S/N
A noite já caiu, mas o sono não encontra morada em meus olhos. Levanto-me da pequena cama, envolta apenas por um cobertor fino, e sigo pelo corredor silencioso até a sala. A lareira, antes acesa, agora se apagou, deixando a escuridão se apossar do ambiente.
Ao adentrar a sala, me deparo com König deitado no sofá, imóvel como uma estátua na penumbra. Seus olhos parecem cerrados, respirando calmamente. Aproximo-me com cautela, atentando-me para não fazer barulho sobre as tábuas meio apodrecidas do chão. A quietude da cabana é apenas interrompida pelo sussurro da noite lá fora e pela respiração serena de König, um contraste intrigante em meio à incerteza que nos envolve.
Seu braço esquerdo está depositado atrás da cabeça, enquanto o direito em cima da sua barriga, enquanto juro assistir de soslaio o brilho de uma lâmina na sua mão, como se a qualquer momento ele precisasse usar, intrigando-me mais ainda. Noto que em dos seus bolsos está o celular descartável, o pensamento de contatar a minha família ou até mesmo a polícia me atravessa o pensamento, me fazendo perceber que a cada segundo, estou mais perto do homem. Minhas palmas das mãos já estão suando frio, enquanto meu coração galopa fortemente no meu peito, deixando-me aflita com o pensamento de que ele consiga escutar os ritmos frenéticos do pulsar insistente.
Assim que a minha mão se aproxima do seu bolso e os meus dedos tocam na camada lisa do pequeno aparelho, a surpresa e o medo explodem num grito estridente. A mão firme de König envolve meu pulso, puxando-me com força e me prensando no sofá abaixo dele. Sua lâmina repousa no meu pescoço, um frio agudo cortando a pele, enquanto seus olhos, mais intensos do que antes, encontram os meus.
O silêncio na cabana parece ensurdecedor, apenas quebrado pelo pulsar acelerado do meu coração. Cada respiração é uma nota de tensão, enquanto o homem encapuzado, cujo semblante permanece nas sombras, me confronta com uma intensidade intimidadora. A incerteza paira no ar, e meu destino parece suspenso na lâmina que repousa contra minha pele, uma fina linha entre o desconhecido e o perigo iminente.
— Que merda você pensa que está fazendo? — Ele praticamente rosna em cima de mim.
— Eu preciso falar com os meus pais, ter a certeza de que estão bem e...
—Mas que porra! — Ele retira a lâmina do meu pescoço, mas não se afasta.
— Você não pode me culpar por simplesmente me preocupar com as pessoas que eu amo. — Grito de volta. — Eles com certeza acham que eu morri, não tenho sinal deles e ao menos sei onde eu estou e que merda eu estou fazendo aqui!
— Eu estou te protegendo, porra! — Ele devolve as palavras num gesto agressivo.
— Eu não preciso da sua proteção! — Empurro os seus ombros, enquanto, ainda me encontro alterada. — Eu não preciso ficar presa nesse lugar que fede a mofo e comer feijão velho com você!
As lágrimas inundam os meus olhos, enquanto König não deixa de me fitar por um segundo sequer.
— Eu apenas quero voltar para casa. Eu estou exausta, confusa e correndo mais perigo com você, aqui, no meio do nada!
Enquanto distribuo socos pelo seu peito, onde não parece afeta-lo em momento algum, König pega os meus pulsos e segura acima da minha cabeça, aproximando o seu rosto do meu, deixando o seu corpo me prensar ainda mais contra o estofado antigo do sofá. Minha respiração engata quando sinto essa aproximação súbita.
— M-me solta... — Uma lágrima solitária escapa do meu olho, enquanto não desvio o olhar do seu por um segundo sequer.
— Acha que a polícia vai te salvar, garota? — Seus olhos alternam em cada um dos meus, parecendo que ele não quer perder uma expressão sequer neste momento. — Acha que eles são mais confiáveis do que eu? Se a porra de uma farda e um distintivo significa mais do que isso para você...
Com uma das mãos livre, ele enfia a mão na parte de trás do seu coldre, pegando uma faca totalmente ensanguentada e trazendo no meu campo de visão, deixando-me atordoada e assustada.
— Você está f*dida, garota. — Ele entrega, enquanto deixa a faca cair no pé do sofá, não desviando os seus olhos dos meus.
— A polícia é um dos principais cúmplices em tráfico humano.
Incrédula, não consigo ao menos piscar.
— Não sabe o mínimo que aceitariam se o seu comprador oferecesse, e você, garota... Está valendo muito!
— Eu não acredito em você!
— Eu não preciso que você acredite em mim, eu não me importo com isso. — Seus dedos apertam ainda mais os meus pulsos, mas o choque de suas palavras dói mais do que a sua força física, e creio que não esteja a usando totalmente. — Você vai ficar nessa cabana até que eu receba segundas ordens, e vai fazer o que eu mandar.
— Vá para o inferno!
— Se você tentar fugir, eu vou atrás de você... — Ele continua, ignorando as minhas tentativas de desvencilho dos seus dedos.
Suas palavras parecem mais sérias a cada segundo, me trazendo um arrepio pela espinha enquanto me mantenho à sua mercê.
— E eu vou te encontrar, seja enfiada em qualquer buraco dessa floresta...
Seus dedos se apertam mais nos meus pulsos, como se só as suas palavras não fossem um alerta bom o suficiente.
— Ou se você estiver montada numa árvore, eu vou atrás. E quando eu te trazer de voltar para essa p*rra de cabana, eu farei você se arrepender de me dar mais trabalho do que eu já tinha antes...
Com isso, ele me solta bruscamente e se afasta, me deixando totalmente atordoada e sem reação. As palavras me fugiram e eu apenas fico deitada no estofado do sofá, ponderando no que acabara de acontecer.
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Atualizado até capítulo 54
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