Capítulo 18: Perdidos na Ilha

POV Gabriel

Horas de luta contra as ondas e a correnteza haviam finalmente terminado, deixando-me apenas o gosto amargo do sofrimento.

Avisto uma forma escura no horizonte.

Tem que ser terra... tem que ser terra.

É uma ilha.

— Amihan, aguente firme, estamos quase lá. — disse, mais para mim do que para ela. Estou preocupado, fazem horas e ela permanece no mesmo estado.

Respirei fundo, buscando forças para continuar, agarrei o corpo de Amihan e comecei a nadar. Quando finalmente alcancei a praia, desabei na areia, meu corpo clamava por descanso, mas estava aliviado por ter encontrado terra firme.

Sinto cada músculo do meu corpo gritar em agonia, como se cada fibra estivesse sendo esticada além do suportável. Meu peito sobe e desce em um ritmo frenético, lutando por cada fôlego como se o ar tivesse se tornado denso e escasso. O sal do mar desenhou linhas brancas na minha pele, marcas de uma batalha árdua contra o oceano implacável.

O som das ondas quebrando suavemente na costa e o chilrear distante dos pássaros criavam uma melodia tranquilizante contrastando com o caos anterior. O céu começava a clarear com os primeiros raios do amanhecer, tingindo o horizonte de tons alaranjados e rosados.

Coloquei Amihan cuidadosamente na areia áspera da praia deserta, os olhos fixos no rosto pálido dela, que estava inconsciente. O pânico ameaçava me dominar, mas eu o empurrei para o fundo da mente, concentrando-me apenas em salvá-la. Inclinei sua cabeça para trás, abrindo suavemente sua boca. Com mãos trêmulas, verifiquei sua respiração, mas não senti nada. Sem perder tempo, posicionei-me ao lado dela, fechei minha boca sobre a dela e soprei ar profundamente. Fechei os olhos brevemente, fazendo uma oração silenciosa enquanto alternava entre respirações e compressões torácicas.

Volte querida... por favor não faça isso...

Observava atentamente o peito dela, esperando ansiosamente por qualquer sinal de movimento. As gotas de água da tempestade misturavam-se com o suor em minha testa, caindo sobre o rosto dela como se o próprio céu estivesse chorando.

Talvez ele realmente estivesse.

Depois do que pareceu uma eternidade, Amihan deu um leve espasmo e tossiu, expelindo água dos pulmões. Suspirei aliviado, lágrimas de alívio e gratidão enchendo meus olhos.

— Graças a Deus... — segurei seu rosto com ternura. — Você acordou, Graças a Deus...

Ela abriu os olhos lentamente, a confusão e o medo evidentes em seu rosto.

— O avião... as pessoas... o que aconteceu...? — sua voz estava fraca. Antes que pudesse responder Amihan pareceu finalmente cair em si, seus olhos estavam vermelho e ela chorava tanto a ponto de soluçar. — Aí meu Deus.

— Eu sei, eu sei. — passei os braços envolta de seu corpo puxando-a para mim.

— E agora Gabriel? O que vamos fazer?

— Eu não sei...

POV Amihan

A consciência me envolve como uma névoa densa, lenta e relutante em se dissipar. Sinto o frio da areia sob mim, cada grão uma lembrança incômoda da realidade que me espera. O som das ondas é um sussurro distante, uma canção que não consigo mais acompanhar. Tento abrir os olhos, mas as pálpebras pesam como chumbo, recusando-se a obedecer. A voz de Gabriel chega até mim, abafada e urgente, mas não consigo formar palavras para responder. O medo se entrelaça com a confusão, um emaranhado de emoções que me mantém presa entre o sono e o despertar. E então, uma sensação de movimento, um solavanco que me traz de volta à superfície da consciência. Respiro fundo, o ar preenchendo meus pulmões como se fosse o primeiro fôlego após uma eternidade submersa.

(...)

Ainda estávamos no mesmo lugar, ambos deitados sobre a areia. Castillo parecia tentar recuperar as forças gastas para me tirar do mar.

E eu? Eu tentava assimilar tudo que estava acontecendo.

Eu me sentia no corredor da morte, minha cabeça vagava entre minha mãe, meu irmão, meu trabalho... eu só queria que tudo isso fosse apenas um pesadelo.

— Eu não quero morrer... — falei quebrando o silêncio insuportável que se instalara entre nós.

— Nós não vamos morrer.

— Eu acho que vamos.

Gabriel virou-se abruptamente para mim me encarando nos olhos. — Não seja tola, nós não vamos morrer!

— Sabe, eu sinto que ainda tenho muito o que viver, por mais que eu diga que não, ainda quero encontrar o amor da minha vida. — era sempre assim, eu falava pelos cotovelos quando estava nervosa.

Escutei um estalo de língua, seguido de uma risada. — Essa coisa de amor é balela.

— Você acha?

— Tenho certeza!

— Já teve o coração quebrado?

— Eu acho que aqui não é o momento e nem o lugar para falarmos sobre isso, querida esposa. — e lá estava ele, o irônico e astuto Gabriel Castillo.  — Deveríamos procurar abrigo, e sei lá, quem sabe algo para comermos.

— Faça as honras, querido.

Gabriel levantou-se e estendeu a mão para me ajudar.

Começamos a andar pelo lugar, a ilha era isolada e aparentemente deserta, com uma densa floresta tropical que se estendia até onde os olhos podiam ver.

Entramos na floresta à procura de um lugar seguro para nos protegermos. O terreno era difícil, e nos moviamos lentamente, cansados e desorientados. A umidade da floresta fazia com que nossaa roupas se grudassem na pele, e o canto constante dos insetos criava um pano de fundo incessante.

— Precisamos nos abrigar e encontrar água. — apenas concordei, ele não estava errado.

Não demorou para os destroços do avião começarem a aparecer, aquilo me despedaçava por dentro. Só conseguia pensar nas pessoas que estavam ali conosco.

Será que morreram?

— Qual sua cor preferida?

— O que? — Eu entendi o que ele havia dito, só não havia entendido o motivo da pergunta.

— Perguntei qual sua cor preferida.

— É roxo. — respondi quando entendi que ele estava tentando me distrair. — E a sua?

— Eu não tenho.

— Como é possível não ter um cor preferida.

Ele estalou a língua no céu da boca pendendo a cabeça para o lado, quando achei que me responderia avistamos algo que chamou nossa atenção.

— É uma caverna.

— Será que é seguro?

Ele deu de ombros partindo a entrada. — Vou descobri agora, me espera aqui.

Gabriel adentrou o local, aquela esperava me deixava inquieta então comecei a catar algumas folhas jogadas, não sei, talvez poderia ser útil.

— Temos um abrigo. — sua voz grossa parecia cansada.

— É sério? — Ele apenas balançou a cabeça confirmando.

Me joguei nos braços de Gabriel que passou a mão em meus cabelos, enquanto eu acariciava sua nunca. Minha pele se arrepiou, e eu não sabia se era pelo frio do amanhecer ou pelo seu toque.

Afastei-o rapidamente, recolhi as folhas no chão e caminhei rumo à caverna.

— Vou improvisar uma cama para a gente, você precisa descansar.

— Tenho que procurar água.

— Você precisa descansar, gastou muita energia para me tirar da água. Deixa comigo, eu posso te ajudar.

Improvisei “nossa” cama e obriguei Gabriel a deitar.

Ele me ajudou, salvou a minha vida. E agora é minha vez de ajudá-lo.

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