Um convite para o baile

Depois daquele dia, eu não o vi mais, queria e desejava muito o ver, será que isso que sinto pelo duque é amor? O amor é assim, dói e nos faz chorar? 

— Tia Mercedes, posso ir até o lago? Diz que sim?

— Falo, fazendo minha cara de piedade.

— Tudo bem, vai, mas não demore porque precisarei de você aqui.

Dou um beijo na bochecha dela e saio correndo.

— Não corre, menina! — Ela fala.

Esbarro no Tonico.

— Para onde vai com essa pressa? 

— Aproveitar meus minutos de descanso. — Falo sem parar de correr.

Já no lago, eu aproveitava aquela água fresca, foi quando percebi que alguém me vigiava.

— Sei que está aí bisbilhotando…

Falo e um belo jovem aparece com um sorriso tímido nos lábios.

— Perdão, bela dama, não tinha a intenção de bisbilhotar, é que…

Ele pausa, parecendo buscar uma justificativa.

— É quê? — Pergunto.

— É que estava passeando por aqui, e, como percebi estar aí, não quis assustá-la, então achei melhor me esconder. — Ele fala e me parece sincero.

— Pode se virar, para que eu me vista. — Peço por estar apenas com minhas vestes íntimas.

— Sim, posso. — Ele fala se virando.

Rapidamente saio da água e pego meu vestido, me escondendo atrás dos arbustos, visto meu vestido.

— Pronto!

Ele se vira e vem na minha direção.

— Prazer, sou o Luigi, e o seu nome ?

— Sou a Anne.

— Belo nome, combina muito com a sua beleza. — Ele fala todo galanteador.

— Obrigada.

— Posso ficar aqui um pouco se não for lhe incomodar?

— Pode sim.

— Senhorita Anne, mora por aqui por perto? — Ele pergunta, penso em mentir, mas me lembro da última vez que menti para o Duque exatamente nesse lago, e depois passei aquela vergonha.

— Sim, moro no palácio do Duque Charles, sou empregada. — Falo já esperando que ele saia de perto de mim, já que pelas suas vestes é alguém muito importante.

— Nossa, quem vê a sua beleza, nunca diria que é uma empregada, seria facilmente confundida com uma princesa.

— Obrigada.

— Senhor Luigi, eu preciso ir agora, se me dê licença? 

— Que pena, eu posso vê-la de novo? — Ele pergunta.

— Não sei, mas venho sempre aqui, quem sabe nos encontremos de novo. Foi um prazer conhecê-lo Luigi, mas agora preciso ir. — Falo e saio correndo, lembrando que a tia Mercedes me espera.

Três dias depois...

Tia Mercedes pediu que ajudasse com o jantar do Duque, cortava as cebolas e chorava, e no final acabei chorando de verdade.

— Esta chorando só devido à cebola? 

— Não, tia, é que lembrei do meu pai, nós sempre fazíamos o jantar juntos, e ele sempre cortava a cebola e dizia: só deveríamos chorar se fosse por cortar cebolas.

— Meu irmão era um homem muito especial.

— Ele era, e ele não tinha ideia de que um dia eu ia chorar tanto e não seria por cortar cebolas. — Falo chorando. E lembrando do sorriso dele.

— Deixa que termino, vai descansar um pouco, prepararei o jantar, pois o Duque hoje terá companhia. — Tia Mercedes fala, despertando em mim a curiosidade.

— E quem é a companhia? 

— A Lady Charlotte, amiga de sua falecida esposa, se bem que breve, acho que ela será mais que isso.

— Por que acha que será mais que isso? 

— Eu não gosto de fofoca, mas Alfredo acha que Lady Charlotte, é apaixonada pelo Duque, e ela é a única mulher que vem para o palácio e que acompanha o Duque aos eventos da realeza.

Ouvir tia Mercedes dizer isso me deixa triste, meu coração se aperta e depois sou tomada por uma raiva.

— Tia, posso servir o jantar com você? — Pergunto.

— Não, você estava agora a pouco toda chorosa, é melhor descansar. E sem contar que o Duque parece irritado com você.

— Estou bem, tia, e o Duque é quase meu amigo, até pintei um quadro dele, não acho que ele esteja irritado comigo.

— Então, por que ele proibiu você de arrumar os aposentos dele? — Ela pergunta, olhando no fundo dos meus olhos.

— Ah, tia, sabe que esse Duque não bate bem das ideias, e ele se irrita com tudo, e já te falei que ele só se irritou comigo porque pulei na cachoeira. — Minto, pois sei que ele está me evitando por outros motivos.

— Não fale assim do Duque, se ele escuta que você disse que ele não bate bem das ideias, pode ter certeza de que mandará você embora.

— Não vai me deixar te ajudar? 

— Não, vá para o seu quarto.

Sabendo que ela não me deixaria ajudá-la, fui para o meu quarto, o Levado estava lá todo à vontade na minha cama.

— Sabia Levado que o Duque tem um jantar com uma tal de Charlotte? Isso me deixa irritada e triste.

Eu não me aguentava de curiosidade, queria ver quem era essa, Lady Charlotte, então sondei a minha tia para saber do jantar e se a tal “Charlotte” já havia ido embora.

— E como foi o jantar? 

— Deu tudo certo.

— A Lady Charlotte continua no palácio? 

— Sim, está jogando cartas com o Duque.

— Hum…

— Agora vou me recolher, também devia ir.

— Claro, vou, sim, ela não vai embora? 

— Não, ela mora distante e veio para ficar até o dia do baile. 

— Terá um baile? 

— Que curiosidade é essa menina? Vá dormir. — Ela fala rabugenta.

— Está bem, tia, não fique brava, e foi a senhora que começou com a fofoca, daí fiquei curiosa. — Falo.

— Anne! Vai para o seu quarto, sua danada. — Ela fala, passando por mim e dando uma tampa na minha bunda.

— Aí, tia, eu já sou uma mulher crescida.

— Mas se comporta como uma criança.

Ela se retira e, quando percebo que ela já se foi, vou às pontas dos pés bisbilhotar o Duque com a tal “Charlotte”!

Me escondo atrás da pilastra e vejo eles sentados um de frente para o outro, tomando vinho e rindo.

— Amo vê-lo sorrindo. — Ela fala.

— É a sua companhia que é muito agradável. — Ele fala. 

Fico fazendo caretas enquanto eles conversão, ela em toda oportunidade elogia ele.

— Sou grato por sempre estar ao meu lado, nunca vou esquecer.

— É um prazer, eu prometi a minha eterna amiga, parecia que ela sabia que nos deixaria, lembro que naquela semana ela me disse: se algo me acontecer, promete que cuidará do Charles, e que se preciso for, até se case com ele. 

— Eu não sabia disso. — Ele fala.

— Ela te amava tanto, e sempre quando estávamos sozinhas ela falava sobre se um dia ela partisse primeiro e se eu não tivesse ainda me casado, que era o desejo do coração dela, que eu fosse a sua esposa. — Ela fala chorando.

— Ela nunca me disse nada diretamente, mas quando tocava nesses assuntos, ela me dizia que, se ela falecesse, eu só poderia me casar de novo se fosse com você. Pensei que fosse uma brincadeira dela.

— E agora que já se passaram os anos, confesso que eu me apaixonei por você, e se quiser, estou disposta a cumprir esse desejo dela. — Quando escuto ela proferir essas palavras, meu coração dispara por medo do que ele vai dizer.

Fico ali com lágrimas formando em meus olhos, até sentir alguém tapar a minha boca. Levo um susto muito grande e penso até ser o fantasma da falecida duquesa.

Mas só era o Alfredo, coloco as mãos no meu coração, ele faz sinal para eu segui-lo, e sem protestar eu o obedeço.

Já na cozinha, ele me olha por um tempo. E eu só fico esperando a bronca que ele vai me dar, por esta aquela hora bisbilhotando a vida do Duque.

— Sei dos seus sentimentos pelo Duque, e vou apenas te dar um conselho: não crie esperanças, isso é uma loucura, é um amor impossível.

— Eu…  

— Me escute, menina Anne, se insistir, vai se machucar, é melhor esquecê-lo.

Ele fala e um nó se forma em minha garganta. 

— Eu não vou insistir, e eu só estava curiosa. Perdão, Alfredo, isso não vai mais acontecer, prometo não bisbilhotar mais a vida do Duque.

Depois daquele noite, eu me mantive só na cozinha, por mais que a vontade de ir saber o que estava acontecendo fosse grande, eu evitava andar pelo palácio. Sempre ia para o lago me distrair e, em algumas vezes, encontrei o Luigi, que parece não ter o juízo na cabeça e me convidou para acompanhá-lo na noite do baile da rainha.

— Sabia que te encontraria aqui, e aí pensou no meu convite?

— Como eu vou? Não tenho roupas para esse evento, e nem sei como me comportar.

— Apenas diga sim, e eu cuido do resto.

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