Confrontando o Doutor Evandro

Nada tinha mudado. Minhas pernas ainda estavam imobilizadas. Os Dias se passavam e Evandro não me visitava nem mesmo para saber como eu estava. Raquel continuou trazendo minhas refeições nos dias que se seguiram. Kátia aparecia as vezes para perguntar se eu estava disposta a passear pelo hospital. O que quase sempre estava me preparando ou já havia voltado do passeio acompanhada de Amanda. Visitei a cobertura do prédio acompanhada de Amanda mais duas vezes.

 Amanda pelo que parecia havia esquecido de seu plano para me salvar do ceifeiro, e aliás, o ceifeiro não voltou a me visitar durante um bom período, o que achei estranho.

  Quando Amanda acordou e contei a ela o que houve, pareceu não acredita e disse que passei por um sonho. Depois que Amanda me deixou sozinha, aproveitei que a cadeira se encontrava próximo a cama e com cuidado consegui me sentar. 

 Levei-me para o corredor e tomei o elevador rumo ao primeiro andar, onde sabia que se encontrava a recepção. 

 O elevador estacionou no terceiro andar, logo que as portas se abriram uma enfermeira entrou, a moça de cabelos pretos e olhos castanhos claros pareceu não notar minha presença, a comprimentei com um bom dia, ela não respondeu. Apenas quando entrou apertou o botão do sétimo andar e ficou o tempo todo de costas para mim. 

 Como entrei primeiro no elevador, o mesmo continuou decendo para o primeiro andar. Quando chegou ao meu destino as portas se abriram e enquanto me colocava para fora, vi a moça colocar metade do corpo para fora do elevador, certificando-se de que não avia ninguém. 

 Pela recepção do hospital havia muito movimento, movi minha cadeira de rodas por entre um grupo de pessoas reunidas em frente a mesa da recepção, podia ouvir perfeitamente o que diziam, o porém é que ninguém parecia me notar. 

 Um homem caucasiano de quase dois metros de altura estava a procura de uma garotinha, quando mostrou a foto e disse que era sua filha suspeitei que a menina deveria ter entre dez e doze anos. 

 Pela foto, a recepcionista não a reconheceu, mostrando a foto para outra moça ao lado também não obteve resposta, logo o homem alto falou alguma coisa. Me aproximei e a moça do outro lado da mesa repetiu as palavras do homem com mais clareza, então pude entender. 

 Camila Almeida. Era o nome da menina.

Observei o nome sendo digitado no computador, quanto ao resultado vários pacientes com o mesmo nome apareceram, mas ninguém com o mesmo sobrenome.

A recepcionista pede desculpas e o homem vira-se para ir em bora mas, antes questiona a moça sobre o endereço do IML mais próximo. Depois da indicação o homem vira-se e vai embora. 

 Continuo meu tuor pala recepção até dar de cara com Amanda. Para minha surpresa estava acompanhada de minha mãe. As duas estavam sentadas lado a lado com os cotovelos sobre os joelhos em frente a uma pequena mesa de frente a uma janela, pareciam estar preocupadas. Me aproximei e pensei que Amanda tinha percebido minha aproximação pois, assim que olhou em minha direção se levantou de um salto, o mesmo fez minha mãe. 

 Assim que fique frente a frente percebi que não se tratava de mim e sim de Evandro que se encontrava em minhas costas. 

— Dr. Evandro!- Começa minha mãe com semblante preocupado.

— Diga que tem notícias boas.- Completa Amanda.

— Vamos até minha sala.- Convida o médico. 

 Pensei em perguntar se poderia fazer parte da reunião, a princípio ninguém me notava ou fingia não me notar. Tomei a liberdade de acompanhar. 

 A enfermeira no elevador, talvez tivesse percebido minha presença mas estava em seu dia de mau humor. A recepcionista por estar concentrada no trabalho não percebeu que eu estava ali.

 Mas Amanda e minha mãe? Será que estavam me evitando?

 Segui Evandro, minha mãe e Amanda ao consultório do médico ainda no andar da recepção. O consultório ficava em uma outra ala, a ala de atendimento leves, era onde pacientes se consultava por qualquer coissa que não justifica-se uma internação. 

 O consultório tinha duas mesas e estantes de livros perfeitamente organizados, sobre a maior mesa se encontrava uma pequena placa que dizia: Dr. Evandro Bellisarius. Sobre a outra mesa havia apenas um computador e pilhas de papel e pastas. 

— Minha secretária pediu a manhã de folga. O que é uma pena.- Se queixa Evandro vasculhando a mesa da secretaria. 

 A mesa era ocupada por Kátia. Assim que Evandro encontrou o que procurava, se juntou a Amanda e minha mãe em sua mesa.

— Como disse.- Recomeça Evandro sentando-se atrás da mesa.— É uma pena que Kátia precisou sair. Pelo fato que a deixo a cargo dela monitorar e acompanhar a recuperação de meus pacientes.- Termina abrindo a pasta.

 No momento Esperava boas notícias, esperava que estivesse pronta para voltar para casa, ou algo do tipo. 

 Evandro prossegue com um suspiro.— A situação de Jeisa é delicada. Não obtemos sinais cerebrais já a algum tempo. Hoje completou exatamente cinco messes e oito dias de coma após a segunda cirurgia.

 Já havia ouvido essa frase em algum lugar. E o fato de Evandro dizer que estou em um coma serviu apenas para me deixar preocupada e confusa. 

— Ela tem alguma chance de sair do coma doutor?- Pergunta minha mãe. 

— Sim e não! Entre vinte e vinte e cinco porcento de chance. Porcentagem muito alta para alguém em coma todo esse tempo.- Diz Evandro cruzando os braços sobre a mesa.

— Não é minha intenção assustar os familiares de pacientes, espero que entenda dona Lilian. O que vou dizer talvez a deixe mais nervosa como mãe, assim tanto quanto preocupada. Em todos meus anos de neurocirurgião, nunca intendi como funciona um coma do lado dos pacientes, mas posso afirmar que em meio a esses dez anos, tive três pacientes que passaram por um coma de longo período, assim como jeisa está passando. O primeiro deles, tivemos que desligar os aparelhos a pedido dos familiares depois de dois anos. O segundo veio a óbito um ano e meio depois. O terceiro, o acompanho até hoje. Conseguiu sair de um coma de quatro anos mas, infelizmente com sequelas. Vive hoje em Salvador com a família, precisa de remédios para auxiliar a oxigenação do cerebelo. 

 Ao ouvir isso tentei chamar a atenção de todos na sala com um " OI! ESTOU BEM AQUI! ESTOU VIVA!." Ninguém ouviu e nem mesmo desviaram o olhar para olhar em minha direção. 

— Não a nada que possa ser feito?- Volta a perguntar minha mãe. 

— Na verdade sim. Estou trabalhando em um projeto da Universidade Federal do Paraná. 

 Comenta Evandro entregando uma folha do interior da pasta a minha mãe.— Esse projeto tem como fundamental objetivo trazer pessoas novamente a vida após um coma longo.

— Terapia cerebral.- Pergunta Amanda encarando Evandro com olhar desanimado.

— Como sabe?- Questiona Evandro. 

— Um dos livro que emprestou Jeisa relata partes do procedimento. 

— Você o leu? Achei improvável que fizesse isso. 

— Não só li como testei. Neuro-Epinose.- Fala Amanda revirando os olhos.— No capítulo quatro, um dos autores, chamado, Evandro Bellisarius se eu não me engano. 

 Evandro solta um breve sorriso de canto .

— Diz que se conversaremos com um paciente em coma, o mesmo pode ir retornando gradativamente. Tentei tudo o que está no livro desde que Jeisa entrou em coma. E ela não teve reação.- Termina Ana encarando ferozmente o médico do outro lado da mesa.

— Olha só…! Amanda, não é...

Amanda faz um gesto com a cabeça, o qual não consegui compreender. 

— O que está no livro.- Continua Evandro.- É apenas uma prévia do que é o projeto em si. Em bora devo lhe adiantar que esse processo em si é mais complexo. Há palavras chaves que devem ser usadas. Sem contar que podemos levar meses ou até mesmo ano para obtermos uma melhora significativa do paciente.

— Creio que haja controvérsias no projeto doutor. - Observa Amanda.

— Isso foi uma pergunta ou uma afirmação?- Questiona Evandro sobressaltado.

— Uma afirmação, meu caro doutor.- Rebata Amanda.

— Como pode afirmar. Como pode uma estudante que não chegou nem no final do princípio semestre da faculdade, e se me lembro, como disse a mãe de sua amiga, você faz engenharia civil, não tem nada a ver com medicina. Como pode contrariar uma legião de neurologistas? Esses com vários anos de experiência. 

— Pelo simples fato de o doutor Fernando F. Chaves dizer que mesmo os pacientes em estado de coma avançado podendo ouvir qualquer som presente no ambiente. 

— Essa é sua controvérsia?- Interrompe Evandro.- Creio que precise estudar mais. Ou até mesmo ler mais.- fala Evandro.

— Não preciso estudar medicina. Pelo que pude perseber. No capítulo dezoito o doutor José Roberto Borges, formado pela Universidade de Oxford diz que um paciente não pode ultrapassar as dimensões de som. Podem ouvir mas não podem responder. Então como pretendem trazer um paciente de volta apenas na conversa?

— Onde está querendo chegar moça?- Pergunta Evandro debruçando se sobre a mesa.

— Estou querendo chegar no ponto onde minha amiga está em coma nesse maldito hospital a quase meio ano. Então vem o senhor querendo usá-la como cobaia de um experimento maluco.- Fala Amanda de um salto espalmando a mesa com violência. O que fez minha mãe dar um salto na cadeira. 

— Está bem. Se não sabe onde quer chegar, eu quero! E sei onde eu quero chegar ! Ou é isso ou desligamos os aparelhos, é claro! com a autorização dos familiares. 

— O senhor doutor...- Amanda faz uma breve pausa.— O senhor Precisa do quarto?- Pergunta Amanda, logo em seguida cruzando as pernas de forma elegante. 

— No momento não!- Gesticula o médico com a cabeça.

— Então. Acho que não há motivo para que seja aplicada a eutanásia. 

— No Brasil não se é permitida a prática da eutanásia, sabia disso!- Rebate o médico imediatamente.

— Desligar os aparelhos é o que então? Compaixão?

— Prefiro ver como um descanso para a família e principalmente ao paciente. Se optar por não desligar os aparelhos, ao menos por em quanto. 

— Como esta sua UTI dois doutor?- Fala Amanda interrompendo Evandro e depois apanhando uma das canetas do porta caneta sobre a mesa. 

 Nunca tinha visto Amanda tomar qualquer atitude parecida com aquela, uma mistura de raiva. Liderança e sabedoria. parecia perfeitamente saber o que estava fazendo. 

— Bom!...-Começa o médico se agitando na cadeira. 

— A UTI dois está completa. Temos poucos leitos mesmo na UTI um. 

— Quero saber se alguém está na fila por um leito.- Interrompe Amanda outra vez.

— Não.- Nega Evandro prontamente.— Mas sabe como é! Atemdemos boa parte do estado. Qualquer momento pode seguir pacientes.

Completa Evandro coçando o maxilar. 

— Ninguém na fila. O que significa que aqueles aparelhos que mantém minha amiga viva Continuaram ligados. 

— Como queira. Os familiares têm total arbítrio em meu hospital. Mas também aprecio a fraqueza. Por isso lhes digo. Sua amiga não tem potencial muito menos possibilidades de sobrevivência. 

 Amanda faz um positivo com o polegar.

— Melhor assim. Fique com suas teorias que ficarei com as minhas.-Diz Amanda antes de se levantar e se dirigir para a porta.

Evandro olha para minha mãe do outro lado da mesa com olhar de fraqueza. Após uma breve respiração se dirige a ela

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