O peso da proposta de Gabriel ainda pairava no ar, como uma sombra que se recusava a se dissipar. Sentei-me em meu escritório na sede da Olimpos, cercada pela atmosfera tensa que preenchia o espaço.
O que fiz ao mundo para merecer esse último mês? Se isso é um castigo, chega, já deu!
Ao meu lado, Atos permanecia em silêncio, sua presença reconfortante, mas incapaz de afastar a tormenta que rugia dentro de mim.
Minha mãe também estava ao nosso lado, ela parecia preocupada, tanto quanto, ou até mais, que Atos e eu. Ela sabia tão bem, quanto nós, a gravidade da situação em que nos encontrávamos, e sua presença era um lembrete constante do peso das responsabilidades que carregávamos como família. O que fazia com que eu me sentisse ainda mais culpada.
O envelope branco repousava sobre a mesa entre nós, emitindo uma aura intimidadora que parecia preencher o espaço. Seu papel áspero roçava suavemente sob meus dedos trêmulos, enquanto o selo vermelho parecia sussurrar um aviso silencioso contra as decisões que estavam por vir.
— O que devemos fazer? — Minha voz vacilou, carregando consigo uma mistura de aflição e desespero. Lancei um olhar para Atos e nossa mãe em busca de orientação, buscando neles a força e a clareza que pareciam fugir de mim naquele momento de incerteza.
Atos suspirou, seus olhos azuis encontrando os meus com uma intensidade silenciosa. — Você não está considerando isso, está?
Sim, eu estou…
— Eu não sei… o que mais podemos fazer? — Minha voz saiu mais fraca do que eu pretendia. — Se não aceitarmos a ajuda de Gabriel, podemos perder tudo.
— Tem que haver outra maneira. Isso… isso é loucura.
— Seu irmão está certo, minha filha. Você não precisa fazer isso.
Eu precisava, talvez, só assim poderia sentir que, de alguma forma, consegui reparar meu erro.
— Essa é uma decisão que só você pode tomar Mihan. — sorri fraco, esse apelido me lembrava uma época boa.
A época em que Atos e eu éramos, apenas duas pestinhas, enlouquecendo o juízo da nossa mãe.
— Mas saiba que não importa o que decidir, estaremos ao seu lado.
Minha mãe assentiu, seus lábios formando uma linha firme de determinação. — Estamos juntos nisso, querida. — ela disse, sua voz suave, mas cheia de convicção. — Enfrentaremos esse desafio como uma família, como sempre fizemos.
As palavras reconfortantes da minha família me trouxeram um pequeno alívio para o turbilhão que se agitava dentro de mim, mas também serviram como um lembrete doloroso da responsabilidade que pesava sobre meus ombros. Eu era a responsável por tudo que estava acontecendo, e cada escolha que fazia tinha o potencial de moldar o destino deles para sempre.
Recusava-me a ser uma vítima das circunstâncias, uma marionete nas mãos de homens como Gabriel Castillo. Eu era uma Salazar, uma mulher forte e corajosa, e encontraria uma maneira de proteger minha família, mesmo que isso significasse enfrentar o magnata desumano de frente.
Com um suspiro resignado, endireitei-me na cadeira, meus olhos se fixando no envelope diante de mim. Sabia que não podia adiar essa decisão por mais tempo. Era hora de enfrentar meu destino de frente, de tomar as rédeas de minha própria vida e moldá-la de acordo com minha própria vontade.
— Está na hora. — murmurei, mais para mim mesma do que para meu irmão e minha mãe. Com uma mão trêmula, alcancei o envelope e quebrei o selo, revelando o conteúdo que mudaria o curso de nossas vidas para sempre.
Com uma respiração profunda, retirei o papel dobrado e desdobrei-o lentamente, os olhos percorrendo cada palavra com uma mistura de curiosidade e apreensão.
No topo da página, em letras garrafais e marcadas em negrito, estavam as palavras que me causaram um calafrio de horror: “Contrato de Casamento”. Era uma frase simples, mas sua significância reverberava por mim como um trovão, ecoando com a magnitude do sacrifício que estava prestes a ser exigido de mim.
Abaixo do título, uma série de cláusulas e condições se estendiam em uma linguagem legal complicada, cada palavra uma armadilha cuidadosamente elaborada projetada para me enredar em um compromisso que eu nunca teria escolhido por vontade própria.
Meus olhos escanearam as linhas, capturando os detalhes da proposta de Gabriel Castillo, cada palavra uma facada afiada em meu coração. Ele oferecia sua assistência financeira para salvar a Olimpos da ruína, mas em troca, exigia que eu me tornasse sua esposa e permanecesse ao seu lado pelo menos pelos próximos dois anos.
O contrato detalhava as condições do casamento de conveniência, delineando os termos sob os quais eu seria obrigada a me submeter à vontade de Gabriel. Eu teria que renunciar à minha liberdade e independência, sacrificando meus próprios desejos e aspirações em nome de uma aliança estratégica projetada para beneficiar apenas ele.
Cada palavra do contrato era uma afronta à minha dignidade e autonomia, uma lembrança brutal de quão pouco valor ele atribuía à minha humanidade. E ainda assim, mesmo diante da injustiça flagrante e da crueldade de suas exigências, uma parte de mim reconhecia a urgência da situação em que estávamos.
Eu estava diante de um fogo cruzado impossível, uma escolha entre o que era certo e o que era necessário.
Enquanto ponderava sobre a decisão diante de mim, o aroma familiar de café fresco pairava no ar, misturando-se com o leve zumbido do ar condicionado e o suave farfalhar das folhas do contrato quando eu os folheava. Eu sabia que o tempo estava se esgotando, que eu teria que tomar uma decisão que moldaria o destino não apenas de minha família, mas também de mim mesma.
Com um suspiro pesado, eu dobrei o contrato cuidadosamente e coloquei-o de volta no envelope, sua presença opressora pairando sobre mim como uma sombra sinistra. Eu sabia que não podia adiar essa decisão por mais tempo, que era hora de enfrentar meu destino de frente.
— Você vai assinar? — Minha mãe foi a primeira pessoa a perguntar.
Só assenti, afinal, não tinha muito o que falar.
Atos se inclinou para frente, seus olhos azuis ardendo com intensidade. — Vamos falar sobre os prós e contras, então.
Ele pegou uma caneta e um bloco de notas. — Para ter certeza de que você está fazendo a escolha certa.
Prós:
Salvamos a Olimpos: Comecei, minha voz mais firme do que imaginava. — Se eu assinar, Gabriel investirá na empresa. Isso dá uma chance de salvar nosso patrimônio.
Estabilidade financeira: — E também, isso nos daria alguma estabilidade financeira, pelo menos temporariamente.
Tempo: — Dois anos não são para sempre. — Falei, tentando me convencer tanto quanto a eles. — Eu posso aguentar isso, se significar proteger nossa família.
Contras:
Liberdade pessoal: minha mãe falou, sua mão cobrindo a minha. — Você estaria sacrificando sua liberdade, Amihan. Casar sem amor… isso é algo que você pode realmente viver?
Mas afinal, o que é amor?
O único “amor” que conheci foi o de Matteo, e sinceramente preferia um casamento sem amor, a um amor como o dele.
Reputação: escutei meu irmão falar. — E sua reputação? As pessoas vão falar, vão inventar histórias. Saberá lidar com isso?
Ultimamente, eu não sei lidar com nada!
Emoções: — E o que acontece se você começar a sentir algo por ele? — Atos perguntou, e eu vi a preocupação em seus olhos. — Ou pior, e se ele machucar você?
Segurei as mãos de meu irmão, olhando no fundo, de seus olhos. — Ele não vai me machucar, porque eu já estou machucada… — suspirei, sentindo o peso de cada argumento. — Sei que há riscos, mas o que mais podemos fazer?
Atos se levantou, andando de um lado para o outro. — Podemos encontrar outro investidor, alguém que…
— Quem? — a minha voz tomou um tom mais alto, atraindo os olhares para mim. — Quem mais se importaria conosco, Atos? Quem mais estaria disposto a nos ajudar?
O silêncio na sala de reuniões era como uma névoa densa, envolvendo-nos em um abraço silencioso que amplificava a tensão no ar. Eu sabia que eles só queriam me proteger, mas também sabia que a decisão final era minha.
— Eu vou assinar. — eu disse finalmente, minha voz firme com determinação. — Eu vou assinar o contrato!
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Atualizado até capítulo 33
Comments
Leda Fernandes
O amor vem depois se ele for bom e honesto tudo dara certo.
2024-06-03
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