Capítulo 8: Que comecem os jogos

Eu podia ver a decepção nos olhos do meu pai enquanto ele me encarava do outro lado da mesa do escritório — Não pode estar pensando realmente nisso Amihan! — sua voz carregada, em uma mistura de desgosto e raiva.

— Essa é a única alternativa pai, você sabe que eu não tenho escolha. — falei em um fio de voz, eu me recusava a encara-lo.

Suspirou enquanto apertava o ossinho entre os olhos, mesmo gesto usado por Atos em momentos de raiva.

— O que você pensa que está fazendo? — Papai tinha as sobrancelhas franzidas formando rugas de preocupação na testa.

É tudo minha culpa...

— Só estou tentando ajudar... — Abracei-me tentando passar algum conforto.

Seus olhos se estreitaram, olhando-me fixamente. — Teria ajudado se não tivesse assinado a procuração para aquele infeliz!

O escritório pareceu pequeno nesse momento, sem nenhuma corrente de ar, apesar das janelas abertas.

— E é por isso que estou tentando ajudar, vou consertar isso. — minha voz estava fraca, e meu coração parecia estar em um escola de samba, com o tanto que saltitava.

— Cometendo outro erro?

Eu podia sentir o queimar de cada palavra trocada, eram como faíscas prontas para incendiar.

— Por que você não consegue entender? — Minha voz tremia, carregada de emoção, enquanto tentava manter a calma.

— Quem não está entendendo é você. — elevou o tom de voz, assustando-me.  — Você sabe o que é o casamento Amihan?

Engoli em seco vendo-o caminhar para a janela.

— Casamento é uma união sagrada. Não uma ferramenta para negócios.

Respirei fundo, buscando forças para continuar. — Só estou tentando proteger o que você construiu. — Minha voz falhando pelas lágrimas. — Eu só quero consertar tudo...

— Proteger? — papai soltou uma gargalhada, mas não de alegria, não de felicidade. Era um riso vazio, que ressoava com a frieza do lugar. — A que custo? Sacrificando sua felicidade?

Qual droga de felicidade?

— Pai... — tentei toca-lo, mas ele se afastou.

— É sobre dinheiro? — ele questionou, e posso jurar ter visto suas veias pulsando de raiva. — Desde quando colocamos o lucro acima dos nossos valores?

— Não é sobre o dinheiro! — exclamei, sentindo a frustração borbulhar dentro de mim. — É sobre sobrevivência. Sobre não deixar que tudo desmorone.

Já desmoronou...

Ele balançou a cabeça, desapontado, enquanto observava um retrato. Na foto eu estava sob os ombros de Atos sorrindo tão abertamente que meus olhos se fechavam.

Me lembro desse dia... Havia ganhado um concurso de soletrando, e então saímos para comemorar.

Era tudo tão mais fácil...

— E você acha que se casar sem amor vai te fazer feliz?

Eu não tinha as respostas para isso, sinceramente felicidade e amor eram coisas que pareciam bem distantes de mim.

— Você está se vendendo, e isso eu não posso aceitar. Eu te criei para ser forte e independente. Não para ser moeda de troca!

Aquilo doeu...

Encarei meu pai, as palavras dele ecoavam como um trovão distante, causando- me uma imensa tempestade.

Acordei suada, sentindo meu coração palpitar. Ainda era madrugada.

Que porcaria de sonho foi esse?

Papai está decepcionado comigo? Será que estou fazendo a coisa certa?

(...)

Quando o dia amanheceu de vez, aquele sonho perturbador ainda martelava minha cabeça.

A última coisa que eu queria era decepcionar meu pai.

Juntando toda força e coragem que ainda me restavam, muito pouco por sinal, tomei um banho e fui visita-lo.

O céu estava pálido, cinza, e o sol escondidinho, lutando para se espalhar. Era como se até mesmo o horizonte compartilhasse da minha angústia.

O lugar estava mergulhado em um silêncio reverente, apenas o som suave das folhas secas se partindo sob meus passos perturbava a quietude local.

Caminhei lentamente entre as lápides, cada uma marcando uma história, uma vida que foi.

Ao me aproximar do túmulo de meu pai, senti uma onda de emoções. As rosas brancas em minhas mãos pareciam pesar, talvez pelo significado que eu queria expressar: um pedido de desculpas, uma súplica pelo seu perdão.

— Oi pai.. — disse em um sussurro contra a brisa matinal. — Trouxe rosas hoje, rosas brancas.

Me ajoelhei, colocando as flores delicadamente ao lado da lápide. — Li em algum lugar que elas eram ótimas para pedir desculpa.

Deslizei os dedos suavemente pela grafia de seu nome Gregório Salazar. E quando minha pele entrou em contato com o mármore frio, senti como se cada onda de calor do meu corpo fosse sugada, e um arrepio percorreu minha espinha.

— Oh, pai, será que algum dia você será capaz de me perdoar? — minha voz carregada de doer e incerteza.

Aquele sonho doía, estar aqui doía. Mas sabe o que mais doía? Saber que aquela droga de sonho tinha um fundo de verdade.

Estou tão perdida...

Só que não dá mais pra voltar atrás, e mesmo se desse, não sei se voltaria. Ainda que doa é preciso admitir, tudo o que estou passando é consequência da minha fraqueza.

O cemitério era um canto de paz, um contraste com a tempestade que rugia dentro de mim. Ali sentada, com o mundo desmoronando ao meu redor, me permiti ter um momento de vulnerabilidade.

Era assim que eu me sentia, uma criança vulnerável.

Lágrimas silenciosa traçavam caminhos salgados em minhas bochechas.

O tempo passou indiferente a minha dor, até que os primeiros visitantes começaram a chegar, cada um trazendo consigo murmúrios e preces aos entes. Sabia que chegara a hora de partir, de enfrentar o mundo lá fora.

Mas naquele momento eu não era uma ex traída, ou uma executiva fracassada. Eu era apenas uma filha sentindo falta do pai.

(...)

O restaurante estava iluminado por velas, as mesas elegantemente arranjadas, com pessoas bem vestidas espalhadas. Olho no relógio.

Estava atrasada.

Fiz uma varredura no local e ele estava lá, sentando em um canto discreto, seus olhos parecia procurar algo, ou alguém.

Esse alguém era eu.

Descobri no momento em que seus olhos toparam os meus. Eles expressavam uma mistura de expectativas e apreensão, se eu não conhecesse sua fama, poderia afirmar que Castillo estava nervoso.

Que piada, como se Gabriel Castillo sentisse alguma coisa.

Caminhei calmamente em sua direção, cada passo meticulosamente pensando. Talvez eu estivesse tentando adiar aquela conversa, talvez cada passo demorado significasse um minuto a menos e naquele show de encenação.

Respira, você consegue Amihan.

Meu estômago parecia estar em combustão, essa era a primeira vez que conversaríamos, Gabriel e eu, sem a intervenção de Atos. Sem ninguém ao meu lado. E não vou negar que era isso que me preocupava.

— Sr. Castillo. — tentei manter a voz firme. — Desculpe o atraso.

Ele se levantou, estendendo a mão para mim. Quanta tatuagem.

— Amihan. Não se preocupe. Por favor, sente-se.

Tão educado, nem parecia estar tentando desgraçar com a minha vida.

— Boa noite. — era o garçom, vestido impecavelmente em um terno perto com colete, e gravata borboleta. — Posso apresentar-lhes o menu desta noite?

Eles esticou os menus encadernados em couro, tudo nesse lugar ressoava elegância.

Gabriel fez os pedidos e o gentil garçom anotou tudo em seu bloco de notas. — E para acompanhar?

— Traga o seu melhor vinho. — seus olhos pretos fixos em mim. —Temos muito o que comemorar..

Segurei a vontade de revirar os olhos, esse cara só podia estar afim de me testar.

Quando o garçom se retirou olhei tudo ao redor, capturando cada detalhe.

Era tão sofisticado, uma iluminação tão suave, que se não fosse a presença a minha frente, eu diria que cria uma atmosfera acolhedora.

— Este lugar é encantador. — disse, tentando manter a conversa leve.

— É um dos meus favoritos. — deu de ombros, como se já estivesse acostumado.

— Acho que devemos discutir alguns termos do contrato Sr. Castillo.

— Por favor, me chame de Gabriel. Afinal logo mais estaremos casados.

— Um casamento de aparências — fiz questão de ressaltar.

— O que não deixa se ser um casamento.

— Você acha que isso realmente vai funcionar? — pude notar seus dedos tocarem levemente a borda da mesa. Ele me analisava, como se ganhasse tempo para pensar no que falar.

Eu tinha sérias dúvidas quanto a isso, Gabriel tinha uma fama nada agradável com relação às mulheres, como explicar um casamento do nada?

Ele sorriu inclinando-se para frente. — Não é uma questão de achar. É uma questão de necessidade. Olimpos precisa de investimento, e você é a chave para isso.

Seu sorriso era debochado, presunçoso. Como se quisesse a todo instante ressaltar o quanto eu precisava de sua ajuda.

Isso me irritava.

Meus olhos estreitaram-se ainda mantendo contato visual. — E o que você ganha com isso?

— Não creio que isso seja algo que lhe cabe saber. Entenda Amihan, este contrato irá beneficiar a sua empresa, tudo o que precisa fazer é manter-se de bico fechado e agir como uma esposa feliz.

Ok. Aquilo realmente me irritou. Apertei os punhos discretamente, na tentativa de controlar a crescente raiva que me dominava.

— É um contrato de 2 anos, não vou ficar amarrada a você. — Ele me olhou com incredulidade. — Você não me engana! Precisa de mim tanto quanto preciso de você. Então faça o favor de se lembrar, serei sua esposa e não uma empregada a quem você pode mandar.

Sua expressão se tornou séria, seus olhos semicerrados.

— Com quem você pensa que está falando? — vociferou sua voz grave, graças a Deus estávamos em uma mesa afastada.

— Com Gabriel Castillo um imenso babaca. — respondi no mesmo tom, elevando o queixo.

Ele não vai me intimidar.

— Não pense que vou aceitar ser humilhada.

Ele sorriu. — Você é ousada... — Gabriel ergueu a taça de vinho. — Isso será mais interessante do que eu pensava. Á nossa parceria então.

Brindei sabendo que aquilo seria apenas o começo de uma longa jornada.

O resto do jantar foi regado com uma conversa sobre como tudo funcionaria. Sobre como eu deveria agir como uma noiva apaixonada.

Gabriel também ficou de me mandar uma lista com as principais informação que deveríamos saber um do outro, para que não levantasse suspeitas.

Enfim, que comecem os jogos...

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Comments

Vera Gonçalves

Vera Gonçalves

parece boa, vão se apaixonar

2024-07-04

1

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