegre…- Falo enquanto ainda procurava.

— Do dia que Eduardo fez esse balanço para mim.

— Imaginei que seria essa. Porque ficou tão feliz com uma coisa tão simples?

— Eduardo fazia tudo para me agradar. Alguns dias antes, tentei fazer um, mas não consegui. Só o que consegui foi uma dor na bunda que migrou subitamente para minhas costas dois ou três dias depois. Eduardo descobriu depois que fui parar na enfermaria do colégio sentindo dor nas costas. Em um dos final de semana que vim para sua casa o balanço estava pronto.

— Porque seu pai não lhe ajudou?

— Eu pedi. Ele estava ocupado, prometeu que assim que chegasse do trabalho atenderia meu pedido.

— E ele cumpriu com o prometido?

— Cumpriu sim. Na tarde daquele mesmo dia. Mas minha vontade ter um balanço tinha passado. Não é pra menos, depois de cair daquele balanço idiota.

— E você não contou nada aos seus pais que havia caído do balanço?

— Lógico que não. Eu tinha oito anos. Meu pai iria me dar uma surra. Boca fechada não entra mosquito.

— Mas acabou entrando uma mariposa alguns anos mais tarde desse fato.- Disse minha tia de sopetão segurando o balanço.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!