Capítulo 10: Flashs do Passado

Sentindo o peso do olhar de Matteo sobre mim, uma onda de náusea subiu pela minha garganta. Meu estômago se contorceu em um nó apertado, e uma sensação de frio percorreu minha espinha. Era como se cada passo que ele dava em minha direção fosse acompanhado por uma batida surda de um tambor de guerra dentro de mim.

Respirei fundo, tentando estabilizar o turbilhão de emoções que ameaçava transbordar. Quando nossos olhares se cruzaram, senti uma pontada aguda, como se um punhal de gelo tivesse sido cravado em meu peito.

Não que eu não estivesse preparada para vê-lo, isso realmente já não me afetava. Mas ela estava lá.

A mulher ao lado dele... ela era a encarnação da minha dor, a personificação da traição que ainda sangrava em minha alma. Meus dedos tremiam, e eu os fechei em punhos, unhas cravando na palma da mão numa tentativa vã de manter a compostura. Meu fôlego se tornou curto e superficial, e eu lutei contra a vertigem que ameaçava me dominar.

A presença deles juntos era um insulto, uma provocação que me desafiava a reagir.

Mas então ele apareceu, e por um momento Castillo fora como um príncipe pronto pra salvar a donzela em perigo. Mas tão rápido quanto um encanto quebrado, a ilusão se desfez, e o príncipe virou sapo.

Gabriel foi preciso quando supôs que eu não havia esquecido Villanueva.

Mas como poderia esquecer?

Nosso coração não é como um botão que pode simplesmente, ligar e desligar. Temos anos de histórias, e por mais que Matteo fosse um crápula, ele não foi sempre assim. Tivemos muitos momentos bons.

Eu estava sentada no banco do parque, o mesmo banco que eu o vi pela primeira vez. Matteo, com seu sorriso fácil e olhos tão azuis quanto o mar, que prometiam grandes aventuras.

Flashback

— Oi, eu sou Matteo. — ele disse, estendendo a mão. — E este é o Apolo. — o cachorro latiu em concordância, como se também estivesse se apresentando.

Ele era grande, acho que era um Rottweiler.

— Tudo bem, tudo bem. Apolo só tem tamanho, mas é bonzinho. — sorriu largo, percebendo minha hesitação.

— Ah. — fiquei sem graça. — Amihan.

Naquele momento, uma conexão surreal foi formada.

Nos meses seguintes, ele se tornou meu mundo. Ele era charmoso, atencioso e sempre sabia exatamente como me fazer sorrir. Mas, como as folhas que caem das árvores, nosso amor não estava destinado a durar.

Agora, sentada aqui, com as lembranças invadindo minha mente, eu me pergunto se algum dia realmente o conheci, acho que não. A dor da traição ainda lateja em meu peito, e quando Gabriel proferiu aquelas palavras, foi como cutucar até sangrar, uma ferida mal cicatrizada. Ele disse em voz alta a verdade que eu escondia de mim mesma.

Eu não esqueci o Matteo.

Quando bati em Gabriel, acredito que fora porque vi em mim o reflexo de suas palavras. Castillo naquele momento era um espelho, e eu só queria descontar minhas frustrações. Quando percebi o que tinha feito, eu só quis fugir e foi o que eu fiz, fugi como uma covarde fracassada.

(...)

O celular insistente cortava o silêncio da madrugada, arrancando-me de um sono profundo. Com a visão ainda turva pelo descanso interrompido, estendi a mão, tateando a cômoda ao lado.

O nome CEO Babaca, brilhava na tela. Era 05:40 da manhã, e essa cara já me incomodava.

— O que você quer, Gabriel? — Minha voz saiu rouca, pesada de sono e confusão. Houve um suspiro pesado do outro lado da linha, seguido por uma voz familiar.

— Bom dia, minha gata. — Revirei os olhos. — Antes que proteste, como minha noiva e futura esposa, acho importante termos… — Ele hesitou, buscando as palavras. — Apelidos carinhosos, sabe?

Sentei-me na cama, ainda me espreguiçando. — Pensei ter sido clara, quando disse que não vou me casar com você.

Outro suspiro pesado.

— Você não viu as notícias, viu? — Sua voz perdeu o sarcasmo habitual. Ele soava sério.

Peguei o notebook rapidamente, acessando os sites de notícias.

— Pelo som do teclado, presumo que esteja procurando. Quer que eu leia para você?

— Desembucha.

— “Escândalo Amoroso Abala Elite Empresarial: Gabriel Castillo, herdeiro das Empresas Castillo, é flagrado em confronto com Matteo Villanueva. Amihan Salazar, ex-noiva de Villanueva, agora é a prometida de Castillo. Traição ou reviravolta romântica?”

Meu coração parou por um instante ao encontrar uma página de fofoca com a foto de Gabriel e Matteo, envoltos em uma tensão palpável, encarando-se com fúria.

— É tarde demais para voltar atrás gatinha.

— Gabriel, isso não é justo. Fui exposta a todos com esse casamento de fachada. E você? O que tem feito?

— Peça a Atos que entre em contato com o setor financeiro da Olimpos...

Uma batida na porta interrompeu a conversa, e meu irmão apareceu na brecha.

— Gabriel, eu te ligo mais tarde.

— Melhor ligar, Amihan. Caso contrário, irei pessoalmente buscá-la.

Desliguei sem me despedir, encarando meu irmão que entrou.

— As dívidas foram liquidadas. Seu ‘noivo’ pagou. — Atos sentou-se na cama. — É como se a Olimpos nunca tivesse enfrentado a tempestade. Até os demitidos foram recontratados.

Afundei na cama, me cobrindo com o edredom.

Esse pesadelo não acaba nunca?

— Estou aliviado, mas também preocupado. — Atos puxou a coberta. — Ele cumpriu a parte dele do acordo.

— E eu cumprirei a minha…

(...)

— Você precisa estar perfeita. — Gabriel disse, entrando no quarto com uma caixa de veludo em mãos.

Sim ele estava na minha casa.

 — Isso é para você.

Ele abriu a caixa, revelando um colar de diamantes que capturava a última luz do dia, brilhando como se tivesse vida própria.

— É lindo. — eu murmurei, mas havia uma hesitação em minha voz.

Eu não estava arrependida do contrato, eu estava com medo. Medo de que descubram que é uma farsa, medo do que o destino me reservava.

— Combina com sua pele. —  ele respondeu, aproximando-se para colocá-lo ao redor do meu pescoço. — Tem certeza que seu irmão ou mãe não vai aparecer aqui e me espancar?

Eu me levantei, indo até o espelho para ver o reflexo da mulher que eu estava prestes a me tornar. O colar era um símbolo de luxo e poder, mas também um lembrete do peso da farsa que eu carregava. — Eles estão na empresa. E além do mais, se iremos nos casar todos nós vamos precisar nos adaptar.

Toquei a pedra delicada, era tão linda e realmente realçava a minha pele bronzeada.

— Vamos começar a organizar o jantar. — disse Gabriel, quebrando o silêncio que se instalara entre nós. — Meu pai é um homem de gostos tradicionais. Ele apreciará um menu clássico, vinhos finos e uma decoração elegante.

Eu assenti, seguindo-o até a sala de jantar onde começamos a planejar cada detalhe. Cada minuto que passava, se tornava mais real.

— Ele vai adorar você. — Tentou me tranquilizar. — Você é inteligente, bonita e tem uma força que ele respeitará, e o principal... você tem nome, uma empresa de sucesso.

Uma empresa teoricamente fracassada.

Eu já imaginava que para os Castillos sobrenome e dinheiro, era tudo o que contava. Esse jantar não era apenas sobre conhecer o futuro sogro; era um teste, um jogo de poder onde eu era tanto peão quanto rainha.

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