Capítulo 9: Os sussurros da noite

S/N

A noite já caiu, mas o sono não encontra morada em meus olhos. Levanto-me da pequena cama, envolta apenas por um cobertor fino, e sigo pelo corredor silencioso até a sala. A lareira, antes acesa, agora se apagou, deixando a escuridão se apossar do ambiente.

Ao adentrar a sala, me deparo com König deitado no sofá, imóvel como uma estátua na penumbra. Seus olhos parecem cerrados, respirando calmamente. Aproximo-me com cautela, atentando-me para não fazer barulho sobre as tábuas meio apodrecidas do chão. A quietude da cabana é apenas interrompida pelo sussurro da noite lá fora e pela respiração serena de König, um contraste intrigante em meio à incerteza que nos envolve.

Seu braço esquerdo está depositado atrás da cabeça, enquanto o direito em cima da sua barriga, enquanto juro assistir de soslaio o brilho de uma lâmina na sua mão, como se a qualquer momento ele precisasse usar, intrigando-me mais ainda. Noto que em dos seus bolsos está o celular descartável, o pensamento de contatar a minha família ou até mesmo a polícia me atravessa o pensamento, me fazendo perceber que a cada segundo, estou mais perto do homem. Minhas palmas das mãos já estão suando frio, enquanto meu coração galopa fortemente no meu peito, deixando-me aflita com o pensamento de que ele consiga escutar os ritmos frenéticos do pulsar insistente.

Assim que a minha mão se aproxima do seu bolso e os meus dedos tocam na camada lisa do pequeno aparelho, a surpresa e o medo explodem num grito estridente. A mão firme de König envolve meu pulso, puxando-me com força e me prensando no sofá abaixo dele. Sua lâmina repousa no meu pescoço, um frio agudo cortando a pele, enquanto seus olhos, mais intensos do que antes, encontram os meus.

O silêncio na cabana parece ensurdecedor, apenas quebrado pelo pulsar acelerado do meu coração. Cada respiração é uma nota de tensão, enquanto o homem encapuzado, cujo semblante permanece nas sombras, me confronta com uma intensidade intimidadora. A incerteza paira no ar, e meu destino parece suspenso na lâmina que repousa contra minha pele, uma fina linha entre o desconhecido e o perigo iminente.

— Que merda você pensa que está fazendo? — Ele praticamente rosna em cima de mim.

— Eu preciso falar com os meus pais, ter a certeza de que estão bem e...

—Mas que porra! — Ele retira a lâmina do meu pescoço, mas não se afasta.

— Você não pode me culpar por simplesmente me preocupar com as pessoas que eu amo. — Grito de volta. — Eles com certeza acham que eu morri, não tenho sinal deles e ao menos sei onde eu estou e que merda eu estou fazendo aqui!

— Eu estou te protegendo, porra! — Ele devolve as palavras num gesto agressivo.

— Eu não preciso da sua proteção! — Empurro os seus ombros, enquanto, ainda me encontro alterada. — Eu não preciso ficar presa nesse lugar que fede a mofo e comer feijão velho com você!

As lágrimas inundam os meus olhos, enquanto König não deixa de me fitar por um segundo sequer.

— Eu apenas quero voltar para casa. Eu estou exausta, confusa e correndo mais perigo com você, aqui, no meio do nada!

Enquanto distribuo socos pelo seu peito, onde não parece afeta-lo em momento algum, König pega os meus pulsos e segura acima da minha cabeça, aproximando o seu rosto do meu, deixando o seu corpo me prensar ainda mais contra o estofado antigo do sofá. Minha respiração engata quando sinto essa aproximação súbita.

— M-me solta... — Uma lágrima solitária escapa do meu olho, enquanto não desvio o olhar do seu por um segundo sequer.

— Acha que a polícia vai te salvar, garota? — Seus olhos alternam em cada um dos meus, parecendo que ele não quer perder uma expressão sequer neste momento. — Acha que eles são mais confiáveis do que eu? Se a porra de uma farda e um distintivo significa mais do que isso para você...

Com uma das mãos livre, ele enfia a mão na parte de trás do seu coldre, pegando uma faca totalmente ensanguentada e trazendo no meu campo de visão, deixando-me atordoada e assustada.

— Você está f*dida, garota. — Ele entrega, enquanto deixa a faca cair no pé do sofá, não desviando os seus olhos dos meus.

— A polícia é um dos principais cúmplices em tráfico humano.

Incrédula, não consigo ao menos piscar.

— Não sabe o mínimo que aceitariam se o seu comprador oferecesse, e você, garota... Está valendo muito!

— Eu não acredito em você!

— Eu não preciso que você acredite em mim, eu não me importo com isso. — Seus dedos apertam ainda mais os meus pulsos, mas o choque de suas palavras dói mais do que a sua força física, e creio que não esteja a usando totalmente. — Você vai ficar nessa cabana até que eu receba segundas ordens, e vai fazer o que eu mandar.

— Vá para o inferno!

— Se você tentar fugir, eu vou atrás de você... — Ele continua, ignorando as minhas tentativas de desvencilho dos seus dedos.

Suas palavras parecem mais sérias a cada segundo, me trazendo um arrepio pela espinha enquanto me mantenho à sua mercê.

— E eu vou te encontrar, seja enfiada em qualquer buraco dessa floresta...

Seus dedos se apertam mais nos meus pulsos, como se só as suas palavras não fossem um alerta bom o suficiente.

— Ou se você estiver montada numa árvore, eu vou atrás. E quando eu te trazer de voltar para essa p*rra de cabana, eu farei você se arrepender de me dar mais trabalho do que eu já tinha antes...

Com isso, ele me solta bruscamente e se afasta, me deixando totalmente atordoada e sem reação. As palavras me fugiram e eu apenas fico deitada no estofado do sofá, ponderando no que acabara de acontecer.

Capítulos
1 Avisos
2 Capítulo 1: Nos bastidores
3 Capítulo 2: O sequestro
4 Capítulo 3: Kortac
5 Capítulo 4: A dança da liberdade
6 Capítulo 5: A cabana
7 Capítulo 6: Laços improváveis
8 Capítulo 7: A solidão da liberdade
9 Capítulo 8: A verdade
10 Capítulo 9: Os sussurros da noite
11 Capítulo 10: Noite de revelação
12 Capítulo 11: O peso das escolhas
13 Capítulo 12: De volta ao início
14 Imagem
15 Capítulo 13: Meia-noite
16 Capítulo 14: O peso da culpa
17 Capítulo 15: A vista dos sentimentos
18 Capítulo 16: A corrosão da ansiedade
19 Capítulo 17: O combustível do desejo
20 Capítulo 18: Incoveniente
21 Capítulo 19: Experiência
22 Capítulo 20: Sonho ou pesadelo?
23 Capítulo 21: Pé na estrada
24 Capítulo 22: Fuga
25 Capítulo 23: Acidentes acontecem
26 Capítulo 24: Se arriscando
27 Capítulo 25: E se...
28 Capítulo 26: Fugir ou ficar?
29 Capítulo 27: O fim da Kortac?
30 Capítulo 28: No meio do nada
31 Capítulo 29: A primeira lua
32 Capítulo 30: O retorno
33 Capítulo 31: Mundos opostos
34 Capítulo 32: Quarto de hotel
35 Capítulo 33: A realidade machuca
36 Capítulo 34: De volta ao lar
37 Capítulo 35: Interrogatório
38 Capítulo 36: De volta à rotina
39 Capítulo 37: Um novo motivo para continuar
40 Capítulo 38: O jantar sangrento
41 Capítulo 39: Reprimindo
42 Capítulo 40: Bem-vindos ao Um-quatro-um
43 Capítulo 41: O passado ainda queima
44 Capítulo 42: Fantasma do passado
45 Capítulo 43: Sentimentos vazios
46 Capítulo 44: A última ligação
47 Capítulo 45: Sonhos vazios, pesadelos conscientes
48 Capítulo 46: A realidade assusta
49 Capítulo 47: A esperança é a última que morre
50 Capítulo 48: Apostando a confiança
51 Capítulo 49: L' asta
52 Capítulo 50: O inesperado acontece
53 Capítulo 51: Cara a cara com o diabo
54 Capítulo 52: Revelações surpreendentes
Capítulos

Atualizado até capítulo 54

1
Avisos
2
Capítulo 1: Nos bastidores
3
Capítulo 2: O sequestro
4
Capítulo 3: Kortac
5
Capítulo 4: A dança da liberdade
6
Capítulo 5: A cabana
7
Capítulo 6: Laços improváveis
8
Capítulo 7: A solidão da liberdade
9
Capítulo 8: A verdade
10
Capítulo 9: Os sussurros da noite
11
Capítulo 10: Noite de revelação
12
Capítulo 11: O peso das escolhas
13
Capítulo 12: De volta ao início
14
Imagem
15
Capítulo 13: Meia-noite
16
Capítulo 14: O peso da culpa
17
Capítulo 15: A vista dos sentimentos
18
Capítulo 16: A corrosão da ansiedade
19
Capítulo 17: O combustível do desejo
20
Capítulo 18: Incoveniente
21
Capítulo 19: Experiência
22
Capítulo 20: Sonho ou pesadelo?
23
Capítulo 21: Pé na estrada
24
Capítulo 22: Fuga
25
Capítulo 23: Acidentes acontecem
26
Capítulo 24: Se arriscando
27
Capítulo 25: E se...
28
Capítulo 26: Fugir ou ficar?
29
Capítulo 27: O fim da Kortac?
30
Capítulo 28: No meio do nada
31
Capítulo 29: A primeira lua
32
Capítulo 30: O retorno
33
Capítulo 31: Mundos opostos
34
Capítulo 32: Quarto de hotel
35
Capítulo 33: A realidade machuca
36
Capítulo 34: De volta ao lar
37
Capítulo 35: Interrogatório
38
Capítulo 36: De volta à rotina
39
Capítulo 37: Um novo motivo para continuar
40
Capítulo 38: O jantar sangrento
41
Capítulo 39: Reprimindo
42
Capítulo 40: Bem-vindos ao Um-quatro-um
43
Capítulo 41: O passado ainda queima
44
Capítulo 42: Fantasma do passado
45
Capítulo 43: Sentimentos vazios
46
Capítulo 44: A última ligação
47
Capítulo 45: Sonhos vazios, pesadelos conscientes
48
Capítulo 46: A realidade assusta
49
Capítulo 47: A esperança é a última que morre
50
Capítulo 48: Apostando a confiança
51
Capítulo 49: L' asta
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Capítulo 50: O inesperado acontece
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Capítulo 51: Cara a cara com o diabo
54
Capítulo 52: Revelações surpreendentes

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