Livy se viu novamente envolta num turbilhão de pensamentos e emoções enquanto tentava conciliar o sono no seu novo quarto.
As imagens da mansão, os rostos da família que a acolheu e a lembrança do acidente, os rostos que viu no espelho se misturavam em um pesadelo vívido e angustiante.
Em meio ao pesadelo, uma figura sombria destacou-se.
Livy viu o seu mestre, com seus olhos penetrantes e sua voz rouca falava com ela, cobrando-a pela missão.
Um grito estrangulado escapou dos seus lábios quando ela despertou abruptamente, banhada em suor frio. A luz fraca da lua entrava pela janela, iluminando o quarto luxuoso.
— Então é isso que os humanos sentem ao me ver nos seus sonhos. - Assustada ela pensava consigo mesma.
Ela colocou a mão sobre a camisola que vestia e em seu peito sentiu o seu coração bater forte e acelerado. Esfregou os seus olhos, pois eles ainda estavam cansados, lamentando a segunda noite seguida sem dormir.
Decidindo que não conseguiria dormir novamente, Livy se levantou com cuidado para não perturbar o silêncio da casa. Desceu as escadarias em direção à cozinha, buscando um copo de água para acacalmar os seus nervos.
Apoiou o copo na pia, pois queria abrir a grande janela que estava na sua frente.
Pegou o copo novamente para terminar de beber enquanto sentia a brisa gelada que vinha da janela e observava a lua cheia banhando o jardim em tons de prata, criando um cenário surreal.
Seu coração finalmente estava se normalizando, mas Livy perdeu o sono que sentia.
Enquanto observava a noite serena, Livy se assustou ao ouvir uma voz suave atrás de si.
— Não consegue dormir?
Virando-se abruptamente, ela deparou-se com Ethan, os seus olhos na cor de âmbar brilhava sob a luz da lua. Ele vestia um pijama azul com mangas longas simples, e os seus cabelos castanhos estavam despenteados.
— Opa! Desculpa, eu assustei você. - disse sorrindo suavemente, ele ainda parecia cansado.
— Eu... tive um pesadelo. — Livy respondeu, hesitante.
Ethan se aproximou, encostando-se no balcão da cozinha, ficando ao lado de Livy.
— Pesadelos são comuns para quem está em um novo ambiente. — ele disse com um sorriso gentil olhando para ela. — Quer conversar sobre isso?
— Mesmo que eu te conte você não entenderia.
— Tente, somos família agora. Pode confiar em mim. - sua fala pegou a desprevenida.
— Nós não somos uma família. Nunca seremos. - disse lembrando-se do que a mãe de Ethan falou mais cedo no jantar.
— Isso é pelo o que minha mãe disse? - perguntou. - Não ligue para ela, logo ela vai te aceitar.
— Não quero que ela me aceite, não quero nada desses humanos além do que for necessário para encontrar quem estou procurando e voltar para meu corpo. - pensou.
— Não, eu concordo com ela. - ela disse seria.
— Acho que cheguei em um ponto da conversa que você não queria chegar, desculpe.
— Para de pedir tantas desculpas.
— É um costume.
Sinceramente, ele estava a irritando.
— Por que está franzindo a testa? - ele falou e logo virou-se para ela, tocando o meio da testa de Livy. Movimento no qual a fez desfazer a expressão que antes estava.
— O que está fazendo? - disse pegando na mão dele e empurrando para longe do seu rosto.
— Se eu estivesse com toda minha força, cortaria seu braço fora. - ela pensou.
— Estou apenas tentando me aproximar de você, já que seremos irmãos agora.
— Irmãos?
— Sim, será como uma segunda filha mais velha desta família. Foi o que meu pai disse.
— Poderia eu fazer parte dessa família? Seu pai lhe disse também porque estou aqui?
— Não, na verdade não. Mas é tão importante?
Para Livy não, mas para Celine a dona deste corpo sim. Livy não poderia aceitar tão tranquilamente essa nova família.
Não havia tanto tempo que Livy chegou a este mundo. Por causa da família de Ethan, ficou em coma e Celine perdeu seus avós e muitos momentos da sua vida, a única família que tinha, agora ela seria órfã.
Livy sentia-se culpada mas não detinha toda aquela culpa sobre ela. Todavia, por estar no corpo de Celine, a última lembrança de seus avós será quando criança. Depois que Livy retornar ao seu estado original, Celine viverá a vida que ela deixar.
Livy pensou em contar para o Ethan sobre o acidente mas poderia haver alguma razão para que os pais deles não o fizeram.
Ethan diretamente não fez nada a Celine. Talvez se ela dissesse, ele seria tomada por angústia o que fez ela desistir da ideia. Mas ainda assim, não faria parte dessa família, pensando em Celine.
— Esqueça o que eu disse. - ela falou. - Mas e você, o que faz aqui?
— Não consegui dormir também. — ele disse com voz suave. — A insônia parece ser um efeito colateral comum para quem está nesta casa.
— Parece que sim. - ela tomou o seu último gole do copo de água. - Vou voltar para o meu quarto.
— Não prefere andar pelo jardim? - convidou abruptamente. - Não vou conseguir dormir agora e acho que você também não.
Livy hesitou por um momento, seus olhos se encontrando com os de Ethan.
Ela estava de frente para a saída quando ouviu o convite, o olhava por cima dos ombros com desdém para disfarçar o seu interesse por Ethan. Ela não sabia o motivo, mas ele deixava-a intrigada.
— Por que você quer que eu vá com você? - ela perguntou baixinho.
Ele não respondeu, continuou a olhando esperando com expectativa a resposta dela.
O seu comportamento com ela ao vê-la pela primeira vez foi muito amigável, em comparação com os outros seres humanos que Livy conheceu desde que veio para o mundo dos humanos.
Ela se sentia estranha sobre ele e ao mesmo tempo sentia que podia confiar nele.
— Tudo bem. — ela disse finalmente, tomando sua decisão. — Vamos dar uma volta, mas apenas por um tempo.
Ethan sorriu e adiantou-se, abrindo a porta da cozinha que daria de frente para o jardim de trás da casa. Esse jardim, ele era menor que o da frente, mas, ainda assim, era bonito.
— Primeiro você, Line.
— Me chamou de quê?
— Line. - ele repetiu sem se intimidar com a reação dela. Isso fez com que a expressão de Livy mudasse novamente.
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Atualizado até capítulo 25
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