Tiramisu

Quando ele finalmente recobrou a consciência, meu olhar perfurou o seu, uma mistura de desgosto e determinação. Continuei meu interrogatório, cada palavra carregada de uma raiva contida que fervilhava dentro de mim.

- Retomando. Você abusou do teu filho, ele se matou e tua mulher te deu um pé na bunda e refez a vida dela bem longe de você.

- A culpa foi tua, Fábio.

- Como a culpa pode ter sido minha? - Rebati.

- Eu gostei tanto de nós dois juntos, que em um momento de saudade de você, tomei meu filho. Mas ele não era como você, ele não era você, então o liberei e me afastei dele, porém ele ficou em pânico e quando saiu correndo pela rua foi atropelado. Minha mulher me traia e usou a desculpa da morte do nosso filho para ir embora. como você sabe que ela está em Nova York?

- Estive conversando com ela. Você falou de traição, mas você não era fiel com ela. Mais quantos além de mim?

- Você foi o único.

- Da minha idade, sim. Mas tinham outros um pouco mais velhos, não é mesmo? - insisti, forçando-o a enfrentar sua própria vilania.

- se você sabe porque está me perguntando? Eu não tinha ideia que o teu pai iria fazer aquilo com você. E se você quer saber, Fábio, eu me arrependo da forma com que te tratei, eu podia ter sido mais carinhoso com você, afinal foi a tua primeira vez, não é mesmo? Fábio, sei que isso deixou uma marca em você e você precisa de ajuda.

Um riso amargo escapou dos meus lábios.

- Ajuda? Não. Eu estou bem. O que eu preciso é acertar as contas. E sabe, você estava agendado mais para frente, tinha outra pessoa que era para ser por primeiro, mas parece que o destino quis que você fosse o primeiro.

- É por isso que você estava perto da casa do teu irmão? Você ia fazer com o filho dele o mesmo que fiz com você?

Dei outro soco, dessa vez mais fraco.

- Olha bem se sou desprezível e nojento como vocês.

- Fábio, psicologicamente falando você tem tendência a repetir as coisas pelas quais passou...

- Psicologicamente falando, eu não vou fazer o que fizeram comigo, justamente porque isso acabou comigo, então porque eu faria o mesmo com outra pessoa? Eu só quero cuidar de vocês. Com certeza vou deixar o mundo muito melhor para se viver sem vocês.

- Você não vai me matar.

- Por que não?

- Se fosse, você já teria feito.

Um sorriso sinistro curvou meus lábios.

- Uma morte rápida seria muito bom para você. Tenho que ir. Não tente fugir, você não vai longe.

Saí dela e rodei algum tempo com o carro até que me dei conta que estava na frente da escola do Lucca. Não demorou muito e eu vi ele brincando. Eu não ia permitir que o Renato ou meu pai estragasse a vida do menino igual fizeram com a minha. Falando no meu pai, quando a aula chegou ao fim, vi ele e minha mãe indo buscar o Lucca na escola. Minha mãe parecia ser amorosa com ele, meu pai não dava para saber. Segui eles um pouco e vi que foram em uma sorveteria, resolvi procurar por Mariana. Ela estava no trabalho. Era um restaurante e ela trabalhava como garçonete.

Entrei e escolhi uma mesa.

- Você?

- Oi. Não sabia que trabalhava aqui.

- É só um bico.

- Desculpa, indelicadeza minha.

Reparei que o braço dela estava machucado.

- O que vai querer?

- Dois Tiramisu.

- Esperando alguém?

- Talvez.

- Já providencio.

Enquanto ela arrumava o prato, chamei o gerente e conversei com ele.

- Aqui está. Algum problema que estava falando com o gerente?

- Não. Muito pelo contrário. Me acompanha?

- Eu não posso, estou trabalhando...

- Por isso estava falando com o gerente. Não gosto das pessoas me encarando porque estão todos acompanhados e eu não.

Ela olhou para o gerente e então se sentou.

- Quem é você?

- Desculpa, Lorenzo.

- Mariana.

- Como está teu filho?

- Está bem, graças a você. Saiu com os avós para eu vir trabalhar.

- Desculpa perguntar, mas porque você trabalha aqui?

- Eu gosto daqui e estou juntando dinheiro para abrir uma confeitaria, mas meio que não quero que meu marido saiba. Não que ele fosse se importar, é complicado. E você? Nunca tinha te visto e agora até parece que está me seguindo.

- Eu morava fora do país, acabei de retornar e ontem estava procurando uma casa para alugar ou comprar e hoje, bom eu pesquisei onde você trabalhava e vim aqui.

Nós rimos.

- Eu sou casada, rapaz.

Rimos e comemos o Tiramisu então ela voltou para o trabalho. O gerente do restaurante, fazia parte da máfia Montenegro.

- Tenho um serviço para você. - disse ele. - Do jeitinho que você gosta.

- Me mande as informações. Ah, o que você sabe dela?

- Viu o braço dela? Parece que estão tendo problemas e sempre que eles tem problemas ela vem trabalha aqui, pega o pagamento e fica chapada.

- Vou cuidar desse assunto.

- Ei, fica esperto.

O serviço que ele tinha para mim, era cuidar de um estuprador que saiu da cadeia, como eu não queria perder tempo, me posicionei em um local seguro e assim que ele saiu da prisão, dei um tiro em sua cabeça e desapareci.

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