S/N
O cheiro de mofo logo invade o meu olfato, assim como meu olhar capta as muitas teias de aranhas espalhadas pelo teto e alguns móveis empoeirados. Ele caminha até um sofá próximo, com lugar para duas pessoas, e me coloca sentada nele, com a perna esticada.
— Eu não acredito que estamos invadindo uma propriedade privada... Você sabe que isso da processo e cadeia de até dez anos!
Ele olha em volta, como se procurasse algo, ignorando totalmente as minhas palavras, um costume dele. Ele quebra o silêncio ao se virar e sair da cabana por alguns minutos. Quando retorna, carrega algumas madeiras cortadas, como se alguém tivesse previamente preparado o local para ser usado. Seus passos decididos o conduzem até a lareira à minha frente, onde ele despeja as madeiras. O som seco ecoa na cabana silenciosa, pontuando a atmosfera.
Ele tira um isqueiro de um dos bolsos. O pequeno objeto se ilumina, e ele tenta acender as madeiras na lareira. O som crepitante começa a preencher o espaço, trazendo calor e luz para o refúgio antes sombrio. As chamas criam sombras que dançam pelas paredes, sinto-me envolvida pela dualidade do momento. O calor reconfortante da lareira contrasta com a frieza do desconhecido que ainda paira no ar, me fazendo abraçar o meu próprio corpo.
Péssimo dia para usar um vestido decotado e aberto nas costas...
Noto o estado do mesmo, que antes, era branco perolado, agora se encontra sujo e totalmente encharcado. Tento tirar os soltos dos meus pés, mas a dor é instintiva, me fazendo soltar um gemido baixo.
O homem se levanta e com o seu olhar em mim, se aproxima. Com as suas mãos grandes, ele segura o meu pé, numa tentativa falha de manter a delicadeza ao manusear para não graduar a dor que se espalha através da coloração roxa na minha pele.
Ele se ajoelha na minha frente. Numa tentativa falha de soltar a alça que prende o salto no fecho, a frustração se apodera dele. Num impulso de impaciência, ele retira uma faca de um coldre, cortando as alças com gestos abruptos. As alças soltas agora pendem, e sinto o peso dos saltos sendo libertado. Ele permanece ajoelhado, uma aura de desconforto permeando o ar, enquanto o ato impulsivo revela uma parte de sua frustração que até então permanecia oculta.
Os nossos olhares se encontram, a tensão entre nós mais palpável do que nunca. Ainda de joelhos, ele parece esperar, como se o gesto abrupto fosse mais do que simplesmente liberar meus pés.
Seus dedos mantêm a minha pele num aperto firme, uma conexão estranhamente intensa parece surgir entre nós. Uma aura indefinida envolve a minha mente, que parece nos atrair de maneira absurda e inevitável. Não sei o seu nome, tampouco vislumbrei seu rosto, e ainda assim, ele surgiu como uma sombra protetora, um estranho em meio ao caos que me retirou de um sequestro iminente.
Meus pais, envolvidos na invasão à festa, são a única certeza que tenho neste momento tumultuado, no entanto, ao menos sei se estão vivos ou mortos, e isso me parte o coração. Mas, em vez de buscar uma fuga, me vejo aqui, sentada num sofá velho, encarando olhos que carregam uma periculosidade latente. Cada respiração parece ecoar no espaço reduzido, enquanto a tensão entre nós permanece suspensa no ar.
Em vez de sentir medo, surge uma curiosidade inesperada, uma necessidade urgente de compreender o que se esconde por trás do capuz que oculta sua identidade. Este encontro imprevisível torna-se um labirinto de incertezas, onde as escolhas desafiam a lógica e as respostas permanecem distantes.
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Atualizado até capítulo 54
Comments
Phillip Shakespeare
viciado na história
2024-05-07
3
Phillip Shakespeare
eita
2024-05-07
1