A luz do sol da manhã se infiltrava pelas cortinas, mas não conseguia aquecer o frio que
se instalara em meu coração. Acordei sentindo minha cabeça ainda latejar, com certa dificuldade, abri os olhos, reconhecendo o ambiente em que estava: meu antigo quarto.
No passado, este lugar fora para mim um santuário, meu próprio paraíso particular, mas agora
mais parecia uma prisão de memórias e sonhos quebrados.
O celular ao lado não parava de tocar, era o Matteo.
Eu não quero vê-lo, me conheço bem e sei que sou facilmente manipulada. Ele provavelmente
vai me dizer. “Você entendeu tudo errado, amor.” “Eu te amo, mih”. Enfim,
toda uma ladainha, que tenho medo de cair.
Enquanto ouço o tic-tac do relógio, meus pensamentos giravam em círculos, como se estivessem presos em um ciclo ininterrupto de ansiedade.
E se ele me procurar? Será que está sentindo minha falta?
Levantei-me, envolvida pelo desânimo que se infiltrava em meu ser como o toque gelado de uma
brisa de inverno, arrepiando a pele e congelando meus pensamentos, pelo menos por
um momento. A casa estava silenciosa, exceto pelo som dos pratos que minha mãe arrumava
na cozinha. Arrastei-me para fora da cama, cada movimento pesando como uma tonelada de desgosto em
minhas costas.
Encarei meu reflexo no espelho, e lá estava ela, uma sombra do que costumava ser. Os
olhos que uma vez brilharam com sonhos agora estavam opacos, refletindo a
angústia que se instalara em minha alma. Balancei a cabeça tentando afastar a
crescente de sentimentos ruins que lutavam para me apossar. E ali diante a mim
mesma fiz uma promessa:
Não deixarei essa traição definir quem sou ou o que me tornarei.
Disposta a enfrentar o dia, cobri as olheiras com uma leve camada de corretivo, tentando
disfarçar a fadiga que se refletia em meu rosto. Cada pincelada era como uma
tentativa de apagar os vestígios da minha agonia silenciosa da noite anterior. Vesti-me
e desci para me juntar à minha mãe na cozinha, onde uma conversa difícil me
aguardava.
— Bom dia, querida. Como você dormiu?
Dei de ombros pegando uma torrada. — Dormi, mãe. É um começo,
não é?
Ela me envolveu em um abraço, seu calor tentando preencher o
vazio dentro de mim.
— Você não deve deixar isso te afetar. Você é mais forte do
que pensa Amih. E mais amada do que sabe. — um suspiro escapou dos meus lábios.
Ela sempre acreditou em mim, mesmo quando eu mesma duvidava.
— Como posso ser forte? Não viu a forma deplorável que a
senhora me encontrou ontem?
Baixei a cabeça envergonhada, mas logo senti seus dedos
erguendo meu queixo.
— Força não é sobre como você evita a queda, mas como você se
levanta depois dela. E sobre ontem, você é um ser humano, não é uma máquina, não
se culpe por chorar.
— Às vezes, gostaria de poder voltar, mudar tudo…
— Voltar no tempo não é uma opção querida, infelizmente não
podemos apagar o que passou, mas podemos tomar como experiência para não
acontecer mais. E você não está sozinha nisso.
Abracei-a com toda a minha força. — Obrigada, mãe. Não sei o
que faria sem você.
E é verdade, ela é a rocha da nossa família.
Nossas palavras dançavam no ar, misturando-se ao aroma do
café recém-coado. Eu sabia que, com ela ao meu lado, eu poderia enfrentar
qualquer coisa.
Enquanto minha mãe me confortava, meu celular tocou, quebrando
o silêncio opressivo da casa. Era Atos, meu irmão, sua voz carregada de
preocupação ecoando através do telefone. — Mihan, como você está? — sorri pelo
apelido de infância. — Soube do que aconteceu. Eu vou acabar com aquele desgraçado!
— Atos, não vou mentir, não está nada bem. Mas não precisa se
preocupar, tudo o que preciso é de você e mamãe ao meu lado.
— Estou aqui para o que você precisar.
Senti uma gratidão imensa por ter uma família que me apoia,
mesmo quando o mundo parece desabar.
(…)
Uma semana havia se passado, e não, eu não estou bem, apenas aprendi a disfarçar.
A regra é clara, finja que não sente nada, até não sentir nada.
Já não choro na frente de todos e procuro sempre sorrir quando contam piadas. Mas a
verdade é que meu coração continua quebrado.
Eu me recusava a derramar qualquer lágrima por aquele crápula.
Nessa semana que passou precisei mudar de número, ele não parava de ligar. Em uma das
mensagens ele disse:
“Eu nunca fiz isso antes, foi só essa vez, amor, me perdoa. Prometo não fazer mais.”
Ele também veio algumas vezes em casa, mas em todas pedi para mamãe dizer que não estava. Na última vez, Atos estava em casa e foi ele quem atendeu Matteo, não preciso nem
dizer o que aconteceu, não é?
Meu irmão socou o meu ex, até não poder mais.
E por falar em Atos, ele havia me chamado para uma conversa urgente, e eu podia dizer
pela tensão em sua voz que as notícias não eram boas.
— Amihan, preciso que você veja isso. — ele estendeu uma
pasta de documentos sobre a mesa, sua expressão era sombria.
Eu me aproximei, senti meu coração batendo forte. As páginas
estavam cheias de números, gráficos e termos que eu conhecia muito bem, mas o
que eles revelaram era algo que eu nunca poderia ter imaginado.
— O que é tudo isso? Esses números… eles não fazem sentido.
— São os investimentos que Matteo fez.
— Investimentos? Como assim? Ele não tinha esse poder.
Meu irmão suspirou, pressionando o ossinho entre os olhos,
uma mania já conhecida em momentos de raiva. — Ah, ele tem, desde que você
assinou aquela procuração, ele tem.
— Eu não assinei nada…
Antes que pudesse terminar, uma cena surgiu em minha mente,
como um raio me dando um clarão.
O escritório de Matteo, o sorriso encantador que sempre me
desarmava e os documentos.
— É só uma questão de burocracia, amor. Papéis para o nosso
casamento, você sabe, para dar entrada na papelada.
Eu confiava nele. Peguei a caneta e, sem hesitar, sem ler os
detalhes. Afinal, por que eu leria? Era Matteo, o homem com quem eu sonhava
compartilhar minha vida.
— Tudo bem, se é só isso, vamos acabar logo com essa
papelada.
Desgraçado. Aqueles documentos não
eram simples formalidades.
— Ele disse serem os papéis do casamento… — falei quase
em um sussurro.
— Mas não eram. A questão é que ele arriscou demais, e agora,
estamos em uma situação crítica.
Percorri os documentos, cada linha e cada cifra, me
golpeando como um chicote. O déficit era enorme, uma cratera financeira que
ameaçava engolir tudo que nossa família batalhou para construir.
A sala parecia rodar. Traição era uma coisa, mas sabotagem? Isso
era algo que eu não conseguia aceitar.
Eu só posso ter atirado um caminhão de pedras
na cruz…
— E agora, Atos? O que faço?
— Vamos lutar, Mihan. Faremos o que for necessário para
salvar a empresa. Mas preciso que você esteja ao meu lado nisso.
Eu assenti, sentindo uma mistura de medo e determinação. Eu não
sabia se estava pronta para enfrentar essa batalha, mas sabia que não tinha
escolha. Era o nome da nossa família que estava em jogo, e eu faria qualquer
coisa para protegê-lo.
Sinceramente, foi nesse momento que comecei a questionar o
que poderia ter feito de tão mal, para merecer passar por coisas tão cruéis,
como estou passando. Minha vida não anda nada bem, e algo me diz que a tendência é só piorar…
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Atualizado até capítulo 33
Comments
Martinha Texeira
vai dar a volta por cima de praxe
2024-11-24
0
Maxwell_Original 💍
Mano eu simplesmente to amando essa história slk
2024-07-22
0
Maxwell_Original 💍
Err.. ela fez muito mais do que só "Chorar" 😑
2024-07-22
0