S/N
Lentamente, me torno consciente dos acontecimentos recentes. Não me atrevo a abrir os olhos, pois estranhamente me sinto confortável, deitada em algo macio. Me aninho ainda mais e me apego na sensação. Embora, não devesse me sentir assim ao dormir no chão, mas está tão bom que não quero me levantar. Solto um gemido frustante quando viro a minha cabeça e decido que não posso dormir até tarde, eu nunca o fizera antes.
Assim que abro os olhos, encontro um par de olhos claros me encarando. Assustada, me levanto num pulo.
— Aí... – Esfrego a testa com a dor que se instala ao bater bruscamente contra a cabeça de König.
— Você é sempre tão desastrada assim? – Ele parece bravo, enquanto, ao meu lado, estica o seu corpo.
— Eu? – O olho indignada. — A culpa é sua! O que estava fazendo aí?
Minhas bochechas coram e o sangue sobe a minha cabeça quando olho para as suas coxas e percebo que eu estava deitada com a cabeça lá. Por que tempo eu estive assim?
— Huh... – König, sério, se levanta enquanto ajeita sua blusa preta agarrada ao corpo e evita me olhar. — Eu só queria me certificar que você não iria ter um torcicolo pela manhã dormindo em cima desse papelão imundo. Seria descontado do meu salário...
Ele praticamente sussurra a última parte. Franzo o cenho e ajeito as minhas roupas, enquanto a imagem dos seus olhos me fitando intensamente retorna a minha mente. Há quanto tempo ele estava me encarando daquela forma?
A porta do telhado é aberta e ambos olhamos praticamente juntos quando um senhor, no auge dos seus sessenta anos aparece, vestido como segurando, carregando uma lanterna na cintura e um taser do outro lado.
Ele rapidamente nota a nossa presença e se apressa até nós.
— Seus marginais! – O senhor vocifera. — Então são vocês que invadem o prédio sempre? Eu os peguei no flagra!
— Nos desculpe, a gente... – Tento contestar, mas sou interrompida por ele.
König, não baixa a guarda, como se em qualquer instante, esse senhor pudesse nos fazer algum mal, e não duvido muito que faria, embora sua idade não o favoreça tanto assim.
— Vão procurar um hotel!
— O-o quê? C-como? – Engasgo com as palavras. — Nós não...
— E você está tentando me intimidar só porque é alto e usa esse visual? – Ele praticamente levanta a cabeça para encarar König, já que o senhor é alguns centímetros menor do que eu.
König não diz nada e só cruza os braços.
— Saiam daqui, antes que eu chame a polícia!
— T-tudo bem...
Sem pensar muito, pego a mão de König e praticamente corro para descer às escadas do prédio, enquanto o homem só anda atrás de mim, deixando meu esforço parecer ridículo com apenas isso.
— Essa foi por pouco. – Suspiro e me sento num canteiro de flores enquanto retomo a respiração. — Não posso continuar fugindo assim, essa vida não é para mim.
— Não deveria ser dessa forma. – König diz como se soubesse que algo não está certo.
— O que quer dizer com isso? – Indago, um pouco perplexa com as suas palavras.
— Na cabana, deveríamos ir direto para o ponto de encontro com o meu superior e tirar você do país.
— D-do país? Eu não vou sair do país, principalmente com você e o seu grupo que ao menos sei se são terroristas.
— Nós te salvamos. Se quisessemos fazer mal à você, já teríamos o feito.
— Meio difícil de acreditar quando está na minha posição. Você já foi traficado alguma vez?
Sem uma resposta, recebo apenas um grunhido mau humorado de König.
— O que devemos fazer agora?
— Esperar.
— Esperar? Já estou há dias sem dormir numa cama confortável, minha bunda está dolorida de tanto ficar no chão duro.
— Deite na grama.
— Vá se foder, König. – Bufo em frustração.
No mesmo instante, minha barriga ronca em protesto e só neste instante me lembro que não como há um bom tempo. Deito a cabeça nos meus braços e choramingo.
— Fique aqui, já volto. – Ele apenas diz, e quando levanto a minha cabeça novamente, König já não está mais lá.
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— Aqui, toma.
Me assusto quando König arremessa uma garrafinha de suco e três sanduíches de peito de frango natural em cima de mim, embrulhados na mesma embalagem.
— Não poderia ser mais delicado? – O repreendo.
— Apenas coma.
— De qualquer forma... Obrigada. – Digo timidamente e começo a abrir a embalagem.
König se senta ao meu lado e observa enquanto levo o sanduíche à boca e dou uma grande mordida. Solto um suspiro de tão delicioso que está, mas se bem que eu poderia comer até pedra neste momento, estou faminta!
Com pouco mais de cinco mordidas, o primeiro sanduíche acaba, e logo parto para o segundo, bebendo uma grande parte do suco de laranja da garrafinha. König não tira os olhos de mim enquanto como, e parecendo notar que o eu olho de volta, ele desvia o olhar.
— Sua nojenta. – Ele diz ao perceber que sujei até os dedos.
Franzo o cenho e praguejo mentalmente. Como pode ser tão atraente e ao mesmo tempo insuportável?
— Oh... – Estendo o sanduíche. — Você quer?
König recusa.
— Você não comeu nada.
— Eu comi antes de voltar aqui.
— Tem certeza? – Indago, talvez, preocupada com ele.
Penso, um homem desse tamanho precisa de muitas calorias por dia para se manter em forma, e não digo só do tamanho.
Assim que König assente, volto a comer o sanduíche.
— Você não costuma falar muito. – Digo.
Seu olhar recai novamente em mim.
— É o primeiro homem que passa mais de uma hora comigo sem me encher de perguntas e cantadas.
— E quem seria o louco?
Lhe dou o dedo do meio.
— Para a sua informação, muitos homens me pagariam para estar no seu lugar.
— Não sabia que além de cantora, você também era prostituta.
Abro a boca em surpresa.
— Que babaca. – Termino mais um sanduíche rapidamente, já estando mais satisfeita e pegando o terceiro, já conseguindo comer como uma pessoa normal e não um animal.
— Mas talvez você tenha razão. – Com um sopro, sorrio nasalmente. — Digo, não da parte da prostituição...
Escuto König rir baixo, o que me causa uma sensação estranha no estômago, como se fossem malditas borboletas voando no mesmo. Embora tenha durado menos de um segundo, foi o suficiente para marcar a minha mente com o som de sua risada baixa.
— Sobre... A parte de alguém se apaixonar por mim. – Bebo mais um gole do suco. — As pessoas só se aproximavam por interesse, isso era nítido.
König fica em silêncio enquanto seus olhos percorrem toda extensão do meu rosto.
— Acabei de completar dezoito anos e sinto como se ainda fosse ingênua, e talvez eu seja. – Sorrio amargamente. — Você... Me acha ingênua?
Um silêncio ensurdecedor se estende por mais tempo do que eu gostaria, e por mais que eu me corroa por dentro por desejar mais do que o normal, em escutar a sua resposta, me retenho com as palavras.
Seus olhos se fixam nos meus lábios enquanto minha respiração parece engatar, neste segundo, estamos próximos, tão próximos que poderia sentir a sua pele quente sem ao menos trocá-lo. Desejo saber tanto quem é o o homem por baixo do capuz, que tem me protegido desde o início. Embora seja metódico e um babaca as vezes, não posso deixar de confessar que me sinto bem ao seu lado, e estou sorrindo mais com ele do que sorria antes.
Me aproximo lentamente, enquanto, aos poucos, levo a minha mão até o seu capuz, o olhando nos olhos, esperando que König me pare a qualquer momento, mas não, ele permite que eu me aproxima o suficiente até sentir o pano espesso do tecido preto que cobre o seu rosto e pescoço, que o mantém em mistério até de mim. Meu coração galopa no meu peito enquanto a ansiedade só cresce a cada segundo.
Um milhão de cenários se criam na minha mente com uma esperança de finalmente ver o seu rosto. E quando finalmente vou levantar aos poucos, König enrijece o corpo, seus músculos ficam tensos e sua postura se eleva.
— Vamos embora. – Ele diz, enquanto seu olhar está fixo em algo atrás de mim.
Olho para trás, mas não vejo ninguém.
— O que houve? – O questiono, enquanto junto as minhas coisas e me apresso para segui-lo.
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Atualizado até capítulo 54
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