S/N
Acordei sentindo os primeiros raios fracos de sol atravessando a janela e tocando meu rosto. O ambiente ainda estava frio, mas o estranho não estava mais na sala. Olhei ao redor, percebendo que nada daquilo fora um sonho. A realidade da cabana, da fuga da festa invadida e da presença enigmática do desconhecido se desdobravam diante de mim, como vestígios de uma noite intensa que desafiava a lógica.
Me levantei, enquanto colocava o meu pé com cuidado no chão de madeira fria e empoeirada. Gemidos baixos me escapavam pela dor que se instalava novamente, mas em comparação a ontem, está bem melhor.
Sigo até à porta e tento abri-la, mas a mesma está trancava, me tirando um suspiro desagradável. As janelas também estavam fechadas, algumas emperradas e outras trancadas com cadeados, como se realmente fosse um cativeiro. Olho em volta, agora, com a luz natural do dia, observando melhor a cabana. Um espaço pequeno, com detalhes minimalistas.
Quadros exibiam fotos de pessoas desconhecidas nas paredes, misturadas com sujeira e manchas que pareciam ser de sangue, mas resolvi ignorar esse fato. Seguindo em frente, encontrei um pequeno banheiro com um sanitário, uma pia, um espelho e uma banheira de madeira no canto.
Aproximei-me do espelho, limpando a poeira para analisar meu reflexo. A imagem refletida revelava os vestígios da noite anterior, cabelos desgrenhados, roupas amassadas e um olhar que carregava a intensidade de experiências recentes. Meus olhos estão fundos e a maquiagem toda borrada. Abro a torneira e o alívio me toma quando percebo que a mesma ainda possuí água.
Limpo todo o meu rosto, o meu pescoço e toda a sujeira que antes impregnava na minha pele. Fitei minha imagem no espelho, os traços já limpos, enquanto a reflexão me transportava para o turbilhão de eventos que mudaram drasticamente minha vida em questão de segundos. Homens mascarados, agora sem vida, traçaram meu destino numa festa luxuosa que se tornou um palco de terror.
Enquanto a intensidade dos acontecimentos se desenrolava em minha mente, um barulho de porta se abrindo quebrou o silêncio do banheiro. Num instante, saí daquele espaço confinado e retornei à sala da cabana. Lá estava ele, o homem encapuzado que eu tanto temia.
Em suas mãos, ele carrega duas sacolas. Onde ele parece me analisar de cima a baixo enquanto se aproxima. Recuo, com certo receio, mas ele apenas estende o braço e me entrega. Olho dentro das mesmas, percebendo que em uma é comida e na outra são algumas mudas de roupas.
— O-obrigada... – Digo, mas ele apenas se vira, pronto para, novamente, me deixar no escuro. — Ei...
O chamo, fazendo o mesmo parar de andar.
— Qual é o seu nome? – Indago, já esperando que ele não responda.
— König... – Ele apenas entrega, enquanto abre a porta e retorna a sair da cabana.
Um suspiro de decepção me escapa, mas ao menos descobri o seu nome, e isso já se torna o suficiente para mim...
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Visto a blusa preta com uma jaqueta lululemon por cima, juntamente com a calça parecida com legging, todas a peças pretas. Não é como as roupas de marca que eu costumava usar antes, mas é extremamente confortável e quente.
Saio do pequeno quarto, enquanto me aproximo da janela da sala, olhando para o lado de fora. Vejo alguns pingos da chuva de ontem que ainda cai do telhado da cabana e das folhas das árvores, mas a vista que realmente chama a minha atenção, é de König que carrega algumas madeira e começa a corta-las. Meus olhos vagueiam pelo seu corpo, e a curiosidade de descobrir o que ele esconde por trás da máscara me deixa ainda mais curiosa e aflita, mesmo sabendo que deveria temer pela minha vida sem realmente conhecê-lo e entender qual é a sua ligação com tudo que está acontecendo comigo.
Me aproximo da porta, enquanto pego na maçaneta e percebo que a mesma está aberta. Saio da cabana, andando na sua direção. Assim que ele percebe a minha presença, seu olhar sobe pelo meu corpo, parecendo analisar.
— Como sabia o meu tamanho? – Indago.
— A etiqueta no vestido.
Franzo o cenho, enquanto tento me lembrar do momento que ele conseguiu perceber este detalhe. König continua cortando as madeiras, onde as mesmas parecem meio úmidas.
— Você é do exército? – Indago.
Ele me ignora.
— Olha... Você pode ficar o resto do dia sem falar comigo, mas eu preciso saber o porquê eu estou aqui! – Me aproximo, o olhando seriamente.
Ele continua cortando as madeiras, sem me olhar.
— König! – O chamo pelo seu nome, finalmente levantando o seu olhar, soltando a machadinha e se aproximando.
— Você foi vendida.
— O quê? – Confusa, questiono. — C-como assim, vendida?
— Alguém vendeu você por uma quantia bem alta, e agora estão te caçando.
Me afasto e me sento num tronco de árvore caído, enquanto passo a mão pelos meus cabelos e fitando o chão, sem acreditar numa só palavra do que ele diz.
— I-isso não pode ser verdade, você deve estar enganado. Não dá para comprar alguém como se fosse uma mercadoria!
— Não é muito difícil de fazer isso quando a sua vida é exposta nas mídias, quando sabem cada passo seu, sua rotina, os seus compromissos, quem você é e com quem você anda.
Indignada, deixo o meu rosto cair sobre as minhas mãos, enquanto meus olhos ficam marejados com a confusão e medo repentino.
— P-por quantos...? – Indago.
König se mantém em silêncio, enquanto sinto seu olhar ainda em mim.
— Por quantos eu estou sendo... – Analiso bem as palavras antes de continuar, sentindo a bile subindo ao pensar que isso realmente seja verdade. — Vendida...?
— Duzentos e cinquenta. – Ele apenas entrega, me deixando atordoada.
— Duzentos e cinquenta dólares? – A indignação predomina a minha face.
— Milhões... Duzentos e cinquenta milhões de euros.
— Meu Deus...
Enquanto König se abaixa e recolhe as madeiras cortadas, ele passa por mim, enquanto para ao meu lado e logo diz:
— Vamos entrar, não é seguro para você aqui fora.
Sem muitas alternativas, acabo me levantando, ponderando um pouco nas suas palavras.
Não é seguro...
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Atualizado até capítulo 54
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