S/N
Sentada no interior do carro, observo os pingos grossos da chuva deslizando pelo vidro da janela. Cada gota parece carregar consigo um mistério que se mistura à minha própria confusão. O homem encapuzado, concentra-se na estrada à frente, enquanto a paisagem encharcada se desdobra diante de nós.
O som monótono da chuva cria uma atmosfera de suspense, ecoando meus pensamentos inquietos. Olho para fora, tentando decifrar os traços da noite encharcada, mas a visão é obscurecida pelas gotas persistentes. A água escorre pelo vidro, quase como lágrimas da própria tempestade, ecoando as emoções turbulentas que permeiam este capítulo desconcertante da minha vida. Enquanto o homem encapuzado dirige em silêncio, evitando trocar qualquer tipo de palavra ou olhar, isso me deixa inquieta, aflita.
O tédio se mistura à inquietação enquanto tento encontrar alguma clareza na confusão que me envolve. A saudade de casa se manifesta silenciosamente, e a necessidade de entender as razões por trás da tentativa de sequestro cresce dentro de mim como uma chama inquieta. Respiro fundo e decido arriscar, interrompendo o silêncio tenso que paira no interior do carro.
— Para onde estamos indo? Quem eram aqueles homens e por que eles tentaram me sequestrar? – Minhas palavras são lançadas no ar, carregadas de uma ansiedade que mal consigo esconder. Quero respostas, quero entender, mas o homem encapuzado mantém-se impassível ao volante.
Ele responde, mas suas palavras são como breves sussurros, cortando o ar com seu leve sotaque.
— Cale a boca.
A repreensão é curta, mas eficaz, ecoando na cabine do carro. O silêncio que se segue é quase tangível, carregado de tensão. Minhas perguntas inquisitivas encontram um muro de resistência, e a resposta fria me deixa ainda mais perplexa. Tento ler alguma expressão em seu rosto, mas o capuz e a escuridão conspiram para esconder seus sentimentos. A estrada molhada continua a se desdobrar diante de nós, e, com as perguntas ainda pairando no ar, sou obrigada a aceitar o desconhecido que se desenrola nesta jornada imprevisível.
Não sei se são minutos ou horas que se passam, mas me rendi ao cansaço e frio. Meus olhos se fecharam lentamente e o banco do carro era a única coisa que poderia me esquentar, mas juro sentir algo sento colocado em cima do meu corpo enquanto tinha meus últimos segundos de lucidez. E aquilo, era quente...
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Os meus olhos se abrem lentamente, revelando uma realidade que inicialmente parecia um pesadelo distante. Ainda no carro, ao lado do homem encapuzado, a perplexidade se intensifica. Enquanto finjo estar adormecida, minha atenção é capturada pela cadência ininteligível da língua alemã que flui de sua conversa no que parece ser um telefone descartável.
Cada palavra é um enigma inaudível, um código que se perde na barreira linguística. Faço um esforço consciente para não revelar minha consciência, pois cada sílaba pronunciada parece uma peça crucial do quebra-cabeça do meu destino. No entanto, a barreira da língua, intransponível neste momento, deixa-me à mercê das sombras do desconhecido.
Sigo deitada, atenta aos sons verbalizados por ele, enquanto o carro avança pela estrada molhada. O sotaque claramente alemão, antes estranho e inalcançável, agora se torna um obstáculo adicional na busca por respostas. Mas ele termina as suas palavras com um estalar do aparelho e o guarda rapidamente no porta-luvas.
Abro lentamente um olho, percebendo que estamos adentrando numa estrada de terra que segue para dentro da mata fechada e escura, o medo me atinge ainda mais ao imaginar o que ele pode fazer comigo neste lugar. No entanto, apenas me mantenho em silêncio, não querendo estragar o meu disfarce.
A medida que as rodas deslizam pelo barro molhado, percebo uma pequena cabana que se aproxima cada vez mais. O veículo para de se mover, enquanto percebo que ele estacionou. A cabana pequena, perdida e marcada pelos sinais do abandono, atrai meu olhar curioso. A chuva forte confere um ar melancólico à cena, e a pergunta persiste em minha mente: por que estamos aqui? O homem encapuzado sai do carro, enfrentando a tempestade como uma figura impenetrável.
Observo através da janela embaçada enquanto ele contorna o veículo e abre a porta do passageiro. A chuva escorre por seu capuz, conferindo-lhe uma aura ainda mais enigmática. A hesitação dança em meus pensamentos.
— E-eu vou ficar aqui... – Digo, enquanto não me movo.
Impaciente, ele se aproxima para claramente me tirar a força de dentro do veículo, mas levanto as mãos em sinal de rendição.
— Tudo bem. Eu vou!
Com um suspiro profundo, preparo-me para enfrentar o exterior, enquanto retiro a jaqueta de tins escuros de cima do meu colo, onde nem havia percebido a mesma antes. Assim que coloco o meu corpo para fora, a chuva envolve-me como uma benção impessoal. O passo vacilante que me conduz para fora do carro é um mergulho na incerteza, sob o olhar do encapuzado que parece não querer me perder de vista.
Tento andar com os meus saltos que se mergulham no lamaçal, mas apenas fico presa, e o meu tornozelo roxo não facilita muito, tirando um gemido de dor que me escapa quando apoio o meu pé no chão. O toque repentino me pega de surpresa quando o homem, impaciente, decide me carregar nos braços como se fosse uma noiva. Sinto os músculos firmes sob as camadas de pano que o envolve, uma sensação que atravessa a barreira da minha reserva, me deixando constrangida.
Ele avança pela chuva, seus passos confiantes e sem esforço que conduz nós dois, enquanto eu tento ignorar a consciência aguda da proximidade física. Chegamos à porta da cabana, ele a abre com a ponta do pé, sem perder o ritmo. Envergonhada com o contato imprevisto, seguro-me nele, tentando afastar os pensamentos que se insinuam.
A entrada na cabana é como atravessar uma fronteira desconhecida. Seus passos seguros me depositam no interior do espaço rústico e misterioso. O pouco calor da cabana contrasta com a fria umidade da chuva lá fora, mas a tensão entre nós permanece.
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Atualizado até capítulo 54
Comments
Phillip Shakespeare
muito bom me apaixonei pela história
2024-05-06
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