Retorno

Pisar em solo natal foi como abrir uma ferida que estava quase cicatrizada, revivi cada momento desde que eu tinha consciência. Fazia tanto tempo que isso não acontecia que tinha esquecido como era angustiante a sensação de ficar preso em um loop infernal de memórias que te sugavam o ar. Busquei em meu bolso os comprimidos que tomava quando isso acontecia e tomei. Quando me senti melhor, chamei um uber e fui para o apartamento que aluguei. Tomei um bom banho e pedi uma comida.

Depois de me alimentar e descansar um pouco, decidi que era hora de começar a colocar meu plano em prática. Peguei uma pasta que trouxe comigo e comecei a revisar os documentos e as informações que coletei durante anos. Era hora de começar a traçar meus próximos passos com cuidado e precisão.

Enquanto folheava os papéis, minha mente se perdia em um labirinto de estratégias e possibilidades. Eu sabia que essa missão seria arriscada, mas era algo que precisava ser feito. Não apenas pela minha própria busca por justiça, mas também em nome de todos aqueles que sofreram nas mãos daqueles que eu jurara eliminar.

À medida que a noite avançava, eu me aprofundava cada vez mais em minhas pesquisas, analisando alvos e estudando cada detalhe que poderia me ajudar a alcançar meu objetivo, desde vasculhar redes sociais até conseguir informações por outros meios. Não havia espaço para erros, e eu estava determinado a garantir que tudo saísse conforme o planejado.

Eu sabia que o Renato tinha se casado e tinha um filho de uns cinco ou seis anos, pobre criança. A mulher dele parecia ser uma boa pessoa e não ter nenhuma ideia de quem é o marido e o risco que o filho corre. Em todo caso, eu precisava investigar mais de perto. Meus pais, bom meus genitores, continuavam casados e aparentavam uma família feliz que se refez do luto após o suicídio do filho caçula, o qual nunca encontraram o corpo. Eu achava icônico ler as postagens da minha mãe no Facebook e no Instagram, sempre postando coisas no meu aniversário e dizendo que sentia minha falta. O que obviamente fazia parte de algum plano deles para mascarar meu suposto suicídio. Meu pai tinha subido no escalão e era general. Raul continuava coronel e aparentemente não havia se casado com mais ninguém. Continuavam com a corrupção e com o que me enojava, comercialização de crianças e jovens, para exploração sexual, trabalhos forçados, venda de órgãos. Eles não tinham arruinado só a minha vida, mas de muitas outras pessoas.

Enquanto eu mergulhava nas profundezas das informações que havia coletado, senti uma mistura de emoções inundando meu ser. A raiva queimava dentro de mim, alimentando minha determinação de fazer justiça. Cada detalhe que descobria sobre as atividades corruptas dos meus pais e de seus comparsas aumentava minha determinação de derrubá-los.

Mas também havia uma pitada de tristeza, uma sensação de pesar pelo que poderia ter sido, se não tivesse sido arrastado para as trevas pelo destino cruel que me foi imposto. Ver as postagens de aniversário da minha mãe, repletas de saudades e palavras de amor fingidas, me fazia sentir uma mistura de desprezo e pena.

No entanto, eu não podia deixar que essas emoções obscurecessem meu objetivo. Eu sabia que precisava manter a mente clara e focada, para garantir que cada passo que eu desse fosse calculado e preciso. E com isso em mente, continuei minha investigação, traçando planos meticulosos para expor a verdade e punir aqueles que mereciam.

Finalmente, quando o cansaço começou a pesar sobre mim, decidi que era hora de descansar. Mas mesmo quando me entreguei ao sono, minha mente continuava a trabalhar, girando em torno das possibilidades e dos desafios que me esperavam pela frente.