Me arrancou um sorriso

Voltar para o Palácio é sempre uma tortura, as lembranças da minha Isabel estão por todo lugar ali, desde que ela partiu dessa vida parece que a minha vida foi com ela, nada mais me alegra, por que a vida é assim? Pessoas boas morrem e as ruins continuam vivas fazendo maldade. 

Estávamos tão felizes e ansiosos pelo nascimento do bebê, e o dia que era para ser o mais feliz das nossas vidas foi a pior desgraça, ela se foi e o nosso pequeno Benjamin também. 

_ Senhor Duque, a carruagem o espera.

_ Já estou indo, Aleffe.

Era noite quando a carruagem parou na frente do Palácio, meu coração já pesava e a tristeza me consumia, sentia uma raiva ao pensar que agora poderia estar sendo recebido por minha Isabel e o nosso menino. 

Os empregados estão todos em suas posições e me dão Boas-vindas, e curvam-se me cumprimentando.

_ Alfredo me acompanha até o escritório._ Ordeno. 

_. Sim, senhor. 

No escritório, Alfredo me deixa a par de tudo, me entrega as cartas da realeza e um convite para o baile. 

Eu detesto ir a esses bailes, houve uma época em que eu gostava, mas isso foi antes da vida me arrancar a alegria. 

_ Não irei ao baile.

_. Mas esse o senhor não pode rejeitar. É um convite da rainha.

_ Tudo bem, mas preciso que me arrume uma acompanhante, não quero aquelas moças oferecidas me cercando. 

_ Sim, senhor, como deseja, assim farei.

Acordo no meio da noite, olho na janela e vejo algo que me chama atenção. Ela é branca como a lua e os cabelos loiros ondulados, está rodopiando no jardim, que maluca! A essa hora, dançando sozinha no meio da noite. 

Fico ali um tempo observando ela, não sei como conseguiu, mas essas maluquices que ela faz me tira um sorriso, nem lembrava mais como era essa sensação de achar algo engraçado, e quando ela cai entre os arbustos eu acabo rindo alto e isso chama atenção dela que procura de onde vem, me escondo atrás da cortina e vejo ela procurar e sair correndo parecendo assustada. 

As manhãs são ainda mais terríveis para mim, sozinho, uma mesa grande e farta, olho para o lugar onde ela se sentava e é como se eu ouvisse ela conversar comigo, seu sorriso angelical, suas mãos delicadas segurando a xícara de chá. 

_ Alfredo, sente-se e tome café comigo.

_. Sim, senhor. 

_ Mercedes sente-se também. _ Peço e ela olha-me receosa. 

_ Vai ficar me olhando? 

_ Não, senhor._ Ela fala, sentando-se ao lado de Alfredo. 

Eles ficam constrangidos, e não é para menos, acho que em nenhum Palácio os empregados ousaram sentar à mesa com os seus senhores, mas eu não me importo, não quero ficar tomando meu café da manhã sozinho. 

_ Me conte algo novo, Mercedes._ Falo e ela arregala os olhos. 

_ Contratamos uma empregada nova, minha sobrinha, o pai faleceu e ela ficou sozinha e eu sou seu único familiar. 

_ E você, Alfredo? 

_ Não tenho nada novo, senhor.

_ Imaginei, nunca sai desse Palácio, Alfredo, mande que me prepare o meu cavalo, quero cavalgar.

Estava pelos arredores do Palácio quando resolve ir até o lago onde costumava fazer piquenique com a Isabel. De longe, avisto alguém lá, desço do cavalo e vou devagar para não fazer barulho, me escondo atrás de uma árvore e fico observando, é a maluca de ontem à noite. 

Ela canta como um pássaro enquanto desliza o pincel na tela branca, tem uma linda voz, acabo pisando em um galho seco fazendo barulho e ela olha para trás assustada.

Fico quieto, imóvel, escondido, torcendo para ela não vir averiguar de onde veio o barulho. 

_ Não te ensinaram que é errado ficar bisbilhotando a vida alheia. _ Ela fala de forma atrevida, as palavras me parecem sumir, com aqueles olhos esverdeado me encarando.

Me pergunto: como não ouvir ela chegar? 

_ Quem pensa que é para falar comigo dessa maneira?_ Pergunto, tomando a minha razão e olhando para ela de forma dominadora, mas ela demonstra não estar nenhum pouco intimidada. Esse olhar sempre funciona com todos, mas ela simplesmente não se importou e continuou me encarando com altivez. 

_ Eu sou a prima da condessa do Palácio vizinho. _Ela fala com ousadia.

Mentirosa, se estava no meu jardim, deve ser empregada do Palácio e deve ser muito doida para não saber quem sou eu.

_ E o que faz uma dama sozinha nesse lago? 

_ Eu... Não é da sua conta!_ Ela fala e isso me irrita profundamente. 

_ Mal criada, para uma prima da condessa lhe faltam modos de uma.

_ E você é um arrogante bisbilhoteiro, e me dê licença que vou terminar a minha pintura. _ Ela fala, saindo em direção ao lago.

_ Vou lhe fazer companhia._ Falo sentando em uma pedra.

_ Eu preciso que saia, estou pintando essa parte do lago.

_. Pois pinte comigo aqui, eu venho aqui há anos, então ele é praticamente meu._ Falo como um garoto birrento.

O que a comigo? Por que estou agindo assim?  Quero ir, mas é mais forte do que eu a vontade de ficar e brigar.

_ Então fique aí, pintarei essa parte e um sapo feio sentado nas pedras._ Ela fala atrevidamente. 

_ O sapo, no caso, seria eu? 

_ Sim, feio como um sapo!

_ Hahahaha! Mentirosa, eu tenho espelho e sei quão bonito é charmoso eu sou.

_ E cego também, porque enxergar beleza onde não tem._ Ela fala e começa a cantar alto e volta a atenção para a tela como se eu não estivesse ali.

Fico observando ela pintar a tela, por um momento me perco e, tirando todo atrevimento e mau comportamento, ela é uma jovem belíssima, assim que chegar ao Palácio saberei quem é ela, e quero ver se diante do Duque ela terá esse mesmo atrevimento que está agora.

Já imagino a cara dela quando descobri quem sou eu. Saio sem dizer uma palavra e volto para o Palácio. 

Durante o almoço, eu consigo juntar as peças, a maluca deve ser a sobrinha da Mercedes, eu conheço todos os empregados do Palácio e essa moça nunca tinha visto aqui, então ela é a sobrinha da Mercedes.

_ Mercedes, qual a ocupação da sua sobrinha aqui no Palácio? _ Pergunto quando ela me serve a sobremesa. 

_ Ela está no lugar da Bernadete, na limpeza dos quartos.

_ Então, peça que ela troque as colchas da minha cama, não gostei das que ela colocou, e quero que faça agora mesmo. 

_. Sim, senhor. _ Ela fala e se retira. 

Espero por um tempo e depois vou para o meu quarto. Ela está dançando valsa com o meu travesseiro, está tão entretida que nem me percebi minha presença, eu devia estar com raiva como sempre fico, mas dela simplesmente não consigo.

Duque Charles Cadogan

Mais populares

Comments

Maria Isabel Ribeiro

Maria Isabel Ribeiro

ui ui ui que duque delícia hahahaha

2024-12-26

0

Nora Ney Guimarães Guimaraes

Nora Ney Guimarães Guimaraes

Que colírio para meus olhos 😍

2025-01-24

0

Cleide Almeida

Cleide Almeida

ela será a cura do Duque

2024-12-14

0

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!