CAPÍTULO 8 - Nos conhecemos?

Livy se viu novamente envolta num turbilhão de pensamentos e emoções enquanto tentava conciliar o sono no seu novo quarto.

As imagens da mansão, os rostos da família que a acolheu e a lembrança do acidente, os rostos que viu no espelho se misturavam em um pesadelo vívido e angustiante.

Em meio ao pesadelo, uma figura sombria destacou-se.

Livy viu o seu mestre, com seus olhos penetrantes e sua voz rouca falava com ela, cobrando-a pela missão.

Um grito estrangulado escapou dos seus lábios quando ela despertou abruptamente, banhada em suor frio. A luz fraca da lua entrava pela janela, iluminando o quarto luxuoso.

— Então é isso que os humanos sentem ao me ver nos seus sonhos. - Assustada ela pensava consigo mesma.

Ela colocou a mão sobre a camisola que vestia e em seu peito sentiu o seu coração bater forte e acelerado. Esfregou os seus olhos, pois eles ainda estavam cansados, lamentando a segunda noite seguida sem dormir.

Decidindo que não conseguiria dormir novamente, Livy se levantou com cuidado para não perturbar o silêncio da casa. Desceu as escadarias em direção à cozinha, buscando um copo de água para acacalmar os seus nervos.

Apoiou o copo na pia, pois queria abrir a grande janela que estava na sua frente.

Pegou o copo novamente para terminar de beber enquanto sentia a brisa gelada que vinha da janela e observava a lua cheia banhando o jardim em tons de prata, criando um cenário surreal.

Seu coração finalmente estava se normalizando, mas Livy perdeu o sono que sentia.

Enquanto observava a noite serena, Livy se assustou ao ouvir uma voz suave atrás de si.

— Não consegue dormir?

Virando-se abruptamente, ela deparou-se com Ethan, os seus olhos na cor de âmbar brilhava sob a luz da lua. Ele vestia um pijama azul com mangas longas simples, e os seus cabelos castanhos estavam despenteados.

— Opa! Desculpa, eu assustei você. - disse sorrindo suavemente, ele ainda parecia cansado.

— Eu... tive um pesadelo. — Livy respondeu, hesitante.

Ethan se aproximou, encostando-se no balcão da cozinha, ficando ao lado de Livy.

— Pesadelos são comuns para quem está em um novo ambiente. — ele disse com um sorriso gentil olhando para ela. — Quer conversar sobre isso?

— Mesmo que eu te conte você não entenderia.

— Tente, somos família agora. Pode confiar em mim. - sua fala pegou a desprevenida.

— Nós não somos uma família. Nunca seremos. - disse lembrando-se do que a mãe de Ethan falou mais cedo no jantar.

— Isso é pelo o que minha mãe disse? - perguntou. - Não ligue para ela, logo ela vai te aceitar.

— Não quero que ela me aceite, não quero nada desses humanos além do que for necessário para encontrar quem estou procurando e voltar para meu corpo. - pensou.

— Não, eu concordo com ela. - ela disse seria.

— Acho que cheguei em um ponto da conversa que você não queria chegar, desculpe.

— Para de pedir tantas desculpas.

— É um costume.

Sinceramente, ele estava a irritando.

— Por que está franzindo a testa? - ele falou e logo virou-se para ela, tocando o meio da testa de Livy. Movimento no qual a fez desfazer a expressão que antes estava.

— O que está fazendo? - disse pegando na mão dele e empurrando para longe do seu rosto.

— Se eu estivesse com toda minha força, cortaria seu braço fora. - ela pensou.

— Estou apenas tentando me aproximar de você, já que seremos irmãos agora.

— Irmãos?

— Sim, será como uma segunda filha mais velha desta família. Foi o que meu pai disse.

— Poderia eu fazer parte dessa família? Seu pai lhe disse também porque estou aqui?

— Não, na verdade não. Mas é tão importante?

Para Livy não, mas para Celine a dona deste corpo sim. Livy não poderia aceitar tão tranquilamente essa nova família.

Não havia tanto tempo que Livy chegou a este mundo. Por causa da família de Ethan, ficou em coma e Celine perdeu seus avós e muitos momentos da sua vida, a única família que tinha, agora ela seria órfã.

Livy sentia-se culpada mas não detinha toda aquela culpa sobre ela. Todavia, por estar no corpo de Celine, a última lembrança de seus avós será quando criança. Depois que Livy retornar ao seu estado original, Celine viverá a vida que ela deixar.

Livy pensou em contar para o Ethan sobre o acidente mas poderia haver alguma razão para que os pais deles não o fizeram.

Ethan diretamente não fez nada a Celine. Talvez se ela dissesse, ele seria tomada por angústia o que fez ela desistir da ideia. Mas ainda assim, não faria parte dessa família, pensando em Celine.

— Esqueça o que eu disse. - ela falou. - Mas e você, o que faz aqui?

— Não consegui dormir também. — ele disse com voz suave. — A insônia parece ser um efeito colateral comum para quem está nesta casa.

— Parece que sim. - ela tomou o seu último gole do copo de água. - Vou voltar para o meu quarto.

— Não prefere andar pelo jardim? - convidou abruptamente. - Não vou conseguir dormir agora e acho que você também não.

Livy hesitou por um momento, seus olhos se encontrando com os de Ethan.

Ela estava de frente para a saída quando ouviu o convite, o olhava por cima dos ombros com desdém para disfarçar o seu interesse por Ethan. Ela não sabia o motivo, mas ele deixava-a intrigada.

— Por que você quer que eu vá com você? - ela perguntou baixinho.

Ele não respondeu, continuou a olhando esperando com expectativa a resposta dela.

O seu comportamento com ela ao vê-la pela primeira vez foi muito amigável, em comparação com os outros seres humanos que Livy conheceu desde que veio para o mundo dos humanos.

Ela se sentia estranha sobre ele e ao mesmo tempo sentia que podia confiar nele.

— Tudo bem. — ela disse finalmente, tomando sua decisão. — Vamos dar uma volta, mas apenas por um tempo.

Ethan sorriu e adiantou-se, abrindo a porta da cozinha que daria de frente para o jardim de trás da casa. Esse jardim, ele era menor que o da frente, mas, ainda assim, era bonito.

— Primeiro você, Line.

— Me chamou de quê?

— Line. - ele repetiu sem se intimidar com a reação dela. Isso fez com que a expressão de Livy mudasse novamente.

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