Capítulo 6: Laços improváveis

S/N

O cheiro de mofo logo invade o meu olfato, assim como meu olhar capta as muitas teias de aranhas espalhadas pelo teto e alguns móveis empoeirados. Ele caminha até um sofá próximo, com lugar para duas pessoas, e me coloca sentada nele, com a perna esticada.

— Eu não acredito que estamos invadindo uma propriedade privada... Você sabe que isso da processo e cadeia de até dez anos!

Ele olha em volta, como se procurasse algo, ignorando totalmente as minhas palavras, um costume dele. Ele quebra o silêncio ao se virar e sair da cabana por alguns minutos. Quando retorna, carrega algumas madeiras cortadas, como se alguém tivesse previamente preparado o local para ser usado. Seus passos decididos o conduzem até a lareira à minha frente, onde ele despeja as madeiras. O som seco ecoa na cabana silenciosa, pontuando a atmosfera.

Ele tira um isqueiro de um dos bolsos. O pequeno objeto se ilumina, e ele tenta acender as madeiras na lareira. O som crepitante começa a preencher o espaço, trazendo calor e luz para o refúgio antes sombrio. As chamas criam sombras que dançam pelas paredes, sinto-me envolvida pela dualidade do momento. O calor reconfortante da lareira contrasta com a frieza do desconhecido que ainda paira no ar, me fazendo abraçar o meu próprio corpo.

Péssimo dia para usar um vestido decotado e aberto nas costas...

Noto o estado do mesmo, que antes, era branco perolado, agora se encontra sujo e totalmente encharcado. Tento tirar os soltos dos meus pés, mas a dor é instintiva, me fazendo soltar um gemido baixo.

O homem se levanta e com o seu olhar em mim, se aproxima. Com as suas mãos grandes, ele segura o meu pé, numa tentativa falha de manter a delicadeza ao manusear para não graduar a dor que se espalha através da coloração roxa na minha pele.

Ele se ajoelha na minha frente. Numa tentativa falha de soltar a alça que prende o salto no fecho, a frustração se apodera dele. Num impulso de impaciência, ele retira uma faca de um coldre, cortando as alças com gestos abruptos. As alças soltas agora pendem, e sinto o peso dos saltos sendo libertado. Ele permanece ajoelhado, uma aura de desconforto permeando o ar, enquanto o ato impulsivo revela uma parte de sua frustração que até então permanecia oculta.

Os nossos olhares se encontram, a tensão entre nós mais palpável do que nunca. Ainda de joelhos, ele parece esperar, como se o gesto abrupto fosse mais do que simplesmente liberar meus pés.

Seus dedos mantêm a minha pele num aperto firme, uma conexão estranhamente intensa parece surgir entre nós. Uma aura indefinida envolve a minha mente, que parece nos atrair de maneira absurda e inevitável. Não sei o seu nome, tampouco vislumbrei seu rosto, e ainda assim, ele surgiu como uma sombra protetora, um estranho em meio ao caos que me retirou de um sequestro iminente.

Meus pais, envolvidos na invasão à festa, são a única certeza que tenho neste momento tumultuado, no entanto, ao menos sei se estão vivos ou mortos, e isso me parte o coração. Mas, em vez de buscar uma fuga, me vejo aqui, sentada num sofá velho, encarando olhos que carregam uma periculosidade latente. Cada respiração parece ecoar no espaço reduzido, enquanto a tensão entre nós permanece suspensa no ar.

Em vez de sentir medo, surge uma curiosidade inesperada, uma necessidade urgente de compreender o que se esconde por trás do capuz que oculta sua identidade. Este encontro imprevisível torna-se um labirinto de incertezas, onde as escolhas desafiam a lógica e as respostas permanecem distantes.

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Comments

Phillip Shakespeare

Phillip Shakespeare

viciado na história

2024-05-07

3

Phillip Shakespeare

Phillip Shakespeare

eita

2024-05-07

1

Ver todos
Capítulos
1 Avisos
2 Capítulo 1: Nos bastidores
3 Capítulo 2: O sequestro
4 Capítulo 3: Kortac
5 Capítulo 4: A dança da liberdade
6 Capítulo 5: A cabana
7 Capítulo 6: Laços improváveis
8 Capítulo 7: A solidão da liberdade
9 Capítulo 8: A verdade
10 Capítulo 9: Os sussurros da noite
11 Capítulo 10: Noite de revelação
12 Capítulo 11: O peso das escolhas
13 Capítulo 12: De volta ao início
14 Imagem
15 Capítulo 13: Meia-noite
16 Capítulo 14: O peso da culpa
17 Capítulo 15: A vista dos sentimentos
18 Capítulo 16: A corrosão da ansiedade
19 Capítulo 17: O combustível do desejo
20 Capítulo 18: Incoveniente
21 Capítulo 19: Experiência
22 Capítulo 20: Sonho ou pesadelo?
23 Capítulo 21: Pé na estrada
24 Capítulo 22: Fuga
25 Capítulo 23: Acidentes acontecem
26 Capítulo 24: Se arriscando
27 Capítulo 25: E se...
28 Capítulo 26: Fugir ou ficar?
29 Capítulo 27: O fim da Kortac?
30 Capítulo 28: No meio do nada
31 Capítulo 29: A primeira lua
32 Capítulo 30: O retorno
33 Capítulo 31: Mundos opostos
34 Capítulo 32: Quarto de hotel
35 Capítulo 33: A realidade machuca
36 Capítulo 34: De volta ao lar
37 Capítulo 35: Interrogatório
38 Capítulo 36: De volta à rotina
39 Capítulo 37: Um novo motivo para continuar
40 Capítulo 38: O jantar sangrento
41 Capítulo 39: Reprimindo
42 Capítulo 40: Bem-vindos ao Um-quatro-um
43 Capítulo 41: O passado ainda queima
44 Capítulo 42: Fantasma do passado
45 Capítulo 43: Sentimentos vazios
46 Capítulo 44: A última ligação
47 Capítulo 45: Sonhos vazios, pesadelos conscientes
48 Capítulo 46: A realidade assusta
49 Capítulo 47: A esperança é a última que morre
50 Capítulo 48: Apostando a confiança
51 Capítulo 49: L' asta
52 Capítulo 50: O inesperado acontece
53 Capítulo 51: Cara a cara com o diabo
54 Capítulo 52: Revelações surpreendentes
Capítulos

Atualizado até capítulo 54

1
Avisos
2
Capítulo 1: Nos bastidores
3
Capítulo 2: O sequestro
4
Capítulo 3: Kortac
5
Capítulo 4: A dança da liberdade
6
Capítulo 5: A cabana
7
Capítulo 6: Laços improváveis
8
Capítulo 7: A solidão da liberdade
9
Capítulo 8: A verdade
10
Capítulo 9: Os sussurros da noite
11
Capítulo 10: Noite de revelação
12
Capítulo 11: O peso das escolhas
13
Capítulo 12: De volta ao início
14
Imagem
15
Capítulo 13: Meia-noite
16
Capítulo 14: O peso da culpa
17
Capítulo 15: A vista dos sentimentos
18
Capítulo 16: A corrosão da ansiedade
19
Capítulo 17: O combustível do desejo
20
Capítulo 18: Incoveniente
21
Capítulo 19: Experiência
22
Capítulo 20: Sonho ou pesadelo?
23
Capítulo 21: Pé na estrada
24
Capítulo 22: Fuga
25
Capítulo 23: Acidentes acontecem
26
Capítulo 24: Se arriscando
27
Capítulo 25: E se...
28
Capítulo 26: Fugir ou ficar?
29
Capítulo 27: O fim da Kortac?
30
Capítulo 28: No meio do nada
31
Capítulo 29: A primeira lua
32
Capítulo 30: O retorno
33
Capítulo 31: Mundos opostos
34
Capítulo 32: Quarto de hotel
35
Capítulo 33: A realidade machuca
36
Capítulo 34: De volta ao lar
37
Capítulo 35: Interrogatório
38
Capítulo 36: De volta à rotina
39
Capítulo 37: Um novo motivo para continuar
40
Capítulo 38: O jantar sangrento
41
Capítulo 39: Reprimindo
42
Capítulo 40: Bem-vindos ao Um-quatro-um
43
Capítulo 41: O passado ainda queima
44
Capítulo 42: Fantasma do passado
45
Capítulo 43: Sentimentos vazios
46
Capítulo 44: A última ligação
47
Capítulo 45: Sonhos vazios, pesadelos conscientes
48
Capítulo 46: A realidade assusta
49
Capítulo 47: A esperança é a última que morre
50
Capítulo 48: Apostando a confiança
51
Capítulo 49: L' asta
52
Capítulo 50: O inesperado acontece
53
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Capítulo 52: Revelações surpreendentes

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