S/N
Os cabelos longos e soltos dançavam no vento enquanto eu corria desesperadamente pela floresta, cada fio tornando-se cúmplice dos galhos que cruzavam meu caminho. Os saltos, agora embaraçados no barro molhado, pareciam lutar contra a natureza densa do terreno, desafiando minha fuga.
Cada passo era uma batalha, mas a determinação mantinha-me em movimento. O som agudo de galhos quebrando sob meus pés ecoava na escuridão, enquanto eu me lançava ainda mais fundo na floresta. A incerteza do que ficava para trás e o temor do desconhecido à frente impulsionavam-me, transformando cada passo em uma busca frenética pela liberdade, mesmo que os obstáculos da natureza se interponham no meu caminho.
Eu não conseguia parar para retomar a respiração, meu coração, já agitado, gritava com um grande ponto de exclamação de que eu seria a próxima. Ele iria me matar junto com aqueles homens, eu seria a próxima vítima e talvez o meu corpo nunca fosse encontrado. Quanto mais me afasto, mais sinto que ele está vindo atrás de mim, mesmo não o vendo quando olho para trás de soslaio, mesmo não o escutando, quando todos os meus sentidos parecem aguçar para garantir a minha sobrevivência.
Quando volto a minha atenção para frente, sem perceber, acabo enroscando o pé em algo. Perco o equilíbrio, e o mundo gira antes de eu colidir com o solo úmido. A dor aguda no tornozelo fez-me gemer, enquanto eu choramingo com lágrimas solitárias que escapam dos meus olhos.
Desço o meu olhar, vendo a minha pele ganhando uma tonalidade roxa por baixo da tira que prende o meu salto. Quando tento me levantar, um par de pés aparece no meu campo de visão, me fazendo praguejar baixo enquanto eu subo lentamente o meu olhar, dando de cara com o homem encapuzado e gigante. Ele me analisa, com uma expressão indecifrável, já que o seu rosto é impossível de se enxergar.
— E-eu vou ligar para a polícia se você me tocar e...
Antes que eu termine de dizer algo, ele simplesmente se abaixa e me pega bruscamente, enquanto me joga por cima do seu ombro como um saco leve de batatas. O xingo e esmurrou as suas costas da forma que eu posso, mas ele parece não ceder, já que seu corpo é rígido como uma enorme parede de músculos.
— Socorro! — Grito, enquanto ele me carrega pela floresta.
Tudo está virado ao contrário e a única visão que eu tenho é da suas costas, onde eu reúno todas as forças que eu consigo reunir para atingi-lo com golpes. Em vão.
Não demora muito até voltarmos para a rodovia de antes, consigo ver os corpos ainda jogados no chão, a poça avermelhada era lavada pela chuva que limpava o cenário trágico e sanguinário. O enjôo toma conta de mim enquanto luto para desviar o meu olhar. Ele caminha mais um pouco e logo me coloca no chão, atrás de mim, há um carro preto, grande, militarizado. Sob o olhar atento do homem encapuzado, meu corpo tremia não apenas pela chuva que se dissipava, mas pelo frio que a incerteza trazia consigo e o nervosismo de estar frente a frente com um verdadeiro assassino.
Seu olhar analítico, penetrante, parecia decifrar mais do que minhas expressões. A vulnerabilidade estampada em meu rosto contrastava com a impassividade do encapuzado. Em meio à tensão silenciosa, a única certeza era que a noite ainda guardava segredos que, por enquanto, permaneciam selados na obscuridade do desconhecido.
— Não me machuque, por favor... — Suplico, enquanto tento encontrar um porcento de patia no seu olhar gélido.
O homem logo se abaixa, me ignorando totalmente. Com um puxão bruco no meu pé, ele analisa o roxo do meu tornozelo, enquanto levanta o seu olhar e aperta em alguns locais, como se quisesse ver as minhas expressões.
Não me movo, enquanto seus dedos gelados parecem me tocar com mais gentileza do que antes, me fazendo tremer sob o seu toque.
— Não está quebrado... — Ele finalmente fala, em inglês, mas com um leve sotaque.
Penso que talvez ele irá me ajudar, mas o que vem a seguir me deixa desconcertada.
— Mas se você tentar fugir de novo, garota. Eu quebro os seus dois tornozelos. — Ele diz tão seriamente que acabo engolindo seco.
Eu não o conheço, mas tenho uma ideia do que ele seja capaz... Olho para os corpos atrás do mesmo.
Como se essas fossem as suas últimas palavras, ele se aproxima de mim, tão próximo que sinto a sua respiração através do capuz. Coloco as duas mãos no seu peito e o empurro, enquanto tento manter uma distância entre os nossos corpos.
— O-o que está fazendo?
Assim que escuto um clique atrás de mim, percebo... A porta, ele estava abrindo a porta do carro. O constrangimento me atinge com violência, deixando as minhas bochechas corarem de maneira ridícula.
O homem se afasta e da a volta no veículo, enquanto abre a porta do motorista e logo entra. Cogito a ideia de fugir, novamente, mas o seu olhar sério em mim é como se alertasse "Tente novamente que eu a alcançarei e cumprirei aquilo que disse minutos atrás."
A chuva se torna mais intensa, meu tornozelo lateja de dor enquanto eu não consigo pensar num plano de fuga. A ideia é tentadora demais, mas com o pé deste jeito e com esses saltos ridículos só me mostraram que eu não irei muito longe. Suspiro, apenas entrando no carro e fechando a porta ao meu lado.
— Você vai me sequestrar? — Indago, apenas querendo saber o que acontecerá comigo a partir daqui.
Ele não responde, apenas liga o carro e dá partida, enquanto se afasta do cenário digno de filme de terror, onde consigo ver de relance pelo retrovisor ao meu lado.
Deus... O que está acontecendo?!
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Atualizado até capítulo 54
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