Livy emergiu do portal, encontrando-se em uma floresta exuberante, banhada pela luz do sol. O ar fresco e puro encheu seus pulmões, diferente da névoa densa do reino em que mora.
A primeira coisa que reparou foi em sua força, ela estava leve parecia que tinha perdido todo o seu poder sobrenatural.
Estranhou pois agora tinha cabelos brilhosos, a cor ainda era a mesma, preto. Reparou em suas mãos, agora só tinha duas e eram pequenas e delicadas.
— Faz tanto tempo, então é assim que é estar viva!
Olhou a sua volta mas não sabia onde estava. Suas roupas que não eram da melhor qualidade, estavam molhadas indicando que caiu no rio ali próximo.
— Meu mestre me colocou no corpo de outra pessoa? O que ela fazia aqui?
Livy precisava encontrar o caminho para a cidade grande mas estava sem seus poderes e com frio.
Se sentou à beira do rio, a água cristalina refletindo o sol nascente. O frio da manhã a fez tremer, e ela se enrolou na capa fina que encontrou ao lado do corpo que agora habitava.
Seus olhos, ainda se ajustando à luz, percorriam a floresta exuberante ao seu redor. O canto dos pássaros e o sussurro das folhas eram sons estranhos e maravilhosos, tão diferentes da névoa densa e do silêncio do reino caótico.
Livy tocou seu rosto, sentindo a textura macia da pele e a delicadeza das feições. Seus cabelos negros e curtos caíam em ondas até a linha dos ombros, e seus olhos eram tão verdes como a grama que via no reino de Ember.
Com um suspiro, ela se levantou e começou a caminhar pela floresta, sem saber para onde ia. A única certeza que tinha era a necessidade de encontrar a cidade, um lugar onde pudesse comer e descansar antes que chegasse a noite, e então, pudesse planejar seus próximos passos.
Seu mestre não lhe deu informações sobre a pessoa dona deste corpo, apenas falou quem ela deveria atingir e assim que tivesse atingido a missão poderia ir embora.
Finalmente, após uma longa caminhada, Livy chegou à cidade grande. As ruas movimentadas, os prédios altos e o burburinho das pessoas a deixaram atordoada.
Ela vagou pelas ruas, observando as pessoas com seus afazeres, seus sorrisos, suas ansiedades.
— Infelizes - murmurou, franzindo a testa. - por que sorriem á toa.
De repente, em uma vitrine empoeirada, Livy se deparou com seu reflexo e engasgou com a própria imagem.
— Eu sou uma criança! - pensou ela com seus olhos arregalados de espanto. - Por que ele me deu este corpo? A missão, aparentemente, vai demorar mais tempo.
Sua aparência agora, era de algum que tinha seus 8 anos de idade.
— Celine?!
Gritou uma voz de longe que foi ignorada por Livy pois ela estava concentrada observando sua nova aparência.
A voz, doce e melodiosa, vinha de uma mulher idosa que se aproximava com um sorriso gentil.
Livy a encarou, incerta.
— Celine? -O nome soava estranho, mas algo familiar pairava no ar.
A mulher estendeu a mão, seus olhos cheios de compaixão.
— Venha, Celine. Está na hora de voltar para casa.
Livy hesitou, dividida entre a desconfiança e a curiosidade não saiu do lugar.
— Voltar para casa? - Questionou ela em voz baixa.
— Mas... onde essa criança mora, será que ela confiaria em você? - pensou.
Livy tinha muitas dúvidas em sua cabeça, mas seria estranho se ela fizesse algumas perguntas para a senhora na sua frente.
A mulher sorriu, seus olhos transmitindo uma sabedoria ancestral.
A senhora parecia inocente aos seus olhos então decidiu confiar nela e estendeu a sua pequena mão.
— Ah céus! Suas roupas estão todas molhadas! - reclamou, a compaixão sumiu de seus olhos dando lugar para um olhar de reprovação. - Eu falei para não sair correndo por aí.
Livy a olhava sem entender a relação da senhora com a criança.
— Eu cai no rio. - Livy sucintamente falou.
— O que eu faço com você, Celine? Sua vozinha não tem mas idade para cuidar o tempo inteiro de você. - reclamou. - Você deve ser comportada.
Disse tirando um cobertor do cesto humilde que carregava e a cobrindo, criando mais uma camada para mantê-la aquecida.
A senhora então a levou para casa.
Livy olhou para a casa com uma mistura de curiosidade e apreensão. A vida que ela agora habitava era um mistério, e a casa era a porta de entrada para o desconhecido.
A casa de Celine era um reflexo da própria vida: humilde, mas aconchegante. Situada em uma sem saída, mais afastada do centro. A modesta construção de dois andares se destacava apenas pela porta de madeira verde desbotada e pelas flores coloridas que adornavam as janelas e o pequeno jardim na frente.
O interior da casa era simples e funcional. No térreo, ficava os dois quartos da casa, na parte de baixo estava a sala de estar. Era mobiliada com um sofá gasto, algumas cadeiras de vime e uma mesa de centro rústica. Uma lareira de pedra ocupava um lugar de destaque, emanando calor e aconchego durante os dias frios. Livy se aproximou da sala e viu um homem barbudo, ele estava dormindo no sofá parecia cansado mas em paz naquele momento.
Ao lado da sala, a cozinha. Era pequena, mas bem equipada. Panelas de cobre prendidas por ganchos na parede, e o aroma da comida sendo cuidadosamente preparada pela avó de Celine se misturava ao cheiro de ervas frescas colhidas no jardim.
O sol da manhã banhava a cidade com os seus raios dourados, iluminando o rosto de Livy enquanto ela dormia. O corpo de Celine, frágil e delicado, era um contraste gritante com a força e a ferocidade que habitavam a sua alma.
Ao despertar, Livy se viu confrontada com a realidade de sua nova vida. A fúria que a consumia no reino caótico agora era contida por um corpo que não acompanhava seus impulsos.
— Se a missão era tão importante, por que ele me deu esse corpo inútil! - reclamou em seu quarto.
Livy desceu as escadas mas nos cômodos de baixo não tinha ninguém, os avós de Celine aparentemente estão fora. Na cozinha Livy viu o seu café da manhã a esperando na mesa no mesmo instante seu estômago roncou pois agora como humana sentia fome.
Após o seu café, trocou o seu pijama e aproveitou que não tinha ninguém com ela, saiu da casa de Celine.
Com passos hesitantes, Livy perambulou pelas ruas da cidade, observando as pessoas com seus afazeres cotidianos. A cada sorriso, a cada abraço, ela sentia uma pontada de inveja. A vida humana, tão simples e mundana.
Em um mercado movimentado, ela se deparou com um grupo de crianças brincando. Seus olhares se cruzaram, e por um breve momento, ela viu a si mesma em seus rostos, a inocência e a alegria que ela havia perdido há muito tempo.
Uma das crianças, um menino com cabelos e olhos castanhos brilhantes, se aproximou dela.
— Você quer brincar conosco?
— Eu, brincar? - a ideia lhe parecia absurda. Ela, a Senhora das cinzas participar de algo trivial e humano. - Há! Não me faça rir mini humano.
— Mini...humano? - falou a criança demonstrando estar desconfortável e perdida com a resposta de Livy.
O menino, ofendido pela resposta de Livy, se junta aos seus amigos e a deixa sozinha. Ela observa as crianças brincando e sente uma crescente sensação de isolamento.
Mais tarde, Livy esbarrou em um vendedor, derrubando sua barraca de frutas sem querer. Maçãs, laranjas e tomates rolaram pelo chão, enquanto o homem gritava de raiva.
Evidentemente estressado, o homem a empurrou com força, fazendo-a cair no chão.
— Olha o que você fez, vá embora, garota! - ele gritou, seus olhos cheios de fúria.
Livy se levantou, o sangue batendo em seus ouvidos deixou suas orelhas vermelhas. Uma onda de fúria a dominou e, sem pensar, ela ergueu a mão e inesperadamente lançou um raio de energia contra a barraca do homem.
A madeira rachou e pegou fogo, as chamas se alastrando rapidamente. O mercado se transformou em um caos.
— A minha força, pude senti-la por alguns instantes?! - pensou animada. - eu ainda tenho ela.
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Atualizado até capítulo 25
Comments
Subaru Sumeragi
Que história incrível, autora! Não consegui parar de ler até o final.
2024-04-08
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