S/N
A luz suave do camarim destacava o brilho de meu vestido deslumbrante, enquanto o zumbido distante da festa de gala se infiltrava pelas paredes. Minha mãe, com olhos carregados de preocupação, adentrou o aposento.
— Querida, você está radiante esta noite! – Ela começou, seus olhos buscando os meus, que permaneciam no meu reflexo à minha frente.
— Obrigada... – Forço um sorriso, enquanto reúno toda a coragem que mantinha presa na garganta, justamente pelo medo de decepciona-la. — Mãe... – A chamo.
Enquanto arrumava as alças do meu vestido, branco perolado, que seguia até os tornozelos, revelando saltos brancos com detalhes em dourado, ela levanta o seu olhar em minha direção. Me viro, pegando as suas mãos.
— Já faz um tempo que gostaria de conversar sobre isso, mas não sabia qual era o melhor momento.
Curiosidade paira no seu semblante, talvez, dúvida. A bela mulher, com os seus cabelos loiros, olhos azuis, onde uma carregada maquiagem cobre os seus sulcos e linhas de expressões do tempo, lhe dá um ar mais jovial. Henryetta, usa um vestido verde escuro, que realça as poucas curvas que tem, assim como os seus cabelos estão presos num coque firme, com algumas mechas soltas.
— Este será o meu último show. – Entrego, contente e orgulhosa comigo mesma por tomar essa decisão.
Já faz um tempo desde que completei dezoito anos, quem administra a minha carreira e cuida de toda a minha fortuna, é a minha mãe. Já cheguei a comentar uma vez sobre desistir dos palcos, mas para Henryetta, isso está fora de cogitação.
— Decidi que vou fazer faculdade de medicina... – Ela se mantém em silêncio, mas não me tenho com as palavras, continuo. — Eu decidi que quero fazer parte de uma equipe americana dos médicos sem fronteiras.
— M-médicos sem fronteiras? – Henryetta solta a minha mão, me olhando totalmente horrorizada, como se eu acabasse de dizer que me drogo e sou prostituta. — Só pode estar brincando!
Ela se afasta, sua expressão se contraindo em surpresa, misturada com um toque de tristeza, enquanto se senta num diva próximo e pega uma taça com espumante, bebendo um gole curto.
— Eu quero ajudar pessoas, mamãe.
— Você não pode deixar todo o seu futuro brilhante como cantora, para ficar... Só Deus sabe onde.
Abracei-me, sentindo o peso da decisão.
— África. Quero viajar pelo continente...
— África? – Ela franze a testa, a incredulidade pintada em seu rosto. — Um lugar insalubre, a extrema pobreza, pessoas com doenças que podem mata-la num piscar de olhos. Eu jamais permitiria que saísse dos Estados Unidos para morar naquele... Lugarzinho!
Os olhos dela imploravam, e eu hesitei. — Mamãe, não quero decepcioná-la, mas eu não sei se posso continuar.
Henryetta se levanta, deixando o espumante de lado e se aproximando de mim. Com um toque gentil, ela segurou meu rosto.
— Apenas cante nesta noite, e depois de hoje, seu destino estará unicamente nas suas mãos... Não me decepcione, S/n!
Seus olhos concentrados nos meus. Hesitação, confusão, tristeza pelas suas palavras duras, tudo me atingia com mais força, uma terrível violência que me lembrava o porque eu estou aqui, porque Henryetta sempre decidiu tudo por mim, desde as minhas aulas de cantos, até a minha rotina diária, treinos, depilações a laser - Para me manter bonita e lisa na frente das câmeras - Eventos, e tudo que este mundo poderia me proporcionar. Mas não havia nada que eu pudesse fazer, eu estava tão perdida quando já estive.
Num misto de relutância e amor filial, concordei, sabendo que a estrada à frente seria árdua. A festa aguardava lá fora, mas dentro do camarim, um dilema persistia. A decisão de ceder às circunstâncias do meu sonho ou permanecer fiel à melodia que, afinal, era minha verdadeira essência. Com o coração ainda pesado da conversa, saí do camarim adornado e adentrei o corredor iluminado. O vestido fluía com cada passo, uma cascata de seda que sussurrava elegância. O murmulho distante da festa parecia crescer à medida que me aproximava do palco na grandiosa mansão.
Atravessando as portas duplas, fui envolvida pelo resplendor de holofotes e o calor da multidão ansiosa. Sob a cúpula grandiosa, os olhares dos convidados se voltaram para mim, enquanto a expectativa pairava no ar. A orquestra começou a tocar, e eu me entreguei à melodia. A suavidade da minha voz envolvia cada canto da sala, preenchendo o espaço com uma doce melancolia. Cada nota parecia um fragmento da minha alma, desafiando as sombras que ameaçavam me envolver. O público, inicialmente contido, cedeu à magia da música. Olhares atentos se transformaram em sorrisos, e corações foram tocados pela vulnerabilidade da canção. Sob os holofotes, descobri uma força renovada, uma resiliência inspirada na conversa nos bastidores.
E quando a música se aproximava do fim, um estrondo ecoa pelo grande salão, deixando todos atordoados.
— TODO MUNDO PRO CHÃO!!! – Um homem mascarado entra, enquanto, com uma grande arma que suponho ser um fuzil, começa a atirar para cima.
O caos se instalou na festa luxuosa quando mais homens mascarados invadiam por todas as entradas e saídas possíveis, desencadeando o pânico entre os convidados. O som dos disparos ecoava, mergulhando a mansão em um frenesi de medo. Desesperada, procurei minha mãe na multidão tumultuada, mas sua figura estava perdida entre rostos apavorados. Sem tempo a perder, meus passos guiaram-me para longe do epicentro do tumulto. O vestido esvoaçava enquanto corria pelos corredores, buscando uma saída segura. Cada explosão ecoava como um lembrete sinistro do perigo iminente.
Tropeço nos meus saltos, entre as barras do meu vestido longo, mas nada disso me impede de correr. O que está acontecendo? Meu Deus!
Minha mente ronda entre assalto e atentado, mas nada parece fazer sentido no momento. Entre sombras e cortinas, alcancei uma porta lateral e, sem olhar para trás, mergulhei na noite inquieta. A mansão, um refúgio de glamour transformado em palco de caos, ficava para trás enquanto eu corria, buscando segurança em meio à incerteza e à escuridão da noite.
Percebo que cheguei ao estacionamento. Muitas pessoas entravam nos seus carros de luxo e se retiravam as pressas, enquanto outras claramente não tiveram a mesma sorte. Corro entre os carros, procurando uma forma de fuga ou alguém que consiga me ajudar, mas quando me aproximo de um conversível, sinto mãos me agarrar com força, enquanto me puxa contra o seu corpo.
— Te achei!
O terror me atinge quando eu consigo me virar e notar que os homens mascarados estão aqui, enquanto se reúnem à minha volta.
Droga!
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Atualizado até capítulo 54
Comments
Milena Barbosa
nosaa bem interresante ameiiii/Whimper/
2024-07-21
1
Bruna Carolina
iniciando bem interessante.
2024-06-13
2
Butterfly
Gostei muito. A cena envolve🤔
2024-05-08
1