CAPÍTULO 18 - Confissões de Otto

Finalmente, o carro chegou. Livy entrou no veículo e pediu ao motorista que dirigisse o mais rápido possível para a mansão dos D'Avilla, assim ele fez.

Ao chegar à mansão, os seguranças logo reconheceram Livy e abriram os portões de entrada. Ela pagou o motorista e correu para dentro da casa. Encontrou Otto deitado no sofá da sala, com um cobertor fino cobrindo o corpo e o rosto.

— Otto! - ela exclamou, ajoelhando-se para ficar na mesma altura que ele. -Como você se sente?

Ela cutuca suavemente o ombro do Otto insistindo para que ele a responda, entretanto o garoto continua em silêncio, até que ele tira o cobertor do rosto. A aparência dele estava ótima, seus olhos brilhavam com uma vitalidade que a pegou desprevenida.

Livy, ela não acreditou que foi facilmente enganada.

— Celine!

— Otto eu não acredito! - afastou-se do garoto, franziu a testa e cruzou os braços - Você estava mentindo!

Otto desviou o olhar, sua expressão culpada.

— Sim. - sua voz baixa. - Eu inventei a história para te fazer vir aqui.

— Por quê? - estava quase o repreendendo. -  Eu me preocupo com você, não faça isso de novo.

— Me desculpa, Celine?

— Não posso, vou embora agora que sei que está bem. - fingiu frieza.

Otto de repente se levantou do sofá, aproximou-se dela e se apressa para dar-lhe um abraço impedindo que ela saísse. Seus olhos fixos no de Livy implorando por compreensão.

— Não, fica Celine. - sinceramente pediu. - Eu menti que estou doente, mas se você for embora vou ficar sozinho!

— Sozinho? Onde estão os seguranças, funcionários, Agatha ou Rodrigo?

— Mas nenhum se importa comigo como você. Otto rebateu, sua voz tensa. - Ao entardecer quase todos vão embora, Agatha e Rodrigo só dormem aqui algumas vezes. E Madame Catarina não me deixa dormir com eles!

— Mas você já está grandinho para isso.

— Tem mais. - continuou. - Madame está a todo tempo muito irritada, briga com os funcionários, demitiu bastante dos que antes trabalhava aqui. Meu irmão eu não o vejo a anos, meu pai deixa a Madame irritada também e nesses dias ela acaba descontando em mim!

A atitude as palavras de Otto deixaram Livy assustada e uma pitada atordoada. Desde que chegou a este mundo, o garoto era visivelmente quem mais se importava com ela, mas ele não levava uma boa vida . Livy sabia o que era a solidão, porém seria difícil atender o pedido dele.

— Otto...eu...

— Por favor Celine!

Era palpável a tensão na sala. O silêncio que foi instalado carregou o peso das palavras. Livy se sentiu pressionada e acabou desistindo de resistir.

— Tudo bem Otto, ficarei aqui com você hoje mas terei que falar com a Madame.

— Ela não está em casa.

— Não? Onde ela está a essas horas?

— Como disse o temperamento dela não está bom mas é a primeira vez que ela passa a noite longe de casa.

— Que estranho.

— Mas liguei para Rodrigo antes de ligar para você e pedi que ele cuidasse dela.

A noite caiu com uma lua cheia e brilhante, nuvens cobriam as estrelas do céu. O cansaço pesava em seus ombros, fruto de um dia repleto de emoções e sugeriu que ambos fosse dormir. Otto concordou, a sugestão soou como um bálsamo para sua alma cansada mas pediu que Livy dormisse com ele está noite, ela atendeu ao pedido dele.

Buscou um colchão no antigo quarto de hóspedes que ficava. Sentiu nostálgica, memórias da casa invadiram sua mente. Os móveis que decoravam seu quarto não estavam mais ali, as paredes pintadas de vermelho vibrante foram repintadas por um branco pacato. Sua personalidade havia desaparecido por completo do quarto.

Com colchão da sua antiga cama em mãos, o arrastou para o corredor, seus passos ecoaram pela mansão. A casa nunca esteve tao silenciosa. Ao chegar na porta do quarto de Otto, bate para que ele abra.

— Otto, voltei. - ela anunciou com a voz suave. A porta se abriu, revelando o rosto sonolento do garoto.

— Livy. - ele murmurou, esfregando os olhos com as costas da mão.

Livy entrou e jogou o colchão sob o grande tapete que tinha ao lado da cama do garoto. Ela dormiria ali, hoje.

— Posso te ajudar com o colchão?

— Sim, por favor.

Otto pegou o cobertor e o travesseiro entregou para Livy.

Quando os dois estavam pronto para dormir Livy foi até o interruptor desligar a luz e em seguida finalmente deitar. A escuridão a cercava, envolta em um silêncio sepulcral quebrada apenas pela respiração suave de Otto.

Minutos se passaram, Livy estava quase estava sonolenta quando em sua mente algo surge e a faz perder o sono. Ela olha para o lado a fim de conferir se Otto já dormiu.

Livy virou-se para o lado, encontrando Otto observando-a com seus olhos castanhos profundos.

— Não consegue dormir? - ele com a voz sonolenta, esfregando os olhos.

— Estava lutando contra a insônia. Desculpa, te acordei. - respondeu constrangida.

— Tudo bem, se quiser, podemos caminhar um pouco. - sentou-se na cama. - Meu irmão uma vez me fazia isso.

Um déjà vu instantâneo tomou conta de Livy. As palavras de Otto soavam como um eco das palavras de Ethan.

— Ele pediu para que eu fizesse isso com você, quando não conseguisse dormir também.

As palavras de Otto a surpreenderam.

— Ethan disse isso? - aguardou com expectativa a resposta.

— Sim, antes dele ir embora me pediu para cuidar de você enquanto você estivesse conosco e me ensinou isso.

— Agora entendo, foi antes da viagem.

— Você tem falado com meu irmão?

— Não falo com ele há 5 anos, não faço ideia de como está agora. - Livy estava ainda chateada por ele ir embora sem dizer nada e ainda a última vez que se viram estavam brigando.

Otto hesita antes de fazer a pergunta sobre Ethan.

— Você acha que ele ainda se lembra de nós?

— De você? - pontuou. - Claro você é o irmão mais novo dele.

— E você, Celine? Sente saudades dele?

— A última vez que nos vimos havíamos brigados. - confessou para o garoto, a voz embargada pela mágoa que ainda persistia após tantos anos. - Acho que ele não quer saber de mim.

— Acho que ele ainda se importa com você. O meu irmão é assim, as vezes também achava que ele não gostava de mim.

— Otto que bobagem. - ela riu. - Vocês dois são família.

Os olhos castanhos de Otto fitam Livy com intensidade, Livy  sentia o peso do olhar de Otto sobre ela. Ele parecia querer confessar lhe algo importante também mas estava hesitante.

— Pode me contar tudo o que quiser, você sabe que pode confiar em mim. - Ela coloca a mão em seu ombro, oferecendo um gesto de conforto e apoio.

— Isso é algo que q família mantém guardado. A Madame só é mamãe do meu irmão.

— Como assim Otto?! - sentou-se abruptamente na cama.

— Minha mamãe foi embora quando eu nasci. Pai ficou muito triste  durante anos e isso me fez sentir culpa. Não consegui falar com ele e depois com mais ninguém.

Otto confessa a dor que sentiu com a partida da sua mãe biológica logo após seu nascimento. Essa experiência o marcou profundamente, criando um sentimento de culpa e isolamento que carregou durante anos.

A dor da perda da mãe ainda era viva em seu coração, e ele nunca havia tido a oportunidade de falar sobre isso com ninguém da família.

— Se eu não tivesse nascido, pai seria feliz ainda e mamãe estaria com ele.

— Otto, como pode pensar assim? Isso não foi culpa sua. Você é uma criança maravilhosa e tenho certeza que seu pai te ama.

— Tudo bem, Celine. Não precisa se preocupar. - deu um sorriso para disfarçar a tristeza das sua palavras. - Agora lido melhor com isso. Meu pai mudou quando Madame e o irmão Ethan veio morar aqui. - a criança explicou. - Meu pai estava mais feliz.

— Sério? O que causou a mudança? Estão tão diferentes.

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