Capítulo 1: O Despertar de Amihan

A luz do sol da manhã se infiltrava pelas cortinas, mas não conseguia aquecer o frio que

se instalara em meu coração. Acordei sentindo minha cabeça ainda latejar, com certa dificuldade, abri os olhos, reconhecendo o ambiente em que estava: meu antigo quarto.

No passado, este lugar fora para mim um santuário, meu próprio paraíso particular, mas agora

mais parecia uma prisão de memórias e sonhos quebrados.

O celular ao lado não parava de tocar, era o Matteo.

Eu não quero vê-lo, me conheço bem e sei que sou facilmente manipulada. Ele provavelmente

vai me dizer. “Você entendeu tudo errado, amor.” “Eu te amo, mih”. Enfim,

toda uma ladainha, que tenho medo de cair.

Enquanto ouço o tic-tac do relógio, meus pensamentos giravam em círculos, como se estivessem presos em um ciclo ininterrupto de ansiedade.

E se ele me procurar? Será que está sentindo minha falta?

Levantei-me, envolvida pelo desânimo que se infiltrava em meu ser como o toque gelado de uma

brisa de inverno, arrepiando a pele e congelando meus pensamentos, pelo menos por

um momento. A casa estava silenciosa, exceto pelo som dos pratos que minha mãe arrumava

na cozinha. Arrastei-me para fora da cama, cada movimento pesando como uma tonelada de desgosto em

minhas costas.

Encarei meu reflexo no espelho, e lá estava ela, uma sombra do que costumava ser. Os

olhos que uma vez brilharam com sonhos agora estavam opacos, refletindo a

angústia que se instalara em minha alma. Balancei a cabeça tentando afastar a

crescente de sentimentos ruins que lutavam para me apossar. E ali diante a mim

mesma fiz uma promessa:

Não deixarei essa traição definir quem sou ou o que me tornarei.

Disposta a enfrentar o dia, cobri as olheiras com uma leve camada de corretivo, tentando

disfarçar a fadiga que se refletia em meu rosto. Cada pincelada era como uma

tentativa de apagar os vestígios da minha agonia silenciosa da noite anterior. Vesti-me

e desci para me juntar à minha mãe na cozinha, onde uma conversa difícil me

aguardava.

— Bom dia, querida. Como você dormiu?

Dei de ombros pegando uma torrada. — Dormi, mãe. É um começo,

não é?

Ela me envolveu em um abraço, seu calor tentando preencher o

vazio dentro de mim.

— Você não deve deixar isso te afetar. Você é mais forte do

que pensa Amih. E mais amada do que sabe. — um suspiro escapou dos meus lábios.

Ela sempre acreditou em mim, mesmo quando eu mesma duvidava.

— Como posso ser forte? Não viu a forma deplorável que a

senhora me encontrou ontem?

Baixei a cabeça envergonhada, mas logo senti seus dedos

erguendo meu queixo.

— Força não é sobre como você evita a queda, mas como você se

levanta depois dela. E sobre ontem, você é um ser humano, não é uma máquina, não

se culpe por chorar.

— Às vezes, gostaria de poder voltar, mudar tudo…

— Voltar no tempo não é uma opção querida, infelizmente não

podemos apagar o que passou, mas podemos tomar como experiência para não

acontecer mais. E você não está sozinha nisso.

Abracei-a com toda a minha força. — Obrigada, mãe. Não sei o

que faria sem você.

E é verdade, ela é a rocha da nossa família.

Nossas palavras dançavam no ar, misturando-se ao aroma do

café recém-coado. Eu sabia que, com ela ao meu lado, eu poderia enfrentar

qualquer coisa.

Enquanto minha mãe me confortava, meu celular tocou, quebrando

o silêncio opressivo da casa. Era Atos, meu irmão, sua voz carregada de

preocupação ecoando através do telefone. — Mihan, como você está? — sorri pelo

apelido de infância. — Soube do que aconteceu. Eu vou acabar com aquele desgraçado!

— Atos, não vou mentir, não está nada bem. Mas não precisa se

preocupar, tudo o que preciso é de você e mamãe ao meu lado.

— Estou aqui para o que você precisar.

Senti uma gratidão imensa por ter uma família que me apoia,

mesmo quando o mundo parece desabar.

(…)

Uma semana havia se passado, e não, eu não estou bem, apenas aprendi a disfarçar.

A regra é clara, finja que não sente nada, até não sentir nada.

Já não choro na frente de todos e procuro sempre sorrir quando contam piadas. Mas a

verdade é que meu coração continua quebrado.

Eu me recusava a derramar qualquer lágrima por aquele crápula.

Nessa semana que passou precisei mudar de número, ele não parava de ligar. Em uma das

mensagens ele disse:

“Eu nunca fiz isso antes, foi só essa vez, amor, me perdoa. Prometo não fazer mais.”

Ele também veio algumas vezes em casa, mas em todas pedi para mamãe dizer que não estava. Na última vez, Atos estava em casa e foi ele quem atendeu Matteo, não preciso nem

dizer o que aconteceu, não é?

Meu irmão socou o meu ex, até não poder mais.

E por falar em Atos, ele havia me chamado para uma conversa urgente, e eu podia dizer

pela tensão em sua voz que as notícias não eram boas.

— Amihan, preciso que você veja isso. — ele estendeu uma

pasta de documentos sobre a mesa, sua expressão era sombria.

Eu me aproximei, senti meu coração batendo forte. As páginas

estavam cheias de números, gráficos e termos que eu conhecia muito bem, mas o

que eles revelaram era algo que eu nunca poderia ter imaginado.

— O que é tudo isso? Esses números… eles não fazem sentido.

— São os investimentos que Matteo fez.

— Investimentos? Como assim? Ele não tinha esse poder.

Meu irmão suspirou, pressionando o ossinho entre os olhos,

uma mania já conhecida em momentos de raiva. — Ah, ele tem, desde que você

assinou aquela procuração, ele tem.

— Eu não assinei nada…

Antes que pudesse terminar, uma cena surgiu em minha mente,

como um raio me dando um clarão.

O escritório de Matteo, o sorriso encantador que sempre me

desarmava e os documentos.

— É só uma questão de burocracia, amor. Papéis para o nosso

casamento, você sabe, para dar entrada na papelada.

Eu confiava nele. Peguei a caneta e, sem hesitar, sem ler os

detalhes. Afinal, por que eu leria? Era Matteo, o homem com quem eu sonhava

compartilhar minha vida.

— Tudo bem, se é só isso, vamos acabar logo com essa

papelada.

Desgraçado. Aqueles documentos não

eram simples formalidades.

— Ele disse serem os papéis do casamento… — falei quase

em um sussurro.

— Mas não eram. A questão é que ele arriscou demais, e agora,

estamos em uma situação crítica.

Percorri os documentos, cada linha e cada cifra, me

golpeando como um chicote. O déficit era enorme, uma cratera financeira que

ameaçava engolir tudo que nossa família batalhou para construir.

A sala parecia rodar. Traição era uma coisa, mas sabotagem? Isso

era algo que eu não conseguia aceitar.

Eu só posso ter atirado um caminhão de pedras

na cruz…

— E agora, Atos? O que faço?

— Vamos lutar, Mihan. Faremos o que for necessário para

salvar a empresa. Mas preciso que você esteja ao meu lado nisso.

Eu assenti, sentindo uma mistura de medo e determinação. Eu não

sabia se estava pronta para enfrentar essa batalha, mas sabia que não tinha

escolha. Era o nome da nossa família que estava em jogo, e eu faria qualquer

coisa para protegê-lo.

Sinceramente, foi nesse momento que comecei a questionar o

que poderia ter feito de tão mal, para merecer passar por coisas tão cruéis,

como estou passando. Minha vida não anda nada bem, e algo me diz que a tendência é só piorar…

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Comments

Martinha Texeira

Martinha Texeira

vai dar a volta por cima de praxe

2024-11-24

0

Maxwell_Original 💍

Maxwell_Original 💍

Mano eu simplesmente to amando essa história slk

2024-07-22

0

Maxwell_Original 💍

Maxwell_Original 💍

Err.. ela fez muito mais do que só "Chorar" 😑

2024-07-22

0

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