Tião fica encabulado ao ouviu Marsé a chamando ''senhor Cadache'', se sente um velho, Pitucha percebe seu desconforto.
Pitucha: - Marsé?! "Senhor Cadache?" Por favor, é Tião, meu irmão não é velho!
Marsé fica ainda mais ruborisada, olha para Tião e depois para Pitucha: — É força do hábito! É assim que estão cadastrados na minha ficha.
Tião: — Pode chamar-me como quiser...não ligo.- serve um café a ela.
Marsé: — Sebastião! Vou chamá-lo Sebastião. - Pega o copo tocando seus dedos nas mãos fortes dele, seus olhares se encontram, Tião fica paralisado.
Pitucha com a intenção de deixar os dois sozinhos inventa algo para fazer, mais Marsé não a deixa ir.
Marsé: — O assunto que me traz aqui hoje é com você Ana Paula.
Pitucha: - Eu? Comigo?
Marsé: — Sim. Não sei se ficaram a saber da família que comprou a fazenda do Senhor Jonas?
Tião: — Ele conseguiu enfim vender? Já faz anos que está a venda.
Marsé: — A família que a comprou pretende se mudar para sede e pediram-me para os ajudar.
Tião: — E o que Pitucha tem a vê com isso?
Marsé: — Eles pediram-me para conseguir alguém para os ajudar. Pensei em Ana Paula.
Pitucha : - Em mim!? — Abre um sorriso, sempre sonhou em ter um trabalho e o seu próprio dinheiro.
Tião: — Pitucha não precisa disso? Nós cuidamos dela, não precisa trabalha fora.- Tião não gosta do que ouve.
Pitucha: — Tião?! Por favor, deixa Marsé explicar! E não acha que já estou bem grandinha para decidir se aceito ou não?!
Marsé olha para Tião esperando a sua aprovação para continuar.
Tião: — Pra que querem ela? Não veio quem os ajudasse de onde saíram?
Marsé: - Vieram de muito longe. Como não conhecem ninguém me pediram ajuda. Querem alguém para cuidar do Senhor George Prates, que é cadeirante.
Tião: — Cadeirante?
Pitucha: — Vive numa cadeira de rodas Tião!? Não consegue andar...
Tião: — Eu sei o que cadeirante é Pitucha. — Olha para Marsé — Não confio em deixa Pitucha entre desconhecidos
Marsé: — Se quiser o senhor pode ir os conhecer, eu marco com eles, precisam também de cozinheira, faxineira...
Pitucha: - Vai Tião, deixa? - faz carinha de pidonha que sempre dobra Tião.
Tião: - Larga disso Ana! - Tião tenta não ser rude na frente de Marsé - Quem vai cuidar da nossa casa? Das criação?
Estão a conversar quando Juca chega, ouvindo o que dizem, apoia Pitucha, estava mesmo procurando uma oportunidade para trazer a sua noiva para conhecer tudo e a desculpa de os ajudar pela saída de Pitucha é a oportunidade esperada.
Juca: — Deixa ela ir Tião! Se for preciso eu acompanho ela, e sobre a casa eu peço pra Ritinha...
Marsé: - Se Ana Paula não gostar ela pode sair.
Tião não tem coragem de contrariar Marsé, concorda meio contra vontade.
Tião: - Só vai se consegui dá conta de seus afazeres antes! Trata das galinhas, fazer o café...
Pitucha não deixa ele terminar, o abraça agradecendo, pulando de alegria: - Não sabe a felicidade que me deu... Vou faze tudo antes de ir, nem que tenha que levantá de madrugada...
Tião: - Larga disso menina! - desvencilha-se dela bagunçado o cabelo dela como fazia desde que ele era uma menina. - Vê se não dá liberdade pra esse povo da cidade e não vá deixa ninguém faze poco caso do cê.
Pitucha: - Eu sei! Tenho três irmãos pra me defender!
Marsé se despede deles, agradece o café, vai dar a notícia a família Prates.
Pitucha: - Tião, vá com Marsé, daí você conversa mais com ela.
Marsé sorri o que faz o coração de Tião disparar, saem juntos, ela abre a sombrinha,Tião coloca o chapéu e vai caminhando ao seu lado com as mãos nos bolsos.
Pitucha vai para seu quarto pulando de alegria, se joga na cama, ansiosa começa a imaginar mil coisas, na vida monótona que leva conhecer pessoas novas já é uma grande mudança. Se levanta, na parede um pequeno espelho, vai até ele e sorri para seu reflexo, seus olhos claros brilham, um sorriso mostrando os dentes alvos e perfeitos, passa as mãos nos cabelos, não estão compridos como queria, por trabalhar na roça até pouco tempo os manteve bem curtos até um ano atrás quando não quis mais cortar, estando pelos ombros agora, eram cortados por Toninho, o cabeleireiro da família. Pitucha olha suas roupas, a primeira coisa que vai fazer quando receber é comprar roupas de menina. Marsé prometeu lhe dar algumas peças mais ainda não lhe trouxe. Se lembra que há algumas roupas que eram de sua mãe em um baú no sótão, vai até lá a procura de algo que possa usar ou reformar. Ao abrir o baú Pitucha sente uma emoção invadir-lhe, até então não tinha sentido necessidade de ver o que havia ali, num pequeno baú tudo que restou de sua mãe, delicadamente vai retirando o conteúdo dele, um vestido azul, que deveria ser o de passeio, duas camisas, uma saia, uma camisola, algumas peças amareladas pelo tempo. No fundo um daqueles mini binóculos que se faziam com foto ao fundo, nele o rosto de uma mulher, sua mãe, rosto que sua memória não tinha, Pitucha sorri ao ver que se parece com ela, o mesmo olhar, o mesmo sorriso, a pele um pouco mais morena, do lado, seu pai, que a afastou dele, se fechou a culpando por perder a mulher amada, não lhe dando atenção ou carinho de pai, deixando a Tião e aos irmãos a responsabilidade por ela. Pitucha aperta o binóculo contra o peito e uma lágrima desce pela sua face, lágrima de emoção, tantas num só dia. Não é apenas seu corpo que mudou, seus sentimentos, seu modo de pensar, de ver a vida já não são mais os mesmos de um tempo atrás.
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Atualizado até capítulo 55
Comments
Erlete Rodrigues
amando a estória
2024-09-09
1
Angela Nascimento
essa estória é pura poesia, muito linda.
2024-06-16
6