Capítulo 11: Conhecendo o sogro

Olhei-me no espelho uma última vez, vestido vermelho, um salto elegante, e a boca bem marcada com um batom também vermelho. Antes de sair senti que faltava algo, o colar dado por Gabriel. Com a ajuda da minha mãe, consegui colocá-lo.

— Você está linda, filha! — ela tinha lagrimas nos olhos.

Suspiro abraçando-a. Esse era o momento em que tudo se tornaria oficial.

Estou pronta pra conhecer meu sogro.

(...)

— Então você é a moça que laçou o coração de Gabriel? — Don Alejandro trajava uma postura de homem sério, intocável. Ele causava mais medo do que o próprio filho; no fim das contas, vemos bem a quem Gabriel puxou.

— Sou sim senhor. — ergui o queixo mostrando confiança. Não deixarei nenhum Castillo me oprimir.

O mais velho olhou-me de cima a baixo com desconfiança. Pouco me importa o que ele pensa a respeito, no contrato dizia que teria que casar com Castillo, e não que teria que agradar seu pai. Já estou fazendo muito compactuando com toda essa palhaçada.

— Vamos nos sentar. — disse Gabriel, com a mão em minha cintura. A propósito, ele estava lindo, usava um terno azul-escuro, e os cabelos pretos estavam bem arrepiados.

A sala de jantar da família Castillo estava impecável, com a luz suave das velas refletindo nos talheres de prata e nas taças de cristal.

— Sinceramente, estou achando tudo isso muito estranho. — o “meu sogro” esfregou a mão no queixo nos observando. — Até uma semana atrás meu filho não queria sequer ouvir falar de casamento, e hoje está aqui apresentando a senhorita como noiva.

Dou uma olhada singela para Gabriel, como um pedido de socorro. Ele apertou a minha coxa por debaixo da mesa. Confesso que me assustei com o movimento, mas então percebi que era apenas um pedido para que me acalmasse.

— Papai, já conversamos sobre isso...

— Não importa, quero saber sobre a jovem. — ele me olhava fixamente, acredito que esperando o momento em que eu vacilar.

— Não há muito o que saber sobre mim, tenho vinte e três anos e dirijo a Olimpos ao lado do meu irmão.

— Há quanto tempo se conhecem? Como já estão noivos, acredito que a bastante tempo.

Velho patético.

Era como se ele soubesse que tudo isso era uma fachada, como se quisesse esfregar na minha cara que estou casando com um completo estranho.

— Pai, o senhor vai assusta-la dessa maneira. — ele estava assustado, por mais imponente que Gabriel fosse, estava nítido o quanto o pai o intimidava.

— Quieto! Deixe a moça falar. — o velho juntou as sobrancelhas encarando o filho.

Segurei a mão de Gabriel sobre a mesa, e ele estava gelado. — Tudo bem querido, ele só está curioso...

O jantar se seguiu assim, com Don Alejandro nos enchendo de perguntas, e olha, eu merecia um Oscar pela minha atuação.

Meu sogro me olhou com intensidade, seus olhos buscando mais do que minha aparência. — Amihan, é um prazer conhecê-la. — ele disse, com uma formalidade que não escondia seu escrutínio. No entanto era a primeira vez naquela noite que me tratou pelo meu nome. — Espero que compreenda a importância do compromisso que está assumindo ao se unir à nossa família.

Eu senti a pressão de suas palavras, mas não vacilei. — Compreendo, Don Alejandro, e estou pronta para honrar e respeitar os valores que esta família representa. —  respondi, minha voz carregada de uma convicção que eu esperava ser suficiente.

Gabriel apertou minha mão, um sinal silencioso de aprovação. — Amihan é uma mulher extraordinária, pai. Sua inteligência e força são apenas algumas das qualidades que admiro nela. — ele disse, olhando para mim com um respeito que esperava ser recíproco.

Finalmente, após o que pareceu uma eternidade, o jantar terminou. Don Alejandro se levantou, lançando um último olhar inquisitivo em minha direção antes de se dirigir ao escritório com Gabriel. Fiquei alguns segundos sozinha à mesa, recuperando a compostura. Decidi tomar um ar e fui para a varanda.

Enquanto observava a noite lá fora, fiquei pensado que rumo minha vida havia tomado, a alguns meses atrás eu era só a Amihan uma mulher apaixonada que iria casar, hoje sou uma mulher amargurada que vai casar, por dinheiro.

A brisa da noite, acariciava a minha pele enquanto eu contemplava o pequeno lago iluminado pelas estrelas. O vestido vermelho balançava suavemente ao vento, e minha pele se arrepiava, o frio havia começado. Eu estava perdida em reflexões sobre a vida, sobre as reviravoltas que me trouxeram até aqui, quando ouvi os passos dele.

Gabriel se aproximou com aquela postura confiante que sempre o caracterizava — Você está com frio? — perguntou parecendo preocupado.

Sem me dar tempo para responder, Castillo retirou o terno, colocando sob meus ombros.

Seus olhos se encontraram com os meus. Ele é tão bonito, seus olhos são escuros como a noite e agora possuem um brilho, como um céu estrelado, sua pele branquinha, sem nenhuma mancha, a barba rala e uma boca rosada, ela parece ser macia.

— Por que eu? — perguntei quase em um sussurro. — Você sabe tudo sobre mim, sabe toda minha história. Mas eu não sei nada sobre você Gabriel. Por que você quer tanto se casar? Por que por um contrato? E por que comigo? Há tantas mulheres lindas por aí que dariam tudo para estar ao seu lado. — me olhou com o cenho franzido.

— Você é linda! — ele suspirou, passando a mão pelos cabelos negros. — Meu pai… ele me pressionou para que eu me casasse.

— Você morre de medo dele. — ele me olhou, mas não contestou.

— Se eu não o fizesse, perderia minha posição como CEO da empresa. — Gabriel olhou para o horizonte, e eu vi um vislumbre de vulnerabilidade nele. — Eu estava pronto para recusar, para desistir de tudo… até que te conheci.

Minha respiração ficou presa na garganta. — Minha história, não é tão diferente da sua. Eu sabia que você tinha sido traída, que seu ex-noivo levou sua empresa à falência. Eu pensei que, talvez, você visse isso tudo como um negócio, assim como eu. Que seu coração estaria tão quebrado quanto o meu, e que não correríamos o risco de nos apaixonar.

Eu não o conhecia de verdade, mas podia sentir que estava sendo sincero

— Eu sinto muito. — seus olhos encontrando os meus novamente. — Eu não sou seu inimigo, Amihan. Não tenho intenção de te machucar, ou me aproveitar da sua vulnerabilidade. Assim como disse ao seu irmão, irei te dizer, seu inimigo são todos aqueles, que tentarem derrubar o seu legado, o legado da sua família.

Eu sabia o que ele queria dizer, Matteo era meu inimigo, não ele.

— Um dia você saberá o que me leva a querer estar a frente da Castillo, mas até lá terá que confiar em mim.

Esse é o problema, querido. Eu não sei confiar.

— Trouxe isso para você — observei a caixinha de veludo em sua mão. — Não é do homem que você ama. — fez uma careta engraçada e eu sorri. — Mas vamos no casar, e essa é a aliança de uma nova história, da nossa história.

Castillo colocou a aliança em meu dedo, e eu no seu.

E naquela varanda, sob o manto da noite, eu vi o homem que Gabriel realmente era: alguém que, apesar de suas defesas e arrogância, ansiava por sinceridade e conexão, assim como eu.

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